Sorrisos e Sussurros. escrita por Jajabarnes


Capítulo 24
Quer dizer que estou em sua imaginação?


Notas iniciais do capítulo

Divirta-se!



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Faltavam dez dias para o grande dia. Os soldados mandados para acompanhar Tariq e sua comitiva retornaram afirmando que eles deixaram Nárnia. As devidas homenagens à Dramus foram feitas e o por que de Edmundo ter sido encontrado desmaiado no meio do corredor sem se lembrar de como acontecera aquilo, ainda continuava um mistério. Mandamos vários médicos examiná-lo e todos diziam que ele estava bem, de aspecto geral, um pouco confuso, mas nada de anormal para quem desmaia. Acontece que Edmundo nunca desmaiou. Ele mal fica resfriado!

Apesar de seus esforços ele continuava sem lembrar nada e estava cada vez mais irritado por ter seu “estou bem” contestado tantas vezes. Por fim, fomos obrigados a concordar com ele. Ele estava bem, fisicamente falando. Mas ainda não se lembrava de nada que acontecera no intervalo entre o momento em que se separou de nós e o momento em que Lúcia o achou.

Falando nela, minha irmã ainda insiste em não me revelar nada sobre o vestido de noiva. O que me deixa inconformada, afinal, é o meu vestido de noiva. E seu plano maquiavélico de deixar o assunto em segredo era tão determinado que nem quando precisei provar o vestido ela deu folga. Lúcia vendou meus olhos, fazendo questão de segurar a venda e espetar-me com um alfinete toda vez que eu ousasse tentar ver. Felizmente, ela só precisou usar o alfinete uma vez.

Fora o detalhe do vestido, Lúcia tem se saído uma parceira e tanto. Trabalhávamos dia e noite nos preparativos e estávamos com quase tudo planejado ou pronto. Caspian agora participava mais já que não havia mais nenhuma reunião fajuta aguardando por ele. Quando ele perguntou do vestido, quase Lúcia sacou a espada dele e lhe ameaçou com ela, mas ela simplesmente disse, no seu tom mais mandão possível, apontando-lhe o dedo: “não ouse querer saber do vestido”. Caspian me olhou preocupado com a sanidade de minha irmã. Eu apenas dei de ombros.

Houve apenas um contratempo quanto aos pratos que seriam servidos. Resolvemos então mudar completamente a lista de receitas que já havíamos entregado à cozinheira desde antes da chegada dos concelheiros calormanos. Mantivemos apenas uma das escolhidas, que era um doce especial, quase não consumido atualmente em Nárnia, mas que era muito comum na Era de Ouro. Chamava-se hectar. Eram bolinhos fofos de baunilha em forma de flor coberto de glacê e recheio de frutas. As demais receitas foram trocadas por outras.

Os rapazes tiveram que se submeter a mais três torturantes provas de seus trajes até finalmente estarem livres. O mesmo não acontecia com Lúcia e eu. Ela estava belíssima em seu vestido, embora este ainda não estivesse finalizado. Senti pena do pobre coraçãozinho de Jake. Quanto à prova do meu vestido, a absurda venda fez-se presente outra vez, então usando o único meio que me restava para matar a curiosidade, descobri que a saia do vestido era de um tecido macio e aveludado, já a blusa tinha renda, bastante renda. Parecia um modelo bastante recatado já que as mangas eram compridas e o pescoço muito fechado. Mas foi só o que descobri e pelos olhos brilhantes de Lúcia que encontrei logo depois de tirar a venda, parecia estar realmente lindo.

Jake.

Eu pretendia compartilhar com Susana o “incrível” reaparecimento das partituras, mas ainda não encontrara um momento em que Lúcia não estivesse por perto. Quando Eustáquio devolveu-as para mim, oscilei entre o alívio e a vontade de torcer-lhe o pescoço dolorosamente. Passei a trabalhar nela sozinho no intervalo entre o fim dos treinos e o jantar. Nada renovador, apenas passando a limpo ou algo do tipo.

Feliz por finalmente estar livre das provas de roupa, subitamente fui acometido por uma enorme saudade de casa, da Inglaterra. Não trocaria Nárnia por meu mundo de origem, mas sabe, tive uma vida lá, e pessoas as quais eu amava. A conversa que tive com Caspian a respeito passou rápida por minha mente. Quase não trocamos palavras civilizadas depois daquela conversa da qual eu tenho certeza que ele saiu pensando completamente o oposto do que eu queria passar. Só espero que Susana não descubra. Enfim, essa assunto ainda me incomodava de certa forma e com a proximidade do casamento minha aflição por ter certeza da decisão de Susana ainda persistia.

Mas eu sabia que estava sendo um tolo. É claro que ela escolheria mil vezes ficar sentindo falta dos pais ou não. Estou começando a achar que toda essa minha inquietação vem do medo que tenho de não poder ficar em Nárnia e assim, nunca mais vê-la. Que ironia. Acusei Caspian de estar sendo egoísta quando na verdade o egoísta sou eu.

