Skyfall - Fic Interativa escrita por Duquesa de Káden


Capítulo 4
Quente como a Califórnia


Notas iniciais do capítulo

Tudo bem, tudo bem, eu disse que apresentaria mais três personagens nesse capítulo, mas meio que não deu para associar a história de um com o outro. Apresentei apenas dois. Porém, talvez (digo talvez) eu possa colocar um capítulo de bônus apresentando o personagem que não pude apresentar nesse e mais um outro.
Muito obrigada pelos reviews e o apoio, sério, a todos vocês.
Violet Salvatore, aí está o seu presente oficial. Falei que não devia ter confiado em mim, mas você é uma boa menina...



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/323672/chapter/4

30 de Janeiro, ano 2013.

Ela era simplesmente perfeita. O modo como seus dedos, castigados pelas cordas dos mais diversos instrumentos, escorregava pelo piano e dava sinfonia àquela melodia deslumbrante que cantarolava. E isso não era o suficiente. Não bastava o talento, ela tinha ainda aquele rostinho bonito que as jovens dariam as suas vidas para ter. Os cabelos castanhos, nem lisos nem enrolados, o rosto quadrado de lábios e bochechas carnudas, ainda que o que mais chamasse a atenção fossem os olhos. Olhos castanhos desenhados a mão (ou olhos de Bambi, como a sua irmã costumava chamar). Era uma menina tão simples, com a blusa xadrez de manga comprida, a calça jeans e o all star, mas simplesmente brilhava.

– Melissa Frontier. – o empresário mirou-a quando ela parou de tocar – A gravadora tem muito interesse em sua música. Você e sua irmã estão contratadas.

Melissa abriu um sorriso maior que os dentes, olhou para o lado e deu um abraço tão forte em Mariah, sua irmã, que deu para ouvir as costelas dela estralando. Finalmente havia conseguido, sem fraquejar sequer uma vez ao longo dos tão demorados anos. Ela era persistente, afinal, não desistia de algo facilmente.

O próximo passo foi chamar um táxi direto para Lapa Country, o restaurante country mais renomado da cidade. A comemoração prometia durar dias se fosse preciso.

– Eu nem acredito que nós conseguimos. – confessou Mariah, enquanto ambas andavam de mãos dadas pelos corredores da gravadora – Você tem noção? Depois de tantos anos tentando fazer com que reconhecessem o nosso trabalho em Orlando a gente conseguiu aqui, na Califórnia, de primeira.

Melissa dobrou o corredor à direita. Estava começando a ficar meio perdida dentro daquela gravadora enorme, mas disseram que um segurança estaria esperando-as na saída.

– Eu sei. Parece inacreditável. Mas não podia ser diferente Mari, você é ótima. – ela olhou para a irmã com um sorriso plácido no rosto – Nós somos.

Dobraram mais um corredor e de longe avistaram a porta aberta com o segurança sentado frente a ela. Melissa achou estranho que um homem cujo trabalho é proteger a gravadora, já que a localização dela era péssima, quase na rodovia, estar sentado de qualquer jeito, mas não comentou isso em voz alta. Percebeu que Mariah havia acelerado o passo.

– Meu Deus! O que é isso?

Assim que Melissa chegou perto o suficiente, teve que tampar a boca com a mão ou teria vomitado sobre os próprios pés. O segurança estava num estado lastimável, parecia ter sido devorado por um urso. Tinha sangue pelo seu corpo todo, sujando o uniforme, e dava para notar um pedaço do crânio junto com os olhos cheio de nervos interligados sair através da pele arranhada. Foi a cena mais aterradora que a cantora country já havia visto em sua vida. Mas, sabe, ela não era boba. Se algum animal selvagem estava solto por aí, ela não ia deixar que ele as colocasse em perigo. Por isso pegou a pistola que o segurança tinha na borda da calça e o celular.

– O que você está fazendo? – sussurrou Mariah, quase tendo um ataque de nervos.

– Estou ligando para a polícia.

– Estou falando com essa arma. Larga isso aí! – Melissa guardou a pistola na borda da própria calça quando Mariah tentou pegá-la.

– Droga! Não estão atendendo.

– É sério Mel, vamos embora daqui.

Melissa deu uma última olhada no segurança, antes de concordar com a irmã e sair porta afora. Só não esperava encontrar o que encontrou assim que saiu.

