Na manhã seguinte, depois de passar um tempo com Jacob na cidade, mostrando-lhe algumas coisas, eu resolvi ligar para Angela e contar tudo o que havia acontecido.

–O que vai precisar, menina? – ela perguntou ao telefone.

–Poderia ver o contato de Alice, por favor? Preciso falar com ela sobre as cartas. Sinto que eu não deveria estar lendo aquilo.

–Mas o que de mal deve haver lá? Um bando de cartas de um jovem apaixonado!

–Ele não é apaixonado! – resmunguei. – Alice disse que aquilo poderia ajudá-lo e eu quero fazer o que for preciso, mas não quero que Jacob se sinta mal.

–Jacob está noivo, não está?

–Há bons três anos – assenti. – Com a mesma patricinha mimada.

–Acha que ele vai largar daquela fácil por você?

–Por que pensa assim? Acha que não?

–Ele demorou demais, não percebe? Ele quer as duas.

–Jake chegou, vou tirar essa história a limpo. Obrigada, Ang!

–Beijos, me liga se algo acontecer – e desligou.

–Com quem conversava?- ele se sentou ao meu lado, parecendo bravo.

–Angela Weber, minha antiga chefe, por que? – respondi rindo.

–Pensei que estivesse me trocando, já.

Ri dele e beijei-lhe rapidamente. Estávamos num parque de recreação pública. Obviamente não estávamos sozinhos ali. E só percebi alguém se afastando rápida e bruscamente quando me afastei um pouco de Jacob. Oh, Deus, eu reconheceria aquele andar, ou mesmo o cabelo, mesmo que mudado, em qualquer lugar do universo.

–Vamos para casa – pedi em sussurro para Jacob, já quase o puxando para a saída contrária.

–Estamos indo pelo lado errado, Bella! – ele me fez virar e encará-lo. – O que houve?

–Nada, só acho que preciso de um protetor solar, pois não sou "nega" assim para ficar no sol. – dei de ombros, tentando desprezar o fato.

–Ah, sei – ele disse irônico. – Vamos para casa e você vai me explicar direitinho tudo.

Fui obrigada a passar pelo garoto com os cabelos quase cobre praticamente correndo. Resisti ao impulso de virar o rosto para olhá-lo com medo de que ele pudesse estar me encarando. Mas percebi sua postura. Ele estava totalmente irritado, com as mãos em punho, e deixou algo cair assim que passei. Além de se esquivar para não chegar perto.

Já em casa, esclareci ao Jacob o que acontecia. Falei a ele que Edward estava no parque e saiu bravo, com certeza me reconhecendo. Ele ficou magoado, claro. Mas entendeu minha pressa.

–Por que nunca escreveu uma carta para mim? – ele perguntou.

–Eu não precisava – dei de ombros. – Sempre falei tudo o que queria para você. Sempre lhe contei o que contaria em uma carta, Jake. E eu não conseguiria escrever. Não havia o que escrever.

–Voltarei ao meu estado ainda hoje, você sabe. Amanhã tenho que trabalhar. Se você precisar me falar algo cara a cara, a hora é essa, Bella. Se me quiser aqui, virei morar com você. Se não quiser, casarei com Bianca.

–Está indeciso com isso ainda?

–Não. Eu quero ficar com você, mas não quero deixar Bianca infeliz. Então, como você não decidiu, estou esperando uma resposta. Se você quiser, eu largo tudo, já falei.

–Bianca nunca faria esse pedido, faria?

–Ela fez. Meu relacionamento com ela está sobre um fio de seda.

–Não posso ser egoísta, Jake. Você tem seu emprego, tem alguém que o ama muito, e que está esperando para que você cumpra a promessa de ser um casal para sempre.

–Quer dizer que você não acha certo deixar Bianca sozinha?

–Se ela ficar sozinha, e for por minha causa, me culparei, entende?

–Não – ele balançou a cabeça vagarosamente. – Isso eu não posso entender, mas entendo que você ama outro e quer ficar com ele.

–Quero ajudá-lo, Jake. Ficarei sozinha. Como sempre.

Num gesto tranquilo, ele acariciou meu rosto e beijou minha testa.

–Não pode ficar sozinha para sempre.

–Mas não posso deixar de ajudar quem precisa de mim e não posso fazer com que sua vida vire um caos.

–Porque você não sente o mesmo por mim.

–Mais ou menos isso.

–Não se preocupe, vai lá com o Edward e seja feliz por nós dois – ele sussurrou dando um falso sorriso.

