Alvo Potter E A Pedra Do Segundo Irmão escrita por Amanda Rocha


Capítulo 9
O grande erro da turma de Joshua


Notas iniciais do capítulo

Hey pessoinhas! Ansiosas pelo capítulo? Ele é bem grandinho, pensei em dividir em duas partes, mas acho que vocês já estão acostumados com os meus capítulos gigantes, hehehe
Então, nesse capítulo teremos, obviamente, um erro da turma de Joshua (aváh), e os erros dos outros, quem dá o castigo geralmente é o Tiago, como vocês já sabem, então já vão imaginando a confusão desse capítulo...



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Na outra semana, Alvo sentira-se muito tentado a voltar a visitar a Sala de Troféus para falar com Snape. As pessoas às vezes lhe paravam no meio do caminho para as aulas e pediam para olhar sua cicatriz e lhe davam parabéns. Na verdade, estavam lhe dando parabéns por qualquer coisa que fizesse, como na hora do almoço de quarta-feira: Grace Poàzh havia derramado a jarra de suco de abóbora e Alvo limpou o líquido com a varinha e a mais uns alunos lhe deram parabéns. O que tinha de especial naquilo?

Isso, somado ao fato de que alguns professores e alunos não paravam de dizer coisas como: “Alvo Potter, o filho de um dos melhores apanhadores da Grifinória, parabéns!”, “Alvo, parabéns! Seu pai foi incrível!” e “Parabéns! Seu pai é o maior bruxo em minha opinião!”. Não era algo muito justo. Os parabéns não deviam ter sido dele. No começo ele achou que fosse normal, por ser filho de Harry Potter, que agora que fora descoberto virara a nova celebridade, mas notou que Tiago, Fred, Alice e nenhum dos outros recebiam tantos parabéns pelos pais. Bom, Alice e Rosa quase não recebiam, mas Tiago e Fred sim, e não tinham nada a ver com o que seus pais foram, e sim pelo que eles próprios são. Ou porque Tiago amedrontara um garoto, ou porque Fred discutira com um colega e era respeitado.

Tudo bem que ele ainda ganhava parabéns por ter lutado com Bob Rondres e ter salvo seu irmão, mas isso era algo que qualquer um faria. Era seu irmão, e ele agiu por instinto. Alvo achou que depois de voltar às boas com o irmão, seria um pouco mais respeitado ou teria coragem de fazer algo que merecesse respeito, mas nenhum dos dois havia acontecido. Nada por seu mérito... Qual era o segredo de Tiago? Como ele conseguia fazer coisas pequenas se tornarem grandes e ganhar respeito? Disso Alvo não fazia ideia... Para dizer a verdade, ele suspeitava que nem mesmo o irmão sabia. Essa era uma das coisas que nem mesmo Rosa saberia explicar, que sequer havia explicações, apenas eram... 

Alvo sentiu-se extremamente bravo, o sangue quente subindo à cabeça, quando, à espera da aula de Defesa Contra as Artes das Trevas, Scorpius e sua turma começaram a debochar dos professores que tinham, e de um modo especial, Teddy.

-Ah, aquele trapalhão! –riu Scorpius. –Papai diz que não é à toa que ele é parente dos Potter! Essa gente e os Weasley... Ele também disse que foi o bobão do Potter quem pediu ao Longbottom para dar a vaga ao filhote de lobo!

-Filhote de lobo? –repetiu Valéria, sem entender.

-Ah, eu ainda não contei? –perguntou Scorpius em um tom alto o suficiente para que os outros alunos que estavam mais afastados ouvissem e se juntassem mais para perto. –Ah, esse Teddy não tem uma boa influência paterna, nem materna eu diria. O pai era um lobisomem!

-O quê? –exclamaram Marcel e Valéria e mais alguns secundaristas.

-Isso mesmo! –afirmou ele. –E dos raivosos, ouvi dizer! Um mestiço pra lá de perigoso! E a mãe... Uma péssima Auror! Sabe, dizem que foi dela que ele herdou essa capacidade de mudar seu corpo e também o jeito atrapalhado... Ele até parece a Longbottom! Não é à toa que eles são da mesma família, mas é o que acontece, sabe, não conheço nenhum Traidor do Sangue decente... E eu que achava que os Weasley fossem os piores, agora com esse Lupin...

-O que tem os Weasley? –perguntou Rosa irritadíssima, o rosto quase tão vermelho quanto os cabelos. Scorpius pareceu assustar-se, como se nem tivesse a notado ali. Abriu a boca para dar uma resposta, mas não saiu som algum. –Hein, Malfoy? Por que não fala na minha cara o que os Weasley têm? E o Teddy? Que é que você tem com ele? E daí que o pai dele é um lobisomem? Eu acho isso muito interessante! Aliás, o pai lobisomem dele é mil vezes melhor que o babaca do seu!

-Não fala do meu pai! –guinchou o garoto, com a voz agudíssima.

-Ah, é ruim quando falam dos seus parentes, não é? –perguntou Rosa. -Pois fique sabendo de uma coisa, garoto, eu não vou...

-Tolerar briguinhas em minha aula. –disse Draco calmamente, quando chegou e viu a discussão. –Scorpius, não dê papo a eles. Granger, se continuar dando seus chiliques, terei de lhe dar uma detenção e...

-Falar com meus pais? –perguntou ela, um pouco esperançosa. –Papai estava mesmo querendo bater um papinho com você...

Draco a fuzilou com os olhos, mas não pôde dizer nada.

-Entrem... –rosnou ele abrindo a porta da sala.

Alvo, Rosa e Carlos entraram correndo na sala para pegarem os últimos lugares, assim tinha menos chance de Draco ficar chamando-os para fazerem coisas perigosas, se bem que desde o último ano, o professor de DCAT não estava lhes pedindo para fazer nada fora do comum, a não ser fazer algumas demonstrações à turma.

-No segundo ano iremos aprender sobre pragas, como já falei no primeiro dia de aula. –disse Draco calmamente, os olhos fixando-se em cada aluno por um instante. Quando chegou a Alvo, deteve seu olhar na cicatriz do garoto, que Alvo fez questão de esconder com a franja, como estava fazendo sempre que isto acontecia. –Nesta aula iremos estudar os gnomos. –ele apontou para a própria escrivaninha, onde aparecera uma gaiola com um gnomo dentro. Era muito feio, tinha a pele cheia de caroços e lembrava muito uma batata. Alvo já os conhecia, sua avó vivia pedindo para que ele e o irmão desgnomizassem o jardim. –Alguém aqui os conhece?

Mais da metade da turma levantou a mão, Alvo pode ver que foram muito poucos os da Sonserina que levantaram.

-Gnomos? –repetiu Scorpius, aparentemente nunca tinha ouvido falar neles. –São essas batatas gigantes aí?

-Sim, Scorpius, são essas batatas gigantes, mas pode chamá-los de gnomos. São bichinhos danados, esses gnomos. São pragas de jardim...

-Eu nunca vi um desses no meu jardim! –disse Scorpius, como se desconfiasse do que o pai estava dizendo.

