Sorrisos e Sussurros. escrita por Jajabarnes


Capítulo 17
Um grande sorriso no rosto.


Notas iniciais do capítulo

Divirtam-se!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/327438/chapter/17

Caspian.

Depois que os outros deixaram Susana e eu a sós na sala do trono, no jantar e após, ninguém tocou no assunto e eu agradeci por isso, embora não conseguisse controlar a inquietação que me causavam as palavras de Ramandú, ecoando em minha mente.

Sentado à cabeceira, vi os outros comerem em quase silêncio completo. Susana segurou minha mão sobre a mesa e me lançou um sorriso terno. Lúcia trocava algumas palavras com Eustáquio. Pedro e Edmundo estavam em silêncio e Jacob parecia preocupado. Talvez fosse com a bendita música.

Quando o jantar acabou, Edmundo se retirou para dormir, Pedro e Eustáquio foram passear pela cidade com Ripchip e Lúcia chamou Susana para ver alguma coisa relacionada aos vestidos do baile. E Jacob se aproximou de mim.

–Posso falar com você? - perguntou. Estranhei o convite, mas a curiosidade fora despertada.

–Claro, encontre-me em meu gabinete daqui a pouco. - disse. Ele assentiu e saiu, fui despedir-me de Susana e em seguida cheguei ao gabinete. Jacob já estava lá.

–Seu convite me surpreendeu, Jacob, do que se trata? – disse eu, curioso, escorando-me à mesa.

–Acontece que, bem... Como posso dizer...? - ele passou as mãos no rosto. - Você sabe que eu gosto muito dos Pevensie, e que zelo pelo bem-estar deles a medida do meu possível. - assenti. - Então, me preocupo com Susana e...

–Quanto a ela não há o que se preocupar, Jacob – interrompi, paciente. - Eu daria minha vida por ela. Farei o que estiver ao meu alcance para que ela esteja feliz. - garanti.

–Eu sei, eu sei. Vejo que você a ama mesmo.

–Claro. - concordei, contente por ele saber a respeito. - Além disso temo a Rhindon. - brinquei. Nós rimos. Eu descontraído, ele, nervoso.

–Sofro desse mal – murmurou para si mesmo, passando a mão no cabelo, mas eu ouvi e abri a boca para perguntar quando ele prosseguiu. - Enfim, a questão não é sobre vocês dois, especificamente. Digo, você e a Su. Deixemos a Rhindon fora disso.

Assenti.

–Continue.

–A questão que me incomoda, Caspian, é que... Bem, uma vez já aconteceu de a Su precisar ir embora. - falou Jacob, comecei a entender onde ele queria chegar. Embora fosse visível que ele ainda não chegara onde queria. - Não temos nenhuma garantia de que ela, ou algum de nós, tenha permissão para ficar.

–Entendo. Então, lhe preocupa a possibilidade de ela se machucar de novo tendo que partir. - disse eu.

–Isso seria o de menos, quando vocês se casarem ela não terá escolha. Não que ela fosse escolher ir, mas enfim. - deu de ombros. - Minha preocupação é justamente pelo fato de ela ficar.

–Ainda não compreendo onde quer chegar. - cruzei os braços, assumindo uma postura um pouco mais defensiva. Ele não podia estar insinuando o que eu acho que estava.

–Entenda – tentou atenuar. - Eu sei que o verdadeiro lar deles é Nárnia e estou começando a pensar que o meu também é, mas não nascemos aqui. Querendo ou não, temos uma vida na Inglaterra, temos família lá...

–Está dizendo que ela pode se arrepender de ficar aqui comigo? Ou que ela não deve deixar a vida que tem na Inglaterra por uma nova aqui? - perguntei firme.

–Estou dizendo que ela pode se arrepender de deixar no mundo dela pessoas que ela ama. - corrigiu. Logo percebendo que a palavra “arrepender” não foi usada na melhor hora.

–Nesse caso, supõe que ficar a faria sofrer? - ele conseguira começar a me tirar do sério, fazendo toda a cordialidade se esvair aos poucos e sem me dar conta, estava demonstrando que não estava me agradando nem um pouco daquela conversa. Fez uma pausa, escolhendo melhor as palavras. Não queria ter mais uma desavença com ele, embora já estivesse tendo.

