Apesar das vozes começando a invadir minha mente, havia um som que era impossível não reconhecer. O som de palmas. Todas as pessoas reunidas - que notei que não eram todos da minha série - começaram a bater palmas para mim. Por que não tinham feito nada antes? Não, eles só queriam bater palmas para o herói. Ou, no meu caso heroína. Mas o único herói ali era Jimmy.

    Não vou mentir. Me senti lisonjeada. Era como se eu tivesse provado minha dignidade. E do jeito que as coisas eram em Cooperfield, o ocorrido ia se espalhar como praga.

    Levei Jimmy para a enfermaria com a ajuda de dois garotos e uma menina. Os três eram do nono ano, e foram muito prestativos. Ficamos amigos. Enquanto a enfermeira fazia um curativo na testa do meu irmão, que estava quieto demais, os meninos me explicaram que o nome do cara era Todd. 

    Ele sempre fazia isso, e a diretoria estava quase o expulsando. Depois dessa ele iria embora, na certa. Da última vez que o tentaram impedir, as pessoas voltaram inconscientes pra casa. Eles disseram que eu fiz o certo e que gostaram de mim. Agradeci e foram embora. Percebi, então, que as vozes sumiram.

    Jimmy, cansado, foi comigo para casa. Meus pais ficaram sabendo do que aconteceu. E ficaram mais bravos ainda quando viram que entrei na história. Mas eu não ia me dar mal. O tal do Todd estava indo para um internato militar e ao mesmo tempo, abríamos um processo contra a família dele.

    No dia seguinte, fui conversar com a diretora. Era uma mulher bonita, provavelmente na casa dos quarenta. Sra. Kristen. Ela disse que gostou de como eu agi, tirando a parte da agressão, claro. Mas gostou que tomei uma atitude. Foi tão surreal uma coisa dessas acontecer apenas no primeiro dia. Fui liberada.

    Jimmy estava melhor, fez até alguns amiguinhos na escola quando o levei naquele dia. Equanto isso, na minha…

    Eu estava no meu armário, pegando meus materiais. Ouvi alguém do meu lado batendo palmas lentamente e se aproximando de mim.

    - Cara, você foi demais. - Olhei ao meu lado. Não era o garoto dos olhos cor-de-oliva. Era uma menina. Mais alta que eu, cabelos ondulados castanhos até os ombros. Bronzeada, e usava uma calça jeans colada e uma blusa verde com um colete de renda.

    - Ah, valeu. - Disse para ela, sorrindo.

    - É Mandy, não é? Os garotos não calam a boca sobre você. É     a sensação da escola e nem deu uma semana.

    Eu ri. Não tinha me dado conta do meu efeito. Fiquei feliz.

    - Eu sou a Carrie, mas costumam me chamar de vadia. - Disse a menina. Ela era muito bonita, tinha até vergonha de ficar perto dela. Eu ri.  - Você veio da Inglaterra, né? Aposto que sei metade da sua vida só de ficar ouvindo todo mundo falar. 

    Conversamos por um tempo. Ela gostou da minha blusa do The Police. Ela era legal, e me mostrou como tudo "funcionava". Onde eu devia evitar de ficar, quem era quem, os banheiros sem fila. A escola era um lugar lindo, arborizado e aberto.

     Enquanto Carrie me mostrava as pessoas, quem era quem, estremeci quando o garoto dos olhos cor-de-oliva passou. Nós tínhamos nos desentendido por um motivo tão bobo. Ela sacou o clima.

    - O que foi? Ah, peraí, você curte o Dean.

    - Não, é complicado…

    - Eu sei que sim. Agora deixa eu te apresentar o Fred.

    Um garoto de óculos, um pouco mais alto que eu e da mesma altura de Carrie nos cumprimenta. Fred tinha olhos azuis, cabelos castanhos curtos, e era lindo também.

    - Você é a Mandy? Nossa, você é incrível, já virei o seu fã…

    - Claro, claro, Fred. Agora convida logo ela pra festa.

    Festa? Eu não ia em uma festa desde o aniversário de casamento dos meus avós. Já faziam quase dez anos. Eu nunca fui em uma festa.

    - Ah, verdade. Meus pais estão vazando pra Sidney nesse fim de semana e vou dar uma festa. Open bar e tudo.

    - Legal! Pode contar comigo.

    - Nós duas vamos.

    - Espero você lá então. Falou, Mandy. - Ele piscou para mim e foi caminhando na direção oposta para um prédio.

    - Você viu isso? Ele nem deu atenção pra mim. Vou ter que tomar cuidado com você.

    - O Fred também tá no segundo ano?

    - Não. Ele tá no último. Ele é interessante, hein?

    Eu ri. Sim. Quase todos os garotos daquela escola eram. Tudo bem, não ia ser tão ruim como eu pensava. O sinal bateu e corremos para a aula.