-É porque temos eficientes elfos que desgnomizam o jardim. –disse Draco, gabando-se.

-Ah, claro! –disse Rosa de repente. –Deixe o trabalho duro para os elfos!

Scorpius, que estava sentado em uma carteira bem à frente, virou-se para trás para lhe responder.

-Escuta, Weasley, - disse encarando-a nos olhos. –só porque você mora, literalmente, numa toca e tenha que desgnomizar o jardim todos os dias, não quer dizer que pessoas de melhores condições que moram em mansões não possam deixar isso para os elfos.

Rosa estremeceu na cadeira. Alvo olhou para Carlos e este entendeu-o no mesmo instante. Já estavam prontos para segurá-la, caso fosse preciso, mas ela respirou fundo e respondeu ao garoto com o máximo de calma que conseguiu encontrar:

-Escute aqui, Malfoy! Saiba que elfos domésticos são criaturas...

-Imundas! Porcas! Nojentas e... –tentou completar Scorpius, mas Rosa o interrompeu:

-Bem melhores que você e sua família! –disse ela quase gritando, mas um segundo depois se arrependeu.

-Como eu disse, não tolero brigas em minha aula... –disse Draco, andando calmamente até os dois. –Granger, menos dez pontos para a Grifinória e acho que uma detenção também te faria rever os modos com que tem que se comportar ao cruzar a porta desta sala. Sexta-feira, às cinco horas na minha sala.

Alvo encheu-se de fúria. Aquilo não era justo! Não soube como Rosa ainda não contestara, mas ao olhar para a prima, viu que ela estava ocupada demais encarando Malfoy de um jeito tão perverso que parecia que queria o Estuporar só com os olhos.

-E seu filho? –perguntou Carlos.

-Que tem meu filho? –perguntou Draco distraído, os olhos fixos em Rosa e Scorpius, como se estivesse se divertindo vendo que a garota não podia fazer nada a seu filho, a não ser encará-lo feio.

-Quando será a detenção dele? –perguntaram Alvo e Carlos ao mesmo tempo.

Draco tirou os olhos dos dois garotos que se encaravam feio, e passou a observar Carlos e Alvo. Um sorriso brincou nos lábios do professor, seu rosto branco deu uma corada e ele soltou uma gargalhada forçada.

-E por que Scorpius teria de cumprir alguma detenção? –perguntou ele.

-Ah, deixa eu pensar... –disse Carlos franzindo a testa. –Bom tem muitos motivos, que tal por ter nascido e viver assustando a gente com essa cara fina e branca de pastel que ainda não foi frito?

Alvo riu, imaginando como Carlos sabia o que era um pastel sendo que era bruxo, mas aí lembrou que os pais do garoto amavam tudo que tinha a ver com trouxas. Com certeza a Sra. Cattér quisera adicionar esse prato à sua culinária.

Todos os alunos da Grifinória riram. Os únicos que olhavam feio para Carlos eram Draco e os sonserinos. O professor, muito ao contrário de Alvo e dos demais grifinórios, tinha a boca crispada, o rosto mais fino que nunca. Quando falou, pareceu que foi com muito esforço:

-M-Muito atrevido, Cattér! –disse entre dentes. –Junte-se a Srta. Granger na sexta-feira e talvez melhore essa sua insolência...

Carlos deu uma espécie de rugido, talvez quisesse argumentar, mas sua voz pareceu que havia desaparecido. Os dois, Carlos e Rosa, estavam muitíssimos vermelhos de raiva. Alvo não os culpava. Ele mesmo ficara com raiva, imagine os dois que ganharam detenções. E Scorpius... Alvo tinha vontade de lhe dar um bom soco no meio da cara, mas não queria fazer companhia a Carlos e Rosa na quarta.

Foi com muito esforço que os dois se juntaram a Alvo, Scorpius e Marcel Jofrey, quando o professor pediu que os cinco pegassem na despensa as outras gaiolas com mais gnomos para que toda a turma pudesse os estudar. Carlos tremia dos pés a cabeça, os punhos cerrados. Rosa continuava tão vermelha quanto seus cabelos, e quando Scorpius passou por ela e murmurou alguma coisa como “Sangue-Ruim”, a garota puxou imediatamente a varinha e apontou para o colega, mas Alvo abaixou sua mão.

-Não vale a pena... –disse, enquanto Malfoy e Jofrey iam à frente. –Realmente não vale. Não ligue para ele, só quer te provocar...

-É? –perguntou ela, os olhos azuis faiscando. –Então dê os parabéns a ele, pois conseguiu!

Eles entraram na despensa, onde havia várias gaiolas com gnomos. Scorpius e Jofrey não estavam carregando nenhuma gaiola, ao contrário, estavam examinando os animais que estavam dentro delas.

-Que bichos feios... –comentou Marcel.

-É verdade... –concordou Scorpius. –Olha esse daqui! Parece a Weasley! E esse outro, é a cara do Cattér!

-AGORA JÁ CHEGA!

Aparentemente, aquilo fora a gota d’água para Carlos, pois quando Malfoy terminara seu comentário, o garoto o puxara com força e o encostara sobre a parede, o segurando pela gola da roupa. Rosa tinha a varinha erguida para o rosto de Scorpius. Alvo, já imaginando a confusão que aquilo daria, interpôs-se entre eles.

-Ei, Carlos, calma! -disse puxando o amigo pelo braço, mas Carlos resistiu fortemente até que Marcel veio e o forçou a sair de cima de Malfoy.

-Me solta, seu louco! –disse Carlos a Marcel, que ainda tentava segurá-lo com medo de que ele fosse partir a qualquer momento para cima do amigo, que continuava encostado na parede, as mãos para cima, protegendo-se de uma Rosa raivosa que ainda apontava-lhe a varinha para o rosto:

-Rosa... –disse Alvo. A menina ergueu mais ainda a varinha, mas depois baixou-a.

-Você me dá nojo, Malfoy... –disse, e, aparentemente incapaz de continuar a olhar para Scorpius, ela pegou duas gaiolas e saiu da despensa. Alvo fez o mesmo e, ao passar, deu um olhar desprezível a Scorpius. Era incrível como aquele garoto o fazia sentir tanta raiva, ele achou que talvez não fosse se controlar e ia partir para cima dele também.

 Carlos, Alvo e Rosa foram distribuindo as gaiolas para os alunos da Grifinória, para não terem de chegar perto dos sonserinos, o que foi uma tentativa muito fracassada, pois Dominique e Valéria começaram a instigar os colegas a rirem e debocharem dos três.

-Ô Testa Rachada! –chamou Valéria. –Me dá uma gaiola!

-Não, Valéria! –disse Dominique, rindo maldosamente. –Não faça isso! Nem se aproxime dele! Vai que ele incorpore Bob Rondres! Mamãe contou que o pai dele fez a mesma coisa com Você-Sabe-Quem...

-Pelo amor de Deus! –disse Rosa, irritada. –O cara já morreu, custa falar o nome dele? Tenho certeza que Voldemort não virá puxar os pés de vocês, apesar de que eu ficaria muito feliz se isso acontecesse.

