O Mapa Cor-de-Rosa escrita por Melanie Blair


Capítulo 7
Raúl


Notas iniciais do capítulo

Parece que não consigo ficar longe de vocês por muito tempo (mesmo com expressão oral para amanha ainda por preparar). é um capítulo longo e talvez aborrecido, mas era necessário.



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Christian subiu as escadas enquanto o homem escolhia e sentava-se numa mesa. Reconhecendo-o, a minha tia aproximou-se dele e trocaram palavras. Tentei ouvir o que diziam.

- Boa noite, senhor Raúl. Como está?- perguntou a minha tia, educadamente. Ele, ignorando-a, procurou por algo, olhando para todos os cantos do bar. Percebendo por quem ele procurava, limitei-me a fingir que estava a trabalhar. Sentei Castiel numa cadeira e trouxe-lhe uma bebida. Castiel olhou-me e disse-me:

- O que estás a fazer?- vendo-me sem resposta, olhou para a bebida.- E eu não gosto de whisky!

Retirei-lhe a bebida da frente e dirigi-me até Ambre, para escolher outra.

- E onde está a nossa adorável Esmeralda?- ouvi o homem a dizer. Arrepiei-me. Há algum tempo que já não ouvia aquela voz que tantas memórias me tinha trazido. Voltei a estremecer.

Continuei a ouvir a conversa, enquanto Ambre olhava-me.

- Já sabe como ela é, deve andar por aí.- disse a minha tia.- Sabe como ela é uma rapariga trabalhadora!

Senti uma nota de ironia na sua voz. Esperava que o homem não a tivesse notado. Estava em grandes apuros se ele imaginasse que eu não cumpria o nosso acordo.

 - Onde está ela?- voltou ele a perguntar.

Ambre, ao ver-me sem nada para fazer, disse-me:

- O que pensas que estás a fazer, Esmeralda? Vai trabalhar!

- Já vou, Ambre. Espera um pouco.- tentei dizer-lhe. Queria acompanhar o resto da conversa.

- MAS QUE CONVERSA É ESSA?- gritou ela.- JÁ VOU, JÁ VOU, DIZES TU! COMEÇA JÁ A TRABALHAR!

“Yeikes”, que eu assustei-me ao vê-la daquele modo. Levantei-me e antes que pudesse fazer aquilo que ela tinha acabado de dizer, ouvi uma voz.

- Aí estás tu, Esmeralda!- Raúl veio ao meu encontro e estendeu-me a mão, querendo que eu a apertasse.- Que bom vê-la de tão boa saúde!

Relutante, apertei-lhe a mão, sem força. Tentei não vomitar, ao tocá-lo.

- Prazer em vê-lo senhor…- não consegui dizer o nome dele. Prometi a mim mesma que não o iria ver mais na minha vida, e ali estava ele…

Helena interrompeu-nos e levou-nos para uma mesa. Propositadamente, ou não, sentou-nos na mesa atrás da de Castiel. Este ainda não nos tinha visto.

Não me sentei.

- Não nos devíamos sentar noutro local?- murmurei.

- Porquê? Este sítio é perfeito.- exclamou a minha tia.

Sentei-me e a minha tia deixou-nos a sós. O silêncio era constante, tal como a minha vontade de falar com esta criatura parecida com um homem.

- Então, Esmeralda- começou ele.- Como tens estado?

Não hesitei.

- Até há um bom bocado, bem.

- O que aconteceu “há um bocado”?- perguntou ele, curioso.

- O senhor entrou por aquela porta.- não poupei as duras palavras.

Ele não gostou da minha resposta, a expressão ficou séria.

- A mesma imatura de sempre…- comentou ele.

Ignorei aquela observação.

- O que veio cá fazer afinal?- perguntei-lhe.

- Sabes como é…-começou- Vim ver como estás! Já não te via há dois anos, tinha saudades!

- A verdade, por favor!- pedi.

Ele descontraiu-se na cadeira e sorriu.

- Já me conheces demasiado bem!- disse ele.

- Tomara, - expliquei- Infelizmente, já o conheço desde os meus seis anos.

Ele voltou a encarar-me sério.

- Não brinque com o fogo, menina Esmeralda.- ameaçou ele.- A menina sabe quanto poder eu tenho e o que acontece àqueles que me desrespeitam.

Arrepiei-me. Era verdade…eu sabia.

Ele continuou como se nada se tivesse passado.

- Bem, eu vim cá para ver o seu irmão. Christian, não é?

Aquela frase deixou-me surpresa. Não era aquilo que estava à espera.

- O que você quer com o meu irmão?- perguntei.

- Ver se ele está de boa saúde, é claro. Onde ele está? Quero vê-lo.- começou a levantar-se da cadeira. Parei-o.

- Não!- exclamei.

- Não o quê, Esmeralda?

- Não permitirei que o veja.- disse-lhe.- Não depois de que lhe fez, a mim e a ele.

Ele abriu os olhos pretos, pretos como a noite gelada e sem vida.

- Se bem se lembra do nosso acordo…- começou ele e revistou a sua mala.

- Eu sei muito bem o que prometi.

Ele ignorou a minha resposta e colocou uns papéis em cima da mesa. Reconheci-os. Era o meu contracto.

