Saving The World escrita por Writer


Capítulo 11
Crise de Identidade


Notas iniciais do capítulo

Desculpem-me pela demora (praticamente um quase abandono) da fanfic. Fui pega por um turbilhão de problemas e só agora estou conseguindo aprender a lidar com eles.
Por favor, perdoem essa escritora negligente pela demora e , acima de tudo, aproveitem o capítulo. :)



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Escuridão. Era tudo que conseguia ver. Não adiantava quantas vezes eu tentasse me beliscar, aquilo não era um sonho, ou pesadelo.

–Catrina... – ouvi uma voz chamar, mas fora tão baixa que parecia mais um sussurro. Porém a emergência que tinha percebido nela era compatível com um grito e não com o sussurro que chegava aos meus ouvidos.

Catrina... Era este meu nome?

Tentei respirar mais calmamente, adotar uma posição que conhecia ser de meditação, porém não conseguia encontrar nada. Quando vasculhava em minha mente por qualquer informação ela parecia vazia. Como a escuridão que me encontrava. Apenas um vazio infinito e profundo, que chegava a ser angustiante.

Quem eu era? Todos deveriam saber quem eram não? Então por que eu não conseguia me lembrar de nada? Um nome, um rosto, uma voz... Nada. Fiquei encarando a escuridão ao meu redor. Algo nela me parecia familiar, como dizendo que a escuridão não era minha inimiga, mas então por que não me ajudava a lembrar de nada? Qualquer coisa que indicasse que não estava morta já seria ótima para começar.

O silêncio então foi preenchido aos poucos por uma risada. Uma risada histérica e aguda que aumentava a cada segundo, ou o que eu imaginava ser um segundo. Chegou um momento em que mesmo com as mãos nos ouvidos eu tinha a impressão de que poderia ficar surda a qualquer momento. E então do mesmo modo que ela surgiu, ela se calou. E, ao abrir os olhos, não me deparei com a escuridão familiar, e sim com uma luz ofuscante.

–Ah! Então finalmente acordou! – ouvi uma voz feminina dizer.

–Se eu não soubesse que isso iria te agradar, eu teria jogado um balde de água em você! – outra voz. Também feminina, mas em um tom diferente.

Tentei enxergar por trás da luz ofuscante quem falava comigo, mas estava zonza e tudo parecia balançar um pouco. Olhei para mim mesma e percebi que estava sentada com uma roupa azul escura, que cobria todo o meu corpo como um uniforme. O tecido parecia me refrescar mesmo com a luz quente sobre mim.

Ouvi a mesma risada de antes e olhei para a luz. Alguém então caminhou de frente para a luz, próxima a mim, e riu de forma histérica, como se nunca tivesse visto algo mais divertido na vida. O vulto de sua sombra parecendo crescer a cada passo que dava para mais perto. Como um leão encarando um rato.

–Então, quem está perdendo agora, querida? – a garota disse com uma voz meio aguda e então deu um tapa forte no meu rosto.

Por um momento fiquei sem reagir, então algo pareceu acordar dentro de mim e tentei me levantar. Porém, meus braços, pernas e abdômen estavam presos com correntes na cadeira. A garota continuava rir, se divertindo ainda mais com minha tentativa de escapar. E apesar da escuridão que cobria todo seu corpo, eu pude ver seu sorriso branco e seus olhos verdes brilhando com uma maldade incrível.

–Duchess. – ouvi alguém sussurrar e então, meio a contragosto, a garota, Duchess, saiu da minha frente e outra apareceu.

Esta veio até mim silenciosamente e segurou minhas duas mãos. Seu toque parecia gentil, até eu sentir chamas queimando as palmas da minha mão e subindo pelos meus braços. Não me permiti demonstrar fraqueza, apenas fechei os olhos e mordi o lábio, segurando o grito de dor que queria escapar da minha garganta. Não sabia o que deveria ter feito para elas, mas pelo sorriso da que segurava minhas mãos e pela risada de Duchess sabia que estavam se deliciando com meu sofrimento.

A roupa que antes me refrescava, agora parecia derreter aos poucos. Senti minhas energias se esvaindo, como se o mar que antes me preenchia estivesse evaporando aos poucos, deixando apenas o sal como marca que um dia ele esteve lá.

–Chega. – ouvi alguém dizer. Porém estava tão desnorteada que não consegui identificar quem.

Ela soltou minhas mãos, e minha cabeça pendeu. Fechando os olhos com força, tentava parar a ardência que sempre antecedia as lágrimas.

–Agora me diga querida. – uma mão forte levantou meu queixo. Seu vulto escuro estava borrado pelas lágrimas – Quem é você?

Fiquei olhando para ele assustada. Eles não sabiam quem eu era? Então por que me torturavam?

–Eu não sei. –disse baixo, ele largou meu queixo e minha cabeça caiu pesada contra o colo.

–Muito bem. Está feito. – O vulto disse e então ouvi uma porta se abrir.

–Podemos brincar mais um pouco? – ouvi a voz que reconheci ser de Duchess.

O homem que abriu a porta riu:

–É claro.

Uma pequena faixa de luz invadiu o quarto escuro por um momento antes de ele sair pela porta. E o que vi me assustou mais do que se estivesse ficado no escuro eternamente, vi vários sorrisos loucos e olhos famintos por violência e sangue me encarando, sugestivos.