Aparentemente ela acabara se convencendo de que realmente não tinha sentido falar o nome de Voldemort, embora Alvo achasse que ela só estava falando isso para ter uma resposta para dar aos sonserinos.

Muitos alunos estremeceram ao ouvirem o nome de Voldemort, inclusive Scorpius. Alvo viu aquilo, e estava pronto para debochar do garoto, mas Carlos já se adiantara:

-Por que está com medo, Malfoy? –perguntou. Scorpius olhou repentinamente para trás. –Pelo que sei o seu pai era bem chegado dele... Por que ter medo de um cara da família como ele?

Scorpius corou um pouco. Olhou para o pai, em busca de apoio, e começou a gaguejar, tentando justificar:

-Ah... Eh... C-Como...? N-Não é da...

-E como é que você ficou sabendo, Weasley? –perguntou Draco. Carlos apertou com força a gaiola, detestava quando Draco o chamava assim. –Pelo que sei, seus pais Traidores do Sangue não se interessam e nem fazem ideia de quem foi ou não seguidor de Voldemort...

-E como é que você está solto? –disse Carlos, Draco se aproximou mais, e ele logo acrescentou: -Professor?

-Isso não é da sua conta, é Weasley? –perguntou ele.

Carlos olhou para os lados, e parou o olhar em Rosa.

-Rosa, acho que ele está falando com você. –a garota não respondeu, apenas sorriu. Draco pareceu estar explodindo de raiva por dentro, porém quando falou, foi com uma voz muito calma:

-Menos cinco pontos para a Grifinória. –disse, e voltou para a sua escrivaninha.

-Se continuarem assim, Grifinória não terá mais como competir a Taça das Casas. –ouviu-se o comentário de Scorpius lá da frente.

-E desde quando você se importa com a Grifinória, seu grande idiota! –disse Rosa, encarando o garoto com desprezo. Os olhares da garota e do professor se cruzaram e Alvo teve certeza de que ela, mais uma vez, se arrependera na hora do que falara.

-Quero quarenta e cinco centímetros de pergaminho sobre os gnomos para sexta-feira, detalhando cada parte do corpo, a medida, o que comem e como capturá-los. Vocês têm meia-hora para examinar os gnomos, não terão outra oportunidade. –aparentemente, o professor achara que isso seria um bom castigo para eles, mas se enganara.

Alvo, Carlos e Rosa e a maioria dos alunos da Grifinória ficaram brincando e se divertindo durante o tempo que sobrara, pois já tinham bastante experiência com gnomos. Não se podia dizer que Carlos e Rosa estavam se divertindo, mas Alvo tinha certeza que os dois estavam contentes em ver Scorpius e um bando de alunos da Sonserina se matando para deixar os gnomos quietos para poderem examiná-los o mais rápido que pudessem, por conta do tempo.

Naquela segunda, realmente os professores não estavam dando trégua. O segundo ano era, como Tiago e Matt avisaram, muito pior do que o primeiro.

-Ah, o primeiro ano é fichinha! –disse Tiago.

-É, sim. –afirmou Matt. –Mas é no segundo que a coisa começa.

-Que coisa? –perguntou Rosa.

-A coisa. –respondeu Tiago, assombrosamente. –Ah, é terrível...

-E só tende a piorar com o decorrer dos anos... –continuou Matt.

-O que você quer dizer com piorar? –perguntou-lhe Alvo.

Tiago e Matt trocaram olhares preocupados. Tiago abaixou a cabeça e também seu tom de voz, forçando assim, os outros a se inclinarem também.

-Não quero assustar vocês, mas... –ele disse baixando a voz a cada palavra, até dar uma estremecida antes de terminar a frase.

-O que foi? –sussurraram os três ao mesmo tempo, ansiosos.

-Ah, deixa pra lá! –disse Tiago, afastando uma mosca invisível com a mão, e foi embora junto com Matt.

-Eu devia ter adivinhado... –suspirou Alvo.

Herbologia era uma matéria muito interessante, e os dois professores que ensinavam a matéria eram também ótimos. Porém, Neville se empolgava um pouco quando o assunto era plantas mágicas, e acabava passando dever demais, como fizera no último período de segunda-feira.

-Agora, - começou ele, muito entusiasmado, já no fim da aula. –que tal um dever de casa? Bom, eu planejei para vocês, eh... Vinte centímetros de pergaminho sobre... Os hemeróbios, e também estava pensando em uma pesquisa sobre o Botão-de-Prata... Ah, também achei que seria legal se a gente estudasse os Crúculus! Então fica assim: vinte centímetros sobre os hemeróbios, quinze sobre o Botão-de-Prata, bom, esse não fala sobre muita coisa, então pode ser dez, é... E vinte e cinco sobre os Crúculus, algo que eu acho bem interessante! Trarei um para a próxima aula, e nós poderemos o estudar melhor!

Rosa ergueu a mão.

-Sim, Rosa? –perguntou Neville a menina.

-E para quando temos de entregar todos esses trabalhos? –perguntou ela.

-Bem... Os hemeróbios são bem fáceis de achar, deve falar neles até no livro de Poções... Os Crúculus e o Botão-de-Prata também não são pouco encontráveis, creio que tenha no livro de Herbologia de vocês, então, eh... Acho que fica para essa sexta.

-O QUÊ? –exclamou Carlos. –Três plantas? Para essa sexta? Mas... Mas... Não dá! Já tem o trabalho sobre os gnomos do Draco!

Carlos não foi o único que achou isso injusto, todos os alunos queriam que o professor adiasse a data dos trabalhos. Rosa parecia ser a única que achava isso normal:

-Ah, quero dizer... Acho que o Tiago e o Matt estão certos, o segundo ano é realmente difícil, sabe, é quando saímos do primeiro que é bem moleza, creio que mais difícil que esse só o quinto, que tem os N.O.M.s...

Mesmo com os muitos protestos dos alunos, Neville não mudou a data de entrega dos deveres (“Ah, eu acho isso muito bom! Sabe, já é uma espécie de prática para o quinto ano, que deve ser bem pior...”, disse Rosa, após o professor anunciar sua decisão). 

Alvo pensou em começar o trabalho naquela segunda mesmo, mas a Sala Comunal da Grifinória estava extremamente cheia e barulhenta. Fred, Tiago e Matt não paravam de mostrar à turma os produtos da Gemialidades Weasley.

-Ah, eu também tenho Caramelos Incha-Língua. –disse Fred mostrando aos colegas um pacotinho com caramelos, aparentemente inocentes, mas Alvo bem sabia o que eles eram capazes fazer. Uma vez, há alguns anos, Tiago os deixara em cima de sua cama e o garoto os pegou. Sua língua só foi parar de crescer quando o pai o viu, mas a essa altura a língua já havia chegado a quase oito metros.

-Mas que gritaria é essa? –perguntou sua mãe, quando ouviu os gritos de Alvo. –Será que não podem... PELAS BARBAS DE MERLIM! ISSO É UM...?

-Caramelo Incha-Língua. –afirmou Harry, que tentava acalmar o filho para tentar um feitiço Redutor. –Calma, filho, não irá doer...

