Amanda estava ansiosa por esse dia, e quando ele começou, levantou-se cedo. Arrumou-se e foi para a cozinha preparar o café para ela e Laura.

-Nossa Amanda, já está de pé? – entrou e viu a sobrinha correndo de um lado para o outro.

-Sim tia, venha tomar café, já está tudo pronto. – disse enquanto colocava uma jarra de suco sobre a mesa.

-Mas, porque você está vestida assim, vai sair? - reparou na roupa um tanto formal que ela estava usando.

-Não acredito que a senhora esqueceu? Hoje é o dia que eu começo a trabalhar na gráfica.

-É mesmo... Querida eu tinha esquecido completamente. – sorriu envergonhada.

-E deixa eu ir porque não quero chegar atrasada logo no primeiro dia. – abraçou a tia e saiu apressada.

-Boa sorte!

...

Assim como para qualquer um, o primeiro dia de trabalho de Amanda foi difícil e tumultuado, o que é esperado para alguém que nunca havia trabalhado antes, ainda mais sendo na parte administrativa da empresa. Mesmo assim se saiu bem, se mostrando eficiente e muito competente.

À tarde...

Ainda estava no escritório da gráfica, quando ouviu o celular tocando. Desta vez sabia quem era, já que havia registrado o número da última vez em que ele a ligou.

-Vitor...

-Eu te liguei pra saber como foi no seu primeiro dia no trabalho.

-A... Deu tudo certo.

-Também liguei pra te avisar que eu vou passar na sua casa pra gente ir pra faculdade a partir de hoje.

-Tá mas, e o Paulo?

-Ele já pegou a moto dele na oficina, então não vai precisar mais de carona.

-Tá, entendi.

-Você já tá indo pra casa? – imaginou, pelo horário. – Porque se estiver, eu posso passar aí pra te buscar.

-Você não precisa vir aqui...

-É que eu tô no ginásio, saindo. Só vou tomar uma ducha e passo aí sem problema.

-É que eu ainda vou passar no hospital pra agendar a cirurgia da tia Laura.

-Não tem problema, eu te levo lá também.

-Então, – desistiu devida insistência do rapaz. – Eu já estou saindo, me diz onde é o ginásio que eu te encontro.

-Tá.

...

Quando chegou ao endereço que Vitor havia lhe passado, ele não a estava esperando do lado de fora como disse que estaria. Vendo que o rapaz não aparecia e não atendia o celular, ela resolveu entrar e ver se ele ainda estava lá dentro.

Passou direto, pois não localizou ninguém no que parecia ser a recepção do local. Seguindo por um longo corredor, teve acesso ao salão onde vários rapazes estavam treinando. Correu os olhos no lugar a procura de Vitor, mas sem sucesso. Talvez ainda estivesse no chuveiro, talvez ele já não estivesse mais ali ou talvez ela tivesse se perdido no meio de tantos músculos em ação.

Pensou em ir embora e tentar ligar para ele e avisa-lo depois.

-Posso te ajudar coisa linda? Você parece estar perdida.

Virou-se e se deparou com um daqueles deuses gregos que estavam a treinar parado atrás de si, e antes que pudesse dizer qualquer coisa a ele.

-Não, eu só... – encolhe-se segurando na bolsa que trazia com sigo.

-Não, nem pense nisso Caio. – Vitor apareceu passando a mão pela cintura de Amanda.

-Ops! Foi mal Vitor. –  ao entender o recado, o colega se desculpou com a moça também e saiu em seguida.

-Vitor, – tentou não olha-lo diretamente, pois ele estava tão suado quanto o outro rapaz, só que, para piorar estava sem camisa. – Eu acho melhor eu te esperar lá fora. 

Correu os olhos pelo corpo sarado do rapaz a sua frente. Ele realmente levava os treinos a sério.

-Eu acabei me atrasando aqui, mas me dá dois minutos que eu já saio.

-Tá bem.

Ela voltou pelo mesmo corredor de onde tinha vindo. Respirou aliviada quando saiu e ficou perto da porta esperando. Minutos depois o rapaz chegou.

Seguiram para o hospital assim como Amanda pretendia, e depois de acertar tudo o que precisava para a cirurgia de sua tia, Vitor a levou pra casa.

...

Ela entrou depressa, pois queria dar logo a notícia para a tia.

Laura estava em seu quarto, quando ouviu a sobrinha adentrar a casa chamando pelo seu nome. Ficou um pouco apreensiva.

