Eu não sei porque eu estou tão nervosa, mas eu estou. Minhas mãos estão tremendo e eu tenho que resistir à vontade de roer minhas unhas. Se bem que, não é tão difícil resistir, porque eu sei que se roer Audrey me mata. Nós estamos no carro de Audrey e ela está estacionando no lugar vago do estacionamento. O campo é do lado da escola, então nós podemos usar o estacionamento da escola também, mas todo mundo prefere botar no estacionamento do campo porque é mais fácil de tirar o carro depois. A gente saí de lá e Becky vem correndo na minha direção. Becky deixou os cabelos encaracolados soltos e está com uma saia junto com uma blusa folgada, bem bonita.

–Charlie! Como você está bonita! -Ela diz apontando para o meu vestido. Audrey e Jay realmente fizeram um bom trabalho. Ele está todo colorido e bonito, bem melhor do que a versão original, que eu não usaria nunca. -E o seu cabelo! -Ela exclama, um pouco animada demais, mas eu acho que é o nervosismo que deixa as pessoas assim.

–Eu sei! Como você está bonita, quase nunca te vejo com o cabelo solto! -Eu digo, e a gente começa a pular e dar gritinhos animados na frente dos meus melhores amigos, que estão olhando pra gente como se a gente fosse um bando de loucas.

–Oi, Becky. -Os dois dizem e ela acena e começa a me puxar para o lado, para sussurrar no meu ouvido, enquanto nós quatro vamos entrando no campo.

–Connor me chamou para sair! -Eu dou um grito de felicidade e abraço ela, pulando toda hora.

–Que bom, Becky! Eu sabia que ele gostava de você! -Eu digo e ela abre um sorriso enorme, de orelha a orelha. Assim que o campo entra no nosso campo de visão, eu me deparo com meu queixo caído lá embaixo. Esse lugar está o máximo! O campo tem uns duzentos metros de comprimento e largura e é rodeado por árvores altas e densas, que dão um ar sombrio pra floresta. Na clareira, tem vários fios de luz enrolados em algumas árvores no meio do campo, e pisca-piscas reluzindo em todo o perímetro do campo. Alguém botou algumas toras de madeira ao redor da grande fogueira no centro do campo, e eu vejo várias pessoas sentadas nos troncos das árvores. No sul, tem uma mesa enorme, cheia de pizzas (fico me perguntando da onde eles arranjam tanto dinheiro pra comprar essas coisas) e refrigerantes. No norte tem algumas caixas de som e Peter Knight está remixando algumas músicas legais. A lua lá em cima deixa tudo mais bonito e isso aqui realmente parece um conto de fadas. Estou nas nuvens. -Ah meu Deus.

–Eu sei. É meio incrível que eles tenham arranjado tanta verba pra fazer isso aqui, mas valeu totalmente a pena não é? -Becky responde, me puxando para sentar no chão perto da fogueira e eu tiro o casaco, sabendo que daqui a pouco vai ficar calor.

–Estou engordando só de ver. -Jay diz e a gente ri. Audrey e Jay sentam um do lado do outro, no nosso lado e nós ficamos encarando o lugar por alguns segundos, depois Becky acha Connor e vai para o lado dele, que dá beijinho super envergonhado nela e eu quase choro de tão fofinhos que eles são juntos. Audrey acha Tommy e vai para o lado dele, só que eles não beijam, porque Tommy ainda não tomou iniciativa (o que quer dizer que Audrey já, já vai tomar). Eles só conversam animadamente. Jay vem para o meu lado.

–Ei você já falou com Benjamin? -Eu pergunto, curiosa. Ele cora!

–Já, ele me ligou ontem, no intervalo.

–Que fofinho!

–Eu sei!

–Gostou dele?

–Óbvio.