Gina deu um gritinho agudo e começou a ficar vermelha, Alvo, que estava muito apavorado, só viu quando berrou:

-TIAGO!

Ouviram-se passos apressados lá em baixo, depois o barulho de alguma coisa sendo atirada para o chão.

-Ele está aqui, mamãe! –berrou Lilí, lá de baixo. –Está embaixo da mesa!

-Lilí! –guinchou Tiago com a voz abafada. –Eu disse pra você não contar!

-Ah, desculpe... –disse a menina.

Tiago ficara de castigo para o resto das férias, o que o garoto tentara explicar que não fora por querer, que devia ter se esquecido dos caramelos ali, mas nada que o garoto inventasse fez com que a mãe o perdoasse. Harry, porém, achou aquela situação um pouco engraçada, o que só deixou Gina ainda mais irritada.

-E do que é que você está rindo, Harry Potter? –perguntou com a voz finíssima, como sempre acontecia quando estava irritada. –Seu filho acaba com a língua com mais de cinco metros e você fica aí rindo? Então quer dizer que você também vai rir se o seu filho botar fogo no Alvo? É isso?

-Eu nunca pensei em botar fogo no Alvo! –defendeu-se Tiago. Depois, olhando para o irmão, sorriu e disse: -Se bem que é uma ótima ideia... Obrigada, mãe!

-Está vendo? Isso acontece por causa dessa sua atitude! Hermione está certa! Temos que ser mais severos com o Tiago!

-Tia Hermione disse isso? –perguntou Tiago olhando para a tia, que brincava com Hugo na sala da casa dos Potter.

-Bem, eu não disse isso... –respondeu ela. –Apenas falei que eles estão sendo um pouco moles com você, não necessariamente que precisam ser severos, e, não Hugo! Nada de pegar a varinha do seu pai!

Gina olhou para Tiago, como se esperasse uma resposta. O garoto olhou para o pai em busca de apoio, mas Harry apenas encolheu os ombros.

-E então? –perguntou ele, um pouco receoso à mãe.

-E então? –repetiu ela, um quê de triunfo em sua voz. –E então que você está de castigo para o resto das férias, mocinho!

Tiago abriu a boca para argumentar, mas fechou-a rapidamente.

-Eu esperava que fosse mais! –disse, e subiu para o quarto. Alvo bem sabia que aquilo não era verdade e que Tiago só o dissera por que não gostava que os outros achassem que conseguiram irritá-lo ou coisa assim. Alvo pensava que isso fosse porque o irmão gostava de ser o único a irritar as pessoas...

-Bem, eu creio que não haja condição de fazer o dever por aqui... –disse Rosa, que ainda tentava fazer o trabalho sobre os hemeróbios.

-E o que vamos fazer? É muito cedo para ir se deitar... –disse Carlos. Rosa olhou a volta e parou o olhar em Scorpius, que estava sentado mais adiante, sentado em uma escrivaninha e absorto na leitura de um livro intitulado: Pragas de jardim – Desgnomização. A menina puxou a varinha do bolso e, brincando com ela na mão e sorrindo, apontou-a para Malfoy.

-Não vale a pena... –disse Alvo. –Não vai querer ser expulsa, ele é filho do Draco, pode arrumar uma tremenda confusão...

-Tem razão... –disse a prima, abaixando a varinha. –É que ele me irrita! Não suporto esse garoto e sua mania de Sangue-Puro! E daí que eu sou mestiça? Sou muito melhor que ele! E veja o seu pai! Ele é mestiço e é o maior bruxo que existe!

Alvo corou.

-Sua mãe também! –disse depressa. Carlos olhou para os dois e depois deu um longo suspiro.

-É, acho que nesse quesito eu sobro...

Alvo e Rosa se olharam rapidamente antes de responder.

-Ah, não! –disse Rosa.

-É, só porque seus pais não são... Hum... Não quer dizer que você não seja, eh...

-É, isso, não quer dizer! –concordou Rosa.

Carlos deu um sorrisinho amarelo, Alvo sabia que aquilo não o convencera. Preocupava-se demais com seus problemas e acabava se esquecendo de Carlos. Nunca parara para pensar em como o amigo devia se sentir quanto a isso. Porém, Alvo não via nada de mal nisso. Pelo contrário, às vezes invejava Carlos, não gostava muito da fama que ele e os pais tinham, era um pouco constrangedor.

Nos dias seguintes, Alvo espantou-se com a quantidade de deveres que fora se acumulando. Eles deixavam os temas para serem feitos à noite, porém a sala comunal não estava sendo mais um lugar calmo. Tiago, na verdade, era quem fazia o barulho. Ele e Matt estavam sempre fazendo alguma coisa junto com Fred. Ainda haviam ganhado mais deveres de Feitiços, Poções e História da Magia.

Acabou que às onze e meia da noite de quinta-feira, os garotos eram os únicos na sala. Alvo e Carlos atirados no chão ao pé da lareira, com os rostos grudados nos pergaminhos, as penas riscando sem parar. Rosa, andava para lá e para cá, lendo seu pergaminho em voz alta e criticando-o.

-... A Revolta dos Duendes começou em 1367 a.C. e... O QUÊ?

-Que foi? –perguntaram Carlos e Alvo, assustados à menina.

-Como eu sou burra! –exclamou Rosa. Alvo e Carlos se olharam. –A Revolta dos Duendes começou em 1365 a.C. e não 1367 a.C.! –disse ela dando um pequeno soco na testa. –Como eu não fui me lembrar, o Prof. Binns falou isso mês passado!

-Pelo menos você lembrou da resposta! –retrucou Carlos. –E a gente? Me diga, onde vou encontrar algo sobre Crúculus?

A menina olhou a volta. Deu um estralo de dedos, correu para a mochila e pegou uma revista.

-O que é isso? –perguntou Carlos.

-O Pasquim. –respondeu ela. –Luna deve ter escrito algo sobre eles. Bom, nunca se sabe o que vai se achar aqui, não é?

Ela começou a ler. Depois de um tempo, Alvo e Carlos resolveram deixar os Crúculus para mais tarde e começar a treinar o feitiço que o Prof. Denóires pedira. Ele raramente pedia para treinarem um feitiço, só pediu nessa aula porque estava estressado por ter discutido mais uma vez com o Auror Clodeck (“Eu não vou com a cara dele, esse cara tem algo estranho.”, disse ele. Mas ele era o único que achava isso, todos os outros achavam que ele era um cara muito simpático até).

-Glacius! –disse Alvo apontando a varinha para a própria pena, que no mesmo instante se congelou. –Muito bom! Sua vez, Carlos.

O garoto murmurou alguma coisa como “não sei se vou conseguir”, mas depois apontou a varinha para uma xícara que estava ali perto.

-Glacius! –ordenou ele, mas nada aconteceu.

-Hum... Tenta de novo. –disse Alvo, achando que talvez em uma segunda tentativa o amigo acertasse, afinal, não era um feitiço muito difícil, porém, por mais que Carlos tentasse, o máximo que ele conseguia fazer era deixar umas pedras de gelo dentro da xícara.

