Wolverine: Uma História escrita por Tenebris


Capítulo 23
Realidade


Notas iniciais do capítulo

Notícia ruim pra vocês... Eu já terminei minha fic hoje mesmo. Isso significa que dentro de alguns dias eu já a terei postado inteira... Em alguns dias postarei o último capítulo. Sei lá, bateu uma tristeza, rs. :')



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Assim, no meio da madrugada, Logan adentrou o quarto de Julia. O médico dela, Finnick, fizera com que ele assinasse uma lista por mera formalidade e lhe deu orientações básicas sobre não tocar em assuntos doloridos ou elevar o tom de voz. Com amargura, Logan pensou que, em geral, as conversas com Julia sempre acabavam nisso. Mesmo assim, ficou inegavelmente feliz quando o Doutor Finnick o parabenizou pelo filho.

Primeiramente, Logan nunca gostara muito de ambientes fechados como os de hospitais. O quarto de Julia era de tamanho médio, com paredes azuis claras e o cheiro irritante de esterilização e álcool. Havia a cama, que era rodeada de aparelhos que ele mal sabia dizer o nome e uma poltrona de aparência desconfortável. Por fim, havia um armário no fundo da sala que provavelmente deveria conter remédios e coisas do tipo.

Ele caminhou até a cama e observou Julia.

Ela estava abatida, ainda com machucados recentes, embora estes estivessem relativamente melhores. Os cabelos ondulados e castanhos perderam um pouco de vida, e os olhos, em geral grandes e vívidos, estavam fechados e não lhe conferiam expressão. Além disso, estava mais pálida que de costume. Bom, felizmente, ela não respirava com a ajuda de aparelhos e estava fora de perigo, necessitando apenas se recuperar dos ferimentos. Depois, outros exames não relativos a isso teriam de ser feitos.

Mas, mesmo assim, Logan teve impressão de que Julia estava acordada e que sentia a presença dele. Era como se soubesse que o poder dela o sondava, ainda que não pudesse obter resultados mais claros nem penetrar sua mente. Ele aproximou-se o máximo que pode, pegando a mão dela que estava livre da agulha referente ao soro fisiológico.

- Você nem me contou... – Comentou ele, sentindo que precisava começar a conversa. Na verdade, sentiu como se estivesse em um monólogo consigo mesmo.

Julia abriu os olhos rapidamente, observando Logan com a expressão dura e ressentida. Fora como ele previra.

- Eu tentei. Mas, pelo visto, você estava ocupado demais. – Falou com a voz falha de quem pouco falara recentemente.

- Julia, precisamos conversar sobre isso. – Ponderou Logan, odiando a si mesmo por tudo o que fizera e não fizera.

- Ah, precisamos? Achei que você não parava em casa. Que não estivesse interessado nisso. – Ela completou com amargura.

Logan suspirou. Merecia ouvir cada palavra de ofensa que Julia pudesse pronunciar. Não negaria nada. Estava pronto para ser odiado por ela momentaneamente, mas também teria sua chance de ser ouvido.

Ele falou, desviando os olhos e mirando-os na parede vazia.

- Primeiramente, gostaria de pedir desculpas. Eu... Eu te amo, e sei que falhei. Agi contradizendo meus sentimentos. Agora, percebo que agi errado me afastando de você. Não era o que eu queria, apenas o fiz porque achei que estava te protegendo. Acho que... Agora entendo o significado... União.

-Está fazendo isso... Por causa do bebê? – Perguntou Julia, que ouvia tudo com atenção. Parecia triste e o tom de voz continha cautela, como se ela temesse pela resposta de Logan.

Mas ele respondeu depressa:

- Não. Ele apenas me fez ver o quanto estava errado me afastando de você. Não quero isso e nunca quis, agora, permanecerei com vocês dois. Não vou deixar você e o guri sozinhos.

Julia sorriu aliviada, de alguma forma. No fundo, ficara imensamente feliz por Logan compreender e admitir o erro. Ela saberia se ele estivesse ali por obrigação, e isso de fato não acontecia. Ele estava ali porque agora entendia que afastar-se não era nem nunca fora opção. Estava ali por finalmente entender que a união resolveria, como sempre estivera estabelecido. Estava ali porque a amava e amava o filho.

- Desculpas aceitas. Mas, você vai ter que me ouvir.

