Heirs escrita por Jajabarnes


Capítulo 6
Desculpe, Não Quis Assustar Você.


Notas iniciais do capítulo

Desculpe a demora, de verdade.



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Alysson

Eu estava deitada, ou melhor, sentada, mas caíra para frente. Sob meu rosto havia algo fofo e peludo, sentia um leve sorriso em meus lábio. Meus olhos forcaram em um rapaz que me olhava de forma doce, de pé, não muito longe. Estava de braços dados com um moça, mas não consegui identificar o rosto dela, meus olhos se concentraram somente nele. Seu rosto alvo estava com uma mancha avermelhada no nariz, seus olhos estavam marejados, quando sorri para ele, ele sorriu de volta ao mesmo tempo em que de seus olhos rolaram duas lágrimas. Então eu comecei a me afastar. Algo estava me levando, mas eu não queria ir! Não, eu precisava ir até ele e consolá-lo, dizer para não chorar, dizer que tudo ficaria bem, mas alguém me levava para longe, para mais longe até que me afastei ao ponto de não vê-lo mais.

Despertei num susto, sentando na cama. Meu coração estava aos saltos, como ficava toda vez que eu sonhava com ele... Com meu pai... Aquela era minha lembrança mais antiga, o rosto dele. Na verdade não há como saber se ele realmente é meu pai, ele poderia ser Pedro, Caspian ou até mesmo Áries, não há como saber, até que se prove o contrário, é apenas a ultima pessoa em que meus olhos pousaram, antes da luz forte.

Respirei, tentando me acalmar. Acabei por levantar, pegar a toalha, a roupa limpa, a necessaire e fui direto para o banheiro aproveitando que ainda estava cedo e minhas primas ainda estavam dormindo. Juh demora demais do banheiro.

Tomei um banho e fiz toda a higiene matinal, vesti a calça jeans e a blusa do moletom. Ao sair fui direto para a cozinha passando por Léo que caminhava cambaleando de sono em direção ao banheiro. Como estava cedo não havia ninguém por ali, apenas Margaret que trancava a porta do depósito, parei ao vê-la e ao notar-me limitou-se a dizer que eu devia me virar com o que tinha sobre o balcão, acrescentando que o orçamento estava apertado, logo saiu novamente. Rolei os olhos e me aproximei do balcão para ver mais um sofrimento que nos esperava e encontrei alguns pães dormidos de dias, poucas caixas de leite abertas e bolachas de sal e água. Bufei.

–Se ela não gastasse todo o dinheiro com noitadas e roupas o orçamento não estaria apertado. - resmunguei comigo mesma.

–Acho que Margaret não ia gostar nem um pouco de ouvir isso. - disse uma voz diferente, vinda de trás de mim. Saltei de susto, girando para ver quem era e encontrei Luke sorrindo de braços cruzados. - Desculpe, não quis assustar você.

–Tudo bem. - sorri sem graça. Estávamos apenas nós dois ali, todos os outros estavam dormindo, não sei por que, mas estar sozinha com ele me deixou nervosa. Enrolei novamente o saco de pão. - O que faz acordado tão cedo? - perguntei, tentando puxar assunto, de costas para ele, fingindo mexer no que Margaret deixara para nosso café da manhã.

–Eu gosto de acordar cedo... Além disso, dá pra ouvir o ronco do seu primo lá do meu quarto. - brincou e a princípio eu ri um pouco, mas a graça logo passou quando ele acrescentou: -Parecia um motor de carro velho... Hilário.

–Isso não é hilário. - voltei-me para ele, um pouco aborrecida por ele tratar desse assunto com deboche. De repente, eu tinha coragem para encará-lo, com as sobrancelhas unidas e a voz séria. - Rick tem alergias respiratórias, não faz isso por que quer.

–Eu não sabia, desculpe. - pediu ele. Voltei ainda um pouco aborrecida para os pães dormidos enquanto um silêncio pesado se instalou entre nós, não queria falar com ele mas ao mesmo tempo queria, era estranho, achava que não devia ter ficado brava, mas o jeito um pouco debochado com o qual ele tratou o problema de Richard me deixou chateada mesmo Luke não sabendo do que estava falando.

–Er... Isso vai dar pra todo mundo comer? - perguntou ele, puxando assunto, ficando ao meu lado.

–Não. - respondi tranquila. - Isso tudo vai para o lixo.

–Mas não seria nosso café da manhã?

Lancei-lhe um meio sorriso travesso.

