O Mapa Cor-de-Rosa escrita por Melanie Blair


Capítulo 10
Máfia


Notas iniciais do capítulo

Aqui vai!!!



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Perdida no mundo dos sonhos, onde tudo acabava em precipícios, acordei. Ainda assustada com a queda que me tinha esmagado as pernas (mesmo que tenha sido só um pesadelo), esfreguei os olhos, tentando, finalmente, acalmar-me.

Permaneci um período de tempo a tentar desfigurar a parede invisível que separava os meus sonhos do que realmente tinha acontecido. Aquela parede fina, transparente que sempre que eu tentava tocar-lhe…desmanchava-se.

Ao sentar-me na cama e olhar para a mesinha de cabeceira, percebi que não precisava de investigar mais aquela parede- o que tinha acontecido fora real.

Peguei no papel dobrado ao meio. Abri-o e aí encontrei uma caligrafia medonha, enorme e, sobretudo, masculina que se dirigia a mim:

“Esmeralda,

 Obrigado por confiares em mim e me teres contado o que te afligia. Sei que não terá sido, de todo, fácil.

Matar aquele careca violador é uma vontade enorme que tenho dentro da minha alma. Mas não o farei. Pelo menos, não enquanto tu não mo permitires. (Pelo sim, pelo não, trarei a minha arma sempre comigo.)

Gostava de estar aí quando acordasses, mas fui chamado para me presenciar o capitão e… contra a vontade dele não tenho poder de escolha.

O ruivo

P.S. Nunca tinha percebido que me querias tanto! Passaste a noite a balbuciar o meu nome enquanto dormias. Foi uma experiência fantástica. Se estivesses acordada…não te teria deixado dormir.”

Corei e ri ao mesmo tempo. Duvido seriamente que tenha dito alguma coisa enquanto descansava. Castiel gosta muito de me picar.

 Estava eu a arrumar a carta numa gaveta da cómoda, quando a minha tia começou, como sempre, a gritar.

- O que se passa?- perguntei-lhe

Helena abriu a porta do meu quarto num estrondo.

- Aleluia que estás de pé! Pensava que ficarias na cama toda a manhã.

- O que queres, tia?- perguntei, sem demoras.

- Que trabalhes, é claro!

“Trabalhar?”, pensei. Olhei para as horas- eram apenas dez da manhã!

- Mas só começamos a dançar a partir das treze!- exclamei.

Ela sorriu.

- Quem te disse que ias dançar?- perguntou-me, retoricamente.

- Não vou?- questionei, confusa.

- Devias, mas…- expirou e continuou-… mas o senhor Castiel insistiu em dar-te algumas férias.

Abanei a cabeça. Para a minha tia concordar com uma proposta que não era da sua autoria…só podia ser por duas razões: 1º ou o negociante era um homem charmoso, e ela estivesse encantada com ele ou… 2º ou a proposta tinha envolvido um grande montante de dinheiro. Suspirei. Helena sabia que Castiel tinha posses e sabendo o quanto ela o admirava…Sim, foram as duas razões que a influenciaram.

- Mas…- continuou ela.- Não posso deixar uma empregada sem fazer nada. Que diriam os clientes?

Outra pergunta de retórica. Enquanto ela falava sem dar grande progresso à conversa em si, desloquei-me para a pequena casa de banho para trocar de roupas. Ao retirar a camisa reparei, em cima da banheira, roupas. “Merda!”, pensei ao reconhecer o traje.

- Titia…- implorei- Por favor, isto não.

Ela não se deixou levar pelas minhas falinhas mansas. Sorriu e disse-me:

- Não tenho outra opção Esmeralda. Já que não te posso mandar actuar terás, pelo menos, de fazer isto.

- Por favor…Faço tudo menos isto.- tentei novamente.

Ela ignorou-me e começou a dirigir-se para a porta.

- Veste-te e põe-te a trabalhar!- foi a última coisa que me disse antes de me deixar sozinha com as minhas roupas.

