– Então os "Nobodies" não convivem entre si por eles próprios? - questionou Riku.

Ele, Mickey e Hikari continuavam montados na "Summon" Fenrir rumando para o local onde Filo provavelmente estava, segundo o rastro de seu cheiro. Como adentraram numa área aberta na parte mais elevada das montanhas, tiveram que interromper em algumas vezes a caminhada para lutar contra os "Nobodies" que apareciam para atacá-los, mas quase não fizeram nada porque o lobo resolvia tudo com poucos golpes de sua cauda ou conjurando magias poderosas para eliminá-los. A sorte deles é que aquele monstro capaz de usar feitiços não estava em nenhum dos grupos atacantes, por isso as batalhas foram tranquilas de uma certa forma. Assim para passar o tempo e também o tédio, a garota lhes revelava algumas coisas sobre os monstros denominados "Nobody" e a dupla aprendia bastante.

A primeira delas era que em "Shadow Peaks" viviam três tipos diferentes: "Musk", o mais comum e também a forma primária. "Guardian", o maior e que carrega sempre uma espada, podendo se fundir a arma quando quisesse para atacar. E "Sorcerer", o único ali com a capacidade de usar magia e que tem a aparência de um mago sob uma bola de cristal. Este último, na opinião dela, sendo o mais perigoso naquela região. Porém, existia outros tipos além daqueles que viviam nas montanhas de "Waiting City" como os "Assassin" por exemplo, os mais rápidos e mortais dentre os "Nobodies" já conhecidos.

– Não sei por que eles são assim, mas é fato que os " Nobodies" de tipos diferentes não se suportam. Você nunca vai ver um "Musk" e um "Sorcerer" sendo amigaváis um com outro por exemplo, é mais provável que eles se destruam quando ficarem frente a frente. Isso é um dos muitos detalhes que os difere dos "Heartless" que preferem agir em bando sem se importarem com o tipo, desde que essa aliança lhes ofereça corações para consumí-los. Mas existe um fato que pode sim forçá-los a agirem em conjunto.

– E o que seria, senhorita Seraph?

– Um líder. - respondeu a morena, séria. - Um "Nobody" poderoso pode submiter os demais após demonstrar a sua força, depois eles vão seguí-lo e acatar todas as suas ordens sem se preocupar com mais nada além de roupar o corpo de algum desavisado ou distraído que aparecer. O problema daquele que for o líder é que nunca aparece junto dos outros quando ocorrer um ataque, sempre mantém a sua presença oculta dentro do bando ou em algum lugar próximo da batalha, apenas surge para lutar quando percebe que esta perdendo.

– Parece que essas criaturas são mais inteligentes que os "Heartless". - argumentou o rei, pensativo. - Aquelas criaturinhas teimosas já traziam muitos problemas no "Realm of Light" por onde passavam, mas esses "Nobodies" superam a expectativa. Se eles chegassem a existir lá, seria um perigo á mais para se lidar, apesar que anos atrás... Senhorita Seraph?

Hikari gemeu de dor quando levou uma das mãos a cabeça e seus dois acompanhantes ficaram muito preocupados, o garoto mais que o camundongo, mas ele não deixou esse sentimento transparecer. Será que algum "Nobody" havia conseguido atingí-la e só agora ela notara o ferimento? Imediatamente, Fenrir parou de andar ao perceber que a dona não estava sentindo-se bem, agaichou e então todos poderam descer. A morena foi levada até uma rocha ingrime próxima onde deitara para receber os cuidados de Mickey e Riku apenas permaneceu ao lado dela, sem saber o que fazer para ajudar a amenizar sua dor. Enquanto isso, o lobo ficara de guarda e mantinha todos os sentidos em alerta.

– O golpe foi realmente forte. - disse ao olhar para o hematoma, a mancha roxa já estava ganhando uma coloração mais escura. - O "Nobody" que a atacou foi mesmo bem rápido.

– Não foi naquela hora que ganhei esse machucado. Foi antes daquele momento.

– Antes?! - exclamou Riku. - Sua... Sua maluca! Você já estava ferida desse jeito e foi se intrometer numa batalha daquelas sem se recuperar de antemão?! E se piorasse?! Você poderia ter morrido logo depois de ter nos salvado! Estrela idiota! Imprudente!