Pensava nisso jogado num dos divãs da biblioteca, um que ficava de frente à uma enorme janela que dava para os jardins. De repente, ocorreu-me uma ideia. Queria dar-lhe um presente. Algo que a fizesse lembrar de mim quando eu estivesse longe. Ela me ajudara tanto com a música, nada mais justo do que retribuir. Refleti por alguns segundos sobre as coisas que Susana gostava e parti para a cozinha pronto para fazer a cozinheira topar em fazer algo especial.

–Nunca ouvi falar nisso, senhor. - disse ela, olhando-me com uma cara estranha, como se eu não estivesse falando coisa com coisa. E por um momento achei que, para ela, eu realmente não estava.

–Mas é simples. - insisti. - Seria um presente especial para a Rainha no seu casamento. Tenho certeza que ela iria adorar!

–Senhor Walsh – insistiu ela, paciente. - Eu ficaria muito grata em ajudá-lo, mas os ingredientes que citou são muito difíceis de conseguir, creio que não conseguiríamos a tempo do baile ou melhor, nem sei se conseguiríamos.

Bufei, passando a mão pelo cabelo. Pelo jeito teria que pensar em outra coisa.

–Desculpe. - pediu ela, misturando o que quer que tinha na panela.

–Tudo bem. - dei de ombros, já saindo, quando algo sobre o balcão me chamou a atenção. Era um livro aberto que tinha várias páginas marcadas, tive a vaga impressão de já tê-lo visto. - O que é isso? - perguntei em tom curioso, apontando para o livro.

–Ah – sorriu a cozinheira. - São as receitas que as Rainhas selecionaram para o casamento. Já tinham feito isso antes, mas mudaram de ideia e mandaram novas ainda ontem. Algumas servas estavam me ajudando a listar os ingredientes.

–Hum. - analisei. - E será que nenhuma dessas receitas não tem sequer um dos ingredientes que falei? - quase fiz um beicinho para acompanhar o olhar pidão.

–Ainda não terminamos, senhor – falou ela. - Se tiver, eu lhe aviso. Mas não crie muitas esperanças. O que me pediu é difícil, nunca ouvi falar nesse tal de riga-eiro.

–Brigadeiro. - corrigi tranquilamente. - O nome é brigadeiro. - ela fez de conta que entendeu. Suspirei. - Agradeço mesmo assim. - sorri amarelo antes de sair já com as esperanças por um fio.

Edmundo.

Apesar de ter os médicos dispensados, fui confinado ao meu quarto para descansar. Era aflitivo não lembrar. Eu sei que houve alguma coisa entre o momento em que eu deixei os outros e o em que Lúcia me achou. Eu sei, tenho certeza. Mas não consigo lembrar o que. Deitado em minha cama, concentrado ao máximo para recordar, acabei pegando no sono.

Quando acordei, tive a clara certeza de saber o que houve, de ter sonhado com isso, mas ainda assim minhas tentativas eram inúteis. Sentia que essa sensação confusa de amnésia me levaria à loucura se persistisse nela, e mais bizarro ainda, essa mesma sensação despertava outra. Era como se minha lembrança tivesse sido desligada e por isso, uma hora ou outra voltaria a ligar.

Caspian.

Não estive muito com Susana desde a partida dos calormanos. Hoje, quando fugi entre uma reunião com Glenstorm e outra com os lordes, fui vê-la, mas Susana estava experimentando o vestido e Lúcia gritou claramente de dentro do cômodo para que eu nem ousasse cogitar a hipótese de tocar na maçaneta. Como tinha outro compromisso e temia por minha vida, segui para a reunião seguinte e depois, Pedro e eu fomos inspecionar um obra que acontecia na cidade.

Retornamos exaustos e muito tarde. Comi algo rápido e depois de um banho, joguei-me na cama afundando nos travesseiros e cobertores macios. Foi aí que senti alguma coisa dura contra minhas costas. Ao puxá-la, vi se tratar da caixinha com as alianças. Um sorriso se formou automaticamente. Segurei a caixinha e admirei seu veludo azul brevemente para então abri-la e encontrar as alianças encaixadas na almofadinha branca. Eram douradas, adornadas e demonstravam um boa diferença de tamanho.

Olhei na direção da prateleira onde deixara o frasco que o anão nos dera para usar nas alianças, mas não o encontrei. Sentando, corri os olhos pelo quarto à sua procura e o avistei solitário em cima da mesa, a uma boa distância de onde eu o tinha deixado. Sem entender como ele fora parar ali, levantei, tirei as alianças da caixa e fui até a mesa. Pus as alianças sobre a madeira e peguei o frasco para destampá-lo. A rolha estava um pouco mais apertada do que eu esperava então tive que segurar com mais força para conseguir tirá-la. Quando consegui, o embalo foi muito forte o que fez-me balançar o frasco aberto, derramando seu conteúdo sobre a mesa, atingindo uma das alianças.

