-Uma dama tão bonita não devia estar desacompanhada. - falei, de pé, a frente de sua mesa. Ela ergue os belos olhos azuis para mim e ao me reconhecer abriu um sorriso largo e lindo que fez toda a minha espera valer à pena.

-Concordo plenamente, senhor, mas o cavalheiro que eu gostaria que estivesse aqui comigo, me acompanhando, está sumido desde domingo. - disse ela.

-Sendo assim, a senhorita me permitiria fazer-lhe companhia? - perguntei. Ela assentiu uma vez.

-Fiquei à vontade.

Puxei a cadeira e sentei à sua frente.

-Por gentileza, a senhorita poderia ter a bondade de falar-me uma pouco a respeito deste, hm, ilustre e exemplar cavalheiro que deveria estar acompanhando-a? - falei. Susana prendeu o riso e eu comecei a ler e segurar o cardápio elegantemente.

-Por onde posso começar...? Bem, é um pouco mais velho que eu, bonito, inteligente, divertido... Gostamos das mesmas coisas... Nos divertimos muito juntos, bom, pelo menos, eu me divirto muito com ele.

-E aposto como ele aprecia muito a sua companhia... Seu sorriso, sua voz, seu jeito... Por isso acredito que ele deve estar com muitas saudades suas, contando os minutos para vê-la outra vez... - comentei, olhando-a nos olhos. Ela sorriu.

-Talvez o senhor tenha razão, mas eu não sei o que aconteceu. - confessou ela. - Ele não ligou, não mandou mensagem e... Também não atendeu minha ligação.

Uni as sobrancelhas.

-A senhorita ligou para ele?

-Sim.

-Quando?!

-Segunda-feira, por volta das 16h.

Foi quando eu estava falando com Pedro.

-Mas, em todo caso, ele devia ter ligado. - disse ela.

-Bem, talvez ele não quisesse atrapalhar, afinal, a senhorita podia estar trabalhando, entende? Talvez o pobre cavalheiro não soubesse a que horas seria mais conveniente ligar. - justifiquei. Susana deu um leve sorriso.

-Sendo assim, eu espero poder dizer a ele que pode ligar a qualquer hora, com exceção do horário comercial.

-Com certeza terá a chance de dizer isso a ele. - garanti. - Mas me diga, não ficou chateada com ele, ficou? - temi. Susana estava séria e suspirou, mas para meu alívio, ela sorriu.

-Não... No mesmo dia, quando cheguei em casa, havia uma encomenda para mim na portaria e adivinhe! Naquela noite eu dormi sentindo o perfume das minhas flores prediletas.

Trocamos um sorriso.

Fizemos nossos pedidos e jantamos juntos, logo conversando normalmente, deixando de lado as brincadeiras e agindo como os velhos e mortos de saudades amigos de sempre.

[…]

Foi mais um momento especial para o meu repleto acervo de “Momentos Com Susana”. Deixamos o Manjar de braços dados, meu carro ficou de lado e caminhamos até o prédio em que ela morava. Calmamente, de braços dados, dando risadas e conversando animadamente.

Confesso que tentei retardar os passos, deixando mais demorado o caminho até o apartamento, mas, uma hora, acabamos chegando em frente ao prédio. Novamente teríamos que nos despedir, mas dessa vez eu já havia decidido que seria diferente.

-Chegamos. - disse, mais para mim mesmo, quando paramos de andar.

-É. - ela deu uma rápida olhada para o prédio antes de ficar de frente para mim. - Você não vai sumir de novo, vai?

-Não, claro que não. - sorri.

A conversa estava se arrastando e eu sabia que tinha que fazer alguma coisa.

-Hm – começou Susana. - Você não quer subir? Vai passar um filme ótimo hoje...

Dei de ombros.

-Se não tiver problema...

-Problema nenhum. - disse ela, como se fosse óbvio.

Adentramos o prédio de mãos dadas, conversando sobre filmes. Subimos de elevador e ao chegar no 6º andar ela me guiou até a porta número 65, tirando as chaves da bolsa e entrando. Entrei e tirei o casaco, olhando em volta.

Era um apartamento pequeno, provavelmente do tamanho do meu, só que muito mais arrumado. O apartamento de Susana, claro, tinha o toque feminino que o meu estava extremamente necessitado.

-Desculpe a bagunça. - disse ela, depois de trancar a porta, deixando a chave na fechadura e a bolsa sobre a mesa onde havia alguns papéis. Que bagunça? - Fiquei à vontade, pode ir ligando a TV, eu vou trocar de roupa e já volto.