Com certeza havia uma definição bem grotesca para o inferno, mas, acredite, quando se está numa rodovia com nada mais que mato para todos os lados, um vendaval de carros a toda velocidade praticamente se jogando uns contra os outros por causa de alguma “doença misteriosa” que se apodera do corpo das pessoas e as transforma em canibais esfomeados, o inferno não é um mal lugar para se estar. Tudo estava um verdadeiro caos. De longe ainda dava para ver os prédios mais altos de Sacramento e, se forçasse um pouco mais a vista para reconhecer o que eram aqueles pontinhos negros precipitando, veria que eram pessoas desesperadas se jogando dos seus apartamentos de encontro a morte certa. Quase não dava para diferenciar as pessoas que corriam das que jogavam-se sobre elas e as devoravam em poucos segundos. Para todo lado que se olhasse havia sangue e também havia aquelas... Coisas.

Melissa só queria tentar entender como tudo aquilo havia contecido apenas nas cinco horas que estiveram na gravadora. Como? Por acaso havia cochilado na sala de espera e agora estava tendo um sonho maluco?

Não importava. No momento enfiou em sua cabeça que queria permanecer viva e iria persistir nisso, como sempre fizera. Deu a mão a Mariah e destravou a pistola, tentando mirar nos zumbis – sim, ela sabia o que eram – que estavam mais próximos, enquanto corria para a rodovia. Um carro conversível chocou-se com uma carreta e foi arremessado contra a gravadora. Melissa e Mariah se abaixaram a tempo do automóvel passar voando por cima delas e atingir o imóvel com tudo. Um segundo depois e o prédio filiado da Sony Records explodiu, expelindo fogo e ferragens para todo lado. Parecia que pedaços placas, prateleiras e pessoas carbonizadas choviam do céu.

Melissa levantou num rompante com a irmã, mas ouviu-a gritar desesperadamente. Quando virou para ver, percebeu que um pedaço de concreto havia esmagado a sua perna direita. Se você não imagina a dor de amputar um membro, tente cogitar o desespero que é vê-lo esmagado, estraçalhado, mas ainda poder sentí-lo.

– Mari, oh meu Deus, Mari! – Melissa ajoelhou-se ao lado da irmã, chorando copiosamente.

– Corra Mel. Rápido.

– Não Mari, eu não vou te deixar.

– Corra logo! E prometa para mim que... Prometa que vai sobreviver, entendeu?

As lágrimas escorriam pela face parda como cataratas. Melissa não queria desistir agora; ela nunca havia desistido de algo em sua vida, e quando o fizesse não seria logo de sua irmã, a pessoa que ela mais amava nesse mundo. Mas ela também não era boba. Sabia que se achasse alguma coisa cortante poderia amputar a perna de Mariah, só que isso não ia adiantar de nada, pois o que mais precisavam agora era correr. Correr mais do que as duas pernas e uma a menos era simplesmente letal. Beijou-lhe a bochecha rapidamente e depois levantou-se e saiu correndo. Os zumbis já se aproximavam em montes, não havia tempo para zelar por parentes mortos nessa situação.

Quando virou-se para dar a última olhada em sua irmã, viu somente as tripas dela sendo arrancadas pelas mãos mortas, os zumbis devorando-lhe o coração e o fígado. Não conseguiu olhar demais, apenas tentou se concentrar no que estava fazendo. Percebeu um dos mortos-vivos perto demais e atirou por reflexo, mas nunca havia usado uma arma antes. Tudo o que conseguiu foi acertar a perna de um cara que esta correndo desesperadamente duma horda. Mas isso não era tudo o que tinha. Esperou que a coisa chegasse mais perto, deu-lhe um soco no estômago e quando o zumbi caiu de joelhos, ela usou-o como apoio e deu um salto mortal para trás, praticamente levitando sobre o grupo que a perseguia. Aulas de dança bem pagas, ela diria.

Ouviu o som de pneus cantando e logo viu o táxi derrapando pela rodovia. O automóvel deu um cavalo de pau atropelando o grupo de zumbis com a traseira e parando bem na frente dela.

– Melissa Frontier? – o motorista chamou-a com algo que poderia ou não ser interpretado como um sorriso de lado – Lamento, mas o Lapa Country está fechado para um show de horrores.

