Wolverine: Uma História escrita por Tenebris


Capítulo 24
Poder




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Mas não seria isso que derrubaria Julia. Não se deixou abalar. Ora, já tinha sobrevivido ao ataque de Magneto e, com isso, salvara também a vida do filho. Curara-se. Estava em paz com Logan, com sua casa, com sua família e tinha o apoio de todos que mais amava no mundo. Não seria isso que a derrubaria. Já tinha passado por coisas piores.

- Ótimo. Irei mais ao médico e vou me alimentar melhor. Eu sei que é o máximo que posso fazer, mas eu não vou deixar nada de ruim acontecer com meu filho. – Anunciou Julia, repreendendo Logan com o olhar. Ele abaixou a cabeça, envergonhado.

- Tem razão, Julia. – Comentou apenas.

Quando viu que havia brecha para mais perguntas, indagou a Charles com sinais de interesse:

- E, bem... Quando ele vai desenvolver a mutação?

- É difícil dizer. A maioria dos portadores do gene X desenvolve seus poderes apenas na adolescência, apesar de o gene sempre ter estado presente. Há relatos de crianças manifestando poderes, bem como adultos. Isso é apenas uma média, não há números ideais, mas diria que por volta dos 13 anos.

Julia assentiu, pensando que uma criança com poderes mais difíceis de controlar, como o poder de Scott, seriam mais difíceis de lidar. A idéia de uma criança já sofrendo com uma mutação incontrolável era dolorosa, mas não dava pra perder muito tempo insistindo nisso.

Assim, novamente, apesar de continuar passando mal e desmaiando repetidamente, Julia agüentou firme. Trabalhou até quando pode agüentar e foi no médico com mais freqüência, ao passo que este apenas dizia que os desmaios eram por conta dos hormônios e da própria gravidez.

Com sete meses, Logan acompanhou Julia na decisiva consulta. Veriam o sexo do bebê. E qual foi a surpresa o descobrirem que teriam um menino. O nome estava escolhido. John. John Knight Howlett. Era uma homenagem ao pai de Logan, John Howlett. Todos na mansão ficaram contentes com a descoberta. Com a montagem do enxoval, a cor também estava escolhida. Verde.

Não tardou até que os nove meses se completassem.

O dia fora escolhido.

Um de fevereiro de 2013. Assim, Julia fora levada ao hospital no Opala Preto de Logan. Ele parecia mais nervoso que ela, perguntando com apreensão se ela tinha pegado sua mala de roupas e a de John.

- Peguei, Logan. – Respondeu ela pela terceira vez.

Assim, ela logo fora hospitalizada. Rudolph estava tão nervoso quanto Logan e, na recepção, todos os X-Men aguardavam sob comando de Scott, Jean e Ororo. Fora um parto tranquilo. Rudolph esperou do lado de fora com Charles, no corredor. Logan fora junto com Julia. Com a graça de Deus, tudo ocorrera bem.

Logan viu uma lágrima deslizando pelo rosto de Julia, tão reluzente que quase poderia ver-se refletido nela. Ouviu então um choro. Pensou que nunca seria capaz de ouvir algo mais emocionante do que o urro de uma batalha ganha, de uma luta vencida. Mas descobriu em seguida que esse mesmo som, o da vitória, poderia ser resumido de formas bem diferentes de um grito. Poderia ser o choro do seu próprio filho, indubitavelmente, mais emocionante que um campo de batalha.

A alegria não cabia em ninguém, muito menos na sala de parto.

Logan dificilmente chorava, nem mesmo estava acostumado a tal sensação. Tinha esquecido o que era ter lágrimas deslizando sobre seu rosto e deixando rastros salgados de felicidade. Oficialmente, ele era pai. Não que antes não fosse, mas apenas recebera a notícia. Diferentemente de Julia, mãe desde que concebera o filho, e carregando-o no ventre, sempre podia sentir o filho consigo. Com Logan era diferente, nunca sentira de fato a presença dele. Mas agora, ao carregar o filho no braço, podia sentir o sopro de vida que vinha dele. Pai. Agora e para sempre.

