Heirs escrita por Jajabarnes


Capítulo 4
Surpresa!


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/327074/chapter/4

Orfanato St. Juan - Londres, Inglaterra

Alysson.

Balancei meus cabelos, após penteá-los, deixando os cachos ruivos, soltos, livres de qualquer presilha. Vesti um short claro e uma blusa branca sem alças, calcei o All Star e preparei-me para sair daquele quarto minúsculo, úmido e mal tratado, com paredes amareladas e tintas descascadas, aquele quarto mal podia acomodar uma pessoa além dos 12 anos e eu dividia ele com minhas duas primas. Havia apenas um armário, um espelho manchado, um beliche e uma janela pequena. Saí de lá comemorando por finalmente mover minhas pernas direito e fui em direção ao refeitório, sentando na mesma mesa em que Richard e Leonardo estavam.

-Bom dia. - cumprimentei-os.

-Bom dia, Aly. - responderam. Rick estava com a boca cheia, Léo arrumando os cabelos loiros, enquanto estava concentrado em seu livro.

-Onde você consegue esconder os seus? - perguntei a ele. Ele sorriu.

-Estão em cima do meu armário, junto com o violão velho do Richard. - sorriu.

A senhorita Margaret, a responsável pelo orfanato, não permitia que tivéssemos livros e ouvíssemos musicas. Não havia televisão aqui, as crianças eram submetidas aos serviços domésticos, recebíamos apenas três refeições austeras por dia. Meus primos e eu somos os mais velhos aqui, as demais crianças possui de 12 anos para baixo, então, nós éramos meio que os irmãos mais velhos de todas elas e quando a bruxa Margaret saía(e normalmente ficava o dia todo fora), nós aproveitávamos para nos divertir e furtar a cozinha que ela mantinha trancada.

Geralmente, primeiro, levávamos as crianças para o jardim mal tratado para que corressem, brincassem e se sujassem. Richard e Leonardo ficavam reparando-os enquanto Júlia, Jamim e eu ficávamos do lado de dentro ora fazendo os deveres domésticos, para poupar os pequenos dessas tarefas, ora preparando os lanches para eles. Depois que eles brincavam bastante, Léo os levava para dentro em pequenos grupos e nós, lá dentro, organizávamos o banho das meninas num banheiro e Rick os dos meninos em outro banheiro. As meninas mais velhas, a maioria tinha mais de 10 anos, tomavam banhos e se vestiam sozinhas. Júlia organizava a fila do lado de fora do banheiro entregando as toalhas e Jamim dava banho nas menores enquanto eu entregava as roupas limpas as que saiam do banho e as ajudava com os cabelos. Só haviam 4 meninas pequenas: Isa e Bella, gêmeas de 6 anos; Mila, de 5 e a pequena Mary, de 6 meses. Ela era nosso xodó pois, além de ser uma fofa, linda e brincalhona, sua história nos comovia. Ela foi abandonada aqui há 4 meses junto com sua irmã, Ângela, de 3 anos, mas Angel, como costumávamos chamá-la, ficou muito doente.

Elas foram deixadas aqui numa época chuvosa. Era noite e caía uma chuva torrencial, ninguém se atreveu a pôr os pés fora do prédio do orfanato durante todo o dia.; Margaret havia saído, para variar, e pelo clima, não voltaria para lá tão cedo. Angel e Mary, foram deixadas em frente ao muro, próximo aos arbustos, fora de nossas vistas; Elas não fizeram nenhum barulho sequer, nem chamaram por ajuda; Ângela estava com muito medo para fazer qualquer coisa além de ficar perto de sua irmã, ela, para proteger Mary da chuva, escondeu-a atrás dos arbustos, com a cesta lhe protegendo, mas assim, não houve espaço para que ela mesma se abrigasse, ficando na chuva.

Próximo ao fim da tarde, ainda chovia, e Joe lembrou que havia esquecido um brinquedo perto da entrada. Léo, então, saiu por debaixo de chuva para pegar a “prova do crime” por que, se Margaret visse um brinquedo sequer, seria o fim!