Estava cá fora. Sim, nas ruas. Encaminhei-me para o centro da cidade, onde conseguiria obter mais atenção. Tentei não pensar nos olhares penetrantes masculinos que me faziam sentir como se não tivesse qualquer roupa, como se estivesse nua. Bem, a realidade também pouca diferença tinha quanto a isto.

O trabalho que a minha tia me deu não é, nem mais, nem menos, que fazer publicidade. “Porreiro!”, pensam vocês extasiados. Não, não é nada porreiro. Primeiro têm de vestir roupa apelativa: um vestido azul-escuro justíssimo, curtíssimo e embaraçosíssimo. Segundo tínhamos que andar a entregar panfletos sobre o bar a todos os que passassem. Assim, com ambas estas condições tínhamos acesso a certas consequências desagradáveis: como por exemplo, interpelar homens que tentavam espreitar-te pelo decote e mulheres que viam os maridos a colocarem a mão onde não deviam (e colocavam as culpas para cima de nós).

Coloquei-me numa esquina entre o talho e a padaria- talvez aqui pudesse trabalhar sem distracções. As pessoas que por ali caminhavam, maioritariamente mulheres, ignoravam-me totalmente, como se as roupas que eu usava gritavam “Sou uma mulher da vida e vou roubar-vos o vosso marido!”. Os homens, por sua vez, caminhavam na minha direcção, davam-me um sorriso caloroso e um “Vejo-te mais logo” meio maroto.

Quando avistei um grupo de homens a caminharem até mim, percebi que eles iriam dar-me sarilhos. Comecei a encaminhar-me para longe deles, tentando parecer calma. Eles seguiram-me. Tinha que me manter nas ruas principais e movimentadas, já que sabe-se lá o que eles me poderiam fazer se não estivesse ninguém a ver-nos.

- Ei, bomboca!- chamaram-me- Espera por nós!

“Isso queriam vocês”, pensei. Não me dei ao luxo de me virar para os ver- eles encarariam isso como um “Sim. Estou ao vosso dispor”. Apressei o meu passo.

Não sabia onde estava e continuadamente escolhia caminhos de cruzamentos que não conhecia. Rezei a Deus para que aquele fosse o caminho certo. Porém, Deus devia estar ao telefone ou a cortar as unhas, porque não me ouviu: acabei num beco sem saída.

Um muro erguia-se no caminho que eu queria percorrer. “Poças”, era demasiado grande para eu escalar e não havia nada que me ajudasse a fazê-lo.

Tinha que voltar atrás. Era a minha única solução. Quando estava pronta para correr para fora do beco, os meus perseguidores ergueram-se no fundo da esquina. Estava entre a espada (os homens) e a parede (o muro). Estava encurralada.

- Querida!- exclamou um deles- Cansada de correr?

- Não a assustes Dajan. – continuou outro- Ela não tem culpa de ser uma menina pequenina fraquinha!

Todos se riram.

- Mas têm de admitir que é bonita.- confessou Dajan.

Dajan, um rapaz negro e musculado, baixou-se até chegar à minha altura.

- Gosto de olhos verdes!- disse-me, admirando os meus.- As mulheres de olhos verdes parecem as mais tímidas mas são as mais selvagens.

Fitou-me com um olhar que me fazia compreender o sentido da palavra “selvagens”.

Queria meter-me medo. Não iria conseguir.

- Deves estar a confundir-te!- falei, finalmente.- As mais selvagens, nos termos que queres suponho, são as de olhos azuis.- lembrei-me de Ambre.

Ele sorriu e incentivou os outros a aproximarem-se de mim.

- Veremos.- murmurou Dajan. Dois deles agarraram-me os pulsos e começaram a tentar tirar-me o vestido.

Sem gritar, dei uso às minhas pernas livres e dei-lhes um pontapé (naquele sítio). Com dores, soltaram-me. Comecei a correr e gritei.

- Se ficarem inférteis digam-me que eu conto a verdade às vossas mulheres.

Os outros, que não estavam com problemas na próstata, perseguiram-me e eu continuei a correr para fora do beco.