***

Acordei, mas relutei em abrir os olhos. Estava com medo de rever a sala escura de que me lembrava. Quando criei coragem para abrir os olhos novamente, me vi em um quarto branco, com apenas uma cama e um pequenino armário.

Ergui-me na cama, apoiando um dos braços no tórax. Minha cabeça latejava, meus braços estavam sujos de sangue seco. Meu corpo todo parecia estar em carne viva e eu tinha certeza que pelo menos duas das minhas costelas estavam quebradas.

Com dificuldade, levantei-me da cama, meus pés e minhas pernas tremiam pelas agressões que foram submetidas, mas mesmo assim me obriguei a andar. Tinha de sair daqui ou corria o risco de eles quererem “brincar” comigo novamente.

Abri a porta do quarto e me encontrei em um corredor de madeira escuro. Poucas velas iluminavam o caminho, alguns quadros estavam jogados no chão, suas telas danificadas de tal modo que nunca mais poderiam mostrar sua beleza anterior.

–Ah! Você está aí. – ouvi uma voz feminina e me virei devagar.

Uma garota com cabelos castanhos longos, franja, olhos verdes com pontos avermelhados e uma calça jeans escura e uma regata branca me encarava divertida.

–Você realmente está horrível. –ela disse analisando minhas roupas rasgadas e meu rosto machucado.

–O que você quer? – tentei falar como uma ameaça, mas depois de tanto gritar minha voz saiu como um sussurro rouco.

Ela riu:

–E quando você vai ajudar... - ela riu e balançou a cabeça – Bem boa sorte, andando por aí sozinha.

Olhei para ela incerta. Algo me dizia que ela era muito perigosa, mas se quisesse me fazer algum mal já teria feito, não? Suspirei e fui andando até ela devagar.

–Espere. –disse tocando seu ombro.

Ao virar seu rosto, ela não era mais a garota de franja castanha e olhos verdes, mas sim uma versão minha morta, em que no lugar dos olhos eu tinha apenas duas órbitas negras, e no sorriso, pingava sangue.

Gritei e tropecei, tentando me distanciar. A figura riu, e deu alguns passos em minha direção. Sua roupa era um vestido branco rasgado, com algumas manchas vermelhas. Cada vez que dava um passo, as marcas de seus pés ficavam manchadas de negro no piso de madeira.

–Não... - sussurrava assustada. Arrastando-me para longe da criatura que me encarava com suas órbitas negras.

–Yuuna? – uma voz masculina falou quase como num sussurro – Ele está te chamando.

Ouvi um suspiro, e então a criatura na minha frente parou, se desmanchando como uma boneca de porcelana quebrada.

–Sempre na melhor parte. – a garota de cabelos castanhos, Yuuna, disse atrás de onde a criatura estava e saiu andando, mal-humorada na outra direção. Quando olhei para seus olhos eles não eram mais verdes, e sim vermelhos como sangue.

Olhei para a direção em que tinha ouvido a voz masculina, mas vi apenas a escuridão criada pela falta de velas naquela parte do corredor. Porém, forçando mais a visão, percebi o contorno de um homem, naquelas sombras.

–Obrigada. –disse tentando me levantar, mas ainda trêmula.

Vi uma mão negra como a sombras na minha frente e a peguei para levantar. A figura na minha frente era totalmente escura, apenas seus olhos, vermelhos como o fogo, se distinguiam daquela escuridão.

–Não pense- ele disse, fazendo com que os dentes pontiagudos brancos faiscassem – Que eu fiz isso por você, garota.

Empurrando-me contra a parede ele voltou novamente às sombras, e percebi que os candelabros se apagavam sozinhos quando ele chegava perto, como se não ousassem quebrar a escuridão daquela figura.

Apoiei-me na parede, com o coração batendo alto. Onde estava? E quem eram essas criaturas que se divertiam tanto com meu sofrimento? De repente ouvi passos, quebrando o silêncio que me cercava. Esgueirei-me até um canto escuro, esperando quem quer que fosse passar, e com sorte, não notar minha presença.

A dona dos passos revelou ser uma garota de cabelos castanhos longos, com maquiagem escura ao redor dos olhos verdes e um sorriso louco. Vestindo botas de couro negras que combinavam com o corselete e a saia vermelhas, seus passos ecoavam decididos e poderosos pelo corredor. Seus braços estavam cobertos por tatuagens de diversas línguas, porém não conseguia ler nenhuma pela escuridão.

Ela passou por mim sem notar minha presença. Com o olhar sempre altivo como se fosse alguma rainha, ela não se importou em olhar para baixo.

Rainha, não... Duquesa.

Uma voz sussurrou em minha mente e arfei. Era ela, a Duquesa de Espadas. Abracei-me lembrando de suas risadas ao me esfaquear. Gemi, pela dor nas costelas e ela olhou para trás. Localizando-me facilmente entre as sombras.

–Ah! Então a peixinha está se escondendo aqui. –ela se aproximou rindo- Está com medo de mim, peixinha?

Engoli em seco, tentando me afastar dela, em pânico. Ela riu do mesmo modo louco de quando estava me torturando.

–Claro que está, perdeu seu complexo de justiceira, não é mesmo? – ela riu.