Hikari sorrira, contente por ver que Riku se importava com ela.

– Eu... Eu estava indo para um mundo me encontrar com alguém e pedir a sua ajuda para... resolver um assunto de extrema importância, mas... mas eu acabei batendo a cabeça numa "Gummiship" que apareceu de repente no meu caminho e então... terminei caindo aqui em "Shadow Peaks". Comecei a ser perseguida pelos "Nobodies" logo em seguida e depois... conheci vocês dois. - contou Hikari, sentindo-se um pouco tonta, mas omitindo alguns fatos que no momento não era necessário revelar para eles... Ainda. - Até então não havia nada de errado comigo... Acreditei que a batida... - sua voz morria conforme falava e então ela fechara os olhos, manté-los abertos estava sendo incomodo, mas continuava consciente.

Riku encarou o rei e estreitou os olhos quando o outro tentou fugir de seu olhar.

– Eu lhe disse que tinha ouvido e sentido alguma coisa enquanto viajavamos naquela nave quase caindo aos pedaços. Não era imaginação minha como vossa majestade pensou que fosse. - o camundongo ficara sem graça por não ter acreditado nele. - Mas, já passou. O que aconteceu ficou no passado e não vamos brigar por causa disso, a nossa prioridade agora é cuidar dela antes de continuar com a busca. Ela não pode ficar desse jeito.

– Você tem razão. Vamos parar num lugar mais seguro primeiro, não posso cuidar de Hikari numa área onde estamos totalmente expostos ao perigo, e assim que nos estabelecermos irei concentrar toda a minha atenção a... - Mickey começou a falar, mas nem chegou a terminar a frase porque Fenrir rosnou furioso de repente e olhava para todas as direção em posição de guarda. No instante seguinte, inúmeras criaturas cinzas surgiam de todos os lados dentro de distorções obscuras, cercando-os rapidamente. - Péssima hora para eles aparecerem. - e convocou a "Kingdom Key D" na mão direita. Simultâneamente Riku sacou a "Sleeping Dragon", assumindo a posição de ataque logo em seguida. - Lutaremos dando tudo de nós principalmente para proteger a senhorita Seraph, mas lembre-se: se as coisas ficarem ruins para o nosso lado, apenas abriremos caminho para fugir. - o garoto assentiu.

Nisso, Fenrir olhou para os dois de esguelha e soltou um latido. Parece que a "Summon" ouviu o plano deles e pretendia fazer parte, dando-lhes cobertura, mas provavelmente se manteria próxima de Hikari durante a batalha para garantir a sua segurança. Riku percebeu nos olhos do enorme animal que ele sentia algo forte em relação a garota, um sentimento que ia além de respeito e admiração, ele conhecia isso muito bem porque sentia o mesmo por Sora e Kairi. Era uma amizade incomum, inexplicável, e isto forçava Fenrir a confiar nele e no rei, mas deixava visível no olhar que se ambos vacilassem em proteger sua dona, não hesitaria voltar suas forças contra os dois para atacá-los. Apesar de tudo, ele era... um lobo.

"Não se preocupe. Não vou deixar nenhuma dessas coisas chegar perto dela. Eu te garanto isso", a promessa podia ter sido feita em pensamento, mas Fenrir pareceu entender porque ele estreitou os olhos talvez querendo lhe disser: "Acho bom, pois se quebrar com a sua palavra já sabe o que vai acontecer" e bufou antes de focar suas atenções nos "Nobodies" que se moviam iguais a cobras preparando o bote. "Obrigado pelo voto de confiança".

Então, numa fração de segundos, a batalha começou.

Rapidamente o rei conjurou as magias de suporte "Mighty Guard" e "Haste", aplicando ambas no garoto para aumentar a sua resistência e velocidade simultâneamente antes de partir para o ataque. Fenrir se posicionou próximo de Hikari e eliminava qualquer "Nobody" que ousava se aproximar dela com suas patas, dentes, cauda e ás vezes com magias próprias sem jamais se afastar. Riku atacava com toda a força o maior número de monstros possíveis e sempre acobertando o lobo. Como não tinha poderes ou habilidades especiais, preferiu permanecer numa posição em que lhe fosse favorável, ao menos iria ajudar em algo até descorir se realmente era incapaz de usar magia ou qualquer outra forma de poder por si próprio. Enquanto isso, o camundongo lutava contra aqueles que estavam mais distantes, nunca se descuidando do quê tinha atrás dele, e oferecia algum tipo de apoio sempre que podia até retornar a sua posição de escolha, geralmente conjurava magias da série "Thunder" para melhor atingir os inimigos quando não era possível sair de onde estava e avisava antes de usá-las para não acabar acertando os aliados sem querer.