–Acha que ainda estaríamos todos vivos se comêssemos o que Margaret determina? - Levei as mãos ao pescoço e tirei de dentro do moletom o fio do colar cujo pingente eram duas chaves, sendo uma a cópia da chave do depósito. Mostrei-a a Luke e ele riu, soltei o nó do colar e peguei as chaves. Com a primeira abri a porta do depósito e Luke me seguiu pegando alguns mantimentos. Logo o interrompi. - Não!

–Mas não vamos precisar disso...?

–Ela notaria a ausência e quem você acha que ela culparia?

–Então de onde vocês tiram a comida?

–Nós fizemos nosso próprio estoque. Não tem muita coisa, mas sempre o abastecemos com algumas coisas que Margaret trás, as poucas coisas boas, e o resto conseguimos comprar com nossas economias, as poucas que conseguimos juntar. - expliquei.

Luke me ajudou a preparar o café da manhã para todos e ficou distribuindo quando as crianças desceram. Quando meus primos chegaram, pude ver de relance seus olhares intrigados ao ver Luke e eu tão próximos, numa sincronia notável. Não notável pelas mentes inocentes das crianças, mas sim para meus primos e suas mentes poluídas.

Quando acabamos de servir, fui sentar-me com eles e Luke com os irmãos.

–Por que eles não sentam aqui com a gente? - perguntou Rick, indicando os novatos.

–Pode ser... - disse Juh. - Lance é tão lindo, não é, Aly? - ela me cutucou com o cotovelo. - Seria ótimo tomar café da manhã com ele.

–Acho que eles estão bem lá. - resmungou Léo.

–Ah, quê isso? - intervi, me divertindo com a cara dele. - Vai ser ótimo. Por que, não?

–É, Léo. - provocou Jazz com um meio sorriso. - Por que não?

Léo se calou enfiando o sanduíche na boca resmungando com seus botões coisas que sequer nos demos ao trabalho de tentar entender. Juh os chamou para sentar conosco e Léo ficou o tempo todo com a boca cheia.

–Vocês não nos disseram de onde vêm. - lembrou Rick, tentando puxar assunto.

–De muito longe. - sorriu Lorena. - Vocês provavelmente nunca ouviram falar. - Jazz e eu trocamos um olhar. Naquele momento, ela parecia a garota da cidade e nós um bando de caipiras ao seu ver.

–Liverpool – disse Luke, tentando ser gentil e recebendo olhares dos irmãos. - Viemos de Liverpool. - ele falava o nome de forma estranha, como se estivesse aprendendo a pronúncia.

–Bem, com certeza ouvimos falar de Liverpool. - brincou Rick, com cara de quem aprontou.

–Ah... Liverpool... - sonhou Jazz. - Lembra quando fomos lá, Rick? - ela deu o mesmo sorriso para ele. Eles riram, cúmplices. - Foi um belo dia aquele... - ela tinha o pensamento longe.

–Claro, só se foi para vocês – reclamou Léo. - Tivemos que ficar aqui o dia todo limpando a casa.

–Qual é, cara, supera. - provocou Rick e Léo abriu a boca para responder, mas me manifestei antes que começassem uma discussão.

–Mas por que tiveram que vir à Londres, não há orfanatos em Liverpool? - perguntei, tentando ser simpática, como sempre.

–Verdade, é difícil ter transferência de uma cidade para outra, muito menos do interior para a capital, geralmente é ao contrário. - observou Juh.

–Não – Lavínia parecia entediada. - Não há muitos orfanatos em Liverpool. Os pais são mais presentes por lá. As estatísticas de abandono são baixas.

–Bem, acho que nós fazemos parte dessas estatísticas. - brincou Rick.

–Não. - continuou a mesma, com um sorrisinho superior. - Nós conhecemos nossa mãe, mas ela morreu. Somos órfãos, não abandonados. Mas e vocês? - pelo seu tom, ela parecia conhecer a resposta muito bem.

–Escuta aqui...! - Jazz virou para ela, mas eu novamente interrompi.

–Vamos, gente, temos muita coisa a fazer! - pus-me de pé, sendo seguida por meus primos, causando aquele barulho das cadeiras empurradas para trás.

–Hey! - chamou Juh, para os novatos, que permaneceram sentados – Vamos, vocês tem que colaborar.

–Tá de brincadeira, né? - Lorena riu. Juh ergueu as sobrancelhas e limitou-se a olhar para o Léo. - Você fez a lista?

