O Mapa Cor-de-Rosa escrita por Melanie Blair


Capítulo 2
Funeral e Nascimento


Notas iniciais do capítulo

O princípio do capítulo ainda é narrado pelos historiadores. A outra parte, devidamente separada, é o que está descrito no diário.



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Tínhamos, nas mãos, o diário. Se mo é permitido dizer, não o queria abrir. Graças a este confidente uma mulher morreu. Que outros acontecimentos ocorrerão por causa dele? Que surpresas estarão escondidas em cada linha de cada página?

O funeral da dona deste foi do mais só e moribundo que já assisti. Além dos mordomos e criados, nenhum familiar ou amigo se dignou a aparecer. Um dos mordomos disse-me que toda a população que a conhecera se tinha afastado dela, porque achavam que se tinha tornado uma inimiga do governado, do país.

Porém, daquilo que ouvidos da boca de Esmeralda não distinguimos nenhum rancor, nenhuma raiva, mas sim preocupação e esperança. Por isso, achámos melhor cumprir o último pedido da senhora- que o seu diário fosse, pelo menos, lido e analisado por nós.

Com este pensamento, abrimos a primeira página do livro.


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“5 de maio de 1907

Querido diário,

Prazer em conhecer-te. Primeiramente devo dizer-te que só te estou a usar porque a minha tia me obrigou.”

Ok, isto não está a resultar.

Já estou farta que a minha tia pense que isto vai ajudar-me a ter mais autoconfiança. Raios a partam. Ela deve achar que tenho tempo para escrever toda a minha vida.

Tentei outra vez.

“O meu nome é Esmeralda Thompson e sou a tua nova dona. Tenho 17 anos e sou órfã de ambos os meus pais desde os meus seis anos. Desde então, tenho sido criada pela minha tia Anabela.”

Desisti. Se teria de contar a minha história, teria que haver algo de interessante para contar.

–O que estás a fazer aí sentada? Entras daqui a dez minutos!- gritou a minha tia, furando-me os tímpanos.

–Já vou!- gritei ainda mais alto. Sempre me disseram que quem fala mais alto na casa, é quem merece mais respeito.

Vesti as meias pretas de vidro, o top preto de alcinhas e os calções bege (dá jeito termos uma costureira pessoal 24 horas por dia), tudo destinado a aumentar o volume do meu peito e mostrar as pernas.

Desci as escadas até avistar as minhas companheiras. Coloquei-me em posição. Depois só ouvi um microfone:

– E aqui está o grupo de bailarinas que vos vai animar a noite. Uma salva de palmas para elas.

Quando a banda começou a tocar, o pano subiu, devagarinho, mostrando a todos aquilo que éramos- umas doces e jovens raparigas que, por dinheiro, tinham-se encaminhado no caminho errado da vida.

Começámos a dançar, e tenho que admitir que não éramos propriamente más. Toda a gente gostou. Mas isso também não me suscita confiança ou orgulho, já que até a banda, que não toca mais do que duas notas, eram aplaudidos.

Deixam-me explicar-vos: quem está neste café, não vem pela música, pela dança, nem pela comida…vêm sim para ver aquilo que esta sociedade (e as suas esposas) não permite: o fruto proibido - o corpo de outras mulheres.

Se a dança permitir aos olhos distinguir um bom par de coxas, umas mamas consideráveis e um bumbum aceitável, eles aplaudem. Se não…somos baleadas com comida (literalmente).

Pronto admito, isto é pouco melhor que um bordel. Mas o que posso fazer? É esta a minha casa desde os meus seis anos. Estou até agradecida por estar aqui e não na rua, como tantos estão.

Depois do espectáculo acabar, desci o palco e dirigi-me ao bar.

Pedi, com gentileza e paciência, um licor fraco a Ambre, a detestável bartender.

- Deves pensar que eu sou burra ou o carago! Achas que eu te daria um licor enquanto estás no teu turno?- gritou-me ela, por cima da música.- Helena ficaria furiosa!

Helena, dona do bar e minha tia, estava ocupada a colar as mamas ao peito de alguns espectadores.

- Anda lá, Ambre!- pedi-lhe.- Ela não está a ver!

Teria que ser rápida. Se alguém me visse aqui, algum admirador da nossa dança, estava definitivamente lixada. É difícil convencer um homem excitado a nos deixar em paz.

- Ambrinha querida!- chamaram uns homens. Ela sorriu e acenou-lhes.

- Vai-te embora, Esmeralda. Estás a estragar-me o negócio!- disse-me a bartender.- Quero ver se arranjo companhia para a noite!

Ao ver-me sem resposta, gargalhou.

- Não te preocupes, querida!- alertou-me.- Enquanto estiver nos braços de um homem, lembrar-me-ei de ti, fria e sozinha na tua cama.

Voltou a rir-se e dirigiu-se para a sua “vitima”, o inocente que passaria a noite num pesadelo. Como eu tinha dito, ela é detestável.

Ela tinha razão. Não tinha aconchego para as noites. Mas, ao contrário dela, não andava à procura dele. Respeitava-me demasiado para andar a abrir as pernas para todos.

Levantei-me do banco do bar. Parece que não ia conseguir a minha bebida. Parece que não ia conseguir a única coisa que me faz suportar esta vida.

–Aaahh!- ouvi um grito feminino.

Avistei um homem forte, com cerca de trinta anos, certamente já cansado, ao lado dele uma rapariga. Reconheci-a. Era uma delas bailarinas que dançava comigo.

– O que é querida?- perguntou-lhe.- Não gostas que te acariciem no c*?

Voltou a tentar tocar-lhe. Ele tinha uma expressão de desejo e divertida. Ela gritou mais uma vez.

Sem me ter apercebido, já me encontrava ao lado dela, tentando separá-la do homem.

Puxei o meu braço para trás e, com toda a força que reuni, bati-lhe. Sorri, ao vê-lo caído no chão.

–Ela já disse que não te queria.- gritei-lhe. – Rapazinhos como tu, que se fazem de homens, enojam-me.

O homem levantou-se e colocou-se numa posição de ataque. Voltei a puxar o braço para trás. Só não lhe bati mais uma vez, porque uma mão parou o movimento da minha.

– É esta a rapariga que pretendo comprar!- disse o dono da mão.

Encarei o homem. A resposta afiada que tinha preparado não me saiu da boca, ficou suspensa no ar.

– Que achas do meu plano, querida?- perguntou-me o ruivo, com o maior dos sorrisos.



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Notas finais do capítulo

Desculpem estava sem imaginação e principalmente tempo na redação deste capítulo. Espero que mesmo assim tenham gostado.

O próximo só para o fim de semana ou para a semana.