Embora fosse raro da parte de Logan admitir que estivera errado, Julia não lhe poupou uma bela bronca. Não parou de repetir que ela e Charles sempre estiveram corretos em relação ao afastamento dele. Bem como Logan, que não parava de pedir desculpas por tê-la ignorado e por ter fugido do problema e ficando longe dela. Enfim, eles se desculparam, se acertaram e prometeram vida nova daqui pra frente. Ninguém precisava ficar relembrando os acontecimentos passados ou os erros de cada um. Todos erravam, pois, ainda que mutantes, eram humanos também. Ninguém insistiria no erro e estes seriam esquecidos. Havia alguém a espera que fazia cada planejamento futuro valer à pena.

- Confesse. Você foi um idiota ao se afastar. Isso não resolveu nada e nós dois saímos machucados com essa história.

Logan concordou com um aceno de cabeça.

Julia continuou:

- Mas... Eu sei, você estava nervoso e desesperado. É compreensível que cometesse uma loucura. Enfim, quero que a gente esqueça tudo isso. Daqui pra frente, vida nova. Ninguém precisa relembrar nada.

Logan deu um beijo na testa de Julia, finalmente sentindo que estava quase livre de seu pesadelo.

- Eu concordo. Prometo não falhar de novo e...

- Shh... Chega de promessas, Logan. Não precisamos dela para continuarmos em frente. – Disse Julia, sorrindo. Não fora uma boa idéia. Os músculos de sua face estavam doloridos e enrijecidos de algum impacto no acidente.

- Eu finalmente entendo. E... Vou precisar da sua ajuda. Eu não sei como ser pai, e não vou falhar de novo. Eu nunca me imaginei assim, sabe...

Julia sorriu e acariciou o rosto de Logan. Um rosto esculpido pelo tempo e por batalhas, com a rara presença de família. Era normal que se sentisse nervoso. Nem ao menos Julia sabia como seria daqui pra frente, e sabia que contaria com a ajuda de Logan, dos X-Men e do Professor Charles. Sua fé a motivava e era seu combustível para não desistir. Diria o mesmo a Logan.

- Não se preocupe... – Disse ela. – Ninguém sabe como é... E eu nem preciso dizer a resposta para essa pergunta. Acho que... Você aprendeu.

Logan sorriu e imaginou o futuro. Cenas que ele nunca imaginara para si, mas que agora faziam perfeito sentido. Com fé e união, venceria todas as próximas batalhas de sua vil existência.

Assim, no transcorrer das semanas, Logan ficava no hospital sempre que podia, acompanhando os procedimentos médicos feitos em Julia. A maioria envolvia apenas limpar ferimentos e trocar bandagens. E além de fazer companhia a Julia, ele se certificava de que ela faria as refeições corretamente e se ela estava tomando as medicações.

Ela também recebia visitas freqüentes de seu pai Rudolph e dos outros X-Men. Até mesmo recebera um presente de uma animada Kitty!

- Um bebê lá na Mansão! Isso vai ser demais! – Exclamou Kitty, ao que Julia abria o embrulho. Eram sapatinhos brancos de bebê. O primeiro presente.

Julia agradeceu e não tardou até que outras visitas com mais presentes chegassem. Charles também a visitava com freqüência e mostrava-se prestativo, mas sempre com o bom senso e sabedorias característicos.

- Eu sei, vocês já são adultos. Mas devo dizer que não será fácil cuidar de um bebê. Estaremos disponíveis a ajudar. Está tudo bem, Julia? – Perguntou Charles, de repente ou não, lendo a mente de Julia.

A verdade era que ela estava preocupada. Agora que a vida do bebê estava fora de perigo, permitiu-se ficar tranqüila. Sem dúvidas, o pior já passara. Entretanto, com o nascimento do bebê, haveria mais uma forma de inimigos atingirem Julia e Logan. Tal qual utilizaram Julia como alvo para ferir Logan, poderiam usar o bebê contra ambos. A idéia era dolorosa demais até mesmo para ser pensada.

- Ele será um alvo dos nossos inimigos. Vão usá-lo contra mim e contra Logan. Do mesmo jeito que me atacaram para feri-lo. – Comentou Julia, pesarosa.

Não que nunca quisesse ser mãe. Ela sempre quisera ter filhos, mas reconhecia que tê-los sendo uma X-Men e fazendo o que ela fazia era muito perigoso. Não pensara por esse lado, e agora a realidade estava sendo atirada na sua frente e impossível de ser ignorada.

- Bom... – falou Charles, pensativo. – Obviamente ninguém pode saber da existência do bebê. Vamos manter isso em sigilo. Por enquanto, é o máximo que podemos fazer. Quando ele ou ela crescer, será treinado especificamente para se defender. Mas não teria como você ter um filho sem correr esse risco.