A batalha estava equilibrada apesar de tudo e o trio vencia pouco a pouco, até aparecer um "Sorcerer" entre os vários "Nobodies" e começar com suas investidas traiçoeiras. Mickey precisou usar o escudo magico "Protect" mais de uma vez para proteger a todos de suas magias e ficava atento quando ele pretendia conjurar algum encantamento que podesse prejudicar a saúde deles como da última vez. O problema é que com o surgimento daquele inimigo específico, os demais aproveitavam o breve momento de distração para avançar com mais ferocidade e pareciam mirar na garota debilitada. O garoto, graças aos efeitos da magia "Haste", conseguia eliminá-los antes mesmo de chegarem perto da Hikari quando conseguiam burlar a guarda de Fenrir e ficava muito aliviado ao saber que ela estava fora de perigo. A garota abrira os olhos após ouvir algo rápido e mortal cortar alguma coisa, dando de cara com Riku se recompondo de mais um ataque bem sucedido.

– Eu posso ajudar. Minha luz... pode eliminar esses monstros antes que percebam.

– Nada disso. Você não esta bem e precisa ficar quieta. - disse ele, focando as atenções nos inimigos, e por isso não olhou diretamente para ela. Quando a ouviu fazer uma tentativa de protesto, logo a cortou. - Seu ferimento é mais grave do que parece, agora a pouco estava semi-inconsciente e vai de novo se ariscar? De jeito nenhum! Comigo aqui você nunca mais vai fazer esse tipo de loucura, entendeu sua estrela idiota? - e depois ficou se perguntando do por quê de tanta preocupação com a morena. Apesar de sentir alguma simpatização, ela era apenas uma pessoa que acabara de conhecer e já lhe provocava sensações estranhas, pensamentos também. "Eu devo estar pirando, só pode ser isso. Deve ser o remorso pelas coisas que fiz e estou usando ela como desculpa, essa é a única explicação".

"Tolo", agora passou a ser costume ouvir a voz de Ansem sempre que se questionava e por isso o ignorou. Nisso, outros dois "Nobodies" ultrapassaram Fenrir e ele rapidamente foi ao ataque. "Eu que sou o último vestígio de um "Heartless", um ser que segundo as crenças não possui sentimentos, e é você que desconhece os assuntos do coração. Francamente...", Riku continuava ignorando enquanto investia contra mais monstros teimosos. "É por esse motivo que a escuridão conseguiu chegar até você e será este mesmo motivo que irá afastá-lo dela, antes de descobrir a conecção que se formou entre vocês dois, igual como aconteceu em "Destiny Island" com seus preciosos amigos. Quando enfim perceber será tarde demais, já terá perdido a garota a muito tempo e ficará sozinho novamente. Creio que nem mesmo uma estrela irá suportar tal falta de entendimento sobre si próprio, afinal de contas, agora nós sabemos que aqueles pontos brilhantes e irritantes no céu também são gente".

– VOCÊ FALA DEMAIS! - esbravejou o garoto, cortando ao meio um "Musk" que pretendia atacá-lo, mas controlara sua raiva para não permitir que "ele" tente corrompé-lo. Foi então que notou uma coisa que o deixou desesperado: estava longe de onde Hikari estava e a "Summon" dela tinha dificuldades para derrotar o aglomerado de "Nobodies" que avançam sem parar, todos parecendo enlouquecidos. - Maldito! Era esse o seu planinho sujo por acaso? - sibilou, furioso, e então correra para retomar a sua posição na batalha.

