Saving The World escrita por Writer


Capítulo 10
Recomeço?


Notas iniciais do capítulo

Como prometido, mais um novo capítulo! ♥



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Acordei ofegante. Deveria ser a vigésima noite que acontecia isso, mas depois de um tempo parei de contar. Quando meus sonhos não eram invadidos pelas lembranças do outro universo, eu tinha pesadelos horríveis. Graças a Netuno não me lembrava deles, mas os sentimentos que eles deixavam em meu peito os faziam serem terríveis do mesmo modo.

Respirei fundo e me levantei da cama. O piso frio da caverna me lembrou de onde eu estava então peguei um robe de seda que achei pendurado em um gancho e caminhei pela caverna até chegar à porta que dava acesso à mansão. Precisava urgentemente de um copo d’água, ou quem sabe um pouco mais daquele chá maravilhoso que Alfred fazia.

Abri a porta-estante com cuidado, temendo acordar alguém e acabar por ser enxotada novamente para a Torre da Liga. Pisei no carpete vermelho me deliciando com a sensação de estar de volta na mansão. Depois de tanto tempo fugindo para lá e para cá, eu me sentia no Paraíso.

Caminhei sem dificuldade, me lembrando de exatamente onde estava cada móvel. Quando cheguei ao Hall de entrada, fiquei tentada a subir e ver como Bruce estava. Poder vê-lo sem a armadura criava uma ansiedade inexplicável. Não. Ela era bem explicável, sim. Era o amor, e a saudade. Vê-lo na armadura apenas reforçava o quanto estávamos longe um do outro, mas poder ver que por trás de todo aquele bloqueio ainda existia o homem que eu amava fazia o mundo parecer mais belo.

Nossa, tinha de tomar cuidado para não acabar virando uma Harley Quinn para ele com esses pensamentos.

Cheguei à cozinha e acendi o interruptor. Os móveis estavam brilhando, como se acabassem de fazer uma faxina naquele lugar. Não havia um prato ou copo sujo na pia, e tudo estava organizado perfeitamente. Por curiosidade caminhei até o armário mais alto e subindo no balcão, tateei sua parte de cima até encontrar um pote com leite condensado. Sorri. Alfred continuava exatamente o mesmo.

–Posso te ajudar em alguma coisa, senhorita? – me assustei com a voz e quase caí. Sendo salva apenas pelo treinamento sobre cuidado e silencio que tivera com Bruce.

Olhei para a porta da cozinha e vi um Alfred curioso me encarando.

–Ah! Eu... – apontei para o leite condensado – Apenas fiquei com um pouco de fome.

Ele sorriu e pegou um pote de morangos de dentro da geladeira e começou a cortá-los em uma tábua.

–Meu patrão não avisou sobre nenhuma visita, mas acredito que a senhora não tenha parentesco com Selina Kyle para ficar surrupiando robes orientais do armário dele.

Olhei para mim mesma. O robe de seda esmeralda possuía desenhos de carpas prateadas e ondas como as do mar. Era tão bem trabalhado e refinado que deveria ter suspeitado que fosse realmente algo importado da Ásia.

–Desculpe-me. –disse começando a tirar o robe- Eu o encontrei do lado da minha cama e...

–Ah! Então a senhorita estava dormindo aqui. – ele disse pegando uma tigela e despejando os morangos recém-lavados e cortados.

Senti meu rosto corar:

–Bem, sim. Mas não exatamente como você deve estar pensando...

–E o que eu deveria estar pensando senhorita...?

–Catrina. –falei para ele.

Ele sorriu e foi até mim.

–Alfred Pennyworth. –disse e então pegou o pote de leite condensado da minha mão e voltou a trabalhar no balcão.

–Ah! Estou ultrajada! – disse fingindo cara de indignada- Me nega até um pouco de leite condensado?

Ele riu e então se virou para mim com a tigela e uma colher nas mãos:

–Apenas pensei em melhora-lo, senhorita Catrina.

Peguei a tigela e a colher de suas mãos e me sentei em um banquinho na frente do balcão, devorando os morangos com leite condensado que ele tinha misturado divinamente.

–Prefere um chá ou um pouco de água, senhorita Catrina? – ele disse abrindo um dos armários onde sabia estarem os copos.

–Água, por favor. –disse – E pode me chamar só de Catrina.