- Eu, Esmeralda Thompson,- começou ele a ler,- comprometo-me a, assim que assinar este contrato, fazer tudo o que aqui está descrito. Como maior de idade (quinze anos) sairei do orfanato que me manteve viva desde os meus seis anos, desde que me tornei órfã por motivos ainda por explicar. Levarei o meu irmão, Christian Thompson, de apenas nove anos (que aqui habita desde os seus primeiros meses) comigo e comprometo-me a trata-lo com o respeito e educação necessários. Assim, prometo trabalhar para manter-me a mim e ao meu irmão vivos e a ter uma vida o mais sedentária e segura possível. Além disso, comprometo-me a dar notícias e permitir que nos visitem, quando acharem necessário. Se este contracto não for cumprido ao pormenor, sei que terei que entregar o meu irmão de novo a este lugar até ele chegar à maturidade (quinze anos). Levarei comigo em todos os momentos e para todo o lado, tudo o que me permitiram aprender aqui!

Ele parou de ler e entregou-me o papel.

A data era de há precisamente dois anos. Ainda parece que me vejo sentada numa secretária a ler, pela primeira vez, este papel. A sentir-me feliz por finalmente sair daquele lugar, levando o meu irmão para fora dali. Ainda me lembro do riso que não contive ao ler a última frase, a frase da instituição, que eu nunca escreveria, que nunca seria verdade.

- O que quer?- perguntei-lhe, novamente.

- A tua tia contactou-me e deu-me a conhecer que o teu irmão não está a ser educado correctamente.- afirmou ele.- Parece que tem colocado línguas de fora.

Lembrei-me da nossa conversa de hoje de manhã. Lembrei-me da voz irritada da minha tia e da reacção do meu irmão quando lhe pôs a língua de fora…

- E então?- perguntei-lhe.

- Deve comunicar-lhe que colocar a língua de fora não faz parte de nenhum livro de boas maneiras.

- Eu sei disso!- disse-lhe. No orfanato, tinha levado reguadas por cada vez que não cumpria uma “boa maneira”.- Vou tentar reparar isso. Algo mais?

- Bem, sabe quantas vezes me telefonou desde que saiu da instituição?- perguntou-me ele.

- Talvez…- pensei- Zero.

- Exato. Ou seja, já está a desrespeitar duas regras do seu contracto.

- Tenho estado ocupada.- tentei desculpar-me.

- Além disso,…- continuou ele.- Não vejo nenhum indício de uma vida sedentária e segura.

Olhou para o bar.

- A única coisa que vejo é uma vida perigosa, nada educadora e demasiado…agitada.- disse, escolhendo melhor as palavras.

Eu sabia o que ele queria dizer com vida sedentária e segura. Ele queria dizer que eu, com dezassete anos, já deveria estar casada, talvez já com filhos. Uma vida calma, cheia de orgulho e nada agitada, como ele tinha dito.

- Esmeralda…- disse uma voz com sotaque. Percebi quem era.

Virei-me para encarar Castiel. Ele olhou-me com olhos carinhosos, uma expressão que eu nunca lhe tinha visto. Uma expressão encantadora.

- Porque não nos apresentas?- disse-me olhando para Raúl.

Levantei-me e comecei as apresentações.

- Castiel este é o senhor Raúl. E senhor Raúl este é….- e depois tive uma ideia de génio. Se era vida calma que o homem queria…então iria ter uma vida calma.

- Senhor Raúl…-continuei.- Este é meu noivo Castiel.

Castiel e Raúl apresentavam a mesma expressão- a de confusão.

Olhei para Castiel e movi os lábios (sem falar) e disse-lhe (sem falar): “Diz que é verdade!”.

Castiel avançou para Raúl e apertou-lhe a mão.

- Prazer.- murmurou Castiel. Deixei escapar um suspiro. Ainda bem que ele percebeu a ideia.

- Devo dizer que nunca pensei que Esmeralda estivesse noiva!- comentou Raúl.- Parece que a nossa conversa fica sem efeito, então!

- Acho que sim!- disse-lhe com um sorriso falso. Para enaltecer a situação, cheguei-me perto de Castiel e dei-lhe a mão, como se fôssemos dois pombinhos apaixonados. O meu “noivo” apertou-me ainda mais a mão, magoando-me. “Parece que Castiel não está muito feliz”, pensei.

A minha ideia resultou. Raúl, confrontado com este cenário, ficou incomodado e sem saber o que dizer.

- Bem parece que vos devo deixar sozinhos.- apressou-se ele.- As minhas felicidades, para ambos.

Começou a sair, quando voltou a encarar-nos e disse:

- Esmeralda, dou-te mais uma oportunidade. Se mais uma regra não for cumprida, terei de levar o teu irmão comigo.

E fechou a porta por trás dele, saindo, finalmente, da minha mira.

Larguei a mão de Castiel. “Porra que aquilo tinha-me esgotado!”, pensei.

- Demoras muito a explicar-me o que está a acontecer?- explodiu ele, zangado.

Ao dar um passo para ir ter com ele, o pé tocou no chão. Ao haver contacto entre pé e chão, tive tanta dor que desmaiei nos braços do ruivo.


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Notas finais do capítulo

Bem, próximo capítulo na próxima semana ou ainda mais cedo. Próximo capítulo vai arrasar. Quero reviews, favoritos e expetativas acerca do que aconteceu e do que vai acontecer, ok? Até à próxima.



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