Estava a ficar cansada e a minha perna ainda me pedia atenção. Tinha que voltar ao bar! Quando comecei a ver o porto, comecei a sentir-me aliviada. “Já estou perto”, pensei. Porém, ao pensar nisto, distraí-me da corrida e Dajan apanhou-me, colocando as minhas mãos presas atrás das costas. Arquejei de dor.

- Grande cabra!- gritou ele.

- Deixe a senhora em paz.- ordenou uma voz. O negro deixou-me as mãos. Virei-me na direcção da voz. Os meus olhos arregalaram-se, ao reconhecer o meu salvador que apontava uma arma à cabeça de Dajan.

O platinado, e outros, estavam a algemar os meus perseguidores. Depois de os colocarem numa carruagem que os levaria à esquadra da polícia. O “tenho olhos bicolor” sorriu-me.

- Esmeralda!- exclamou ele.- Que prazer em vê-la.

Não lhe respondi. Começava por “L” não começava?

- Não se lembra de mim.- perguntou-me ele. Arrisca Esmeralda, arrisca!

- Claro que sim, Leandro!

Ele sorriu genuinamente.

- Quase. É Lysandre!

Pedi desculpas e ele, ao ver o que eu trazia nas mãos, retirou-me um panfleto e leu-o.

- Então a pressa da outra vez era por causa deste trabalho?

Encolhi os ombros.

- Se eu pudesse, teria todo o gosto de ir vê-la mas…- começou ele, até eu o interromper.

- Oh não te preocupes não é necessário.- não queria que ele me visse daquele jeito vergonhoso.

Tentei mudar de assunto. Falar de um trabalho que eu não gosto é, absolutamente, horrível.

- Quem eram eles? E o que faz você aqui?

- Eles eram um subgrupo da Máfia.- informou ele, enojado.

- Máfia?- questionei-o. Que raios é isso?

- Espiões italianos que vieram investigar os próximos planos do nosso rei. Eles queriam saber que terras iriamos conquistar desta vez.- informou-me ele.

- E tu?

- Eu estava por perto quando os vi a passar. Reconheci-os de um cartaz que tinha visto na esquadra e contactei a polícia. Quando a polícia chegou, tive de os guiar por onde tinha visto os espiões… até que te encontrei.

Aquilo soava-me um pouco estranho.

- Gostas de te fazer de herói?- perguntei, sem meias palavras.

- Diz a rapariga que salvou uma criança que não conhecia, colocando a sua própria vida em risco.

Ruborizei com a lembraça.

- Tens razão.- confessei.- Desculpa.

Olhei para o céu, procurando algo para dizer, quando percebi que estava a escurecer.

- Tenho de voltar. Está a ficar tarde!- anunciei.

- Eu acompanho-te até casa.

Não gostava da ideia, mas não sabia quantos mafias ainda haviam a passear aí pelas ruas. Suspirei e acenei com a cabeça.

Pelo caminho, o silêncio foi constante. Quando chegámos perto do bar, parei. Não queria que ele se aproximasse mais. Não queria que ele visse o ambiente nojento e asqueroso em que eu trabalhava.

- Eu fico aqui.- declarei.- Então…obrigada.

Comecei a caminhar e ele, em oposição, agarrou-me a mão, detendo-me. Virei-me na sua direcção, surpreendida.

Ele sorriu e atacou, inesperadamente.

- Lembraste que me deves favores?- ao ver-me acenar, continuou.- Vou-te pedir um agora.

Abri a boca, surpreendida. O que podia ele querer?

- Amanhã, pelas quinze horas, estarei à tua espera à frente do grande carvalho.

- Para?- perguntei.

- Um encontro.- sorriu.

Um encontro? Era isso que ele queria?

Ele começou a caminhar na direcção oposta e voltou a virar-se para me encarar.

- E não te atrevas a não aparecer! Prometeste que irias cumprir os meus favores e, além disso, sei onde vives…!- ameaçou-me e dei por mim a gargalhar.

“Então... vou ter um encontro”, pensei radiante.


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Notas finais do capítulo

Acho que é o último capítulo antes de começarem as aulas de novo... :(
Porque é que passou tão depressa?



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