–Ah, droga! - praguejei, vendo o líquido transparente escorrer pela mesa e pingar no chão. Corri até as gavetas pegando o primeiro lenço que achei. Peguei a aliança com ele e enrolei-a para que secasse. Busquei outro limpo para guardá-la nele depois de seca. - Maravilha, Caspian, meus parabéns.

Guardei as alianças, uma com seu brilho normal e a outra reluzente por causa do produto, bem longe do alcance de minhas mãos desastradas. Joguei o lenço que usara para secar num canto e voltei a deitar. Já era noite avançada e meus olhos pesavam, pela janela e varanda entrava uma brisa fresca, junto com esta veio a luz de fora quando apaguei as velas.

Ao deitar, minha mente distraiu-se para que pudesse adormecer. Era sempre assim, primeiro pensar, depois dormir. Para meu deleite ou minha infeliz tortura, fui cercado por cenas da noite após o baile de noivado. Lembranças tão poderosas que me desligaram do mundo no qual eu estava, fazendo-me quase sentir outra vez o calor do corpo de Susana contra o meu em meio aos lençóis macios da cama dela. Sim, talvez não tenha sido certo da nossa parte adiantar as coisas, mas aconteceu tão naturalmente que não havia como evitar. Mergulhado ainda naquela noite, sentei num salto ao ouvir batidas na porta.

Com o coração aos pulos e o sono afugentado pelo susto, aguardei para ter certeza de que não era coisa da minha cabeça. Então a batida se repetiu e cautelosamente levantei para abrir, tentando imaginar quanto tempo havia ficado distraído.

–Sim? - perguntei ao abrir.

–Achei que o encontraria aqui. - disse Susana, de pé no corredor escuro, vestindo um robe por cima da camisola.

–Su? - me ouvi falando aos sussurros, mesmo depois de ter visto que era ela, logo abrindo um sorriso. - Que veio fazer aqui?

–Bom, eu vi da minha janela quando vocês chegaram... Só torci para que ainda estivesse acordado. - disse ela, depois de morder o lábio inferior. - Acordei você?

–Não, não. - respondi. - Quer dizer, sim.

–Oh, nossa, desculpe, Caspian. Você deve estar cansado, desculpe acordá-lo. - apressou-se ela, falando baixo. - Nos falamos outra hora, não quis acordá-lo, desculpe.

–Não tem problema, Su. - falei, segurando-lhe a mão para que não saísse. - Eu queria mesmo ver você. Entre. - dei passagem pouco depois de olhar para os dois lados do corredor para ver se não vinha ninguém. Susana passou por mim e eu fechei a porta. - Fui vê-la hoje a tarde, mas Lúcia não me deixou.

Susana riu um pouco.

–Ela anda impossível ultimamente. - concordou com um sorriso. - Mas não posso reclamar, Lúcia está muito dedicada ao seu trabalho.

–Eu vejo. - falei, me aproximando e afagando seu rosto com a ponta dos dedos, para logo beijá-la docemente. - Então, como você está?

–Melhor agora. - sorriu. - Só estou um pouco ansiosa.

–Também estou. - confessei, beijando-lhe o canto dos lábios. - Parece que estou sonhando... As vezes me pergunto se a Susana parada aqui tão perto de mim – passei meus braços ao redor de sua cintura e a trouxe para mais perto. - É a real Susana, ou algum fruto da minha imaginação.

Ela sorriu.

–Quer dizer que estou em sua imaginação?

–O tempo todo.

Seu sorriso tinha quase luz própria, o que fez-me abrir um para ela. Susana deslizou as mãos por meu peito, subindo até alcançarem minha nuca e puxar-me delicadamente contra si. Trocamos outro beijo entre sorrisos, mais um de muitos naquela noite.

Seria mentira dizer que permanecemos apenas nos beijos. Era uma das poucas oportunidades que teríamos para ficar a sós. Os dias que se seguiram estariam repletos de compromissos de ambas as partes, o que adiaria o próximo momento a sós para não se sabe quando, então aproveitamos bem as horas que se puseram perante nós naquela noite. Mesmo que ficássemos exaustos no dia seguinte, como ficamos, por dormir pouco.

Como esperado, os dias foram uma correria só com os últimos preparativos para o casamento, reuniões, e preparação do castelo para receber os convidados, etc. Os dias que pareciam ser uma eternidade sem fim, passaram num pulo, e, finalmente, chegou o grande dia.


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Notas finais do capítulo

Repararam no título? Ele diz alguma coisa sobre o futuro da fanfic, nas entrelinhas claro :3 Um fio solto. Façam suas apostas ^.^
Reviews!
Beijokas!!