Trêmula, encarei-a. Não podia demonstrar minhas fraquezas a eles, eles não teriam pena ou compaixão, apenas se aproveitariam delas.

–Hum... Recuperando a confiança? Nada bom. –ela deu um soco rápido nas minhas costelas e arfei de dor – Ah! Agora sim.

Ela afagou minha cabeça, como quem dá carinho ao seu bicho de estimação depois de aprender algo e saiu andando. Cantarolando uma música qualquer.

–Hey, não vai vir?

Fiquei olhando para sua figura escura no meio do corredor, sem entender. Ela queria que eu a seguisse, para o quê? Mais tortura?

–Ou é isso, ou quando Illusion voltar ninguém vai vir te salvar não. –ela riu e saiu andando.

Meu coração ainda batia forte no peito, mas mesmo assim decidi segui-la. Seria melhor aproveitar esse pequeno surto de bipolaridade do que acabar morrendo pelo meu medo de continuar.

Seguimos por um longo corredor. Ela assobiando uma canção qualquer e eu seguindo seus passos, andando mais devagar pelos ferimentos.

–Nossa, para alguém com língua tão afiada estou estranhando seu silêncio. –ela olhou para mim, com a expressão entediada – Você era mais divertida quando tentava me desbancar.

–Eu era mais divertida... - repeti pensando alto- Você, já me conhecia?

Ela riu e parou embaixo de um candelabro. As velas criando sombras assustadoras em seu rosto. Aproximou-se mais e bateu em minha cabeça, como quem bate em uma porta.

–Nossa, está realmente vazio aí dentro, hein? –ela riu novamente e deu mais alguns passos, abrindo uma porta que antes não tinha percebido estar lá.

Segui-a e me deparei com um pequenino pátio. As flores do jardim eram fluorescentes, e iluminavam a noite escura. A grama parecia mais viva do que jamais pensei ter visto, e uma árvore gigante no centro dava vida a tudo aquilo.

–É melhor não fazer isso. – Duchess disse quando peguei uma flor.

–Por que não?

–Ivy é um pouco... Sentimental. –ela disse e seguiu por entre as flores.

–Ivy? – perguntei sentindo o gosto do nome- Ivy...

Um flash apareceu na minha mente. Olhos verdes vivos, um sorriso sedutor e cabelos tão vermelhos quanto a rosa mais bonita de um jardim. Parei de andar, tentando me concentrar mais no flash, mas tão rápido quanto veio, ele se foi e uma dor de cabeça terrível tomou seu lugar.

Suspirei me apoiando em uma das árvores. Comecei a contar até dez, e quando me acalmei tirei a mão da árvore, mas algo a agarrou e puxou com força. Olhei para o lado assustada, um galho cheio de espinhos se enroscava em meu braço, me puxando para mais perto da árvore e fazendo pequenas gotas de sangue caírem na grama verde clara.

Fechei meus olhos, tentando retirar meu braço, mas o galho parecia estar vivo, pois a cada investida minha ele apertava meu braço mais forte, fazendo com que mais sangue pingasse no chão, e a dor aumentasse até não parecer apenas um arranhão, mas sim um corte profundo.

Francamente, será que tudo ali desejava me matar? Respirando com dificuldade, fiz uma contagem regressiva silenciosa, ao puxar meu braço uma última vez o galho o soltou, e eu caí na grama pela força, abraçando meu braço ensanguentado.

Era impossível alguém aguentar tanta dor de uma vez só. Por que estava aqui, afinal? E o que de tão horrível eu fiz para merecer isso? Tantas horas de tortura, para que, quando eu descansasse, tudo começasse de novo? Lágrimas escorreram pelo meu rosto, e as limpei com um gesto brusco. Se quisesse sobreviver aqui, não poderia ser a coitadinha. Não, eu mostraria para eles minha força, e eles se arrependeriam de tudo o que fizeram.

***

–Acharam-na? – Robin perguntou novamente pelo comunicador.

–Ainda não. –respondi tentando encontra-la, procurando um resquício da energia que compunha seu ser através das mentes dos habitantes da Terra.

–Mas ela não pode estar muito longe, não é mesmo, Caçador de Marte?

Procurei então visualizar Batman em sua caverna, que continuava a digitar sem parar no computador. Ainda desconhecíamos a força que tinha tomado sua mente e seu corpo, mas ele não parou um segundo para descansar. É claro que para ele, o trabalho sempre viria primeiro, porém ele não estava só pelo trabalho, era algo mais pessoal, poderia se dizer.

Alguns segundos ele parou para observar o que parecia ser uma serpente de prata em um balcão de ferro então voltou a digitar no computador. Como prometera não ler as mentes de meus amigos, não podia compreender exatamente o que estava sentindo, mas suspeitava que se guardara aquela joia não tinha a intenção de trancafiar Sereia no Arkham como antes dissera.

***

Ao sair do jardim, fiquei caminhando pelo que pareceram horas por corredores escuros e silenciosos. Nas poucas vezes que ouvia passos, me escondia nas sombras de tal modo que ninguém me notava. Por precaução continuei a caminhar, não pelas poucas áreas iluminadas, mas sim pelos locais mais escuros. Sentia-me a vontade, se eles usavam-nas para me assustar, então as usaria para me esconder de tal modo que eles se assustariam ao perceber minha presença.