Foi quando ele correu para pegar o brinquedo, que viu Angel e Mary. Ele sinalizou freneticamente para nós dentro do prédio e Rick foi até ele. Quando eles voltaram, estavam com Ângela e Mary nos braços. Apressamo-nos para secá-las, aquecê-las e alimentá-las...

Enfim! Tudo ficou bem... No fim das contas...

-Bom dia, primos lindos! - disse Júlia, sentando-se ao nosso lado. Leonardo abriu um sorriso enorme para ela.

-Bom dia. - disse ele. Rick e eu trocamos um olhar e prendemos o riso.

-Bom dia, Juh. - dissemos nós dois.

-Com licença... - uma voz nova nos interrompeu, olhamos em sua direção e vimos Isa. - Aly, pediram para te entregar isso. - disse ela, estendendo-me um pequeno pedaço de papel dobrado. Peguei-o sem fazer ideia do que se tratava, mas já suspeitando.

-Quem mandou...? - ergui os olhos do papel para olhar para Isa, mas ela já havia saído correndo.

-Abre! - ordenou Júlia, mais ansiosa do que eu. Típico dela.

Desdobrei o papel e comecei a ler o que estava caprichosamente escrito ali.

Por que você roubou essas duas estrelas?

Que coisa feia...

Tire-a dos olhos e as devolva para o céu!

Bom dia, minha linda!

Leonardo uniu as sobrancelhas. Meu primo é lindo, mas muito, muito lento para compreender certas coisas. Rick apenas me olhou com a boca cheia de pão e Júlia ficou boquiaberta para logo depois abrir um largo sorriso.

-Mais um recadinho do seu Admirador Secreto? - brincou ela.

-Para! - pedi – Eu não tenho admirador nenhum!

-Não é o que parece. - disse Richard com a boca cheia.

-Se eu descobrir que isso é mais uma brincadeira da Jazz... - comecei.

-Falando nisso, cadê ela? - perguntou Rick.

-Onde mais? Dormindo. - respondeu Júlia, como se fosse óbvio.

Se fizeram alguns segundos de silêncio, até que Léo me deu uma cotovelada discreta. Encarei-o pronta para lhe chamar a atenção, mas percebi que ele estava me mandando sinais com o olhar. Ele olhou para Júlia e depois sinalizou com a cabeça para a porta, então lembrei do que havíamos planejados.

-Masoqueeufaço? - perguntei, inaudivelmente para ele.

-Tiraeladaqui. - disse apenas movimentando os lábios.

-Er... a Jazz está demorando, né, Juh? Vamos lá chamar ela...? - uma afirmação que mais pareceu uma pergunta. Pus-me de pé. Júlia riu.

-Acordar a Jazz? Tá de brincadeira, né? - perguntou ela.

-Não, não estou...

-Você sabe como ela fica mal humorada quando é acordada... - argumentou.

-A Jazz é mal-humorada sempre. - lembrou Rick.

-Eu sei, mas... - tentou Júlia, de novo.

-Vem logo! - levantei e puxei Júlia pelo braço rumo a saída do refeitório.

Ela não entendeu nada, lógico, mas não fez perguntas enquanto eu a rebocava pelos corredores. Subimos as escadas de degraus rangedores e adentramos o corredor de assoalho gasto e paredes desbotadas, onde ficava nosso quarto, ou melhor, o ovo que nós três dividíamos. Quando entrei no quarto, sem cerimônias, trazendo Júlia a reboque, logo vi Jazz, dormindo na cama de baixo, se é que podemos chamar aquilo de dormir, ela parecia ter sido jogada ali de qualquer jeito.

-Você chama ela. - disse Juh, indo em direção ao armário, onde pregamos um pequeno espelho quebrado e manchado na porta, mirando-se nele.

Suspirei me aproximando da cama para aquela difícil missão.