-Mas você sempre foi bom em feitiços. –disse Rosa o observando. –Foi bem em todos os teste do ano passado!

-Bom, no ano passado não aprendemos nada realmente difícil, não é? –disse Carlos. –Quero dizer, nada muito novo, eu conhecia a maioria dos feitiços. O problema é que sou um desastre com feitiços novos, me lembro da vez em que papai tentou me ensinar a produzir fogo para acender a fogueira... –ele fez uma careta.

E depois de um bom tempo fazendo os outros trabalhos, os únicos que restaram eram os de DCAT e o dos Crúculus.

-Terminei meu trabalho sobre os gnomos. Rosa, dê uma olhada para mim. –disse Carlos, deitando no chão e estendendo o pergaminho para a amiga. Rosa o pegou e começou a ler, à medida que ia lendo, ia fazendo algumas caretas.

-O que foi? Tem algo errado? –perguntou Carlos.

-Hum... –disse ela, após terminar. –Bem, Carlos, eles não têm cerca de um metro quando adultos e não se combate gnomos com veneno.

-Não? –perguntou ele espantado. –Bom, bem que eu achei... É que mamãe sempre chama aqueles trouxas, inseticidas eu acho, e eles colocam veneno. Depois papai tem que apagar a memória deles, é claro, deve ser por isso que eles dizem umas coisas nada a ver como “tem coisas com quase um metro no seu jardim”, devia estar sob o efeito, sabe... Eu bem que estranhei... Mas... Bom, é que agora já são quase duas horas e... Amanhã tem detenção, talvez eu não termine isso antes das cinco... Talvez se você me ajudasse...

-Não vou te deixar copiar meu dever. –disse Rosa na hora. –Como você vai aprender? Mas posso te ajudar, veja...

-Ah, não, Rosa! –reclamou Carlos. –Não seja má! Prometo que esta será a última vez que vejo seu trabalho! Ah, vai! Não quero estar muito cansado para amanhã! E o que eu vou aprender se souber como capturar gnomos? Não vou usar isso para nada!

Rosa olhou de Alvo para Carlos, e desse para o último parágrafo que o garoto fizera sobre qual veneno usar nos gnomos.

-Está bem! –disse. –Vamos, escreva aí: Os gnomos são pragas domésticas que podem...

Mesmo com a ajuda de Rosa, Carlos fora terminar seu dever só depois das três da madrugada. Alvo já tinha terminado o seu, mas achou que seria mais solidário ficar ali para fazer-lhes companhia. O que na hora achou que seria uma boa ideia, porém de manhã, Alvo desejou que tivesse ido dormir três horas antes.

Levantou-se meio tonto, a visão muito embaçada, querendo voltar a dormir, mas os colegas que já haviam levantado, não paravam de conversar em altas vozes o resultado do último jogo dos Chudley Cannons contra os Tornados.

-Eu ouvi dizer que o Ollins marcou todos os gols para os Cannons! –disse Jordan. –Meus tios disseram que ultimamente tem saído muitas camisetas dele.

-Eu prefiro o Keep... –disse Clívon. –Ele é tipo um centroavante, não é?

-O que é um centroavante? –perguntou Dennis interessado.

Alvo sempre gostara de quadribol, mas no momento estava querendo muito que os amigos discutissem um assunto que não os deixassem tão animados. Sua cabeça doía. Ele olhou para a cama de Carlos e viu que o menino também devia estar se sentindo mal. O garoto tentava com muita dificuldade pôr os livros na mochila.

-Estou morrendo de dor na cabeça... –disse, antes que Alvo perguntasse. –E o pior. Acho que estou ficando resfriado.

Eles pegaram os materiais e olharam no relógio. Ainda eram sete e meia.

-Eu gostaria de não tomar café e ficar aqui dormindo por meia hora, pelo menos. –disse descendo a escada do dormitório. –E aposto que Draco vai nos arranjar coisas que vão ocupar uma boa parte da noite, então será outra noite mal dormida...

Alvo não encontrou palavras de consolo, então resolveu não dizer nada. Já passara pela detenção de Draco e da última vez que isso acontecera, ele, Carlos e Rosa foram parar na Floresta Proibida ou na Passagem da Árvore que guardava o Medalhão de Prata, para ser mais preciso.

As aulas daquele dia passaram de uma maneira extremamente lenta, parecia que alguém tinha congelado o tempo. Talvez porque tinham dois tempos de História da Magia, mas todas as aulas daquele dia pareceram chatas, até mesmo a de Feitiços. Alvo sentiu um pouco de pena de Carlos nessa aula, pois o garoto ainda não conseguira fazer o feitiço Glacius.

-Sou um meleca... –murmurou ele, após a décima tentativa.

-É verdade. –concordou Scorpius, fazendo sua turma de sonserinos dar gargalhadas. –Parece até um Aborto.

-Ah, cale a boca e vá cuidar da sua vida, Malfoy! –ralhou o Prof. Denóires. –Já me basta o Sr. Clodeck me irritando, não preciso de uma Lombriga Anêmica Júnior na minha sala. E não se preocupe, Carlos, eu também sempre tive dificuldade com esse feitiço. Não se se preocupe, quando chegar a hora você irá fazê-lo sem dificuldades.

Carlos sentiu-se um pouco melhor após isso.

As aulas continuaram chatíssimas. Alvo deu graças quando acabaram. Eles foram para os jardins, onde se juntaram a Tiago, Matt, Fred, Alice, Daniella e Suzanna.

-Ah, aquela Zuckpell... –comentou Suzanna, sentando-se no chão embaixo de uma faia. –E daí que ela já visitou Hogsmead antes? E daí? Nós vamos todos visitar em outubro...

-Todos, não. –corrigiu Rosa, que sentara-se ao lado.

-Ah, é... –disse Suzanna. –Me esqueci... Bom, de qualquer jeito eu mal posso esperar para visitar o povoado! Deve ser realmente legal, não é? Pelo que vocês falam...

-Ah, com certeza é... –comentou Tiago, deitando-se completamente à sombra da faia. Fazia um dia realmente bonito. Seria, com certeza, um dos últimos dias de sol.

Eles conversaram a tarde inteira. Matt, Tiago e Fred não paravam de sugerir coisas para se vingar de Scorpius, o que fazia todos rirem.

Depois de um tempo, eles viram Dominique e Louis passando com os sonserinos e indo ao encontro dos alunos da Corvinal. Eles também se sentaram em baixo de uma árvore cheia de frutas estranhas de um vermelho vivo, à beira do lago, onde Louis foi muito bem recebido pelos colegas.

-Olha só... –comentou Tiago, amargurado. –Ele é o reizinho de lá agora... Corvinal... Não que eu tenha alguma coisa contra a Casa! –acrescentou rapidamente ao ver o olhar de Rosa. –Claro, tem muita gente legal lá.

-Tipo a Amy Anderson? –perguntou Daniella sorrindo.

-É, tipo a Amy, ela é... Espera! –disse ele de repente. –Porque estamos falando da Amy?

-Porque ela é legal, oras! –riu Daniella.

-E bonita, segundo você. –acrescentou Matt.