Não voltei a encontrar Duchess, mas vi outras vezes aquela sombra com o sorriso assustador. Segui por um bom tempo também um garoto que usava roupas vermelhas e brincava com uma chama em suas mãos. Porém ao me distrair com o bater de asas, do que pareceu ser uma coruja, o perdi de vista e voltei a vagar sem rumo por aqueles corredores.

Em determinados momentos, tentava abrir uma porta ou outra que encontrava, mas em outros, tinha a impressão de sentir o cheiro metálico de sangue e caminhava o mais longe possível do local. Não sabia se haviam se passado horas ou minutos, mas finalmente encontrara uma porta aberta.

Corri até ela, parando poucos passos. Essa sala poderia ser uma armadilha, sua luz era tão forte e convidativa na penumbra do corredor, mas algo me dizia que muitas vezes as sombras também poderiam oferecer segurança. Mas, se não entrasse iria fazer o quê? Vagar por esses corredores até que alguém me achasse? Duchess poderia não estar ainda de bom humor. Não, preferia eu mesma assinar minha sentença de morte, se este fosse o caso.

Dei alguns passos para frente e me virei. O local era o que parecia ser uma sala de treinamento. As paredes e o chão eram de metal, várias armas estavam espalhadas pela sala. Muitas penduradas como decoração no teto ou nas paredes, mas algumas estavam jogadas pelo chão sem organização alguma. No canto direito, vários bonecos se movimentavam mecanicamente, pelos furos de bala em seus corpos presumi que eram alvos para treino.

A parede do lado esquerdo era repleta de armas e vários outros utensílios mecânicos. Molas, engrenagens, balas, canos de revolver e diversos outros materiais que não conhecia pareciam estar dispostos sem nenhuma organização em cima de um grande balcão de metal. Mas sabia que quem mexia naquelas ferramentas deveria saber exatamente onde se encontrava cada coisa.

Porém a verdadeira atração principal daquela sala parecia ser o ringue disposto em seu centro. Ele tinha seis lados e grades de metal o circundavam. Cada lado era pintado de uma forma, mas as cores que mais predominavam pareciam ser o preto, o roxo, o verde e o vermelho.

–Peixinha! Finalmente chegou! – ouvi a voz de Duchess e a vi do outro lado da sala com uma arma nas mãos. – Pense rápido!

Ela disparou três tiros na direção da minha cabeça, mas consegui me desviar. Olhei atordoada para mim mesma, como conseguira fazer isso?

–Ah, então seu corpo está voltando ao normal! Espero que seja só ele, hein? –ela disse, rindo da própria piada.

Ela se aproximou de mim, seus olhos brilhando de forma estranha. Levantei um pouco o queixo, não iria aparentar mais fraqueza. Ficou me observando assim por mais alguns segundos, depois se virou e começou a rir indo em direção à parte de trás do ringue.

–A Peixinha já está aqui! – cantarolou enquanto brincava com uma faca nas mãos.

–Ah! Então creio que já estamos prontos para a Iniciação! – uma voz aguda masculina disse rindo. Recuei alguns passos ao ouvi-la, alguma coisa me dizia que estava encrencada, muito encrencada se o dono daquela voz estivesse prestando atenção em mim.

–Não seja tímida, venha até aqui! – a voz me chamou e caminhei devagar até sua direção.

Contornei o ringue ciente dos olhos de Duchess grudados em cada movimento meu. Parecia que ela tentava absorver tudo que fazia, minhas reações, meus movimentos. Meu... medo.

–Ah! Realmente você não fica bonita de verde e roxo, querida! – ele riu se referindo aos meus hematomas.

Levantei o olhar. Naquela área da sala pude ver algumas cordas penduradas no teto e duas estantes com livros e cadernos totalmente bagunçados. Um banco de madeira comprido ocupava o espaço entre elas, mas ele estava vazio. De onde viera a voz?

–Pensei que você era pelo menos inteligente! – ouvi um resmungo- Aqui em cima!

Olhei em direção à voz e gelei. Sentado em um trono de tecido vermelho desgastado, apoiado em uma plataforma de metal um homem de cabelos verdes, olhos negros e cicatrizes, me encarava sorrindo, o que poderia até parecia ser um gesto gentil se seu sorriso não estivesse transformando seu rosto em uma figura demoníaca, alargado pelas cicatrizes que repuxavam sua boca.

– Então, temos aqui uma aspirante, diga-me o que está sentindo agora?

–Eu...-tentei falar alguma coisa, mas estava paralisada, não conseguia formar uma frase sequer.

Ele revirou os olhos e se levantou do trono. Deu alguns passos na plataforma então pulou, caindo de pé na minha frente:

–O que foi? São as cicatrizes? – ele sorriu e puxou uma das minhas mãos.

O que ele estava fazendo? Ele parecia estar se divertindo com tudo aquilo, mas a negritude em seus olhos me incomodava. Parecia que a qualquer momento eu poderia ser arrastada para ela, sugada pelo buraco negro de seus olhos e se isso acontecesse só tinha uma certeza. Não teria volta.

Quando meus dedos estavam a milímetros de seu rosto uma faca passou zunindo pelo espaço entre ele e se fincou na estante. O homem revirou os olhos, soltando minha mão e encarou Duchess:

–O que falei sobre me interromper?