Entretanto, Fenrir fitara Hikari após eliminar outro "Guardian" com uma poderosa patada, vendo-a imóvel sob a pedra e com os olhos fechados novamente, depois soltou um uivo parecendo de lamentação antes de desaparecer como inúmeros fragmentos de luz que subiram ao céus. Riku não entendeu nada e ainda se perguntou do por quê o lobo resolveu deixar sua dona vulnerável daquele jeito, mas não teve tempo para pensar em mais nada além de uma única coisa que o deixava em extremo desespero; Ele precisava fazer algo para proteger a garota da investida dos "Nobodies" que estavam próximos demais dela, tinha que defender sua vida á qualquer custo. Então uma idéia lhe veio a mente e fora muito ariscada, mas era tudo o que estava ao seu alcance naquele momento tão crítico.

O garoto decidira usar o próprio corpo para bloquear os ataques, se posicionando encima de quem queria proteger, e a cada golpe que levava parecia que iria explodir. Ele cerrou os dentes para não gritar e assim suportar melhor a dor, também fechara as mãos em punhos no mesmo instante. Intimamente, ficara surpreso com a vontade de permanecer firme na posição que estava e todos os seus pensamentos eram focados apenas nela, como se não houvesse mais nada que merecesse a sua atenção. O rei, porém, não conseguia ir ao seu auxílio por culpa dos monstros que aumentaram gradativamente de número desde que Fenrir desapareceu e tinha dificuldades até para se defender.

"Moleque estúpido! Não coloque sua vida em risco por ela! Deixe-a!"

"Não! Não quero que essas coisas toquem num fio de cabelo dela!".

"Entenda de uma vez por todas. Não há como salvá-la".

De repente, um "Musk" mais ousado atacou Riku com tanta força em suas costas que o fez desequilibrar, só não perdeu os sentidos ou acontecera o pior graças aos efeitos da magia "Mighty Guard". Seu corpo entrou em contato com o dela e seus rostos acabaram ficando muito próximos, a distância era somente de um ou dois centímetro no máximo, mas foi nesse momento que ele pôde estar convicto de uma única coisa e isso lhe dera forças.

"Não consegui proteger a Kairi como pretendia... Coloquei a vida do Sora em perigo... Por causa de meu sonho egoista perdi os meus melhores amigos e também todo o resto... Mas agora eu tenho a oportunidade de fazer alguma diferença, a segunda desde que cheguei aqui, e não vou jogá-la fora", ele se reposiciona e leva outro golpe. Desta vez mais violento que o anterior. Resistiu ao ataque, teimando em continuar usando o corpo como escudo.

"Você vai acabar morrendo desse jeito, sabia disso!"

"Eu sei, mas quero fazer isso. E pare de me atormentar, Ansem!".

"Estou tentando pôr um pouco de juízo nessa sua cabeça oca".

"Então pare de tentar! Eu não lhe pedi nada e não quero nada vindo de você".

"Pela última vez... Abandone a garota! Deixe-a ser consumida pela escuridão e salve-se!".

"NÃO! EU ME RECUSO EM DEIXAR A HIKARI SOZINHA! VOU PROTEGÊ-LA COM A MINHA VIDA! NÃO PERMITIREI QUE A LUZ DESSA ESTRELA SE APAGUE! ELA. NÃO!", esbravejou e isso fez a voz de Ansem desaparecer. Ele sentiu a presença pesada do outro se afastar, indo para algum canto isolado de sua mente e deixando uma sensação de alívio no lugar, nem mesmo a dor dos ataques constantes que recebia dos "Nobodies" o incomodava tanto. Instantes depois, sentira que os efeitos das magias "Mighty Guard" e "Haste" estavam ao ponto de terminarem, então o próximo golpe que receber talvez fosse o último porque seu corpo por si próprio não vai resistir a força do impacto. Mas nada, absolutamente nada o faria abandonar Hikari. "Vou ficar bem aqui aonde eu estou", e sorrira ao fitar seu rosto delicado. "Mal nos conhecemos e você já esta me dando trabalho... Estrela idiota e imprudente".

Mickey se desesperou quando viu um "Guardian" se aproximando de Riku e preparou sua enorme espada quando faltava poucos passos. Ele tenta se desvencilar do aglomerado de "Musks" que se juntavam mais e mais ao seu redor para cercá-lo de todas as formas, mas não consegue, mesmo usando a magia "Firaga" e golpes rápidos para no mínimo afastá-los foi o suficiente. No momento em que tudo parecia perdido, alguma coisa acontece.