-Jazz. - chamei. - Jazz? Jazz, acorda, vai perder o café da manhã. - falei, balançando-a pelo ombro. - Jazz! - suspirei. - Jazz, vamos lá!

-Hmmm... - resmungou ela, abraçando o travesseiro.

-Acorda! Está na hora, vamos! - balancei com mais força. - Jazz! Por Aslam, fala sério! Acorda, garota! Jazz!

-Me deixa... - ela, que sequer se deu ao trabalho de abrir os olhos, sinalizou para que eu fosse embora.

-Anda logo, madame. Vai acabar perdendo o café da manhã. Vamos, Jazz acor... - fui interrompida quando um travesseiro em alta velocidade atingiu as costas de Jazz.

-Acorda! - ordenou Juh, assustando a irmã, fazendo-a levantar num susto com o cabelo completamente bagunçado. Levantei e saí do quarto, fechando a porta enquanto as duas começaram a discutir.

Jazz reclamava por ter sido acordada, Juh retrucava coisas como “deixa de ser chata”, ou “não tenho culpa da sua preguiça”. Suspirei, vários minutos se passaram com as duas ainda resmungando dentro do quarto.

-Vocês vão demorar muito? - perguntei, do lado de fora, no corredor, cansada de esperar.

-Não. - respondeu Jazz, saindo do quarto seguida de Julia. Caminhamos para as escadas.

Peguei o celular do bolso e mandei a sms para Richard: “Já estamos descendo”. Sim, somos órfãos e não temos ninguém nesse mundo além de uns aos outros. Como temos celular? Bom, Rick e Léo fazem alguns bicos escondidos de Margaret, e com o dinheiro eles compram o que precisamos. Com esforço, compramos celular para nós cinco.

Deixei as duas irem na frente, ainda reclamando uma com a outra enquanto eu seguia mais atrás. Quando Juh e Jazz atravessaram as portas do refeitório, todos gritaram.

-SURPRESA! - as duas estavam paralisadas quando eu cheguei atrás delas. Eu, acredite, eu também fiquei chocada quando vi a mudança que eles fizeram num espaço tão curto de tempo.

Joe e Math e mais dois garotos saíram da cozinha trazendo três mesas com rodinhas nos pés, com um bolo enorme em cima, colocaram as mesas lado a lado formando um bolo maior ainda, onde podíamos ler “Feliz Aniversário Juh & Jazz”. Empurrei as duas paralisadas para mais perto de todos e nós começamos a cantar “Parabéns pra você” alegremente enquanto elas continuavam sem saber o que fazer, com um sorriso de orelha à orelha. Todos comemoravam alegremente, quando a música acabou, as duas sopraram as duas velas que foram postas no bolo gigante e nós batemos palmas outra vez. Rick se aproximou com uma faca e entregou às gêmeas, cada uma delas cortou um pedaço. Todos fizeram silêncio, curiosos para saber para quem iam.

-Para quem vai seu primeiro pedaço, Juh? - perguntou Jazz.

-Para quem vai seu primeiro pedaço, Jazz? - perguntou Juh.

-E O PRIMEIRO PEDAÇO VAI PARA... MINHA GÊMEA!! - disseram as duas ao mesmo tempo, passando os pratos com bolo uma para a mão da outra. Nós rimos e o flash da câmera do celular do Léo quase me cegou.

-Hora dos presentes! - gritou Isa.

-É! - gritei junto com os outros.

Algumas das crianças entraram no depósito, numa porta mais atrás e trouxeram inúmeras caixinhas de presentes. Cada um dos baixinhos do orfanato pegou o presente que lhe correspondia a dar e com uma organização surpreendente meus primos organizaram todos a sentar no chão, formando um círculo. Jazz e Juh estavam sentadas entre Rick e Léo e eu do outro lado do círculo, sentada de frente para eles, com Mary no colo.

Como aqueles momentos inesquecíveis, os pequenos entregaram seus presentes para as duas com o maior carinho, um presente mais fofo que o outro que as crianças fizeram sozinhas. Até que, quando os presentes acabaram, Léo, Joe e mais alguns garotos saíram do refeitório e voltaram trazendo um som. Joe o pousou no balcão do refeitório, com a ajuda de Léo, e anunciou.