E sumiu no corredor.

[…]

O filme era inédito e bastante divertido. Depois que Susana voltou do seu quarto, ela trouxe refrigerantes da cozinha. Ela vestia uma camiseta e um short, eu tirara os sapatos e nós estávamos no sofá, eu sentado e ela aconchegada ao meu lado com a cabeça deitada em meu ombro, ambos com as pernas cobertas por um cobertor por causa do frio que começavam a aumentar.

O primeiro intervalo comercial chegou. Susana levantou, foi até a cozinha levando os copos e eu a segui com a tigela, meio que por trás de Susana, pousando a mão em suas costas. Estávamos mais perto do que o de costume.

-Parece que está chovendo... - comentei, olhando a janela fechada.

-Chovendo? Isso é uma tempestade! - brincou ela.

-Parece que estamos presos aqui... - pensei alto.

-Espero que não seja um plano seu. - brincou, estreitando os olhos.

-O que? Feito chover? - questionei. Susana riu.

-Desculpe, foi uma brincadeira idiota.

-Nada é idiota quando faz você rir... Quando me mostra esse sorriso... - toquei sua face, falando baixo, olhando em seus olhos, chegando mais perto, deixando Susana entre o balcão da pia e eu.

-Gosta do meu sorriso? - perguntou ela, retribuindo meu olhar e o tom de voz.

-Seu sorriso é lindo... - confirmei. - Seu sorriso, seus olhos, seu rosto... Você... - enrolei meus dedos suavemente em seu cabelo.

-Acha mesmo tudo isso? - suas mãos subiram por meus braços e ombros até minha nuca, mergulhando os dedos em meus cabelos. Seu toque era tão doce... Tão aconchegante...

Sorri de leve, aproximando meu rosto do dela lentamente.

-Acho... Acho, sim...

Nossos lábios se tocaram pela primeira vez e, juro, me senti novamente aquele garoto de 14 anos dando seu primeiro beijo.

O beijo com Susana começou tímido, mas aos poucos foi perdendo a timidez, ganhando sensualidade. Meus braços seguraram firmemente seu corpo contra o meu enquanto o beijo se tornava quase inquebrável.

Foi só ali que eu percebi que ansiava por aquele momento desde que pus meus olhos em Susana pela primeira vez. Aquela mulher bela, gentil, divertida, inteligente e encantadora que atendia pelo doce nome Susana. Sim, agora estou mais que convencido de que Susana é a primeira a conquistar meu coração galanteador...

Quebramos o beijo, ofegantes, separando apenas os lábios, eu sentia sua respiração em meu rosto. Eu sentia seu cheiro, seu calor e não resisti em sentir o gosto do seu beijo de novo, dessa vez de uma forma mais sedenta. E o fato de Susana corresponder com a mesma intensidade só balançava mais meus sentimentos por ela.

Os únicos sons que se ouvia era o estrondoso som da chuva e, ao fundo, as vozes do filme que recomeçara, mas não estávamos nem um pouco interessados em voltar a assistir – pelo menos por enquanto – porém, o som que soava mais alto e o que me fascinava completamente era o som de nossas respirações ofegantes.

Dessa vez Susana quebrou o beijo e agradeci por isso internamente por que, se aquele beijo continuasse daquela forma, eu não saberia onde iria parar. - na verdade eu sabia, mas enfim, você me entendeu.

Ofegante, eu toquei seu rosto novamente, como antes, sussurrando.

-Se continuar me beijando dessa forma, vai acabar me deixando louco... - falei, tentando dar um tom brincalhão à voz. Ela sorriu trazendo uma das mãos até meu rosto e tocando meus lábios com o polegar. Ofeguei levemente.

-Você não é o único a estar quase perdendo a cabeça... - garantiu e nós sorrimos. Nesse momento, um raio cortou o céu.

-Soube que estou preso aqui até essa tempestade passar. - comentei, ouvindo as trovoadas.

-Sendo assim, acho que tem um filme nos esperando. - lembrou. Com relutância, me distanciei dela, dando-lhe passagem.

-Primeiro as damas.

Susana passou por mim e assim nós voltamos para a sala. Mas dessa vez noa abraçamos de forma diferente, não era mais como “só amigos”. Deitamos no sofá, abraçados, cobrindo-nos com o cobertor. E assim, acabamos pegando no sono.