Seja quem fosse, ou o quê fosse seria o termo correto, era tão veloz que foi impossível para os "Nobodies" acompanhar os seus movimentos e os ataques eram precisamente mortais, tanto que os monstros só notaram o que lhes aconteceu quando já era muito tarde. Assim numa fração de segundos, todos foram eliminados sem grandes problemas e a vida do trio salva do perigo. Após tudo ficar calmo, foi possível ver o suposto "salvador".

Era um homem que aparentava ter aproximadamente 25 anos de idade, pele clara, cabelos violetas, olhos amendoados e de estatura mediana. Sua arma é um par de garras afiadas que começavam no anti-braço e se alongavam muito além das mãos, terminando numa curvatura ameaçadora. Ele olhou ao redor, certificando-se de que não havia mais inimigos ou então se existia algum vestígio de surgirem mais ali, mas suspirou de alíviado por notar que realmente o perigo havia passado. Depois, foi ajudar o rei a se recompôr já que era o mais próxima dele, em seguida foi a vez do garoto que não o recebeu muito bem.

– Calma... Não farei mal a nenhum de vocês. Só quero ajudar.

– Ultimamente muitos estranhos estão querendo me ajudar neste lugar e quase nunca dá para saber se realmente querem fazer isso ou não. - disse Riku, áspero, encarando-o com desconfiança. - Como podemos saber se não é também um inimigo? Como "eu" posso saber se não pretende nos ferir? Ou então... - e olhara de esguelha para a garota inconsciente.

– Se eu disser o meu nome e que também posso levá-los para um lugar seguro onde podem descansar em paz até partirem, ajuda em alguma coisa? - o garoto não pareceu relaxar com a perguta e permanecia numa posição protetora, mostrando que vai continuar defendendo Hikari. - Eu me chamo Palm e sou um... caçador de "Nobodies" por assim disser. Também sou um habitante de "Waiting City" e ultimamente estou instalado numa caverna que possue aqueles cristais capazes de repelir essas coisas esquisitas. Este é o lugar seguro que quero levá-los e lá podem descansar á vontade até acharem que podem continuar com o que estiverem fazendo. - continuou o homem. - Isso basta para provar que quero ajudar?

Mesmo assim, Riku não se sentiu seguro perto daquele homem. Alguma coisa, talvez uma voz em seu subconsciente, lhe dizia que ele oferecia perigo e não queria ariscar a vida de ninguém por culpa de um erro seu novamente. Mas o camundongo, que estava mais atrás, assentiu para ele, sinal de que podia sim aceitar a oferta de Palm e gesticulou, porém, para prestar a atenção nele. Parece que também sentia algo de ruim no ar e precisava ter certeza disso, o pior é que a melhor forma de saber era acompanhá-lo até essa tal caverna.

– Ok. Iremos com você. Mas esteja avisado de que se tentar qualquer coisa contra nós, não iremos hesitar. Te atacaremos com tudo que sabemos. - ameaçou.

– Não precisa se preocupar. Não tenho intenção de fazer mal á vocês, principalmente a ela que é uma velha amiga minha. Fazia tempo que não via essa estrelinha imprudente. Posso apostar que Hikari ficara feliz em me ver de novo, dá última vez que nos vimos não foi um encontro muito agradável, havia "Heartless" e... Acho que já entenderam. - disse Palm, coçando a cabeça totalmente sem jeito. - Vamos! Não podemos ficar nem mais um minuto aqui. Os "Nobodies" podem aparecer novamente e desta vez um "Sorcerer" poderá estar incluso no grupo e não fazem idéia de como ele é difícil de vencer só com técnicas.

Após ouvirem isso, Mickey e Riku decidem partir o mais breve possível dali, mas antes o primeiro conjurou o "Cura" e o aplicou no segundo para curar os seus ferimentos. Depois, fez questão de levar a Hikari e ficara surpreso em sentir que ela é muito leve, ou ele que é muito forte? Só então, seguiram Palm para o tal lugar seguro que mencionou. O garoto mantinha o olhar fixo no homem, querendo certificar de que não estava sendo enganado.