-O quê? –exclamou Tiago. –C-Como assim segundo eu?

-Foi o que você disse a noite passada. –explicou Matt. –Enquanto dormia. Disse algo como: “Ah, a Amy é tão bonita...”.

-Não disse, não! –defendeu-se Tiago levantando-se, porém corou imediatamente e voltou a deitar-se com a parte de trás da cabeça encostada nas mãos. Matt e Daniella olharam-se rapidamente e sorriram cúmplices, depois Daniella piscou para Alvo e Rosa. Tiago olhou para os lados, provavelmente procurando algo para mudar de assunto. –Olha ele lá... Fica se oferecendo para as meninas. E olha que elas são bem mais velhas que ele!

Alvo olhou para Louis. Ele estava deitado no chão, do mesmo jeito que Tiago, porém, um bando de meninas da Corvinal e algumas da Sonserina, alisavam seus cabelos longos.

-O seu “elas” se resume a Anderson. –disse Alice, um pouco emburrada.

Tiago levantou-se para encará-la.

-Escuta aqui, eu não estou nem aí para se a Amy está agarrada àqueles cabelos nojentos. Apenas sinto pena da coitada, não tem bom gosto! Louis é um panaca, e se aproveita de tudo só porque é veela. Grandes coisas...

Alvo agora pode ver quem era Amy. Reconheceu-a imediatamente. Era a apanhadora da Corvinal, já jogaram algumas vezes contra ela. Era uma garota de cabelos lisos, longos e negros brilhantes. Era também oriental, pelo que o garoto pode ver. Era realmente bonita.

-Só está com ciúmes porque o Louis faz sucesso com as garotas e você não! –disse Alice.

-Não estou nem aí para o Louis, e quem disse que eu não faço sucesso? E quem disse que quero me comparar a ele? Não estou competindo com ninguém!

-Então porque está todo irritado? –retorquiu Alice.

-Ora, por que... P-Por que...  Bem, não importa! –disse ele.

Alice deu um muxoxo e Matt fez um barulhinho de quem não acredita.

-Ora, eu só odeio o Louis, tá legal? –disse Tiago, aborrecido. Ninguém pareceu acreditar. O menino revirou os olhos, levantou-se, puxou a varinha e apontou-a para a árvore que fazia sombra para os garotos dali. Alvo o viu mirar em uma das frutas estranhas e vermelhas. Tiago apertou os olhos, num ato de concentração. Depois, sacudiu a varinha e murmurou alguma coisa. A fruta desprendeu-se da árvore e caiu com estrépito diretamente na cara de Louis, que imediatamente se encheu de tinta vermelha que continha dentro da fruta.

-Isso é uma prova para vocês? –perguntou Tiago, virando-se para os amigos. Todos estavam rindo, enquanto Dominique corria com Louis, que dizia que seu rosto estava congelando.

Tiago, com a ajuda de Matt e Fred, não parava de imitar o momento em que a fruta atingira Louis, já pela décima vez, mas sempre arrancavam gargalhadas dos amigos que serviam de plateia, quando fora interrompido por um berro de Joshua:

-VOCÊ NOS PAGA, POTTER! –berrou ele. Alvo assustou-se, mas sentiu um certo alívio quando viu que o garoto olhava para seu irmão, e não para ele.

-Quer em nuques ou em sicles? –debochou Tiago, e após Joshua e sua turma sair, ele voltou a imitar Louis, dessa vez com a fruta suspensa no ar, mas fora interrompido mais uma vez.

-Espero que esteja feliz, Potter. –disse uma voz às costas de Tiago. Era Anderson. Tiago virou-se rapidamente, e ao ver a garota, levou ligeiramente as mãos aos cabelos e os despenteou, aparentemente sem perceber.

-Amy? –disse ele. –Que foi que disse?

-Disse que espero que você esteja feliz, Potter. –repetiu Amy, dessa vez sublinhando cada palavra, como se Tiago não falasse sua língua.

-Feliz? Por quê? –perguntou ele, nervoso, uma mão bagunçando os cabelos e a outra com a varinha suspensa no ar, levitando a fruta que balançava de um lado para o outro sobre a cabeça de Amy.  

-Porque Louis foi parar na enfermaria. Sua brincadeirinha estúpida deu resultado. –disse ela.

-Mas eu não quis que... AI! ME DESCULPA!

Foi muito rápido: Tiago se alterara demais para tentar explicar que não tivera intenção de o garoto parar na enfermaria, mas perdeu o controle da fruta que levitava no ar e ela caiu com um pequeno baque sobre a cabeça de Anderson, que soltou um grito enquanto a tinta vermelha – que escorria dos seus cabelos negros para o rosto – começou a gelar.

-Amy! Desculpe, eu não... Ai, foi sem querer! –disse Tiago tentando ajudar a menina, mas quanto mais ele se aproximava, mais ela recuava.

-Sai de perto e mim! –bradou ela, ao mesmo tempo tentando limpar o rosto, mas a tinta começou a gelar seus dedos também.

-Amy, desculpe! Desculpe! –Tiago tentava se desculpar, mas a menina apenas gritava e se afastava.

-Deixa com a gente... –disse Daniella. –Vem, Amy, vamos para a enfermaria!

E ela e Suzanna levaram a menina aos prantos para a ala hospitalar, enquanto Tiago ainda tentava se desculpar.

-AMY! AMY, ME DESCULPE! –berrava ele.

-Deixa, cara... –disse Matt. –Ela não vai falar com você tão cedo...

-Ótimo, Matt! Assim você me deixa mais tranquilo! –disse Tiago, sarcástico. –Por que ela não me deixou ajudar? E por que ela veio me xingar? E por que ficou do lado daquela marica do Louis?

-Bom, acho que ela não gosta muito de você... –disse Fred. Tiago soltou um longo suspiro e se atirou no chão.

-Bom, pelo menos terei uma diversão... –disse Tiago.

-O quê? –perguntou Alvo.

-Não ouviu o Joshua e os outros dizendo que eu vou lhes pagar? Vai ser divertido dar outra surra nele...

-Hum... Eu vou indo! –disse Rosa. –Tenho detenção! Vamos, Carlos?

-Mas é só... –começou Carlos, mas Rosa lhe pisou com força no pé. -AI, ROSA! Está bem, vamos!

Eles já iam saindo, quando Rosa parou perto de Alvo e cochichou:

-Só não quero ficar perto do Tiago quando ele arranjar uma encrenca com os sonserinos. Já chega de detenções para mim... –disse, e foi embora.

Alvo sentia-se perdido sem Carlos e Rosa. Gostava muito da companhia do irmão e dos outros, mas não era como os dois melhores amigos. Era incrível como em um ano os três se tornaram tão próximos.

O garoto ficou ali sem se incluir na conversa do irmão, apenas observando. Estava até desejando que algo acontecesse para quebrar a monotonia, porém nada aconteceu, a não ser Lotho Vonibah que fora até eles para conversar e Tiago que tentava o fazer sair dali:

-E Alfo consequiu ir até o Medalhon de Prrata? –perguntou ele pela décima vez. –Mas como? Isso non é possível! E o que aconteceu depoiss?