Abracei-o com força e comecei a chorar. Não que eu quisesse enganar Jacob. Eu realmente esperava que ele fosse feliz, mas não conseguiria fazer isso enquanto pensava no Edward. Não podia deixá-lo esperando por minha decisão. Era Edward e sempre fora. Mesmo que ele não me quisesse. E eu não poderia fazer com que Jacob me quisesse da mesma maneira. Seria crueldade demais com o garoto.

–Prometa-me que vai ser feliz com quem quer que seja – sussurrei em seu ouvido. – Prometa que vai seguir a vida e não ficar me esperando decidir nunca mais.

–Eu posso tentar, Bella.

Beijei seu rosto ainda o abraçando. Depois disso, eu tive que deixá-lo partir. Assim que ele deixou-me ciente de que estava voando, peguei as cartas de Edward e comecei a ler uma por uma, mas para isso, Ben teve que me acompanhar.

–Vamos lá, irmãzinha! Vamos ver o que esse palhaço quis dizer para você – ele esfregava as mãos de tanta impaciência.

–Ben, vai separando por data, por favor. Quero ler tudo em ordem para ver a “evolução” das coisas.

Depois disso, as cartas foram reviradas num vento louco, e uma parou em meu colo. A primeira, certamente. Abri-a e comecei a ler em voz alta.

14/01/2013 01:03

Querida Isabella

Me sinto com onze anos de idade lhe escrevendo isso e nem sei direito o que escrever porque eu já passei dos onze anos faz algum tempo.

Eu só queria saber, o que você tinha na cabeça para fazer uma carta como essa e, ainda por cima, vir entregar na minha casa. Porque minha namorada viu e ficou me questionando sobre a dona da carta. Você tem alguma ideia de como é ruim mentir para alguém que se ama? Pelo jeito não tem mesmo!

Se essa foi a última carta, você ainda tem as outras, não tem? Do jeito que parece infantil, tem sim. Só peço que as jogue fora, por favor. Ou não me incomode mais com essas baboseiras. Eu estou mais maduro, você sabe.

A culpa não foi minha de tentar enturmar você. Caso não se lembre, eu era amigo da sua irmã e quando soube que você estava estudando naquele turno conosco, senti uma vontade de fazer com você o que eu não poderia fazer com ela. Vai que ela vomitasse no pátio? E eu queria ser seu amigo, sim. Achei que precisava de alguns, pois seria como aluna nova. Sempre escutei o Mike, lembra-se dele?, falar de você. Ele gostava de você. Gostava tanto que se mudou para o seu turno, mas vocês se desencontraram.

Talvez seja seu lugar com ele. Eu ficarei com a Juh, não vou agradecê-la, como me pediu, pois eu viveria sem essa consternação toda.

Mas não se sinta amargurada e mal-amada. Eu amei você também, mas como sempre foi reclusa, desisti de tentar. Você não foi uma na lista das quais eu peguei, mas está na lista das mais queridas que conheci e das quais me apaixonei. Não posso dizer que foi a primeira da lista, mas foi uma.

Sinto-lhe pelo constrangimento que lhe causei, mas agradeceria se parasse de me incomodar, agora. Principalmente por causa da Juh – aliás, você parece íntima demais para chamá-la assim –, pois ela não merece mais mentira alguma por sua causa.

Desculpe-me se a magoei, mas eu só coloquei para fora o que não me deixava dormir.

Ah, obrigado pelos votos. Parecem ser sinceros. E, realmente, pretendo me casar com ela, sim. Ou seja, você estava certa.

Adeus.

Edward A. M. Cullen

PS: se você chegou a ler essa carta, é porque alguém lhe entregou sem a minha autorização.

Ele estava se culpando ou me culpando? Edward realmente sabia que nunca me daria a carta, então, por que fazê-la? Por que se dar ao trabalho? Eu havia sido tão importante para ele um dia?

Claro que eu sabia que ele era amigo de Renatah. Ela era minha irmã do meio e tinha uma queda por ele antes de eu conhecê-lo. Mas nunca imaginei que ele queria girá-la pelo pátio do colégio. Se tudo o que ele fez comigo era para fazer com ela, então ele gostava da Nath, não de mim, certo?

Mike, ah, que saudade desse garotinho. Nunca mais tive notícias dele depois que mudei de turno. Ele era querido, mas era como um irmão para mim. Nunca ficaria com ele. Eu nunca fiquei com dúvidas nisso! Bem, só esperava saber o que isso me garantia.

–Lê a próxima! - reclamou Ben quando fiquei devaneando calada.

Ele me estendeu a outra e eu peguei.