Ela o encarou de forma altiva, mas algo em sua postura indicava seu nervosismo. Seus olhos podiam me observar com raiva, mas ela parecia temerosa da repreensão. Ele se aproximou dela tirando uma navalha do terno roxo. Meu coração bateu mais forte, ele era louco, só poderia ser e parecia estar prestes a retalha-la em pedaços. Mesmo depois de tudo que ela me fizera, estava cansada de tanto sangue e violência:

–Quem é você? – perguntei alto o bastante para que ele me ouvisse.

Ele parou a poucos metros dela e se virou para mim sorrindo novamente e guardando a navalha no bolso.

–Ah! A pergunta premiada! –ele riu e veio até mim. – Sou conhecido como Príncipe do Crime, mas pode me chamar de Coringa, queridinha.

Ele piscou e deu uma volta ao meu redor. Segurei as mãos firmemente tentando disfarçar o tremor.

–Mas acredito que a pergunta certa aqui é: Quem é você? – ele disse esticando um de seus dedos da mão enluvada e gasta e tocando minha testa. – Você sabe quem é?

Eu o encarei:

–Você sabe que não.

–Sei é? – ele perguntou rindo e limpando as luvas no terno.

–Sim, sabe. Porque se não soubesse não estaria perguntando isso para mim.

–Ah! Então você é inteligente afinal.

Eu o encarei irritada, sua risada e seu tom de deboche já estavam me irritando:

–A pergunta é: o que você quer comigo? – Eu disse sem tirar meus olhos dele, mesmo aparentando ser um homem comum seus movimentos e seus olhos diziam o contrário. Ele poderia ser qualquer coisa, menos uma pessoa comum.

–Eu? Nada. Mas acredito que talvez você vá querer. – ele disse subindo até seu “trono” por uma escada que não tinha percebido antes.

–O que eu...-parei. Ele sabia que eu tinha perdido a memória e tanto ele quanto Duchess, a sombra sorridente e os outros por quem passei me olhavam como se eu não fosse uma desconhecida. – Vocês sabem quem eu sou.

Ele sorriu e tirou outra navalha do terno, esta era roxa e tinha uma carinha feliz gravada em verde em seu cabo.

–Então chegamos ao ponto que queria. – Ele se inclinou para a frente, apoiando a cabeça nas mãos como se fosse pensar os prós e contras de um grande negócio.

–Eu quero minhas memórias, quero...quero saber quem eu sou! – gritei nervosa.

–E o que você estaria disposta a fazer para consegui-las de volta? – ele sorriu me encarando.

–Qualquer coisa. – disse sem nem ao menos pensar.

–Então está certo! – ele riu se recostando no trono- Você irá se juntar a nós, e se provar ser merecedora te conto quem você é!

–O quê? Merecedora?! – gritei indignada- Como posso não ser merecedora das minhas próprias memórias?

–Não, não querida. Já concordou com os termos, disse que faria qualquer coisa, lembre-se disso! Eu tenho meus termos, você os seus, então estamos quites.

–Quites? Como estamos quites se você sabe quem eu sou e eu não?

–Ai, ai. – ele revirou os olhos- Lei da oferta e da procura. Se você precisa das suas memórias e eu as tenho, nada mais justo do que eu te oferecer um jeito de consegui-las. Ou você acha que não é capaz de se juntar a nós?

Fechei os olhos para me controlar e não pular em cima dele. No fim, ele estava certo. Se ele tinha minhas memórias eu não poderia fazer nada a não ser acatar o que ele dissesse se as quisesse de volta. E mesmo algo dentro de mim gritando para que eu não aceitasse sua oferta, para que não me transformasse em um deles, essa voz foi sobreposta pelo pensamento de que se não fosse considerada sua aliada, estaria sentenciada a eternas sessões de tortura. Ouvi uma risada aguda e abri os olhos. Duchess me encarava deliciada, com um olhar superior tão irritante quanto de Coringa.

–É claro que sou. – respondi entredentes.

–Ótimo! – ele sorriu- Então não será problema nos dar uma pequena prova disso. Red Boy!

Sustentei seu olhar sem entender, então ouvi passos se aproximarem de mim. Virei-me e percebi que um garoto com calça jeans escura, camiseta vermelha e casaco vinho estava agora ao meu lado. Ele encarava Coringa sem nem ao menos piscar.

–Chamou?

–Sim, quero que faça o Teste de Iniciação com a senhorita aqui ao seu lado.

Red Boy se virou para mim. Ele era alto, com talvez 1,70 de altura, sua pele era bronzeada e seus olhos azuis. Perdi-me alguns momentos neles, eu tinha a sensação de conhecer olhos azuis como esses, mas pareciam não se encaixar com a pessoa na minha frente.

Escuridão e luz. Pensei. Algo me dizia que eles deveriam mostrar isso, escuridão e luz. Mas nos olhos azuis dele só podia perceber frieza.

–Sério? Não tô nem vestido pra isso. – ele reclamou.

–Ah! Então está com medo de enfrenta-la? Posso chamar Black Ako se preferir...

–Não! – ele respondeu ainda mais irritado. – É claro que consigo vencer essa aí.

Ele se virou e começou a caminhar em direção ao ringue. Escalou a grade de ferro e então pulou para dentro.

–Não vem? – perguntou irritado olhando para mim.