-Ah, o Alfo conseguiu, sim! Foi até o Medalhon! –respondeu Tiago, imitando o sotaque do menino. –E sabe onde ele está? Continua lá no mesmo lugar! Lá na Passagem da Árvore na Floresta Proibida, quer ir lá? É só seguir por esse caminho e dobrar a um canto, vai encontrar uma fadinha muito simpática que lhe mostrará como fazer, vai lá!

Lotho olhou desconfiado para Tiago, talvez fosse porque Fred e Matt deixaram escapar risadas pelo nariz, mas o menino não parecia acreditar no que Tiago disse. Alvo achou que o irmão não havia sido muito convincente, mas até Lotho que mal conhecia o garoto, já tinha experiência suficiente para não acreditar em tudo que Tiago Sirius Potter falava.

-Ah, parem de amolar o coitado! –disse Daniella. –Não liga para ele, Lotho!

O garoto sorriu.

-Pom, e focê não pensa em prrocurrar porr Bob Rondrres? Querro dizerr, ele sumiu assim e... –mas de repente fez uma careta e procurou algo nos bolsos. Depois, ainda com a careta na cara, voltou a olhar para Alvo. –Hum... Eu já volte!

E saiu correndo.

-Menino estranho. –disse Suzanna.

-Menino idiota. –corrigiu Tiago. Fred e Matt riram, Alvo não pode deixar de sorrir.

-Ele é legal. –disse Daniella. –Só é de outro lugar, lá as coisas são diferentes.

-Está querendo dizer que lá na França é normal alguém vir do nada, perguntar onde foi parar um assassino que quase te matou e de repente sair correndo?

-Ele é só um menino, Tiago! –retorquiu Daniella irritada, mas antes que Tiago pudesse argumentar, Lotho voltou correndo.

-Frred! Focê prrecisa virr, os garrotos do prrimeirro ano estã se reuninde ali! –disse apressado, apontando para um ponto bem distante.

-Não sou da Sonserina. –disse Fred.

-Mas todoss os garrotos estã ali! Estã chamande focê! –disse o garoto, quase implorando.

Fred revirou os olhos, mas se levantou e seguiu o garoto. Tiago esperou até que eles estivessem em uma distância considerável para falar.

-Estou com medo pelo Fred! –disse ele, arregalando os olhos.

-Ah, deixa o menino em paz! –irritou-se Daniella. –Ele é diferente, só isso...

-Diferente? –repetiu Tiago. –Alice, esse papo é com você.

-Algo errado em ser diferente? –perguntou a garota, ofendida. –Por acaso você acha legal ser um idiota feito você que vive fazendo brincadeiras de mau gosto com as pessoas? Bom, se esse é o seu normal, então sim, eu sou diferente. –disse ela, e pegando sua mochila, levantou-se e rumou para o castelo.

Tiago olhou para Matt e Alvo como se a culpa fosse dos dois.

-O que ela tem? –perguntou, mal-humorado. –Não se pode mais nem brincar com ela.

Quando o assunto de Matt e Tiago mudou para as futuras travessuras que aprontariam quando estivessem no último ano, Alvo teve certeza de que era a hora de sair. Ele rumou ao castelo, com a intenção de ir para a biblioteca ou algum lugar que não fosse barulhento, apenas para pensar. Já ia adentrar pelas grandes portas quando viu um bando de primeiranistas da Grifinória sair correndo na direção oposta:

-É o Fred Weasley, sim! –gritou um, que liderava o grupo mais à frente.

-Aposto como ele se safa dessa também! –comentou o outro.

Alvo ficou imaginando no que Fred estaria metido dessa vez, e, como não tinha nada mais interessante do que sentar-se em uma poltrona na biblioteca com um livro nas mãos e fingir para que a bibliotecária, a Prof.ª Hings, não notasse que os olhos do garoto não estavam se movendo, seguiu os alunos da Grifinória até a outra volta do lago, onde todos os alunos que estavam sentados à sombra de árvores iam se levantando e correndo mais à frente, para saber o que, afinal, Fred estava fazendo.

-É o seu primo, não é? –perguntou uma menina loira, que vinha acompanhada de Kate Lêx, atrás de Alvo.

-Ah, oi Emma! -cumprimentou Alvo. –É, sim. Espero que não esteja fazendo nada demais...

-Duvido. –disse Emma. –Seu primo, o Louis, vive comentando com o pessoal da Corvinal que ele é muito travesso.

Alvo até ficaria constrangido, mas quando se vive com um irmão que se mete em encrencas todos os dias, já se acostuma com esse tipo de coisa.

Ele, Emma e Kate foram se aproximando. Alvo já estava começando a ficar preocupado, os terrenos já estavam ficando vazios, todos iam correndo na direção onde Fred estava aprontando alguma coisa. O garoto apertou o passo também.

-BRIGA! BRIGA! BRIGA! –ouviu-se o grito de alunos, um pouco distante.

Alvo suspeitou que fosse isso. Provavelmente, Fred estava duelando ou lutando com um coleguinha por ele ter feito algo errado, o que achava  Fred, ser motivo para uma surra que lhe ensinasse a lição.

Ele correu mais um pouco e pode ver um amontoado de alunos de diversos anos fechando um círculo onde provavelmente estava ocorrendo a briga. Alvo correu e se meteu no meio dos alunos, tentando ver alguma coisa.

-Ei, não tem espaço, vai... Ai, desculpa, eu não vi que era você! Pode passar. –disse uma menina que Alvo nunca vira, lhe dando o lugar. O garoto suspeitou que, tendo-se um pai que salvou o mundo bruxo, não é preciso realmente conhecer as pessoas para que elas te conheçam. E foi exatamente isso o que aconteceu, pois quando viam Alvo, as pessoas o deixavam passar. Aproveitando-se disso, o garoto conseguiu um bom lugar bem na frente. Soltou uma exclamação quando viu com quem Fred estava brigando. Não era nenhum coleguinha seu do primeiro ano, e sim Ben Juss.

Fred era segurado pelos braços por Joshua, enquanto Ben Juss lhe dava chutes na canela e até socos na barriga. Lotho observava a um canto, a varinha erguida, mas um grupo de amigos de Joshua o impedia de pronunciar qualquer palavra. Fred estava apanhando feio, porém, não soltou um pio de dor, pelo contrário, continuava de cara fechado, berrando xingamentos para Juss e ainda tentava, inutilmente, desvencilhar-se.

-SEU IDIOTA! ME SOLTA! VOCÊS VÃO VER!

-Ver o quê, Tampinha? –perguntou Juss, dando-lhe um chute no joelho que fez o garoto desequilibrar-se. –Vai chamar o priminho, é?

-SE ELE SOUBER, VOCÊ ESTÁ MORTO! –urrou Fred.

-Só que agora ele não está aqui, está? –perguntou Juss, acertando um soco em cheio na barriga de Fred, que contorceu a cara de dor, mas manteve a boca bem fechada.