–Veja, Caspian – falou mais seguro. - Não é o que está parecendo...

–Não? - desafiei.

–Não. - garantiu, começando a ficar irritado. - Sei que não vai com a minha cara, nem simpatiza com minha amizade com Susana, isto está bem claro. Mas nós dois temos uma coisa em comum e você não pode negar: ambos nos importamos com o bem estar dela, então por favor, pare de desconfiar de mim pelo menos uma vez e ouça o que eu tenho a dizer.

Respirei lentamente, permanecendo com a expressão séria deixava claro o quanto eu não gostara da autoridade que usou. Jacob continuou:

–Susana está animada demais para pensar nisso agora, mas um dia isso virá à tona. Os pais dos Pevensie, assim como os pais de Eustáquio e os meus, estão em nosso mundo sem fazer ideia da existência de Nárnia. Como será para eles nunca mais ver a filha que ficou aqui? Ou os filhos? Como será para eles ter de deixar sua família lá? - pausou mais uma vez. Uni as sobrancelhas, ponderando a respeito. - Susana ama muito a família dela, a família toda. Casando com você, ela ficará, mas isso não afastará a possibilidade de os irmãos dela terem que deixar Nárnia. Eles saberiam o que acontecera a ela, mas os pais não. E para Susana, um dia a dor da saudade virá, claro, mas o que realmente, realmente me preocupa, é a dor do remorso de deixar os pais sem nenhuma explicação para eles, fazê-los sofrer com a angústia de perder uma filha.

Permaneci encarando-o, sério. Jacob voltou a falar. Bufou.

–Eu poderia ter ido falar com a Su sobre isso, mas preferi vir falar com você primeiro, não queria que falando com ela piorasse a tênue linha da minha convivência com você, Caspian. - respirou fundo. - Só queria ter a certeza de que nada faria Susana se arrepender de ficar. - Concluiu e retirou-se, batendo a porta.

Silêncio. O que Jacob dissera realmente fazia sentido, eu sabia disso, no fundo, no fundo, mas naquela hora o que ficara claro nas entrelinhas era que ele expusera argumentos para que ela não ficasse, para que ela voltasse para a Inglaterra com eles.

Com ele.

Susana.

Lúcia bailou pelo quarto, maravilhosa dentro do vestido azul céu que usaria no baile, no fim da semana.

–Está linda. - sorri para ela, segurando a língua para não dizer que azul era a cor preferida de Jake.

–Obrigada. - sorriu de volta. - Acho que vou prender o cabelo, uma trança talvez.

–Uma trança. - concordei.

–E você? - ficou de costas para mim para que eu soltasse os laços do vestido.

–Tem um vestido vermelho no meu armário, está perfeito para a ocasião - contei. Silêncio.

–Su?

–Sim?

–Você ainda não me contou o que tanto faz com Jake na sala de música.

Meu coração acelerou.

–Ah, bem, tocamos, apenas. - dei de ombros. Ela virou de frente para mim.

–Ele... - ela corou um pouco. - Você acha que ele... Bem... Que ele sente mesmo algo por mim? - ela mordeu o lábio lançando-me um olhar ansioso.

–Olhe, Lúcia – atuei. - Nada é impossível, você está se preocupando à toa. Relaxe, deixe as coisas fluírem.

–É, você tem razão.

Sorri. Você mal pode esperar, Lú!

[…]

Depois de dar boa noite à Lúcia, mergulhei em minha banheira e quando saí, fechei as janelas e a grande porta dupla da varanda, por causa da chuva torrencial que desabara. Deitei na cama pronta para cair no sono, logo conseguindo.

De uma hora para outra, eu estava no pátio do castelo. Olhei em volta em busca de alguém, mas eu estava sozinha ali. Fazia frio, mas não ventava nem chovia. Estava tudo no mais absoluto silêncio. Em assustador silêncio.