A caminhada foi um pouco entediante mais por causa do silêncio do que da falta de ação. Ninguém dizia uma palavra sequer, cada um concentrado em seus próprios pensamentos enquanto andavam, apenas o barulho das pedras estalando conforme eram pisadas é que quebravam o silêncio mútuo. Vai e vêm, Riku olhava a garota e ela abria os olhos algumas vezes, mas parecia que fazia isso inconscientemente porque seu olhar não tinha um foco específico e depois voltava a fechá-los, ficando quieta. Nesse meio tempo foram feitas as apresentações e o caçador tentou animar as coisas contando suas várias aventuras pelo "Realm of Darkness", mas nada daquilo afastava a sensação estranha que o garoto sentia. Quando enfim chegam na caverna, que ficava próximo do topo de uma das montanhas, a dupla se espantou por verem inúmeros cristais logo na entrada e mais alguns no corredor que adentraram até alcançarem a área que foi preparada para ser um lar temporário.

– Sejam bem-vindos ao meu pequeno, mas modesto, lar provisório. - disse Palm abrindo os braços e depois olhando para os dois. - Fiquem á vontade. Tem comida e tudo mais que precisarem. Ah, Riku! Deixe Hikari na cama e a cobra com aquele cobertor de pele para dar mais conforto á ela, vou preparar uma poção para começar o tratamento do-

– Não é necessário, senhor Palm. - cortou o rei. Apesar de mantér um sorriso no rosto, sua voz soou não muito amigável. - Eu me encarrego de cuidar da senhorita Seraph, pretendia fazer isso antes do ataque. Já fez muito por nós nos salvando dos "Nobodies" e oferecer o seu lar como refugio. Daqui em diante podemos nos virar. Obrigado.

O homem ficou calado e então deu de ombros dissendo que estava tudo bem para ele. Riku não conteve o alívio de ficar longe daquela pessoa, mesmo que seja só por alguns minutos, mas fez o possível para não transparecer esse sentimento. Ele anda até a cama e colocou Hikari sobre ela com todo o cuidado possível, a cobriu até o pescoço após retirar suas botas e ficou sentado ao seu lado. O camundongo ficara contente com o gesto dele e isso lhe dava ainda mais certeza do que suspeitava estar acontecendo. Nesse instante, uma voz infantil foi ouvida e da outra entrada da caverna surgiu uma menina de curtos cabelos violetas em roupas rosas com estampas de flores brancas, os olhos amendôados dela transbordavam inocência e pura alegria.

– Pai! Você voltou! - exclamou ela, correndo na direção do caçador e envolvê-lo num forte abraço. - Foi mais rápido do que eu pensava. Deve ter encontrado o líder dos "Nobodies" e o destruído, certo? - Palm negou, balançando sua cabeça. - Tudo bem... Logo o senhor irá encontrá-lo para banir esses monstros do nosso mundo. - e ao notar a presença de mais gente no recinto... - Eles são seus amigos? - o homem confirmou, apesar de não ter muita certeza disso, e os apresentou inclusive. - Prazer em conhecé-los. Me chamo Filo.

– Filo?! - exclamaram Riku e Mickey simultâneamente.

– Filo de "Waiting City"?! Nós estavamos a sua procura, minha pequena.

– Procurando por mim? Mas, por quê? - questionou a menina, desentendida. Então o rei lhe contou todos os fatos, desde o show da Lenne até o presente momento. - Eu sabia que o Barret iria fazer drama por não me ver depois da apresentação, ele sempre faz isso e não consigo me acostumar com tanta preocupação. Confesso que ás vezes fico com vergonha, alguém daquele tamanho agir feito uma criança é de fazer qualquer um fingir que não o conhece só para não ser alvo de deboche. - disse com as mãos na cintura igual a um adulto que reclama de alguma coisa. - Mas... Se ele não fosse assim, eu não iria gostar tanto dele. O Barret me faz rir e o Nooj apesar de estar quase sempre mal humorado, também é legal.

– Huh... Filha. De onde você conhece o Barret e o Nooj?

– Eu moro com eles pai, desdo dia em que o senhor desapareceu. - respondeu Filo. Palm pareceu ficar surpreso em ouvir aquilo. - Mas, agora todo mundo vai poder morar junto e também ajudar a defender a cidade quando for atacada pelos "Nobodies". Sabia que estou treinando para ser uma caçadora igualzinha ao senhor um dia? Mas, o Barret e o Nooj não sabem disso porque eles ficariam ainda mais preocupados comigo, eles podem até me deixar de castigo pelos próximos mil anos e proibida de chegar perto de qualquer arma.