Já com Julia, era um pouco diferente. Ela sempre carregara o filho em si, sempre pudera senti-lo e até mesmo conversar com ele. Tê-lo nos braços era como ver um sonho transformando-se em realidade.

O médico, assim que retirara John da barriga de Julia e depois de fazer os procedimentos médicos necessários, colocou-o nos braços da mãe. A emoção na sala era quase tangível. Em seguida, Logan carregou-o e novamente teve a sensação de que o Adamantium em seu esqueleto tinha virado gesso.

Não havia como descrever a cena.

E John, bem, ele pesava quase quatro quilos e tinha 45 centímetros de altura. Um bebê grande e forte, com os olhinhos fechados, mas já bem parecidos com os da mãe. Os cabelos negros lisos, porém rebeldes, como os do pai. Parecia a mistura exata de Julia e Logan.

Assim, logo todos puderam conhecer John. Ele era muito calmo, na medida em que um recém nascido pode ser. Chorava quando tinha fome e cólica, mas bem bonzinho. Charles e Rudolph fizeram questão de carregar o bebê e, embora parecesse que Charles captava alguma coisa na mente do bebê, nada falou. Julia mal pensava em usar seus poderes no filho, mas não sabia se a sensação de felicidade vinha apenas de John ou de todos naquele lugar.

Os X-Men, na recepção, acolheram a notícia com alegria. Julia estava bem. Tivera um parto tranquilo, apesar das leves dificuldades na gravidez, e se recuperava rápido. Amamentava o filho com freqüência e sem maiores problemas. Assim, aos poucos, os X-Men iam voltando à Mansão, Rudolph retornava para seu apartamento prometendo visitas e, dentro de quatro dias,  Julia e John foram liberados, podendo voltar ao Instituto.

Era uma sensação diferente.

Encarar aqueles portões com Logan ao seu lado, envolvendo os braços na cintura de Julia de maneira protetora, com ela empurrando um carrinho de bebê, com um pequeno John ressonando suavemente em seu sono tranquilo.

E a vida continuava.

Nunca mais seria a mesma coisa, mas era uma mudança que se fazia boa e presente. Um grande e divertido aprendizado. Tudo ia bem com Logan, Julia e John morando na casa de Logan, no quintal da Mansão. Os pais eram muito dedicados e, apesar das dúvidas naturais, contaram com a ajuda de Ororo para aprender as coisas mais básicas.

Logan ainda trabalhava na Madeireira e Julia estava de licença do escritório, de modo que as ocupações com lutas eram deixadas de lado. Os dois queriam curtir essa fase ao máximo. John se provava cada vez mais um bebê tranquilo, mas muito teimoso. Talvez até um pouco mais do que Logan. Quando completou seis meses, os traços de sua fisionomia eram mais definidos. O cabelo negro, liso e rebelde como o do pai. O rosto fino, porém redondo, com as feições em harmonia e os olhos grandes e castanhos como os de Julia. Os movimentos dos olhos e dos cílios de John eram exatamente iguais aos da mãe, sempre expressivos e revirando-se pelos cantos. Sem contar que crescia rápido demais, sendo um pouco mais alto do que alguém da sua idade.

Felizmente, Julia recuperou-se rápido, perdera o peso que ganhara na gravidez e estava tão saudável quanto alguém que se mantinha longe de encrencas. Em relação aos X-Men, as missões continuavam sendo lidar com acidentes isolados envolvendo, no máximo, dois ou três mutantes descontrolados ou assaltos. Logan, depois de alguma insistência, retornara para o Esquadrão principal dos X-Men, conciliando a vida pessoal, o emprego e as lutas. Julia resolvera ficar fora da equipe por mais algum tempo, pelo menos até arrumar alguém de confiança que pudesse cuidar de John.

