O Mapa Cor-de-Rosa escrita por Melanie Blair


Capítulo 8
Cicatrizes




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Acordei, ainda estremuda, na minha cama. “Que horas são?”, pensei. Sentei-me na cama, deixando os lençóis, que cobriam o meu tronco, caírem pela cama.

- Que lindo cenário!- disse uma voz masculina.

Fitei o dono da voz. O ruivo perturbador e insensível olhava-me, de maneira divertida e algo divertida, e apontou o indicador na minha direcção.

- Não é que me esteja a queixar,- começou ele- Mas acho que devias tapar-te!

“Do que raios está ele a falar?” pensei. Olhei para baixo e deparei-me com os meus seios expostos. Sim, estava totalmente nua à frente de um homem!

Embaraçada, puxei com força os lençóis e tapei-me. Minutos em silêncio passaram, enquanto ele me olhava divertido, sem qualquer indício de vergonha.

- O que estás a fazer no meu quarto?- perguntei-lhe, furiosa- E porque estou eu…- olhei por debaixo dos lençóis- …apenas de cuecas?

Ele aproximou-se e, ao ver o olhar de assassina que eu estava a mandar-lhe, parou. O divertimento desapareceu da sua face, dando lugar a um Castiel sério, um Castiel raro de se ver.

- Deixa eu explicar, ok?

Vendo o quanto eu estava a odiar aquela situação, sentou-se no chão, longe de mim.

- Eu estou aqui porque você desmaiou nos meus braços. Eu, como cavalheiro que sou, trouxe-te até ao teu quarto, guiado pelo teu irmão é claro.

“Poças, tinha-me esquecido que tinha desmaiado!”, pensei.

Ele continuou o seu discurso.

- Observei a tua perna e percebi que o ferimento era grave.

Olhei-o, com um ponto de interrogação na cara. Ao ver a minha expressão, ele sorriu.

- Todos os marinheiros, e ambiciosos a capitães, têm de saber primeiros socorros.- disse, orgulhoso de si próprio.- Mas eu só sei dizer o que é, não sei tratar. Por isso chamei um médico.

Virou-se para mim, e disse furioso.

- O médico, ao ver-te, disse que apenas estavas cansada e com dores, que só precisas de dormir um pouco. No final, ele informou-me que há duas horas atrás tu tinhas estado no hospital dele e que tinhas sido tratada e colocado gesso na tua perna.

Levantou-se e retirou os lençóis que me cobriam as pernas. Apontou para o meu pé nu

- Porque é que tiraste o gesso da tua perna?- perguntou-me, furioso.

- Porque eu preciso de trabalhar.- respondi, envergonhada- E como tu deves saber, o gesso é…pouco sexy.

Ele olhou-me confuso e replicou, ainda zangado:

- O trabalho é mais importante que a tua saúde?

- É.- não hesitei ao responder.- Mil vezes mais importante.

- Porque dizes isso?- perguntou, decepcionado.

- Porque se eu não trabalhasse, a minha vida viraria um caus.- respondi.

Suspirei.

- Eu não tenho escolha. Eu tenho de trabalhar.

Ele olhou-me confuso.

- Porquê?- voltou a perguntar-me.

Abanei a cabeça. Já tinha dito demais. Ele percebeu que eu não lhe iria dizer mais nada, procurou, então, outro assunto de conversa.

- Então, eu agora sou teu noivo…- suspirou e deu uma gargalhada.- Pensava que darias mais luta mais afinal… és como todas as outras mulheres.

“Que assunto subtil”, pensei.

- Estás enganado.- disse-lhe, quando ele, telepaticamente, me questiona “Estou enganado em relação a quê”, reformulo a frase.- Estás enganado em relação a tudo.

- A tudo?- perguntou Castiel, admirado.

- Eu não sou igual a todas as mulheres que conheceste. E tu próprio o disseste. “És a mulher mais interessante”, não foi?