O rei percebeu uma mudança drástica de humor no homem, sua expressão ficara estranha como se ele tivesse odiado o que ouviu e seu olhar de repente ficou tão frio quanto o gelo. Não era um bom sinal. E se suspeitava de que ele representava algum tipo de perigo, aquilo poderia ser uma pequena prova, mas ainda precisava confirmar com clareza e se for mesmo verdade, já tinha tudo planejado para defender a todos.

– Mas, como você veio parar aqui? - manifestou-se Riku.

– Ah! Isso é fácil de responder. Foi o meu pai que me trouxe para esta caverna depois de salvar minha vida dos "Nobodies", pena que não vi direito ele lutar contra aqueles monstros assustadores porque estava quase desmaiando, mas tive muita sorte dele aparecer usto naquela hora. Quando acordei, levei um susto por ver eu mesma de pé na minha frente, mas depois se revelou ser o meu pai. Pai! Mostre para eles o seu poder secreto.

Uma aura negra envolveu o homem fazendo-o ficar um pouco disforme, parecia que ele estava se diluindo ou algo próximo disso, e então ele assumira a aparência da filha.

– Viram? O meu pai pode mudar de forma quando e para qual ele quiser, assim é capaz de passar pelos "Nobodies" sem ser notado. É com este poder que procura pelo líder para derrotá-lo e libertar o nosso mundo da presença deles, sem o mais forte todos os outros ficaram fracos e fáceis de vencer. Certo, pai?

– Certo, filha. - respondeu o caçador, voltando a sua aparência normal.

– A explicação que a senhorita Seraph nos deu é completamente diferente da sua, senhor Palm. Pelo o que entendi, eliminar o líder não enfraquece os monstros e sim os liberta da sua influência, deixando-os agir como de costume e retornam ao seu habitat natural. - disse o camundongo, mas omitira certas informações por precaução.

– A Hikari ás vezes conta algumas mentirinhas inofensivas para não preocupar quem esta em sua volta e resolver tudo sozinha. Ela... é muito gentil nessa questão, mas parece que ainda não aprendeu a lição: que mentira tem perna curta e pode provocar tragédias numa escala inreparável. - a voz de Palm soou sombria nesse instante, assim como o seu olhar. O garoto sentira um frio horrível percorrer a espinha e novamente ouviu a risada sinistra de Ansem ecoar em sua mente, atitude que o irritou um pouco. - Acreditem em mim. Lembram-se que sou um caçador experiente de "Nobodies", portanto, sei tudo sobre eles. - disse sorrindo.

Por alguma razão, o camundongo não gostou do jeito que ele havia falado da garota e da referência que fez de si mesmo. Riku, por outro lado foi mais profundo, ele teve vontade de matá-lo cortando o seu pescoço e ficar asistindo ele se transformar em algum monstro só para ter o prazer de eliminá-lo de novo. Esse pensamento o apavorou tanto que sacudiu a cabeça para afastá-lo, ultimamente andava tendo esse tipo de vontade desde que se entregara a escuridão em nome de seu sonho egoísta.

– Filo. Poderia fazer um favor para o papai? - interrompeu o homem, pousando as mãos nos ombros da menina. - Pode me ajudar a colher os ingredientes para preparar um remédio para amiga dele? Ela esta muito machucada e precisa de cuidados com urgência. - e depois fitou o camundongo. - Sei que disse para ficar de fora do tratamento da Hikari, mas acho que um bom remédio feito de plantas naturais vai ser de muita serventia. Aprendi que a magia não é capaz de resolver todos os nossos problemas.

– Tudo bem. Acho que um remédio pode sim ajudar e obrigado novamente.

Mesmo aceitando a proposta de Palm e tudo o que mais oferecer, aquela sensação estranha que Mickey sentia por ele não o abandonava de forma alguma, era como se uma voz bem lá no fundo do seu inconsciente o estivesse alertando sobre um perigo que não conseguia ver com clareza. Não gostava disso porque confundia o seu julgamento. Não sabia ao certo se podia ou não confiar naquele homem que salvou sua vida e a de Riku também.

Detestava essa sensação de falsa segurança.