Segui-o até o ringue. Meu coração batia tão forte que estava surpresa pelos outros não conseguirem ouvi-lo. Levantei mais o rosto e escalei a grade pulando para dentro com facilidade. Ele deu um sorrisinho:

–Até que você é bonitinha, acho que vou pegar leve com você. –ele disse rindo.

–Bem, se estão pronto então...

–Hey! – uma voz feminina interrompeu Coringa e então uma garota com cabelos negros, pele morena e olhos cor de âmbar entrou na sala, caminhando até o lado de Duchess- Nem me chamaram! Sabem que não gosto de ser ignorada.

Ela fechou uma das mãos e quando abriu novamente uma chama negra dançava em sua palma. Recuei alguns passos, tocando instintivamente no meu tórax. Conhecia a sensação daquelas chamas.

–Mas já íamos chamar se não tivesse entrado e me interrompido. – Coringa sorriu zombeteiro, mas pude perceber um quê de irritação em sua voz.

–E imagino que iam me chamar também. – ouvi uma voz masculina e me virei para a porta, mas ninguém tinha entrado.

–Aqui. – alguém disse ao meu lado e me virei, me assustando ao encontrar a sombra sorridente que antes vira no corredor.

–Agora que estamos com a plateia cheia, posso derrota-la logo para ir comer meu chocolate? – Red Boy reclamou.

A sombra, que deveria ser Black Ako que Coringa mencionara antes, aumentou seu sorriso e se dispersou para fora do ringue, reaparecendo ao lado da estante. Ele se movimentava como se não fosse um ser deste mundo. Um arrepiou passou por minha pele.

–Está bem. – Coringa sorriu e voltei minha atenção para Red Boy- Comecem!

E então Red Boy sorriu para mim e abriu as duas mãos ao lado do corpo. Chamas vermelhas tremularam em suas palmas e ele apenas abriu mais o sorriso, ainda me encarando com seus olhos frios.

–Você até que tem uma carinha bonita, vou tentar não te machucar muito. – ele falou.

Não falei nada, apenas o encarando com desprezo. Ele deu de ombros e então correu em minha direção. Atordoada com sua velocidade, nem tive tempo para pensar em fugir quando senti algo queimando em meu ombro. Fui arremessada para o outro lado do ringue, caindo de joelhos no chão.

Abri meus olhos vendo pontos negros dançarem à minha frente. A dor não me deixava pensar direito, mas quando observei meu ombro percebi que não recebera uma simples queimadura. O formato de seu punho fechado estava marcado em minha pele.

Olhei para ele assustada, ele apenas me encarou com seus olhos frios como se dissesse Eu te avisei. Levantei-me tentando pensar em como fugir, mas assim que consegui me endireitar ele surgiu do meu lado e segurou meus braços com suas mãos em chamas. Gritei sentindo minha pele queimar aos poucos, tentando chutar seu corpo para que aquela dor parasse, mas ele apenas me olhava entediado.

Quando sangue começou a pingar de meus braços e a sujar suas mãos ele me soltou, aparentemente satisfeito. Virou-se e começou a caminhar em direção ao lado da grade que entramos. Corri até ele e tentei chuta-lo, mas ele se virou com reflexos rápidos e torceu meu pé. Caí no chão sentindo minha cabeça zunir:

–Aceite. Você é fraca demais para isso. –ele disse nervoso e então se virou para a grade, apoiando um dos pés nela para começar a subir.

Não. Isso não podia estar acontecendo. Eu fora torturada sem saber o motivo, tornara-me um brinquedo para a diversão cruel deles e quando finalmente tenho a oportunidade de recuperar minhas memórias sou obrigada a lutar com alguém que consegue criar chamas pelas mãos, como isso poderia ser justo?

Virei minha cabeça em direção ao palhaço. Ele me encarava divertido, e embaixo de seu trono os outros me olhavam entediados. Então era isso, eles sabiam que não era justo. Sabiam que era fraca demais para poder derrota-lo e por isso nem se preocuparam em prestar atenção.

Fechei meus olhos imaginando o que eles fariam comigo agora. Como provara ser nada mais do que uma garota fraca eles deveriam voltar a me usar como brinquedo. Torturando-me quando não tivessem nada mais interessante para fazer. Ou talvez apenas me deixassem aqui para morrer, pelo meu estado não deveria estar muito longe disso.

Fiquei observando o sangue dos meus braços escorrer. Lembrava-me de alguém falar que quando a poça de sangue chega à determinada medida, a pessoa não poderia mais ser salva. Será que faltava muito para isso? Para minha morte?

Fechei meus olhos. Será que um desmemoriado relembraria sua vida antes de morrer, ou as cenas que passariam em minha mente seriam estes últimos momentos? Reviver aquelas horas de tortura não me parecia algo agradável.

Morrer? Você realmente está pensando nisso? Uma vozinha falou na minha mente. Você têm de lutar, têm de viver. Não quer recuperar sua memória?

Pra quê? Respondi para a voz. Para pensar no que eu perdi antes de morrer? Não, obrigada. Estou farta de sofrimento.

Sofrimento! Que coisa patética! É fácil ficar aí afogada em autopiedade, mas quem disse que você tem de seguir pelo caminho mais fácil?

E quem disse que tenho de ir pelo mais difícil?