A cantora rapidamente enfurnou-se no carro e eles arrancaram pela rodovia costurando o trânsito e desviando de uma série de veículos que capotavam ou eram arremessados por metros de distância.

A sensação era bem semelhante a estar numa montanha russa, principalmente porque o motorista do táxi parecia estar bem familiarizado com manobras radicais que quase a arrancavam do carro com cinto de segurança e tudo. Desviaram de uma moto acidentada que fora arremessada por um Civic e tiveram de andar de ré por trezentos metros, quando o carro deu outro cavalo de pau e passou por cima de uma cabine de caminhão capotada, numa manobra muito semelhante àquelas que vemos em shows extremos, e derrapando alguns metros depois na rodovia. Dali para frente o trânsito era bem melhor, quase livre, pois todos os desesperados tinham ficado para trás capotados ou mortos.

Melissa respirou fundo, tentando adivinhar se sobreviveria a mais uma daquelas loucuras.

– Posso perguntar o seu nome?

O motorista do táxi olhou para ela por um segundo, analisando-a rapidamente antes de voltar os olhos para a estrada. Melissa não podia negar: o cara era bonitão. Era caucasiano, tinha os olhos tão azuis que chegava doer olhá-los. Os cabelos eram castanho claríssimo, bem aparados, assim como a barba rala em volta dos lábios finos. Quanto ao físico, se “estilo jogador de futebol” não está bom para você...

– Rafael Benkendorf. – ele respondeu, não de um jeito seco, mas de modo a encerrar o assunto.

Melissa continuou olhando-o.

– Bonita corrente. – ele continuou com o olhar na estrada, embora soubesse que ela se dirigia a corrente com pingente de anjo.

– A minha mãe deu para mim.

– Sério? Sabe esse colarzinho aqui de coruja? Foi a minha mãe que me deu também. – ela abriu um sorriso nostálgico – É a única coisa que me faz acreditar que tinha uma família, agora que... – uma lágrima caiu de seus olhos – a Mariah se foi.

Rafael desviou seu olhar novamente por um segundo apenas, como se lamentasse por isso, mas não disse nada que comprovasse.

– Você não é do tipo que fala muito, não é? – ela tentou sorrir em meio ao choro fraco. Ele nunca respondia, mas, de alguma forma, sabia que estava sendo ouvida atentamente – Que loucura. Eu ainda não entendi o que aconteceu.

– Nova Iorque. Parece que o que estavam tentando abafar sobre o míssel e a tal fumaça roxa era isso.

– E eu que apenas risquei Nova Iorque da minha agenda de shows. Se eu tivesse pensado pelo menos uma vez no que estava em jogo... Céus! Eu teria comprado uma passagem de volta para a Flórida e nada disso teria acontecido com a Miriah.

Melissa calou-se. Não tinha mais forças para falar. A dor da perda de Miriah estava minando o seu espírito, a sua esperança. Estava minando tudo em que ela acreditava. Não sabia se podia ser a velha Melissa Frontier, que nunca desiste da luta, a garota que sobrevive acima de tudo. Não sem ela.

– Flórida? – ele soltou um meio riso, algo entre sarcástico e incrédulo – A Flórida não existe mais.

A cantora olhou através da janela do carro, vendo ao longe mortos-vivos que se arrastavam pelo matagal, lentos demais para encontrá-la. Tudo o que havia em sua cabeça era o modo como Mariah havia morrido, como ela não havia feito nada para ajudá-la apenas se concentrado em sua sensatez egoísta. Talvez, se houvesse cortado a perna da irmã e colocado-a no táxi, ela ainda estaria viva. Com certeza ela estaria viva.

– Os Estados Unidos também não.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Quem quer capítulo bônus aê levanta a mão o/ #apanha'.
Muito obrigada a Giovanna Marc, a Lupe Brown, a Sassá Tenshi, a ACFriedrich e a Violet Salvatore por ter criado personagens maravilhosos, que são todos os que apareceram aqui.
Também quero saber sobre a disponibilidade de vocês para com romances na fic. Alguém quer par? Qual é a opção sexual do seu personagem? Ah! Vocês já gostaram de algum personagem em especial que foi apresentado? Sinceridade meu povo, nada de "ai, to com vergonha", viu?
Enquanto isso, reviews?