Ele sorriu e colocou o copo na minha frente. Parei de comer e peguei o saleiro jogando um pouco de sal na água. Ele me olhou com uma cara um pouco espantada e curiosa, mas se limitou apenas a sorrir:

–Desculpe, vamos dizer que eu não sou uma hóspede comum. –disse tentando explicar o meu gesto estranho.

Ele sorriu para mim abrindo a geladeira e pegando alguns ovos e bacon.

–A última coisa que esperava de alguém nesta casa, senhorita Catrina, é normalidade.

Sorrimos um para o outro, com este segredo não pronunciado compartilhado entre nós.

***

–Alfred, por que não me acordou as seis como eu... Pedi?

Bruce nos olhava surpreso da porta da cozinha, sem dúvida ele não esperava me ver sentada na mesa comendo ovos e bacon e conversando com Alfred e Dick. Mas nem me preocupei em perceber se ele estava mais irritado do que surpreso, pois apenas por ouvir sua voz e olhar para ele sem aquela armadura, eu acabei ficando estática.

–Desculpe-me patrão Bruce, mas a senhorita Catrina e eu concordamos que se o senhor não descansasse não conseguiria ter energia para trabalhar a noite. – ele disse colocando mais um pouco de água com sal no meu copo.

–Ontem foi uma noite turbulenta, se não descansasse propriamente não conseguiria ficar de bem. –disse mordendo um pedaço do bacon e depois me virando para Alfred- E eu já disse que pode me chamar de Catrina, Alfred.

–Noite turbulenta, é? – Dick riu malicioso e eu chutei seu pé por baixo da mesa, o fazendo reclamar com um pequeno “ai”.

–Você sabe muito bem ao que me refiro engraçadinho. – disse gesticulando com o garfo que segurava.

–Vai precisar muito mais que isso para me machucar de verdade. –ele disse num tom de desafio.

–Lá fora? Depois do café? –perguntei aceitando a brincadeira.

–Quando eu te vencer não vai querer ter tomado seu café da manhã.

–É o que vamos ver. – eu disse sorrindo em desafio e bebendo um pouco da água, tentando fazer uma cara de “gangster”.

–Dick, Alfred, podemos conversar um minuto? – Bruce finalmente disse depois de sair do seu estado de choque.

Levantei-me da cadeira, entendendo a deixa e fui até a sala. Assim que passei pela porta, Bruce a trancou com um pouco mais de força do que o necessário.

–Acho que ele ficou um pouco nervoso. – murmurei para mim mesma enquanto analisava a sala.

Dois grandes sofás estavam em um lado, como um espaço para conversar, e do outro uma televisão gigante e vários vídeo games estavam jogados por todos os lados. Nem precisei pensar para saber que eram de Dick. Coloquei as mãos nos bolsos do robe e fiquei analisando as fotos que estavam em uma mesinha no canto da sala. Várias delas eram de Bruce com políticos ou donos de empresas multinacionais, mas não consegui evitar de pegar a foto em que ele estava com seis ou sete anos, sorrindo abraçado pelo pai e pela mãe que o olhavam orgulhosos. Essa era a foto que sempre procurava lembrar quando esquecia que ele não era apenas o Cavaleiro das Trevas, e sim um homem à procura de justiça. Mas mesmo quando estávamos juntos nunca mencionei isso à ele, ele entenderia como pena e não amor, e acabaria por ficar irritado comigo.

–Catrina. –ele me chamou com a voz elevada, apesar de parecer mais calmo e então devolvi a fotografia ao seu lugar.

–Terei de voltar para minha cela? – choraminguei com a cabeça abaixada.

–Cela? – ele suspirou e passou a mão pelos cabelos- É isso que pensa de mim? Que sou um carcereiro procurando manter você presa a todo custo?

Olhei para ele sem saber o que dizer. Sua expressão me parecera tão amedrontadora muitas vezes, mas agora olhando para ele sem o traje, e mexendo no cabelo, nervoso, ele parecia apenas...humano. O que me fazia suspeitar que Alfred deveria ter dado um de seus valiosos conselhos para que ele não acabasse por me trancar no quarto sem uma palavra sequer.

–Eu apenas, queria me desculpar, sabe? – disse sincera- Fiquei tanto tempo sem um lugar para chamar de casa, que quando vi você, Alfred e Dick tão a vontade quis sentir um pouco disso. Família não é algo que você possa conquistar de uma hora para outra, mas não resisti. Desculpe-me.