-O que foi Amanda?

-Eu tenho uma notícia ótima para a senhora. – sentou-se na cama, ao lado de Laura.

-É sobre o trabalho? – se tranquilizou ao ver um sorriso radiante no rosto da sobrinha. – Como você se saiu?

-Foi tudo bem. Mas o que eu quero falar é que eu consegui o dinheiro para a sua cirurgia.

-M-mas como?

-Eu meio que consegui um empréstimo...

Ela então explicou para a tia. Contou a história assim como Vitor havia lhe aconselhado. Dizendo que havia conseguido o dinheiro devido um empréstimo que conseguiu no novo emprego.

-Agora a senhora só precisa fazer os exames, que já estão marcados, e... – parou ao ver que a tia estava emocionada. – Tia...

-Eu estou bem..., feliz! – se segurou para não chorar. – Com certeza muito feliz de ter você na minha vida querida...

-Então não chora tia. – pediu enquanto secava as lágrimas que rolavam pelo rosto da mulher.

-Claro, é o mínimo que eu posso fazer depois de te dar todo esse trabalho.

-Para com isso, não fala assim...

-Tudo bem, eu não falo. É melhor a gente mudar de assunto.

-Eu também acho.

-Me diz, – sorriu voltando ao humor de sempre. – Como estão as coisas entre você e o Vitor?

Amanda rachou na hora com a pergunta. Não se sentia a vontade para falar sobre esse assunto com a tia.

-Vocês dois estão namorando?

-Bem, é que... – engasgou nas palavras e a pobre mulher não pode entender nada. – Sabe tia, eu tô com..., eu tenho que me arrumar para ir para a faculdade. - dizia enquanto se levantava e saia do quarto.

Laura apenas riu da cena. No fundo não sabia que a sobrinha era tão acanhada assim.

 ...   ...   ...   ...   ...   ...

Os dias seguiram tranquilos, até que o dia da cirurgia chegou. Amanda e a Laura viajaram na quinta-feira. Não queria que a sobrinha perdesse aulas, mas como a moça conseguiu ser dispensada durante esses dias do emprego, insistiu em acompanhar a tia.

...

Depois de quatro horas, desde que a tia tinha entrado para a sala de cirurgia, Amanda recebeu a notícia que a tia passava bem e que tudo havia dado certo. Para o alívio da Amanda, Laura estava se recuperando bem da cirurgia e se continuasse assim logo voltariam para casa.

...

Laura agora descansava no quarto. Amanda estava sentada na cadeira ao lado, observava sua tia enquanto ela dormia. Ouviu um ruído, era seu celular vibrando sobre a mesinha que havia ali e levantou-se para atender.

-Oi Vitor. – sussurrou enquanto falava para não acordar a tia.

-A cirurgia já terminou?

-Sim.

-Como a sua tia está?

-Agora ela está dormindo. – respirou aliviada. – Deu tudo certo, o médico disse que ela está se recuperando bem.

-Ele disse quando vai dar alta pra ela?

-Bom, ele disse que se ela continuar assim, dentro de três dias ela poderá voltar com certeza.  – percebeu que Laura reagiu. – Vitor, eu vou desligar, a minha tia tá acordando, depois a gente se fala.

A moça desligou o celular e foi até Laura que abria os olhos lentamente.

-Desculpe, eu não queria acordar a senhora.

-Não tem problema. Você estava falando com o Vitor? - tinha ouvido ela pronunciar o nome do rapaz.

-Sim, ele queria saber como à senhora estava.

-Que gentil da pare dele!

-Como à senhora está se sentindo?

-Um pouco esquisita, tenho que admitir, mas, estou bem querida!

-Mesmo assim, é melhor à senhora descansar como o médico mandou.

-Já entendi. – voltou a dormir, afinal estava se sentindo bastante fraca.

-Vai ficar tudo bem! – sussurrou enquanto via a tia adormecer novamente.

   ...   ...   ...   ...   ...   ...

Alguns dias depois...

Descia as escadas enquanto falava ao celular. O dia em que Amanda e Laura voltariam para casa havia chegado e ele estava tentando desmarca um compromisso. 

-Nem hoje nem amanhã. Eu passo aí outro dia, thau. – passava pela sala de estar.

-Você vai sair Vitor? – a pequena perguntou curiosa ao notar a pressa do irmão.

-Agora...