Corri para dentro do castelo em busca de alguém, mas parecia tarde, não havia ninguém em lugar nenhum. Os corredores estavam sombrios e vazios. Corri por um, passando em frente à entrada de outro, mas algo me fez parar e voltar ao corredor pelo qual passara. Entrei nele em passos lentos. Chamei por alguém, mas minha voz reverberou pelas paredes até sumir.

Aquele corredor era cortado por outro mais adiante e ouvi passos vindos de lá. Pedro atravessou meu caminho, mas não deu por minha presença. Chamei-o alto, mas ele não me viu nem ouviu. Pedro passou rápido, mas consegui perceber a expressão estranha que ele trazia no rosto. Bufei. Ao olhar onde estava outra vez, reconheci o corredor do quarto de Caspian. Caminhei até a porta do quarto dele, bati algumas vezes abrindo a porta em seguida.

O quarto estava escuro, iluminado apenas por poucas velas. Caspian estava ali, de costas para mim, descalço, sem camisa, olhando pela janela com um cálice de vinho na mão. Fechei a porta devagar e abri a porta para chamá-lo, mas ele falou antes de mim.

–Você demorou, amor. - disse com a voz rouca, bebendo o resto de vinho de uma vez e deixando o cálice prateado sobre o criado-mudo, ainda de costas.

Senti um frio na barriga e meus joelhos fraquejaram brevemente, um sorriso brotou em meu rosto. Dei um passo a frente, pronta para ir até ele.

–Não sabe o quanto esperei por esse momento. - uma voz fez-se ouvir e não era a minha. Do outro lado do quarto, saindo da penumbra, a dona da voz caminhou calmamente até Caspian, descalça, vestida com uma branca e leve camisola. Não a reconheci de imediato, a cabeça baixa fazia os cabelos esconderem seu rosto.

Ela tocou o ombro nu dele antes de ficar à sua frente e olhá-lo nos olhos. Caspian ficou ainda de costas para mim. Eu não podia ver seu rosto, mas via claramente o dela. Ela tocou o rosto dele. Permanecia na sombra, o rosto escondido.

–Demoramos a chegar aqui, mas apesar de todos os obstáculos e de todas as pessoas que se puseram em nosso caminho, cá estamos nós. Conseguimos vencer. - sorriu ela, docemente.

Caspian curvou-se e a beijou ardentemente, abraçando-a contra si. Senti lágrimas correndo por meu rosto, queria fazer alguma coisa, mas não conseguia me mover ou falar.

Ao fim do beijo, ela o abraçou, finalmente trazendo o rosto à luz que iluminava as costas de Caspian. Com um arrepio e uma dor forte no peito, reconheci Lilliandil. Ela me lançou um olhar gélido, cruel, acompanhado de um sorriso torto triunfante. Ainda me olhando, ela o beijou no ombro, afagou seus cabelos e falou, baixo.

–Demoramos a chegar aqui. - repetiu. - Mas finalmente tudo voltou ao seu lugar. Nesse mundo e no outro. Agora podemos ser felizes juntos sem ninguém atrapalhar.

Com as lágrimas abundantes rolando pelo rosto, eu chamei por Caspian, mas minha voz não saiu. Angustiada, continuei a tentar chamá-lo, mesmo quando voltou a beijá-la, mas minha voz sumira.

Despertei ao mesmo tempo em que um raio cortou o céu do lado de fora. Fazia frio, a chuva estava torrencial do lado de fora, eu estava em meu quarto, com o coração aos pulos. Sentei na cama com a respiração ainda irregular. Flexionei os joelhos apoiando os cotovelos neles, escondendo o rosto nas mãos.

Uma batida na porta me assustou. Joguei os lençóis para o lado e arrastei-me um pouco para alcançar a beira da cama enorme, vesti o robe que deixara ali ao lado, passei as mãos nos cabelos e no rosto enquanto caminhei descalça até a porta, abrindo-a.

–Caspian. - surpreendi-me.

–Podemos conversar? - perguntou, baixo.

–Claro, entre. - dei-lhe passagem sentindo um frio na barriga. Fechei a porta quando ele passou.