Ele olhou para mim, talvez me vendo como pessoa pela primeira vez, e não apenas uma ameaça. Ele fez menção de passar o braço ao redor de meu ombro, mas um bipe saindo de um transmissor na sua orelha interrompeu este precioso momento.

–Sim, entendo. –ele disse se concentrando na conversa- Estou indo até aí agora.

E então desligou o transmissor e foi andando até a cozinha, onde chamou Dick e seguiu para a estante que era a entrada da caverna.

–Uma missão! E de quem eu vou te salvar dessa vez? – Dick perguntou para mim animado e apenas não repliquei, pois Bruce interrompeu.

–Vocês não vão a lugar algum. – ele se virou e nos encarou- Mulher- maravilha me chamou e tenho de ir ajudar a Liga, mas você levará Catrina e conseguirá algumas coisas para ela, já que tudo que ela parece ter é o uniforme.

Bufei mais irritada pelo fato de ser a Mulher-maravilha quem nos interrompeu do que por ficar fora da luta. Eu sei que tinha vindo até aqui para salvá-la e assim evitar o fim do mundo, mas ela não podia ficar cinco minutinhos treinando em Temissera ao invés de acabar com o único momento verdadeiramente humano que tivera com meu antigo amor? Massageei as têmporas e comecei a contar até mil, acreditando que dez não era o bastante.

–Conseguir algumas coisas? – Dick respondeu irritado – Saí da Torre Titã para dar uma mão aqui em Gotham como vigilante, não para servir de motorista.

–Então ajude cuidando dela, que por enquanto é a única aqui suspeita de poder causar algum estrago.

E...pronto. Voltamos a estaca ameaça internacional sem sentimentos.

–Bruce, por favor, eu sei que saí da caverna sem seu consentimento, mas não desperdice o talento de Dick fazendo com que ele cuide de mim. Não sou mais criança.

–Não, você não é. E por isso que alguém tem de ficar de olho em você, ou prefere voltar para a sua “cela”?

Olhei para ele magoada e irritada. Como uma princesinha amazona poderia fazer com que todo o pequeno progresso que tive fosse feito em cinzas em poucos minutos?

Sem ligar para minha irritação, ou para a frustração de Dick, ele entrou na caverna e fechou a estante, deixando alguns livros caírem.

–Vamos. – Dick disse irritado- Antes que ele volte e nos coloque de castigo.

Suspirei e o segui. Sabia que ele odiava ser tratado como uma criança, então apenas fiquei quieta, para acabar não o deixando mais irritado. Quando passei pela cozinha, Alfred me deu uma muda de roupas limpas, e as vesti antes de sairmos com o porshe de Bruce. Tudo bem, para alguém que não queria ser tratado como uma criança, ele estava sendo bem infantil, mas que eu adorei a velocidade daquele carro, eu adorei.

Quando chegamos ao centro de Gotham, as ruas estavam lotadas por dondocas passeando com seus cachorros e carros escuros com motoristas e meninas mimadas ao telefone. Não demoramos muito e paramos na primeira loja que julguei ser interessante, pela cara de Dick, não era nada do que ele imaginava:

–Podia esperar uma Gucci, uma Prada, ou até uma Tiffany, mas uma loja de vestidos antigos é realmente algo estranho. – ele disse olhando para os corpetes e os saiotes expostos.

–Olhe e aprenda, querido. –disse e fui até o fundo da loja, onde uma mulher idosa nos observava atentamente.

–Muitas poucas lojas vendem o que precisamos hoje em dia.- comentei pegando um leque vermelho escuro e o analisando.

–Clientes novas raramente conhecem o que precisam. – ela comentou sem se mexer.

–Mas toda dama de verdade, já precisou se produzir para a noite. – disse guardando o leque vermelho escuro e pegando um azul como o mar.

– Apenas temos de tomar cuidado para não sujar o vestido. –disse deslizando o leque pelo balcão e o dando para ela.

Ela me analisou por um momento e então sorriu. Abriu a porta que estava atrás do caixa e me entregou uma chave.

–Filho de peixe, peixinho é. –disse.

–Independência, no entanto, é para aquelas que desbravam como tubarões. – ela assentiu com a cabeça e então entrei pela porta, sendo seguida por Dick que me olhava sem entender nada.