-Como assim, pra onde? A mesa já está posta. – desta vez era sua mãe quem se mostrava interessada pela sua saída repentina.

-A tia da Amanda passou por uma cirurgia e recebe alta do hospital hoje, eu vou até lá busca-las. – passou pela irmã, deu-lhe um beijo na testa para se despedir e saiu.

...

Horas depois, tanto Amanda quanto Laura se preparavam para voltarem. Ainda estavam no quarto do hospital, quando ouviram batidas na porta. Amanda foi abri-la e ficou sem ação ao se deparar com Vitor em pé à porta segurando um buquê de flores.

-Vitor? O que você está fazendo aqui? – não pode evitar a reação, estava realmente surpresa.

-Nossa que flores lindas! – Laura decidiu ser gentil, já que a sobrinha reagiu daquela maneira.

-Que bom que gostou porque eu as trouxe pra senhora. – entrou e entregou o buquê a mulher, que recebeu com um de seus simpáticos sorrisos.

-Muito obrigada!

-De nada. A Amanda me disse que a senhora teria alta hoje, então eu resolvi vir busca-las.

-Podia ter me avisado. – a moça tentava disfarçar o nervosismo.

-Sim, mas achei melhor fazer uma surpresa. Só que não sou bom nessas coisas.

-Que bom, eu adorei! Queria muito conhece-lo.

-Então tia, já está tudo pronto, acho que podemos ir. – estava se sentindo estranha com a presença dele ali.

...

Finalmente saírem e seguiram viagem de volta. Laura aproveitou para conversar com o rapaz e conhece-lo um pouco, já que a sobrinha não lhe falava muito sobre ele. Falaram de tudo um pouco, mesmo que Amanda tivesse se mantido ausente em quase tudo sobre o que eles conversaram. E assim a viagem seguiu até chegarem de volta em casa.

...

De volta...

Amanda ajudou Laura a entrar em casa, enquanto Vitor trouxe as malas e as bolsas para dentro da casa.

-Posso deixar tudo aqui? - perguntou entrando com as bagagens.

-Pode, eu guardo depois. – disse enquanto ajudava a tia a se acomodar no sofá.

-Obrigada querida!

-Antes que eu me esqueça. – ele começou, chamando a atenção das duas. – Tomei a liberdade de contratar uma pessoa pra fazer companhia pra sua tia enquanto ela estiver se recuperando, já que você não vai ter tempo por ter que trabalhar.

-Mas...

-Nem adianta dizer que não, você não pode cuidar dela o tempo todo e ela não pode ficar sozinha.

Ambas não sabiam o que dizer.

-Nesse caso, obrigada meu rapaz! - agradeceu um tanto surpresa.

-A senhora não precisa agradecer, só se cuidar.

-Pode deixar! – não conseguiu segurar o riso.

-Amanda, – ela virou-se para ouvi-lo. – Imagino que você não vá à faculdade hoje também. - aproximou-se dela.

-Não. – respondeu decidida.

-Vai sim, Amanda, se for por minha causa...

-Não vou deixar a senhora aqui sozinha, não hoje. – sentenciou.

Vendo que a sobrinha já havia tomado sua decisão, Laura desistiu.

-Então... – Vitor pegou a mão da moça e se aproximou dela, chegando bem perto do seu rosto e beijando-a de maneira leve, apenas selou os lábios de Amanda. – ...a gente se vê amanhã.

Ela parecia não acreditar no que tinha acontecido, o coração da moça batia acelerado. Nem sequer consegui se despedir dele. Vitor se afastou um pouco.

-Thau Dona Laura!

-Thau Vitor! – despediu-se do rapaz que saiu em seguida.

Amanda ainda estava sem reação com o beijo do falso namorado. Tudo tinha durado apenas alguns segundos, mas ela sentiu como se fosse uma eternidade. Não esperava por aquilo, pelo menos não agora.

-Não vai me dizer que você ficou desse jeito só porque ele te beijou na minha frente?

-Hãn? – comentário de Laura a fez despertar. – Não estou de jeito nenhum tia, eu, só estou cansada da viagem longa que a gente fez. – tentou desconversar.

-A tá. – não tinha acreditado em nenhuma palavra dito pela sobrinha.

-E por falar nisso. – começou a pegar as bolsas que estavam no chão. – Eu vou começar arrumar tudo pra senhora poder descansar por hoje.

Olhou a sobrinha saindo de maneira desastrada, tentando carregar tudo de uma só vez.