Julia assentira, conformada. Charles estava sendo de grande ajuda, e era óbvio que esses ataques não eram previsíveis. Da mesma forma, ninguém poderia evitar que acontecessem. Logicamente, Julia e Logan protegeriam o filho como leões protegendo seus filhotes, mas teriam de conviver com o risco iminente pairando sobre si.

Assim, passaram-se duas semanas.

Julia logo saiu do hospital e foi para a Mansão, onde todos já a aguardavam.

Ela teve uma surpresa ao sair do Opala Preto de Logan, estacionado no quintal, e encontrar a casa dele já reformada. Charles explicara que, ao saber da gravidez, providenciara tudo o mais rápido possível, temendo que pudesse haver dificuldades posteriores. A obra fora feita em ritmo acelerado. A primeira coisa que fez foi entrar na casa.

O quarto e a cozinha continuavam os mesmo, salvo o banheiro, agora maior e com pias e chuveiros novos. No novo cômodo, havia um simples berço branco. Com o tempo e com mais dinheiro, ela mobiliaria o resto e compraria os artigos de bebê. Não poderia jogar tudo nas costas de Xavier, afinal, ele já estava fazendo o bastante por eles.

Em seguida, foi para a Mansão e surpreendeu-se ao saber que Jean havia feito bolo para todos comemorarem. Foi um dia bastante agradável. E mais e mais semanas se passaram. Julia estava no quarto mês de gravidez, mas tomara uma importante decisão.

Conversando com Charles, decidiram de bom grado que era melhor ela e Logan ficarem longe de lutas por algum tempo. Assim, Julia trabalharia no escritório de advocacia de sua família até quando pudesse agüentar. Depois, tiraria licença maternidade. Logan, da mesma forma, se prontificara a arrumar um emprego de lenhador com alguma madeireira da cidade. Ele resistira um pouco a não entrar nas batalhas, mas acabou concordando. Com ambos trabalhando e longe de encrencas, seria mais fácil não correr risco de vida e também não chamar atenção de inimigos.

- Bom, é isso. – Finalizou Julia.

- Eu acho ótimo, você e Logan trabalhando por um tempo vai ser bom para não atrair nenhum inimigo. – Comentou Charles, sorrindo.

- Mas... Charles... Gostaria que me dissesse quanto devemos contribuir por mês para ajudar nas despesas. Não pode arcar com tudo sozinho. – Pediu Julia, sabendo assim que pronunciava essas palavras que Charles resistiria.

- Julia, é o Instituto que está arcando com tudo. Não somente eu. Além disso, seu bebê provavelmente será mutante. É meu dever zelar por ele como zelo por você, pelo Logan... – Comentou ele, franzindo a testa.

- Julia tem razão. – Interferiu Logan. – Nós vamos dar uma pequena contribuição por mês a você. Não é justo fazer tudo sozinho.

Charles franziu a testa, mas, depois de muita conversa, acabou concordando. Assim, uma parte do salário de Julia e Logan era depositada todo mês na conta da Mansão, de modo que eles podiam ajudar a cobrir as despesas relativas à chegada do bebê. Justo, pensava Julia. Ainda que não estivesse completamente satisfeita, ajudar Charles como podia lhe pareceu uma maneira adequada de retribuir toda a atenção que ele sempre tivera.

E, assim como previsto, logo Julia voltou ao escritório e Logan conseguiu o emprego de lenhador. Não pagava muito, mas era o que ele vinha fazendo desde o tempo em que passara no Canadá. E Julia ia ao médico sempre acompanhada de Logan. Às vezes era acompanhada também por Kitty, Rudolph ou Charles. Tudo ia ocorrendo bem durante a gravidez e logo, logo, o sexo do bebê poderia ser identificado. Logan não conseguia esconder a emoção em cada visita ao médico.

Não que todo seu lado animal e agressivo tivesse se dissipado, porque, obviamente, isso fazia parte dele. Houve apenas o acréscimo desse lado já paternal e protetor. Tudo isso fazia de Logan alguém único, com lados opostos convivendo em si mesmo, como o lado selvagem e o lado carinhoso. A paternidade lhe acrescentava tudo que a selvageria lhe tinha omitido: agora, ambos conviviam no mesmo homem misterioso.

Em relação aos X-Men, apesar da ausência de Julia e Logan, havia ocorrido poucos ataques e apenas acidentes isolados uma ou outra vez. Nenhum plano mirabolante da corja de Magneto e sua Irmandade. Tudo fora combatido com eficácia e pressa por eles.