–O que acabou de acontecer aqui?

Dei um risinho e apenas caminhei pelos corredores escuros até chegar ao número 260 e então abri a porta de ferro.

–Eu não acredito. – Dick falou surpreso e eu apenas sorri.

–Bem-vindo ao meu pedacinho de Atlântida.

A sala era totalmente de vidro, e vários animais marinhos nadavam por entre as paredes, o chão e o teto sem se incomodar com nossa presença. Algumas luzes azuis estavam ligadas, mas a água era tão limpa e reluzente que elas se tornavam apenas um enfeite.

Um tubarão branco passou na parede ao meu lado, e eu lhe dei um sorriso. Era tão bom me sentir em casa!

– O que é isso?

–Isso, meu caro Dick Grayson, é o que eu gosto de chamar de privilégios de uma dama. Ou você pensava que apenas Bruce tinha seus contatos?

–Mas e a água? E os animais? Nunca vi isso aqui em nenhum dos mapas de Gotham!

–Hum...- disse caminhando para o fim da sala, onde várias estantes acopladas as paredes de vidro exibiam diferentes armas, comidas, roupas e livros. – É um pouquinho mais complicado que isso. Conhece a teoria da energia Universal?

–Não.

–Bem, não sei explicar com todos os detalhes, mas imagine-a mais ou menos assim: Todo lugar no Universo possui uma diferente energia cósmica, e apesar de alguns estarem muito distantes dos outros, essa energia flui como um infinito rio. E esse lugar, é apenas uma espécie de barco, onde podemos escolher em que pedaço do rio podemos parar.

–Mas então estamos realmente em Atlântida?

–Quase. –disse pegando uma mala de fibra de alga sintética - Estamos no meio termo entre ela e o nosso “barco”. Se quisermos realmente ir para lá, apenas precisamos passar pelas barreiras.

–Que barreiras?

–As paredes, o teto o chão... –eu ri- Se você realmente desejar passar por elas, elas deixarão de ser sólidas e te engolirão como um bom petisco, e então você estará a apenas algumas léguas de Atlântida.

Ele olhou para mim ainda surpreso, mas não falou mais nada enquanto pegava tudo que acreditava precisar. Superman falou que eu não poderia criar meus próprios dispositivos na Torre, mas não disse nada sobre eu levar os meus.

Peguei a mala e comecei a colocar soluções para criar água do mar, pois ela era mais que apenas água e sal, um pouco de dinheiro de Atlântida ( nunca se sabe o que você pode precisar!) , algumas roupas que possuíam camadas mágicas de água, que iriam me deixar hidratada por um dia inteiro, pó de conchas para tratar dos ferimentos, pérolas que funcionavam como pequenas granadas de fumaça, ou água, algumas facas, punhais e por fim, um tridente feito com prata, conchas e dentes de tubarão.

–Você realmente vai usar isso? – Dick finalmente falou.

–Não gosto muito dele. É bem, mortal, podemos dizer. – Passei a mão por seu cabo – As pontas possuem uma carga elétrica de quase três mil peixes elétricos. Não queima como uma carga elétrica normal, mas envia um pulso que faz seu coração parar quase imediatamente.

Comandei para que toda a água do tridente fosse retirada fazendo com que ele diminuísse de tamanho até caber na mala, uma das mágicas mais práticas das armas raras em Atlântida era a possível troca de tamanho e disfarce, você poderia carregar uma arma letal em uma corrente como num pingente e ninguém suspeitaria de nada.

–Tudo bem, a cada momento fico cada vez mais assustado com você.

Dei uma piscadela e fechei a mala, que por ser hiper resistente aguentou guardar tudo aquilo. Levantei-me do chão e olhei para uma das paredes. Um peixe-leão nadou perto de mim, e tocou na barreira que nos separava, por um segundo desejei poder estar com ele, nadando naquele lindo mar azul claro, e então comecei a ser puxada para dentro da parede. Ri, já acostumada com isso acontecer, e então me afastei fazendo que com ela ficasse sólida novamente.

Puxei a mala e a apoiei no meu ombro. Nossa! Ela tinha realmente ficado pesada.

–Deixe que eu levo. Afinal, tenho de falar que fiz alguma coisa te levando para as “compras”.

Ri de seu comentário e olhei uma última vez para as estantes. Percebendo que quase me esquecera de Fanindra.

