Heirs escrita por Jajabarnes


Capítulo 3
17 Anos Depois.


Notas iniciais do capítulo

Cá estou eu, divirtam-se.



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Eu lembro de cada detalhe. Como se tivesse sido ontem. Mas não foi. Já faz tanto tempo, e agora está tudo bem, mas as lembranças ainda me atormentam nos sonhos, no silêncio perturbador da minha mente inconsciente.

Toda noite aquilo se repete. É sempre a mesma coisa, embora não tenha o mesmo impacto de antes. O País de Aslam é maravilhosamente maravilhoso, mas não ajudou a amenizar minhas piores lembranças.

Eu ainda lembro de tudo. Lembro de quando, no calor da batalha, eu vi o escudo ser lançado para longe e a boneca de Alysson cair, encharcada com o sangue de Edmundo. Vi quando Gael rolou escada abaixo, derrubada por um dos soldados inimigos, e só parou quando chegou ao chão do pátio, caída, com sangue saindo de seu machucado na cabeça. Ela não levantou mais.

Lembro quando Áries correu para defender Lúcia de um minotauro quando a mesma não aguentava mais lutar, lembro quando o minotauro derrubou Áries. Lembro de ouvir o grito de Lúcia.

Lembro de ver, de relance, Vanessa sendo arrastada pelos cabelos por um lobisomem, aos gritos. Lembro de ver Pedro lutando numa das varandas, mas no momento seguinte, quando olhei novamente, ele não estava mais lá e a mureta estava quebrada.

Eu não conseguia mais lutar. Não tinha mais forças. Todos estavam mortos, as chamas já tomavam conta do castelo, nosso exército foi dizimado e nem um milagre nos salvaria. Mas como rei, eu lutaria até a morte. E ela não estava longe.

Matei um soldado, quase não me aguentando em pé. Olhei em volta em busca de Susana, preparando meu coração para o caso de vê-la morta. Mas não, ela estava viva, mas estava desarmada e a Feiticeira se aproximava dela.

Jadis ergueu a espada, pronta para matá-la, encurralando-a contra uma parede. Susana estava ferida demais, não conseguia mais lutar. Eu não podia assistir aquilo. Num átimo, eu me pus entre as duas, abraçando Susana no mesmo momento em que a Feiticeira deu o golpe final. A espada atravessou minhas costas e espetou o peito de Susana. Meus ouvido ficaram surdos e eu só consegui ouvir as ultimas batidas de nossos corações, meus olhos embaçaram e a última lembrança que tenho daquela batalha são os olhos de Susana, perdendo o brilho junto com os meus.

Agora, depois de 17 anos, estamos todos juntos, no País de Aslam. O lugar é maravilhoso e nem se compara com Narnia. Estamos todos felizes, livre de qualquer ameaça. Nossa única preocupação agora, são nossos filhos. Era alívio saber que eles estavam bem longe da Feiticeira, mas não podíamos evitar a saudade e a preocupação, nem o desejo de tê-los aqui conosco.

-Como será que eles estão agora? - perguntou Lúcia, pensativa.

-Devem estar tão crescidos... - sonhou Gael, deitando a cabeça no ombro de Edmundo.

-Posso garantir que estão bem. - disse Aslam. - Estive de olho neles esses anos todos, e confesso que me diverti muito... - ele riu, nos fazendo rir também. - Se quiserem, podem vê-los.

Houve um silêncio de ansiedade, como se não tivéssemos entendido o que ele acabara de dizer.

-Podemos?! - um brilho novo brilho em nossos olhos.

-Vocês merecem, não? Apenas alerto que as coisas não estão muito fáceis para eles.

-Mas você disse que os deixou num lugar ótimo... - Gael não entendeu e nós também não.

-E deixei, era um orfanato maravilhoso em Londres, mas as coisas mudaram de uns tempos para cá nessa instituição, nada que eles não resolvam, mas há um problema mais sério.

Trocamos um olhar

-Que tipo de problema? - perguntou Edmundo, por todos nós.

-Jadis os descobriu.

Houve um arfar de choque.

-O que?! - exclamamos.

-Calma, crianças. - disse ele. - Jadis não pode ir até eles, não pode alcançá-los, pelo menos, não diretamente.

Senti certo alívio, mas ainda assim era angustiante saber que eles estavam na mira de Jadis.

-Ela não fez nenhum mal a eles, fez? - perguntou Pedro.

-Não, o foco principal da Feiticeira é impedir que eles venham a Narnia. - explicou o Leão.

-E como ela faria isso? - perguntei.

-Ela já mandou intermediários para o orfanato em que os Herdeiros vivem.

-Monstros...? - sugeriu Edmundo.

-Não, adolescentes. Inimigos a altura dos seus filhos. - falou, obviamente.

-E onde ela os conseguiu? - perguntei.

