Na segunda-feira voltei a minha rotina. Pela manhã, trabalhei em alguns projetos em casa, à tarde fui apresentá-los na empresa. Foi ótimo, todos os meus superiores aprovaram minhas ideias.

Ao sair de lá, fui ao café mais próximo. Estava deixando o local quando meu celular tocou.

-Eu perdoo você. - disse Pedro do outro lado da linha.

-O que?

-Eu perdoo você. - repetiu.

-Me perdoa pelo que? - questionei.

-Como assim “pelo que”?! - ele exaltou-se, teatralmente magoado. - Eu te perdoo, Caspian, por ter me trocado pela Susana! - bradou e eu caí na gargalhada.

-Vai por mim, minha relação com a Su é bem diferente da nossa. - justifiquei.

-Hum... Melhor assim. - brincou, voltando a agir naturalmente. - Vai, pode me contar detalhes.

-Não aconteceu nada especial... - na verdade, aconteceram muitos momentos especiais, mas “especiais” para Pedro significava outras coisas.

-Sei...

-É sério. - garanti.

-Vai me dizer que não beijou ela?

-Vou. Não beijei ela... Ainda. - tomei um gole do meu café, andando pela calçada em direção ao meu carro, que deixara em uma outra rua.

-Tem falado com ela?

-Não a vejo desde ontem, mas eu ando meio ocupado e ela deve estar trabalhando, não quero atrapalhar... - contei.

-Entendo, mas eu te conheço, faz tempo que não vejo você assim com uma mulher, para falar a verdade, é a primeira vez. Seu interesse na Susana está mais do que comprovado, mas ouça um conselho: não perca muito tempo, o que não falta são pretendentes prontos para agarrá-la quando você der mole...

-Obrigado, Sabe-tudo. - cheguei ao carro e já entrava. - Mas você não me disse de onde se conhecem. - liguei o motor.

-Er... Bom, estudamos juntos desde a quarta série e fizemos o primeiro ano da faculdade juntos, aí eu descobri que medicina não fazia o meu tipo e comecei a cursar direito. Mas nós não perdemos contato.

-Hum... Você falou com ela desde a festa super badalada do seu pai? - eu já dirigia rumo ao novo destino. Coloquei o celular no viva voz sobre o banco do passageiro enquanto dirigia para o endereço que eu havia tirado de um anúncio.

-Olha não começa. Você já teve muita sorte de mamãe me deixar convidá-lo... - respirou fundo. - Mas, respondendo a sua pergunta, não, não tenho falado com a Su... Acho que ela me esqueceu também.

-Drama não combina com você, Pedrita. - provoquei, sabia que ele odiava ser chamado assim. Quem não odiaria?

-Caspian, você merece um soco.

-A sorte está do meu lado por que você não pode me alcançar. - debochei.

-É. Não posso, mas eu sei onde você mora. - ameaçou.

-Pois é, quando você chegar abrimos uma cerveja, ligamos a TV no canal de esportes e fica tudo na paz.

-Eu tenho que arranjar novos meios para não ser subornado. - pensou alto.

Logo em seguida nós rimos.

-Onde você está? - perguntou ele.

-Estou no corro.

-Indo a onde?

-Á uma floricultura...

-Flores, é? A coisa está ficando séria...

Eu sorri.

-Vá com calma, Pedro, talvez fique sério, talvez não... Você sabe, eu quase nunca fico mais de um ano em um lugar, logo sou transferido...

-Disso eu sei e a Susana também deve saber.

-E sabe. - afirmei.

-Pois é, meu caro Caspian, mas o que importa é se você está mesmo interessado nela. Você está?

Eu sorri.

-Susana é uma mulher incrível, extremamente linda, inteligente, divertida... Nunca conheci ninguém como ela... Mas respondendo a sua pergunta, sim, eu estou interessado... Talvez até mais do que interessado.

-Como assim? - estranhou ele.

-Sabe, Pedro, nunca achei que diria isso, mas... Acho que estou me apaixonando... Pela primeira vez.

[…]

Quando estacionei em frente a floricultura não estava mais falando com Pedro. Na loja, escolhi um buquê de tulipas, escrevi um curto bilhete colocando-o entre as flores e mandei entregar no endereço de Susana. Durante nossa conversa no Manjar ontem, descobri muitas coisas interessantes sobre ela, inclusive suas flores preferidas.

Eu não via a hora de encontrá-la de novo, mas sabia que seria quase impossível durante a semana, então teria que esperar até sexta-feira quando eu sabia que ela estaria jantando no Manjar.

Demoraria uma eternidade até sexta, mas o lado bom era que eu tinha tempo para criar coragem e tomar alguma atitude com relação a nós dois.

[…]

Aquela semana realmente bateu o recorde de Semana Que Demorou Mais A Passar. Sinceramente! Eu não aguentava mais. Terça passou num piscar de olhos, o que me deixou empolgado, mas na quarta o relógio já dava sinais de que andava para trás. Quinta então, nem se fale! Tive vontade de jogar o relógio pela janela. Estava tão ansioso que passei a tarde inquieto, xingando o sol por sua demora em se pôr, ao mesmo tempo em que treinava no espelho o que diria a ela. Quando a noite finalmente chegou, fui dormir, acordando tarde no dia seguinte. Para minha felicidade, aquele dia passou voando.

Comecei a me arrumar cedo, caprichando em cada detalhe. Saí de casa por volta das 19h e 30min, chegando às 20h e 15min no Manjar. O movimento estava grande naquele restaurante e eu hesitei, dentro do carro, em dúvida se devia ou não entrar. Acabei entrando, claro.

Ao adentrar o grande salão, percorri todas as mesas com o olhos até encontrá-la, linda como sempre, sentada sozinha em uma das mesas. Susana lia o cardápio, concentrada o bastante para não perceber minha aproximação.

-Uma dama tão bonita não devia estar desacompanhada. - falei, de pé, a frente de sua mesa. Ela ergue os belos olhos azuis para mim e ao me reconhecer abriu um sorriso largo e lindo que fez toda a minha espera valer à pena.