–Só um segundo. – pedi para Dick que já estava saindo da sala.

Corri até a estante e peguei com cuidado a serpente marinha de prata da estante mais alta. Ela fez seu corpo tremer e seus olhos brilharem ao ser tocada por mim. Depois de acordar, deslizou pelo meu braço e se ajustou como um bracelete. A acariciei quando ela deu uma mordidinha no meu braço, coletando minhas memórias para decidir se eu era digna ou não de sua ajuda.

Fiquei alguns momentos parada, e então seus olhos brilharam novamente e ela se transformou em um bracelete comum.

–Agora, sim.- disse me virando para a porta- Vamos.

***

Voltamos à Mansão Wayne depois de sair da loja de vestidos e comprar um sorvete. Não encontramos Bruce novamente, então ficamos treinando no jardim de trás, enquanto Alfred nos trazia biscoitos.

–Falei que você iria desejar ter comido. –ele disse ao se esquivar de um dos meus chutes.

–Por quê? –falei saltando para trás e assim me esquivando de uma de suas rasteiras – Pra ser cansativo tem de ser difícil, e para ser difícil...

Ele veio correndo até mim e estendeu as mãos com um bastão em cada uma delas, pronto para me nocautear. Corri também, mas deslizei pela grama, com a intenção de derrubá-lo com um chute. Ele deu um sorriso maroto e pulou facilmente esquivando de meu ataque. Ou pelo menos imaginando isso. Sorri também e o agarrei ainda na metade do pulo, puxando seus pés com força para baixo e fazendo com que ele caísse de cara na grama.

–Eu teria de perder. – disse me levantando e passando uma mão na minha calça de treino recém-adquirida do meu Cantinho de Atlântida.

Ele flexionou os braços, pronto para levantar, mas assim que ele se virou, pulei em cima dele, prendendo seus braços com minhas mãos e um pouco de água da fonte, pois ele era realmente forte, apesar de eu não querer admitir.

–Afinal você sabe lutar.

–Saber, querido, é um verbo que não explica minha habilidade.

Levantei-me novamente e caminhei para longe dele, pronta para devorar a nova fornada de biscoitos que Alfred trouxera quando senti um tremor vindo do chão. Olhei para Dick e Alfred, mas eles pareciam não ter percebido nada. Mas eu já tinha sentido tremores como aquele, então saí correndo para dentro da mansão e abri a porta-estante. Descendo até a caverna com o nervosismo me controlando aos poucos.

Quando finalmente cheguei, meus olhos demoraram apenas alguns segundos para se acostumarem e então vi Batman cambaleando até a maca. Corri para ajuda-lo, mas ele apenas me jogou para longe. Se não tivesse aprendido a me equilibrar teria caído pela força que ele me jogou.

No entanto, sua situação me pareceu pior do que um empurrão qualquer, e corri para auxiliá-lo, pedindo que a água que caía da cachoeira me ajudasse a curá-lo, ou pelo menos a evitar que me empurrasse para longe novamente.

–Você! –ele disse me olhando com ódio nos olhos. Recuei com medo. Nunca vira aquela expressão em seu rosto, muito menos com a intensidade com que me olhou.

–Bruce, você precisa de ajuda por favor...

–Não me chame assim! –ele gritou interrompendo meus pedidos – Acredita que sabe de tudo? Não, você é apenas uma garota qualquer que por ter ganhado alguns poderes se acha uma heroína, mas você não é nada diferente do que aqueles que você diz combater!

Fiquei estática. Ele não poderia estar falando isso para mim poderia? O que eu tinha feito? Sim, tinha agido de modo pouco prudente e até infantil, mas aquele olhar cheio de ódio e nojo...Abracei a mim mesma, aquilo me fazia querer definhar ali mesmo, com um sentimento tão forte me esmagando que não desejava ser nada a não ser um grão de areia, para que o mar me levasse para longe.

–Bruce...Batman...eu, apenas...-comecei a chorar.

–Patética. –ele disse se aproximando de mim- Você não é nada do que uma garotinha patética apaixonada que nunca vai conseguir chegar aos pés da princesa.

Olhei para ele com as mãos trêmulas. Como ele poderia saber? Deixara meus ciúmes assim tão aparentes?

–Saia daqui, antes que eu resolva acabar com essa sua existência medíocre agora mesmo.