-Formalidades feitas, agora é hora da festa! - e apertou o play. Uma música começou a soar por todo o refeitório. Logo as crianças começaram a dançar, com seu jeito desengonçado e divertido.

Léo.

Todos dançavam muito. O sorriso não só no rosto da Jazz e da Juh, mas nos de todos era gratificante. Valeu a pena ficar acordado até as 5 da manhã preparando os últimos detalhes enquanto o Rick capotou e me deixou fazendo tudo sozinho. Realmente valia a pena.

Agora todos estavam dançando. Era divertido ver as crianças dançando fora do ritmo. Alysson bailava de um lado para o outro, com Mary nos braços, como se dançasse com a pequena que não parava de abrir sorrisos. Rick e Jazz subiram no balcão e tocavam guitarras invisíveis, balançando a cabeça, jogando a cabeça para trás e para frente. Como Jazz tem cabelos compridos, assim esse movimento cria um efeito bem legal, mas Richard estava um fracasso ao lado dela. Fazendo uma nota mental para me lembrar de rir da cara dele por isso, eu atravessei as crianças saltitantes até chegar onde Juh estava dançando e puxá-la delicadamente pelo braço para longe dos pingos de gente.

-Não sei se você percebeu, mas eu estava dançando. - reclamou ela, olhando nos meus olhos com um sorriso de lado que desfez todo seu ar de reclamação.

-Eu sei. - falei como se fosse óbvio, mas logo mudando o tom. - É que... Eu... Eu queria te... Te entregar isso... - dei pausar estratégicas para que eu não gaguejasse. Pigarreei discretamente, enquanto tirava o presente do bolso. Era uma caixinha pequena, encapada com um tecido aveludado e preto. Entreguei-o a ela torcendo para que Juh não percebesse meus dedos trêmulos. Ela olhou um pouco confusa para mim e depois para a caixa antes de abrí-la.

Então sua expressão mudou totalmente. Seus olhos adquiriram um brilho novo e sua boca ficou entreaberta enquanto eu a olhava ansioso. Ela olhou para mim e depois para o interior da caixa, em seguida para mim de novo.

-Léo... - ela procurava as palavras. - Léo, é lindo!

-Você gostou?

-Amei!

Eu sorri.

-Deixa eu colocar em você. - peguei a caixinha de suas mãos tirando de lá o colar. Ele era simples, na minha opinião, ela merecia muito mais, mas só pude comprar aquele. A corrente era fina e prateada e o pingente era como cristal, no formato de um floco de neve, o material transparente e delicado se destacava ao ser tocado pela luz do sol.

Deixei a caixinha vazia nas mãos de Júlia e ela deu as costas para mim, puxando todo o longo cabelo para frente. Parado atrás dela, segurando uma ponta do colar em cada mão, desci o pingente devagar, em frente ao seu rosto até pousá-lo em seu colo, fechando-o em sua nuca. Ela soltou os cabelos e virou para mim com um sorriso radiante enquanto tocava o pingente com a ponta dos dedos. Eu sorri automaticamente, só por vê-la sorrir.

-Você gostou mesmo? - perguntei.

-Amei, Léo, é lindo! Obrigada... - ela me olhava nos olhos e eu sorri de novo, dessa vez por causa do nervosismo.

-Não há d.... - comecei, mas uma voz elevada me interrompeu.

-O que está acontecendo aqui?! - berrou alguém.

Tudo se interrompeu automaticamente. Num susto, todos olhamos para a porta, onde Margaret nos fuzilava com os olhos, de braços cruzados, acompanhada de quatro pessoas desconhecidas.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Bom, primeiro, desculpe pela demora. Mas aqui está o cap. Agora vou escrever as fanfics que faltam para postar as outras!
Não esqueçam dos reviews!
Beijokas!!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Heirs" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.