Porém, um dia, em uma conversa com Charles, Julia e Logan descobriram que Magneto fora visto recentemente na Europa e estava sendo secretamente vigiado de perto por Steve Rogers, o Capitão América. Ele tinha sido visto na Romênia, na Áustria e em Stuttgart, na Alemanha.

Por um tempo, pelo menos, Magneto e a Irmandade estariam fora de circulação, o que já era excelente por si só para os X-Men, ao passo que Julia não estava na equipe principal.

John já tinha completado um ano.

Ele era uma criança sorridente, alegre e ativa até demais. Dormia cerca de 12 horas por dia, parando a cada três para se alimentar. Logan era um excelente pai, sempre prestativo e disposto a ajudar até mesmo nas horas difíceis. Ele tentava ensinar o filho a falar “papai”, mas John por enquanto sabia apenas grunhir. Mesmo assim, era o xodó de todo o Instituto, principalmente de Charles, Kitty e Scott. Inclusive, Jean e Scott estavam noivos.

Julia e Logan discutiam sobre isso após colocar John para dormir. Esse era o lado bom da coisa: mesmo tendo filhos, eles ainda mantinham-se como um casal, vendo-se como homem e mulher e não apenas pai e mãe. Sempre achavam um momento para dedicar-se apenas um ao outro e se amarem.

Falando na Jean e no Scott, eles discutiam que, sem dúvida, o noivado faria bem para eles. Jean estava mais amigável e Scott, se é que é possível, ainda mais seguro e sereno. Parecia até um pouco mais descontraído do que o normal. Julia e Logan não podiam ler as mentes um do outro, mas pensavam a mesma coisa. Para ambos, o casamento era uma mera formalidade.

Nem Julia nem Logan sentiam necessidade de casar ou de fazer uma cerimônia grandiosa. Estavam bem do jeito que estavam, namorando juntos, sem se preocupar com problemas externos. Obviamente, o casamento não os assustava nem os repelia. Era somente algo em que eles nunca tinham sentido necessidade de pensar ou concretizar. Mesmo assim, sem saber do que o outro pensava, outra vez o pensamento se equiparou. Caso as circunstâncias os direcionassem a isso daqui um tempo, a resposta de ambos seria sim.

Desse modo, o tempo passou e as coisas não poderiam ficar melhores. John já tinha quatro anos. E, como toda criança nessa faixa etária, pulava pelos cantos da Mansão falando tudo o que podia aprender ou repetir. Finalmente, já chamava Logan de pai e Julia de mãe. John adorava a todos na Mansão, embora tivesse um pouco de receio de Hank McCoy: o Fera. Apesar disso, adorava ir andar no conversível vermelho de Scott, que o levava para passear sempre que podia.

Também gostava de Kitty, que vivia lhe presenteando com doces e o ensinando a lutar artes marciais, mesmo sob o olhar reprovador de Logan. Ele não achava certo ensinar luta para uma criança de quatro anos que viria a ser mutante, mas não discordou. Assim, em um dia comum, Julia voltava do escritório usando a moto de Logan (após pedir com muita insistência).

Logan e John estavam esperando por ela na sala. Julia entrou pelo portão da Mansão e se direcionou até sua casa. Entretanto, o lugar que Julia sempre estacionava a moto estava ocupado pelo Opala preto de Logan.

Consternada, ela procurou outro lugar para parar. Porém, ao tentar estacionar a moto não tão distante de sua casa, ela parou sobre alguns pedregulhos e a moto derrapou, de modo que ela caiu ainda em cima da moto e tombou para um lado.

Não fora nada grave. Fora mais questão de inconveniência. Julia raspara a lateral do braço nas pedras pontiagudas e estava sangrando levemente. Felizmente, ela rapidamente reposicionara a moto e nenhum dano tinha sido causado nela.

Entrou em sua casa e fora recepcionada alegremente por Logan e John, até que eles perceberam o que tinha acontecido.

- O que aconteceu? – Indagou Logan, trocando o olhar de alegria pelo da preocupação.