Não, aquele não poderia ser meu Bruce. Algo tinha acontecido. Não era ele. Não podia ser.

–Bruce, o que aconte...

Senti uma dor no meu abdômen e fui arremessada para trás. Minhas costas bateram na parede da caverna, e minhas mãos se arranharam com algumas pedras que estavam soltas. Levantei minha blusa e vi que um hematoma roxo se formava rapidamente onde sentira a dor. Eu não poderia creditar...Ele tinha...

–Eu te avisei, para não me chamar assim. –ele disse e se virou de costas, indo até o computador.

Levantei-me com a mão no abdômen, tentando aplacar a dor. Eu não podia acreditar, mas tinha. Trêmula, cambaleei até um canto da caverna. Ele se virou e me encarou com uma expressão irritada.

Não. Não podia ficar ali. Pedi que a água me ajudasse, mas parecia estar fraca demais para aquilo, pois apenas algumas gotas vieram até mim. Olhei para a caverna analisando rapidamente minha saída.

Ah! Que se dane! Corri até o primeiro transporte que vi, nesse caso a moto de Robin, e liguei-a sem dificuldade. Batman, vendo o eu que estava fazendo, correu até mim e usou um gancho para prender meu braço. Senti um forte aperto, mas ele pareceu se prender em outra coisa, então quando acelerei ao máximo senti apenas alguns arranhões e logo estava fora da caverna.

Dirigi pela floresta até cair em uma rodovia cheia de carros. Não prestando atenção em nada à minha volta, apenas acelerei mais, desejando que o vento levasse minhas lágrimas e as lembranças para longe, mas isso era pedir demais. Seguia as curvas que ocasionalmente achava, acabando por cair em um pedaço vazio da cidade.

As lágrimas continuavam a rolar por meus olhos, quentes como o mar ao entardecer. Eu não podia acreditar. Eu não conseguia acreditar. Por que ele tinha feito isso? Teria ele apenas ido à uma missão ou se reunira com a Liga e com eles decidira que eu era uma ameaça?

Que idiota! Por que simplesmente não fingi que não sabia quem eles eram? Não, deveria dar uma de louca apaixonada e cair nos braços dele assim que o visse. Ele estava certo, eu era patética, mas isso não era motivo de me comparar com Diana. Que sempre era considerada a melhor, e acabava por dividir Superman e Batman.

Mas, eu não fizera a mesma coisa? Não, eu era diferente dela, não poderia ficar me comparando ou acabaria por ficar...

Senti um impacto me arremessar para longe. Por alguns instantes achei que estava voando, então caí no chão sentindo meu corpo arder como fogo. Tudo começou a rodar, e ao tentar me erguer, gritei de dor. Deveria ter quebrado uma costela, ou duas...Mas então, por que estava com a roupa suja de sangue?

Minha cabeça tombou para um lado e vi a moto de Robin destruída no chão. Ele ia me matar, se eu sobrevivesse a isso.

–Aqui está você. – ouvi alguém dizer e senti minha cabeça ser virada para o outro lado.

Gemi com a dor e pontos pretos dançaram na minha visão.

–Ah, não era para você morrer, eu tinha apenas de fazer o meu trabalho...Mas isso não está por minha conta. Venho aqui com uma missão e tenho apenas de cumpri-la.

Tentei enxergar quem era, mas não conseguia me focar em nada. Tudo parecia estar rodando e senti uma ânsia terrível.

***

–E então?

–Conseguimos. Ela está sem as armas de Atlântida e já foi pega.

–Ótimo.- Ele disse olhando para o entardecer lá fora. - Espero que isso realmente funcione.

–Eu também. – menti.

***

A dor parecia se concentrar no meu abdômen, mas sentia algo quente escorrendo da minha cabeça e fiquei com medo de imaginar o que era.

–Me diga, Sereia. – ouvi a voz novamente e senti meus olhos serem fechados e uma mão fria cobri-los – Quem. É. Você?

Senti uma última pontada de dor, e tudo ficou escuro.


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Notas finais do capítulo

O que acharam? -nada ansiosa aqui para saber a opinião de vocês...Hehehe, para os leitores bem atentos, acredito que entenderão que alguns mínimos detalhes dão uma boa dica para o que vai acontecer!Sempre ansiosa pelos seus reviews,Writer.