–Desculpe acordar você. - pediu, sorrindo.

–Não me acordou. - disse.

–O que fazia acordada então? - perguntou, com um meio sorriso.

–Acabei de acordar. - falei. - Foi um sonho estranho seguido de um raio. - expliquei. Ele assentiu. Sentei na cama, escorando minhas costas nos travesseiros. Caspian hesitou. - Vai ficar de pé? - perguntei. Ele então me acompanhou, sentando como eu, ao meu lado. - O que houve? - perguntei.

–Não posso vir conversar com minha noiva sem que tenha havido alguma coisa? - perguntou com um sorriso.

–De madrugada? - ergui as sobrancelhas. Ele deu de ombros e eu ri um pouco, chegando mais perto dele, peguei sua mão e deitei a cabeça em seu ombro. - É sobre o que aconteceu hoje com Ramandú, não é?

Caspian levou alguns segundos para responder.

–Ele estava furioso e com razão, mas eu já esperava por isso. - começou ele, baixo. - O que realmente me preocupa é o que ele disse antes de ir.

–Ele estava fora de si. - lembrei.

–E é exatamente por isso que estou preocupado. Aquilo pode significar qualquer coisa... Ramandú olhou para vocês antes de dizer, olhou para você. Tenho medo que ele faça alguma coisa contra nós.

–Cas, ele não pode fazer nada... - comecei.

–Lembra dos pedaços de vidro no chão? Ele criou vitrais nas paredes com um gesto de mãos. Ramandú tem magia, Su.

–Ele não pode nos alcançar, Caspian. - falei. - Ele não fez nada quando estava aqui, como poderia lá de sua ilha?

Caspian suspirou.

–Não sei, mas as palavras que ele recitou não saem da minha cabeça.

Me movi para olhá-lo de frente, sentando-me sobre minhas pernas, se soltar sua mão.

–Caspian, não vale a pena ficar pensando nisso. Ele está longe. Não pode mais voltar aqui. Acabou.

Ele olhou-me atento, depois sorriu de lado.

–Está certo – disse ele. - Nosso baile está chagando, não vale a pena ficar pensando nisso.

Aproximei-me para beijá-lo, abraçando-o em seguida. Outro raio cortou o céu lá fora, jogando uma rápida luz no quarto iluminado apenas por algumas velas. Caspian beijou-me outra vez, para então mudar de assunto.

–Então, me diga, como está indo a música?

–Estamos progredindo, mas Jake está fora de controle. - eu ri. - Ele sondou Lúcia há alguns dias e descobriu que ela não gosta muito do estilo musical em que nossa melodia se encaixa. Ele entrou em pânico, tive que ameaçar contar tudo à Lúcia para que ele voltasse ao normal! - contei. Caspian riu um pouco.

–Vocês se conhecem há bastante tempo, não é?

–Sim – respondi.

–Como se conheceram?

–Bem, Jake estudava com Pedro, quando eram crianças, os dois ficaram amigos então Jake começou a frequentar nossa casa. Acabou se tornando amigo de todos. - contei.

–Hm... Por isso se dão tão bem. - observou.

–Sim. - concordei. Mordi o lábio inferior, hesitando brevemente. - Vocês dois também podiam se dar bem.

–Por que diz isso? - desviou o olhar. Dei de ombros.

–Talvez porque você não tenha se mostrado muito amigável com ele. Digo, até Eustáquio percebeu o clima de ciúmes quando você está perto dele.

–Ciúmes? Que ciúmes? Não vejo ciúme nenhum. - alegou, confiante.

Ri e estiquei-me para beijá-lo. Caspian retribuiu o beijo fazendo questão de aprofundá-lo, abraçando-me forte contra si. Abraçada à seus ombros largos e fortes, senti suas mãos subirem e descerem por minhas costas. Borboletas voaram em minha barriga quando deitamos sem interromper o beijo. Não passamos dos beijos e carícias tímidas, Caspian deixou meu quarto pouco depois com um grande sorriso no rosto, deixando-me com um maior ainda.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Não esqueçam dos reviews!
Até o próximo!
Beijokas!!