Tudo girava loucamente, e ela não conseguia sentir a gravidade. Se voar fosse assim, Mary estava agradecendo por nunca ter tentado antes. Sua espada já não estava mais em sua mão, deveria ter caído com o susto que levou. Pelo menos, agora não tinha o risco de se cortar quando caísse.

E, para sua surpresa, caiu em cima de alguém que soltou um gemido alto de protesto. Colocando uma mecha de cabelo atrás da orelha, num gesto nervoso, ela usou os braços de apoio para poder ver quem era. E enrubesceu no mesmo instante. Mas, ignorando completamente a vergonha, se abaixou novamente, a ponto de ficar muito perto do rosto dele.

- O que eles são? E o que fizeram? - Perguntou ela, num sussurro rápido e alerta.

John olhou para ela, com as sobrancelhas juntas. Os olhos cor de âmbar pareciam brilhar.

- Vampiros. Não viu as presas? - Ele levantou parte do lábio e apontou com o dedo, sem tocar, como se fosse preciso isso para ela entender.

- Pensei que eles não existiam - disse ela, mais para si do que a ele. - E a explosão?

- É isso que vou descobrir quando você sair de cima de mim.

Ela rolou para o lado, se atrapalhando com o vestido. Se levantou meio rápido, e isso fez sua visão escurecer e ela ficar levemente tonta, mas ainda podia sentir as maçãs do rosto estarem vermelhas. Quando o olhou, John já estava de pé, e encarava a poeira levantada. Estava com o chicote firmemente enrolado na mão.

Mary deu alguns passos à frente, em direção ao centro do desastre. No quarto, o braço dele lhe impediu a passagem. Ela olhou-o, desconcertada.

- Você não está armada - disse ele, com um tom de alerta na voz e nos olhos. - E acredite, eles são perigosos, apesar de eu nunca ter visto vampiros explodirem uma igreja. Não saia do perímetro, eles não podem entrar em território santo.

- Tipo, abençoado? - Disse ela, sem acreditar. - Divino? Pensei que Deus não existia.

- Se realmente existe - ele respondeu, procurando algo além da parede de poeira -, eu não sei. Mas eles não podem entrar aqui. E você vai ficar. Procure ajuda, ou tente ajudar Annie. Ela conhece o cara que estava com seu irmão.

- Eu odeio seguir ordens - murmurou ela, cruzando os braços.

John se virou para ela. Se encolhendo levemente, esperou levar uma broca, mas ele estava claramente sorrindo de prazer com seu comentário.

- Eu também. - E se lançou para o além, saindo de sua vista.

Meio atordoada, ela se virou, procurando algo para fazer. Não demorou muito e viu Annie passando por ela, com uma lâmina brilhante na mão e uma expressão furiosa. Depois desapareceu no meio da poeira. Em direção ao que achava que era o elevador, Mary começou a correr, querendo chegar logo lá. Entrou no meio da poeira, em direção diferente ao dos outros dois. Mas se meteu em uma enrascada pior.

Uma bela armadilha.

Dezenas de monstros se estendiam à sua frente. Alarmada, ela tentou recuar, mas, diferentemente das criaturas vampirescas, eles podiam entrar no Instituto. Mary se virou e correu, varrendo o chão com os olhos, procurando sua espada. Mas caiu no chão quando sentiu uma flecha perfurando seu ombro direito, criando uma dor insuportável. Ela gritou de pavor quando a arma lhe atingiu, e tateou a região machucada, até achar a haste da flecha. Arrancou-a, provocando uma dor muito maior. Pode sentir o sangue escorrer por muito mais força pela sua pele. 

Rapidamente, Mary se virou e se pôs de pé, ignorando os protestos de todo o seu corpo. Tinha somente uma flecha ensanguentada na mão contra dezenas de monstros. Iria morrer. Nada mais legal que isso. Jogou a flecha com o braço esquerdo em uma dracaena, mas o monstro a desviou com o escudo. Em seguida, sorriu, com os olhos amarelos com fendas, e a língua bifurcada saltando entre os dentes. Numa mistura de se rastejar e andar, ela veio com o corpo de cobra no lugar das pernas na direção de Mary. Ergueu a lança na direção da garota e...

Virou pó.

Olhando para trás, viu o resto do Instituto, vestido com preto e com inúmeras armas nas mãos. Não pode deixar de sorrir quando Percy abaixou o arco, que estava posicionado para o que restara da dracaena. Ele estava com uma expressão orgulhosa no rosto.

- Agora estamos quites - ele disse, e jogou o arco para ela e uma aljava que estava presa no ombro. Mary percebeu que ele carregava outra na cintura.

- Obrigada - disse, e se levantou. Mas quase caiu ao se lembrar do ferimento no ombro.

Percy, ao ver seu estado, andou até ela.

- Peguem os monstros! - ele gritou, e ela viu os guerreiros correrem e liquidarem as bestas. Eles eram quase tão bons quanto as Caçadoras. - Sara, aqui, faça uma iratze.

- Uma o que? - disse Mary, assustada.

Uma garota negra, com olhos escuros e cabelos encaracolados pretos em um rabo de cavalo se aproximou dela. Ela parecia ser legal, mas mesmo assim, Mary ficou assustada. Carregava uma estela igual a de John.

- Meu nome é Sara. Eu vou ajudar você com esse machucado, caso quiser lutar.

Mary assentiu quase imperceptívelmente com a cabeça, com medo. Ela viu o objeto queimar a pele de John, e estava pensando se a dor era realmente horrível como aparentava. Estendeu o braço para Sara.

Segurando o braço gelado de Mary com leveza, ela afastou o tecido da manga do vestido, ao ponto de conseguir um pedaço de pele à mostra. Ela tocou o braço ela com dedos quentes, para não deixar a roupa lhe atrapalhar. Então, começou a desenhar linhas negras em sua pele. Elas não doíam como havia imaginado. Era um tipo de dor quase familiar, até mesmo prazerosa.

Sara largou seu braço, e guardou a estela. Puxando o braço para si, Mary sentiu o ferimento em suas costas se cicatrizar e o sangue parar de fluir. Isso era incrível.

Ela prendeu a aljava na cintura e colocou uma flecha no arco.

- Obrigada - disse a Sara, que retribuiu o agradecimento com um sorriso. Então, com uma sensação enorme de expectativa tomando conta de seu corpo, se lançou em direção de John e Annie.