-Acho que é melhor verem com seus próprios olhos, mas não poderão ir pessoalmente até eles, terão que observá-los a distância.

-Mesmo assim, será maravilhoso. - disse Lúcia, sorrindo.

[…]

Após o almoço cheio de especulações sobre nossos filhos, Aslam nos levou a um lugar reservado do palácio, lá, ele soprou contra a parede onde surgiu uma mancha colorida e embaçada que logo tomou forma e nitidez.

Era uma rua, uma rua estranha confesso, mas ao olhar para os rostos de Susana, Edmundo, Pedro e Lúcia, vi um brilho, como se todos eles sentissem a mesma coisa, o mesmo sentimento, a mistura das lembranças com certa saudade.

Coisas estranhas passavam pela rua, muito rápido, pessoas de roupas estranhas passavam apressadas pela calçada.

-Está tudo tão diferente...! - disse Pedro, olhando para a imagem, encantado.

-Aslam, quanto tempo se passou, desde que viemos a Narnia? - perguntou Lúcia.

-Sessenta e quatro anos. - respondeu o Leão, fazendo os Pevensie arfarem.

-Sessenta e quatro?! Então, tecnicamente, nossos filhos estão mais velhos que nós? - perguntou Edmundo, nos fazendo rir.

-Quando eu os levei para seu mundo, também os levei para o final do século em que vocês viviam. - explicou Aslam. - Para eles só se passaram 17 anos também.

-Ah – Ed respirou aliviado. - Menos mal.

Nós rimos de novo. Foi quando na imagem na parede surgiu um lugar. Era um prédio mal cuidado, de aparência sem graça. Havia um jardim mal cuidado, sem relva e plantas, apenas a terra marrom e irregular, alguns brinquedos velhos e enferrujados. Não havia ninguém do lado de fora, mas podíamos ouvir muitas vozes vindas do lado de dentro. A imagem mudou. Agora víamos o interior de uma sala grande, cheia de mesas e cadeiras simples, o lugar estava cheio de crianças. Elas estavam decorando o lugar, penduravam uma faixa grande onde estava escrito “Feliz Aniversário”, enquanto outros juntavam duas ou três mesas e organizavam sanduíches sobre as mesmas. Só haviam dois rapazes mais velhos, que coordenavam tudo, um tinha cabelos loiros e olhos claros enquanto o outro tinha cabelos negros e olhos azuis, logo os reconhecemos. Vanessa abraçou Pedro lateralmente, enquanto o mesmo não escondia o sorriso. Áries sorria e e Lúcia cobriu a boca com uma das mãos, os olhos marejados.

-Vamos, gente, elas estão quase chegando! - avisou o louro, que indiscutivelmente era Leonardo, que pendurava a faixa junto com o outro, que, obviamente, era Richard.

Richard levou a mão ao bolso e tirou de lá uma caixinha que fazia um barulho estranho.

Bip... Bip...

Ele olhou a caixinha e logo a guardou no bolso novamente.

-Era a Alysson, elas estão descendo as escadas! - avisou ele. Os dois terminaram de pendurar a faixa e desceram das mesas que se subiram.

-Elas estão vindo! - avisou Leonardo a todos. - Rápido! Todos em suas posições, em silêncio!

As crianças se organizaram rapidamente de frente a uma porta mais larga e fizeram silêncio absoluto. Ouvimos vozes femininas, a porta se abriu e três moças passaram por ela. Duas vinham na frente e atrás vinha uma ruiva. Meu coração estava a mil.

-SURPRESA!!! - gritaram todos, fazendo as duas parem. Elas abriram sorrisos lindos enquanto um brilho ofuscante surgia nos olhos escuros de ambas. Os meus olhos. Eu vacilei.

-Su... - chamei. - Su, são elas...! - meus olhos se encheram de lágrimas enquanto um sorriso rasgava meus lábios.

-É, Cas, são elas...! - a voz de Susana estava embargada e eu a abracei lateralmente. Elas estavam tão crescidas... Tão lindas... Meu coração se encheu de uma felicidade inexplicável.

Mas ouvimos um som mais alto que o batuque do meu coração. Todos olhamos em direção ao som.

-Ed, você está bem? - perguntou Gael, também com a voz embargada e os olhos cheios de lágrimas. Todos estavam assim, prestes a cair no berreiro.

-Es-estou... - Edmundo fungou, tentando disfarçar, inutilmente, o seu choro. - Eu... - fungou, limpando as lágrimas. - Tô legal...

-Tem certeza? - perguntou ela novamente.

-Aham... - então a face de Edmundo se avermelhou e as lágrimas voltaram a banhar seu rosto. - Ela está tão crescida, Gael... - e ele chorou novamente.


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Notas finais do capítulo

Sei que está curto e talvez meio confuso, na verdade eu não estou completamente segura deste cap, mas enfim.
Reviews!!
Beijokas!!



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