–Fiz. Tá aqui em algum lugar... - procurou nos bolsos. - Ah, aqui! - passou o papel amassado para Juh.

–Certo... Rick, você, você e você. - disse apontando na ordem para o Rick, Lorena, Lavínia e para mim. - Vamos nos preparar, vocês vem comigo.

–Ir com você? Para onde?

Juh a olhou como se ela fosse uma completa tonta.

–Ao metrô. Precisamos de dinheiro.

Os novatos trocaram um olhar e viram que não teria outra saída. As duas se levantaram.

–E nós? - perguntou Luke.

–Vocês vão ficar comigo e a Jazz. - disse Léo. - Temos coisas a consertar.

Léo.

Aly, Juh, Rick, Lavínia e Lorena saíram pouco tempo depois. O metrô era um dos lugares onde conseguíamos algum dinheiro. As meninas têm vozes lindas e Rick arrasa no violão, nos dias de maior inspiração, até conseguimos um bom dinheiro. Jazz ficou cuidando das crianças e da cozinha, enquanto Luke, Lance e eu partimos com as ferramentas.

–Vamos consertar umas coisas aqui dentro e depois que a Jazz terminar o almoço, vamos os quatro cuidar do lado de fora. No jornal disse que vai chover, então temos que ir cedo para lá. - orientei, colocando a caixa de ferramentas no chão, abrindo-a. - Vocês sabem usar isso, não sabem? - perguntei. Lance me olhou com deboche. Dei de ombros e iniciamos nosso trabalho.

Consertamos o chuveiro, alguns degraus da escada, algumas tábuas do assoalho de um dos corredores do segundo andar e a porta de um dos quartos. Jazz ainda não tinha terminado o almoço, então decidimos ir para o quintal arrancar as derradeiras ervas daninhas que nasciam ao pé da úncia árvore, atrás da casa. O sol estava alto e os rapazes me ajudavam ao pé da árvore. Lance e eu arrancávamos as ervas e Luke a recolhia, jogando-as num saco de lixo pequeno e preto.

–Então – começou Lance, quando Luke foi buscar outro saco de lixo. - Você e a Juh, né... - ele deu um sorriso cafajeste. Olhei-o.

–O que quer dizer? - fui gentil, sem entender onde ele queria chegar.

–Vi como se comportam juntos. - explicou ele. - Tá na cara que estão a fim um do outro. E você se deu bem, ela é uma gatinha. Até pensei em investir nela, para ser sincero, mas aí vi como ela praticamente se joga nos seus braços.

Aquilo me irritou.

–Mais respeito. - controlei-me. - Juh não é dessas.

–Eu sei, cara, é só força de expressão. - ele deu de ombros. - Mas depois me dei conta que a irmã dela é daquele tipo, você sabe, durona. - ele levantou, tirando a camisa. - E esse é meu tipo de garota. - agachou-se ao meu lado de novo, ao tempo que Luke voltou com outro saco de lixo e ouvimos as crianças brincando não muito distante. Encarei-o, unindo as sobrancelhas. Lance fez de conta que não notou, jogando a camisa no chão, não muito longe. Qual é a desse cara?

–O que quer dizer? - indaguei.

–Ah – me olhou cúmplice. - Você sabe como é.

–Não, não sei. - falei sério.

–O que? - encarou-me de um jeito engraçado. Eu teria rido, se não estivesse alerta. - Cara, é simples, tô dizendo que a irmã irritadinha faz mais meu tipo. - falou como se fosse óbvio. - Sabe, tentei chegar nela ontem e não vai demorar para ela estar na minha.

Luke apenas ouvia.

–É mesmo?! - virei para Lance, fingindo interesse quando, por dentro, imaginava-me torcendo seu pescoço facilmente. - E como foi?

Ele ia começar a responder, mas Jazz chegou na hora, por trás de nós, ajuntando a camisa de Lance do chão.

–O almoço está pronto – avisou ela. -Luke, eu deixei mais algumas sacolas sobre o balcão, caso precise. Léo, vou ter que sair, Mary está febril então vou levá-la ao pronto-socorro e aproveito para levar o almoço do pessoal lá no metrô. E Lance...

–Fala, gata. - ele a interrompeu. Jazz o encarou por breves segundos antes de voltar a falar sem alterar o tom de voz.

–Veste uma camisa, tem crianças por aqui. - e ela saiu antes de jogar a camisa no rosto dele.

Luke e eu gargalhamos.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado e não me abandonem ^^
Reviews!
Beijokas!!



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