Ninguém, mas você não tem de fazer isso por outra pessoa. Faça por si mesma! Não dependa dos outros, seja autossuficiente!

Fiquei alguns segundos sem pensar em mais nada. Será que valia a pena? Levantar e tentar lutar novamente? O sofrimento apenas iria aumentar mais se perdesse, mas...e se ganhasse? Minhas memórias...Qual seria meu nome? Será que eu tinha família? Amigos? Um...amor? Lembrei-me dos olhos azuis de Red Boy e como eles me pareceram tão errados. Não. Não poderia morrer com essas dúvidas tinha de lutar. Mas...como?

Eles já o conhecem, devem ter deixado escapar alguma coisa. Relembrei meus passos, quando acordei, ao vagar pelos corredores, encontrar Duchess...Era isso! Com seu jeito irônico ela me chamava de Peixinha, tentando me irritar, mas isso não me provocava reação alguma. Não, isso deveria ter alguma coisa em relação ao meu passado e por me conhecer ela me chamava por este apelido.

Abri os olhos, vasculhando a sala de treinamento. No canto esquerdo, bem no cantinho pequenos pingos caíam de um bebedouro de ferro. Concentrei-me neles, ouvindo o som da água ao atingir o ferro, imaginando a tal ponto que poderia sentir a sensação refrescante da água na minha pele. Movimentei um pouco a mão esquerda, sabia que poderia ser loucura, um último recurso desesperado de uma pessoa prestes a morrer, mas se existiam pessoas que poderiam criar chamas com as mãos, porque não poderia existir uma que controlasse a água?

Tentei abrir mais a mão, o movimento fez uma pontada de dor percorrer meu braço, mas não parei. Mexi mais a mão, não tirando os olhos das gotas que caíam do bebedouro. Logo, uma pequena gota parou antes de atingir o metal e começou a flutuar. Fazendo seu caminho lentamente até minha direção.

Atravessando a grade a gota flutuou até minha mão e caiu entre meus dedos. A sensação fria e refrescante foi mínima e rápida, mas o suficiente para me fazer continuar. Respirei fundo e olhei para os outros, eles não prestavam mais atenção em mim. Sorri com minha descoberta e voltei a me concentrar na minha conquista, agora tentando trazer uma porção maior de água.

Vibrei quando consegui levantar mais gotas de uma vez só, mas quando elas começaram a se aproximar mais de mim elas caíram no chão. Fechei os olhos, tinha de me concentrar mais. Imaginei as gotas pingando da torneira, o fluxo de água entre os canos. O barulho de cada porção de água ao atingir o metal e se dividir em milhares de gotículas. Imaginei que também era como uma gota de água, imaginei sentir a leveza dos movimentos dela, se adaptando a qualquer lugar que era depositada.

Senti então uma sensação fria, mas agradável começar a me envolver da ponta dos dedos e subindo pelos braços. Abri meus olhos devagar, sentindo uma força desconhecida começar a nascer em mim. Uma grande porção de água agora se esticava ao redor do meu corpo, cobrindo-o como um fino tecido de seda. Olhei para as queimaduras em meu braço, elas pareciam estar se curando. Sorri e então levantei-me. Todos se calaram ao perceber meu movimento.

Sorri ainda mais, saboreando a descrença em seus olhos. Eles esperavam alguém fraco, que fosse vencido facilmente, mas se eu tinha uma qualidade que nunca esqueceria, era a persistência.

–Palhaço! – gritei encarando Coringa – O acordo ainda vale?

Ele me avaliou, parecendo um pouco irritado pela forma como o chamei, mas então abriu seu sorriso desfigurado novamente:

–É claro.

Sorri e virei-me em direção a porta da sala. Red Boy caminhava em sua direção ainda alheio ao que acontecia no ringue. Sorri e levantei uma das mãos, sem que eu dissesse uma palavra a água começou a escorregar de meus dedos e seguir em direção ao garoto de cabelos castanhos. Pendi minha cabeça para o lado ainda sorrindo quando vi-a escorrer para perto de seus pés e então subir por suar pernas vagarosamente.

–Mas...o quê?! –ele parou de andar e encarou as pernas sem entender.

Ri alto e corri em direção à grade, pulando-a com facilidade e logo chegando ao lado de Red Boy. Juntei mais uma porção de água em minhas mãos e me inclinei sobre ele. Sem conseguir mover os pés, ele tentava se virar para me encarar, mas não conseguia.

–Você até que tem uma carinha bonita...- disse apoiando minhas mãos em seus ombros e escorregando-as pelos braços – Vou tentar não te machucar...

Ele se moveu inquieto quando agarrei suas mãos com as minhas. A água circundando nossas mãos por um momento e então se separando completamente de mim e envolvendo suas mãos e braços. O forcei a se virar em minha direção, fazendo seu corpo flutuar alguns centímetros do chão, suas pernas e braços ainda envoltos pela água.

Dei alguns passos pequenos e peguei o que reconheci ser um teaser de choque. Percebi quando ele entendeu o que ia fazer e começou a se mexer tentando escapar da minha armadilha. Apenas aumentei o sorriso, ligando a arma e jogando em sua direção.

–...Muito. – completei.