O ruivo entreabriu a boca, e acho que vi a cara dele a ganhar cor.

- Eu sou diferente.- continuei.- Eu sou demasiado magra, não tenho rabo nem peito para encher vestidos, sou teimosa e casmurra…

Parei-o quando ele tentou interromper-me.

- A minha história é diferente. A minha vida é diferente. Eu não sou “interessante”, como disseste. Eu sou tudo o que uma mulher não deve ser, e foi essa rebeldia, essa anormalidade, que te interessou. Nada mais.- parei e murmurei.- Tu não me conheces!

Castiel ao ouvir-me, replicou.

- Eu sei que ainda não te conheço. Mas é por isso que aqui estou. Para te conhecer.

- Tu não me queres conhecer.- murmurei.- Acredita em mim.

- Isso sou eu que decido. Não tu!- gritou ele.

Novamente, minutos de silêncio. Como poderia eu constatar àquela frase? Eu sabia o que me esperava. Eu sabia que não lhe poderia contar. Sempre que eu tentara contar a alguém, as pessoas afastavam-se, com nojo.

- Além disso, - começou ele.- O que são essas marcas que tens ao longo do teu corpo?

“Ups!”, pensei. Ele não deveria ter visto aquilo.

- Como é que as viste?- perguntei-lhe, baixinho.

- O médico viu-as enquanto tratava a tua perna. Depois percebeu que elas estavam por toda a parte…

Não lhe respondi.

- De onde vêm essas cicatrizes?

Aquelas marcas faziam parte da história que não lhe poderia contar, da história que eu não lhe queria contar.

Ele, ao perceber que eu não iria abrir a minha boca, deslocou-se para a porta do meu quarto e disse:

- Tu não confias em mim, uh?- e riu-se.

Ao abrir a porta, dei por mim a gritar-lhe:

- Confio.

Ele virou-se na minha direcção, admirado.

- O quê?- questionou-me.

- Não sei como nem porquê, mas sinto que posso contar-te tudo.

O ruivo, devagar, aproximou-se de mim. Ao sentar-se na cama ao meu lado, percebi da estranheza daquela situação: eu estava nua numa cama com um homem (mais ou menos) tarado.

- Dá-me só dois minutos…femininos.- pedi-lhe. Ele riu-se e acenou com a cabeça.

Enrolei-me nos lençóis e levantei-me da cama. Dirigi-me à casa de banho. Olhei-me no pequeno espelho agarrado à parede branca de cal. Pois, como eu esperava. O meu cabelo e face lembravam-me que tinha estado a dormir- estavam ambos um desastre.

Penteei o cabelo uma, duas, três vezes até perceber que estava a fazer sempre o mesmo percurso sem necessidade- o meu cabelo nunca estaria perfeito.

Concentrei-me na face. Lavei a cara e tentei colocar uma expressão acordada. Deixei os lençóis caírem no chão duro da casa de banho. Procurei a camisa branca e antiga do meu pai. Depois de colocada, percebi que me ficava larga. Suspirei.

Procurar umas calças tornou-se num desafio. Não encontrei nenhumas em todo o compartimento. Suspeitei que a minha tia tivesse lavado toda a roupa sem a minha autorização. “Obrigada tia”, pensei sarcasticamente. Suspirei novamente. Bem o rapazinho já me tinha visto as maminhas, por isso…

Voltei apenas de cuecas e camisa para o quarto. Antes de entrar rezei “Por favor Deus, não deixe que este seja o maior erro da minha vida”.

Entrei, encontrando-o sentado na minha cama, à minha espera.


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Notas finais do capítulo

Optei por não contar tudo neste capítulo porque:
1º ficaria demasiado longo
2º aqui em Portugal já é tarde
3º o meu pai já me está a chatear
Espero que tenham gostado e o próximo virá o mais rápido possível.
Espero, também, receber reviews sobre o que acham que está a acontecer e sobre o que acham que deve ser melhorado e etc.



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