- Nada... Eu tropecei no quintal. – Disse Julia. Não queria que Logan a proibisse de andar de moto caso soubesse do que de fato acontecera.

- Mamãe... – Chamou John, correndo para receber o abraço materno. Julia abaixou-se com dificuldade e estendeu os braços.

Mas ele não a abraçou.

John, com suas mãozinhas delicadas de criança, acariciou o braço machucado de Julia. A expressão em seus olhos grandes era de concentração e seriedade. Ele deslizou a mãos sobre cada ferimento e arranhão no braço de Julia.

No local onde ele tocava, a ferida cicatrizava.

Então o poder era esse: fator de cura.

Julia olhou boquiaberta para o que acontecia, incrédula. Nunca pensara muito na mutação do filho. Era um assunto delicado, impreciso e que traria preocupações desnecessárias. Sempre soubera que ele deveria desenvolver uma mutação, mas nunca pensara em qual ou quando o faria. E pegou-se de surpresa, afinal, manifestar poderes mutantes com quatro anos de idade parecia precoce demais. Mas, ainda assim, era uma mutação magnífica e muito linda.

Logan fitou o filho e em seguida Julia. Mutuamente, eles compartilhavam o mesmo olhar de surpresa e a mesma opinião. Cedo, porém, igualmente belo.

- É isso o que eu faço? Igual o olho do Tio Scott... Igual a Tia Kitty... A Tia Jean. – Perguntou John, parecendo admirado com o próprio trabalho.

Julia e Logan se abaixaram para encarar o menino simultaneamente.

- Escuta, John... – Começou Logan. – Você é diferente. Assim como o papai e a mamãe. Eu sou mais forte do que os outros e posso me curar. Sua mãe consegue saber o que os outros pensam. E você consegue curar os outros.

- Mas isso não nos faz diferentes. Somos como as outras pessoas. Isso nos torna apenas especiais. – Completou Julia. John acompanhava cada palavra com atenção, mas não parecia abalado.

Talvez, por crescer cercado de mutantes, John achasse aqui algo natural para ele. Sempre convivera num mundo habitado apenas por mutantes. Nada daquilo o afastava. Já Logan e Julia acharam melhor simplificar tudo o que podiam para John. Por exemplo, dizer a ele que não deveria se sentir mal pelo seu poder. Ele não deveria se tratar diferente. Além disso, acharam melhor não mostrar as garras de Logan a John. Elas, em geral, eram ameaçadoras demais para se mostrar a uma criança, de modo que julgaram melhor dizer a ele que a mutação do pai era a força e a cura.

- Eu sou especial? – Indagou John inocentemente.

- Você curou a mamãe... Seu poder é lindo, John. – Inferiu Logan, abraçando o filho.

- Claro que você é especial. Agora, que tal conversar com o Tio Charles? – Disse Julia, juntando-se ao abraço.

John saiu correndo e pegou uma bola de futebol, segurando-a com as duas mãos. Ele fitou os pais com o olhar teimoso e hesitante, como se aguardasse algo.

- Agora não quero ver o Tio Charles. – Decidiu John, parecendo tão teimoso quanto os pais o eram. – Tem mais uma coisa que eu quero mostrar.

Julia e Logan entreolharam-se, confusos. Hoje o dia estava perfeito para mudanças, pelo visto. Foi então que John segurou a bola de futebol firmemente em suas mãozinhas e fechou os olhos.

Subitamente, como se fosse a coisa mais simples do mundo, a bola de futebol foi mudando... O couro branco sujo foi se tornando prateado, como se a bola fosse se tornando metal gradativamente. Deveria estar pesada, mas John não se alterou nem um minuto.

- Deixa eu ver, filho. – Pediu Logan. Julia estava estupefata demais para esboçar qualquer reação além dessa.

John entregou a bola para o pai. Logan analisou o produto, como se a bola de futebol tivesse sido fundida em metal líquido. Os olhos de Logan correram de John, para a bola e em seguida para Julia.

- Ele transformou isso aqui em metal. Mas não é metal comum, é Adamantium


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