Assim, em comum acordo, Julia e Logan decidiram os padrinhos do bebê. Kitty e Scott. Ela não escondeu a emoção e mimou o afilhado com mais presentes ainda.

- Eu me lembro de você cuidando de mim, Logan... – Comentou Kitty com indícios de lágrimas nos olhos.

Logan riu-se ao lembrar Kitty com 13 anos. Uma adolescente irritante, mas muito dedicada.

- Você me ensinou a usar espadas antes mesmo de eu usar sutiã! E agora, você vai ser pai! Ai meu Deus! – Concluiu ela, chorando.

Julia e Logan a abraçaram, sorrindo um para o outro.

Já Scott foi menos esfuziante, mas declarou de pronto que aceitaria e que seria uma honra. Ainda apostou que seria um menino. Ele ofereceu apoio a eles para tudo que precisassem.

Entretanto, nem tudo foi perfeito. Julia estava tendo desmaios freqüentes. Sentia-se fraca, tonta, com freqüência fraquejara ao andar e tivera que apoiar nas paredes. Rezou para que não fosse nada. Tentou esconder o fato de Logan para não preocupá-lo. Pretendia contar isso para o médico na próxima visita, mas não deu tempo. Logan não demorara a perceber e, como tinham consulta médica marcada para os próximos dias, não fazia sentido consultar outra pessoa além de Charles Xavier.

Assim, na manhã seguinte, Julia e Logan foram até uma sala especial acompanhados de Charles. Era uma espécie de continuação da enfermaria da Mansão, mas com mais aparatos tecnológicos. Charles fez uns exames em Julia e declarou:

- Tenho esses aparelhos médicos para examinar algum ferimento grave de emergência ou para analisar mutações. É bem útil.

Em seguida, levou Julia e Logan para seu escritório. Eles se sentaram de frente para o Professor, que cruzou as mãos como se pensasse no melhor modo de começar a discussão.

- Bem, Julia... Eu tenho uma notícia pra você e para o Logan.

Que não fosse nada ruim. Julia e Logan apenas desejaram isso.

- Calma! Está tudo bem! – Charles tranqüilizou-os ao ver a expressão de susto no rosto dos dois. – O fato é que, como eu já disse antes, estou quase certo de que o filho de vocês será mutante.

Julia e Logan se entreolharam, confusos. Havia a possibilidade de ele ser um humano normal? Bom, genética nunca fora o forte de Julia, muito menos o de Logan.

- Ele poderia ser normal? Sem mutações? – Indagou Logan, como se lesse os pensamentos de Julia.

- Bom, nada impede que ele seja normal, assim como nada impede que ele seja mutante. Não há regra.  – Comentou Charles cientificamente. Agora parecia mais do que nunca um professor.

- Então porque acha que ele será mutante? – Indagou Julia.

- Bom, Julia... Primeiro pelo fato de você e Logan serem mutantes poderosos. A mutação de vocês é basicamente nível cinco. Muito poderosa. Quando se juntam genes de mutantes como vocês, a probabilidade de vir um mutante é mais alta. Mas, além disso, mutantes precisam de muita energia para se desenvolver e sobreviver. O bebê busca essa energia da mãe. Por isso você está tendo desmaios freqüentes.

Julia e Logan compreendiam. Um olhar mútuo de entendimento se estabeleceu entre eles.

-Bom, então, por ser mutante, o bebê está sobrecarregando Julia. Ele precisa de mais energia do que ela pode dar. Mas qual é a mutação dele? – Indagou Logan.

Julia sentiu-se levemente ressentida pelo modo como Logan falara, como se jogasse a culpa sobre o bebê. Ele não tinha culpa de ter pais com genes poderosos.

Charles respirou fundo, como se escolhesse as palavras que usaria cuidadosamente.

- Bom, com certeza uma mutação aí. Mas não tenho como saber qual é. Provavelmente, algo inigualável e muito poderoso. Porque, realmente, está exigindo muito de você, Julia. E... Vai exigir cada vez mais.

Logan bufou, irritado:

- E o que podemos fazer?

Charles revirou os olhos, buscando alternativas. Mas até mesmo Julia sabia que nada podia ser feito até que o bebê de fato nascesse. Ele continuou:

- Eu não sei, talvez melhorar a alimentação, visitas médicas mais regulares. Não há outros meios. O bebê vai usar bastante energia e só vai parar quando estiver pronto pra nascer. Até lá, você, Julia, terá de ser forte. Eu acho... Que vai ser uma gravidez complicada


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