O teaser acertou uma de suas mãos, mas foi o suficiente. Logo a corrente elétrica se espalhou pela água que envolvia suas mãos e ele começou a gritar de dor. Tinha ajustado o teaser para a frequência máxima, claro que não era algo muito alto para mata-lo, mas o suficiente para queimar suas mãos do modo que ele havia me queimado.

Depois de alguns segundos, fiz um gesto comandando que a água eletrificada o soltasse, e ele caiu no chão tremendo. Caminhei até ele sorrindo, a água sem eletricidade aos poucos envolvendo meu corpo enquanto chegava perto dele.

Com a perna direita, dei um chute em seu tórax, mas ele foi mais rápido, e mesmo com as palmas das mãos queimadas, segurou minha perna.

–De novo não. – eu disse sorrindo.

Usando seu aperto como apoio, pulei com a outra perna girando meu corpo de modo que a perna livre acertasse sua cabeça. Ele soltou minha perna desnorteado, aproveitei para fazer com que a água o levantasse novamente, aproveitando para apertar um pouco seu pescoço.

Fiz com que uma porção de água também se formasse à minha frente, fiz com que mesmo com meu peso sobre ela, ela não se movimentasse. Criando assim uma espécie de apoio ou degrau sólido para que eu ficasse na altura de Red Boy.

Passei um dedo por seu tórax envolvido em água, fazendo com que uma pequena quantidade escorregasse para minha mão e a revestisse como uma luva. Levantei meu punho fechado e o posicionei ao lado da minha cabeça. Red Boy sorriu para mim de forma desdenhosa.

–Só para deixar claro.

Concentrei minhas forças e soquei seu rosto, quebrando seu nariz e fazendo seu sangue escorrer:

–Eu não sou só uma garotinha fraca de rosto bonito.

Pulei da minha “plataforma” de água e fiz com que a água se dispersasse de Red Boy. Ele caiu com um baque forte no chão frio de metal. Mesmo com sangue escorrendo pelo seu nariz e com as roupas molhadas, ele me encarava de forma fria. Levantei o punho mais uma vez para soca-lo, aquele seu olhar de indiferença me dava nos nervos, mas uma barreira de chamas negras surgiu diante de mim.

–Chega. – ouvi uma voz feminina dizer na minha mente.

–Está bem, está bem, princesinha! – Coringa exclamou – Podem parar a luta.

Fiquei encarando a barreira por mais alguns segundos então abaixei o punho, imediatamente a barreira se desfez. Virei-me para Coringa. Ele parecia divertido com a situação, mas pude perceber que havia uma certa tensão na sala.

Duchess me olhava com a cabeça pendida, seu sorriso não vacilava um segundo sequer, mas seus olhos pareciam observar cada mínimo movimento ou expressão que fazia. Era como se ela pudesse ler meus pensamentos, ver meus temores.

Ao lado dela, a garota de olhos âmbar me encarava de forma ameaçadora, parecia que eu a tinha irritado, mas não entendia o que ela tinha haver com minha luta com Red Boy. Teria ela alguma relação com ele? Não tinha como saber isso, mas pelo menos a sombra parecia me encarar do mesmo modo que fizera antes. Com seu largo sorriso e seus olhos vermelhos, ela não me assustava mais. Na verdade, nenhum deles eu realmente temia. Agora que descobrira o que era capaz de fazer, não seria assustada novamente com tanta facilidade. Que eles tentassem me torturar novamente para ver o que os atingiriam!

–Passei em seu teste, Palhaço, quero minhas memórias de volta!

Ele riu novamente e fez um gesto indicando que me aproximasse dele. Caminhei sem desviar de seu olhar faminto nenhuma vez.

–Você passou na Iniciação, é verdade, mas ainda não provou que as merece de volta. – ele sorriu.

–São minhas memórias. – fechei meus punhos com raiva- Minhas!

–Então não terá problema algum em provar que as merece de volta. – ele argumentou. – E quanto à vocês – ele disse se referindo aos outros que tinham observado a luta – Deem as boas vindas à nossa querida Silapco.

Ele sorriu e se virou, entrando em uma passagem que ainda não tinha notado e desaparecendo na escuridão. Virei-me e encarei meus novos “companheiros.”

– Silapco– murmurei pensativa.

O nome parecia ter um gosto estranho em minha boca. Como algo que não me pertencia, mas ao mesmo tempo fazia parte de mim. Mas não me importava, eu seria Silapco até conseguir minhas memórias de volta, então poderia descobrir quem eu realmente era.

Inconscientemente estendi minha mão e a água tornou a envolver meu corpo, curando minhas feridas e revitalizando minha energia. Sorri. E se no final de tudo eu não gostasse de quem eu era, poderia ter uma nova identidade. Abri meus olhos e vi Duchess sorrindo ao me encarar. Quem sabe eu não aprenderia a ter o mesmo brilho nos olhos que ela? Quem sabe...


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado! Sei que esse nome pode ser meio estranho (Silapco - o p é mudo), mas acreditem, tem um por que e mais para frente vocês irão compreender. Gostei também de escrever por trabalhar com os vilões. Adoro os heróis, mas sou louca - literalmente- pelos vilões, hehehe.
Fiquem à vontade para deixarem seus comentários. Lembrando que críticas construtivas são bem-vindas e, rs, vou entender se vocês me apedrejarem pela demora.
Com amor,
Writer.