Alvo sabia que precisava fazer alguma coisa, mas não tinha chance! Ele era horrível em duelos e Juss tinha o dobro do seu tamanho. Sem falar que estava cercado de caras que eram bem maiores que Alvo. Foi tomado pelo impulso de gritar por socorro, mas achou que seria muito vergonhoso gritar quando ele mesmo podia fazer alguma coisa. Queria fazer alguma coisa, porém, era como se alguém o segurasse. E suas pernas não o obedecessem, e seu corpo travasse. Mas tinha de fazer algo... Fred não ia aguentar muito tempo...

-Fred? –disse uma voz rouca. Alvo se virou rapidamente e sentiu um grande alívio. Era Tiago!

No mesmo instante, Ben Juss e Joshua Mocker soltaram Fred, que tombou no chão e ficou ali, encolhido, apertando a barriga. Alvo viu a cor do rosto de Joshua desaparecer à medida que Tiago corria para seu encontro.

O círculo de pessoas que fechavam a briga, abriu-se para dar espaço para Tiago e Matt passarem. Joshua e Juss sequer correram. Os dois, Tiago e Matt, avançaram para cima deles com as varinhas em punho.

-ESTUPORE! –berrou Tiago, o rosto vermelho de fúria. Um jato de luz ofuscante e vermelha saiu de sua varinha.

-Protego! –disse Joshua, assustado. O feitiço voltou para Tiago, que abaixou-se na hora.

-COVARDE! –berrou, no mesmo instante em que Matt desarmava Ben. –POR QUE NÃO BATE EM ALGUÉM DO SEU TAMANHO? POR QUE SE APROVEITOU DO MEU PRIMO? SABIA QUE VOCÊS TÊM O DOBRO DO TAMANHO DELE? E POR QUE NÃO DÁ UMA DE BONZÃO COMIGO?

Mas Joshua não respondia. Apenas recuava enquanto Tiago se aproximava mais, e de vez em quando olhava para o amigo Juss que estava estatelado no chão, lutando contra Matt.

Tiago pareceu irritar-se com Joshua que não lhe respondia e começou a correr em sua direção. Joshua, instantaneamente, deu um salto de onde estava e correu o máximo que pode, mas ninguém era tão rápido quanto Tiago, talvez fosse por isso que o garoto começou a lançar feitiços desorientados pelas costas, na intenção de desarmar seu adversário.

-EXPELLIARMUS! ESTUPEFAÇA! IMPEDIMENTA! –gritava Joshua apavorado, enquanto corria, mas nenhum feitiço chegava até Tiago. Os alunos que assistiam a briga iam correndo atrás. Porém, Alvo ficou para trás para ajudar Fred que continuava jogado no chão.

-Você está bem? –perguntou ao menino.

-S-Sim. –respondeu Fred, mas sua voz saiu tremida e ele deu um gemido.

-É melhor você ir para a enfermaria, - disse, levantando Fred e o levando dali. -já passei pela mesma coisa e... – parou de repente quando ouviu o grito dos alunos de “briga, briga!” se intensificar. Procurou à volta e pode ver Joshua correndo o mais rápido que podia enquanto borrões de tinta, que Alvo supôs serem feitiços, saíam de sua varinha. Tiago, cansado de correr, parou e deixou que Joshua ganhasse um pouco de distância, depois, puxou sua própria varinha e apontou-a para o garoto que já estava à metros de distância, e gritou:

-Trip Jinx! –com a boa pontaria de um apanhador que Tiago tinha, não foi preciso muito esforço para acertar o alvo. Joshua caiu de bruços com estrondo no chão.

Alvo continuou andando com Fred em direção à enfermaria. Achou que a briga entre Tiago e Joshua já estaria acabando, por mais esquentado que Tiago fosse.

O garoto sentiu-se mal por estar carregando o primo que estava todo machucado por causa dele. Se ao menos tivesse interrompido a briga, ele não teria ficado tão mal. Queria ter tido mais coragem. Queria ter feito alguma coisa. E, de repente, parou abruptamente.

-Que foi? –perguntou Fred II, tirando o braço de cima de Alvo tão rapidamente que parecia ter se queimado. –Não está sentindo dor na cicatriz, está? Ai, meu Deus! Bem que o Tiago disse para eu tomar cuidado!

-Não está doendo. –disse Alvo, deixando escapar um sorrisinho. –É que... Bem... Você, eh... Se saiu muito bem! –inventou rápido. Não conseguiu encontrar coragem de dizer que ele assistira tudo e não fizera nada.

-Ah, é isso? –disse Fred, e colocou o braço por cima do ombro de Alvo novamente. –Não tem razão para se espantar, eu sou o Fred, não é?

Alvo apenas sorriu e levou o menino de volta ao castelo. Quando já iam adentrar pelas portas duplas e gigantescas, a voz furiosa de Tiago chegou aos ouvidos dos meninos:

-VOCÊ NÃO SABE O QUE ELE PASSOU! NÃO SABE O PASSADO DELE! ELE NÃO É UM MIMADO FEITO VOCÊ!

Joshua começou a falar com Tiago, era visível que estava com medo, mas não perdia a mania de provocar o garoto, porém, não era possível ouvir o que ele falava, pois ao contrário de Tiago, ele fazia questão de praticamente sussurrar para que só o garoto escutasse.

Alvo se aproximou mais, na esperança de ouvir e entender qual era a nova discussão deles, mas só chegou à tempo de ver o irmão erguer a varinha, os olhos castanhos em fogo:

-Hammas Fuodellios! –disse. Um lampejo de luzes claras dessa vez saiu da ponta da varinha de Tiago e cobriu totalmente a visão que eles tinham de Joshua. Foi então que o grupo de alunos se fechou completamente para ver o que havia acontecido com o garoto.

Alvo, arrastando Fred, conseguiu uma brecha e viu qual efeito tivera o feitiço do irmão. Tiago tinha a varinha erguida para Joshua, que estava roxo, com as mãos apertadas no pescoço, como se quisesse arrancar alguma coisa. Tiago estava o enforcando.

-TIAGO! –berrou Alvo. –Tiago, ele vai acabar... Não!

Mas Tiago não respondeu.

-Tiago, calma, não vale a pena! Você vai se encrencar! –disse Matt, tentando puxar Tiago pelo ombro, mas o garoto o empurrou.

Os olhares de Matt e Alvo se cruzaram e ele pode ver que o amigo também não sabia o que fazer. Por sorte, do nada alguém gritou:

-Finite! –disse o diretor Neville, que viera correndo, acompanhado de vários Aurores, inclusive Harry e tio Rony.

A cor branca começou a voltar ao rosto de Joshua, porém o garoto se atirou ao chão, muito ofegante.


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Notas finais do capítulo

*O* Estou chocada. Tiago pegou pesado agora... E a japa? Imagino que vocês já saibam quem seja a mãe dela, afinal, tal pai, tal filho... Não se preocupem, leitores sonserinos, o Joshua não vai morrer (pena), mas ele vai ficar bem mal, então... E a dúvida cruel? O que acontecerá com Tiago? Rezemos para que não seja o Draco quem escolha o castigo dele, porque se for o garoto já pode fazer as malas...