–Só porque ele é rico? Meu Deus, Jay! -Eu brinco e ele ri, depois vê alguém e fica sério. Quando eu sigo seu olhar, me deparo com Ray e meu coração para. Ele está com um Converse assim como eu, uma bermuda e uma camiseta de gola v que dói o coração de tão boa que fica nele. Ele está lindo. Quando eu olho pra ele, ele tira o olhar de Jay e olha pra mim, e a gente fica se encarando por alguns minutos se parecem horas. Eu até me esqueço que eu devia estar brava com ele, mas parece que ele também não liga muito pra isso, porque ele dá um sorrisinho que derrete o meu coração. Eu fico lá, sorrindo também, com cara de tapada e idiota e só paro de sorrir quando Jay grita que não posso babar porque o gloss vai sair. Eu aceno pra ele, toda bobinha, é claro, mas então eu vejo Samantha se aproximando dele. Quando isso acontece, eu viro o rosto antes de ver a boca nojenta dela beijando ele. Eu viro pra ver as amiguinhas megeras dela rindo e eu sinto o sangue subir a cabeça.

E então eu percebo uma coisa.

Samantha só pode estar com ele pra me provocar. Quer dizer, eu já tinha percebido isso antes, mas agora que caiu a ficha. E eu não acredito! Se ela gostasse dele até tudo bem, mas não, ela não gosta dele. E se ele gostasse dela... ela só ia magoar Ray. Vaca! Eu me levanto com raiva e preparada pra falar umas poucas e boas pra ela; não quero socar ela hoje nem nada (ainda bem que ela não falou pra polícia que eu dei um soco nela), hoje, eu só quero falar tudo que eu quero falar desde que eu botei os olhos nela. Ela está do lado de Ray e eu estou na metade do caminho quando vejo Tommy se ajoelhando bem no meio da clareira e na frente de Audrey. Na mesma hora eu paro de andar e corro até onde Audrey está. Tommy está vermelho e provavelmente morrendo de vergonha porque suas mãos estão tremendo tanto quanto as minhas. Ele não vai...

–Audrey Montgomery, eu sei que você nunca aceitaria meu pedido se eu pedisse normalmente, então... -OMFFG. OMFFG. Eu estou tremendo tanto quando ele e eu sei que meu rosto está que nem o de Audrey e muitas outras pessoas, chocadas e surpresas. Meu Deus. Ele não vai fazer o que eu estou pensando que ele vai fazer, não é? -Você quer sair comigo?

É. Ele realmente não fez o que pensava que ele ia fazer. Pelo amor de Deus eu achei que ele ia pedir ela em casamento! OMG. Todo mundo começa a rir e ela segura e aperta meu braço, sorrindo de orelha a orelha.

–Demorou, porquê? -Então os aplausos explodem e todo mundo assobia e grita "ah" e "awn" para eles, enquanto ele abraça ela e gira Audrey bem rápido. Depois ela me olha e dá um gritinho, e a gente fez que nem eu e Becky fizemos na entrada do campo, nós pulamos e gritamos tudo ao mesmo tempo, e eu consigo ouvir as pessoas rindo da gente, mas eu estou tão feliz por ela, ver a expressão feliz dela que eu nem ligo. -Charlie! AH! Eu não acredito!

–Eu sei!

–Ei, posso falar com você? -Alguém fala e eu me viro para ver Ray parado, um pouco nervoso também. Na mesma hora meu coração começa a disparar. Ou ele para de bater, parece a mesma coisa.

–C-claro. -Eu digo e Audrey me empurra pra ele gritando um "agarra ele, garota" e eu tropeço e Ray me segura e eu fico algumas horas encarando os olhos dele (mentira, foram alguns segundos, porém pareceram horas). Ele me bota no chão e nós vamos em direção da clareira, meu nervosismo aumentando. Mas, para o meu choque, Mrs. Goode aparece junto e eu escuto Samantha chegando também e gritando um "meu amor!" para Ray.

Sacanagem!

Bem, pelo menos vou poder falar as coisas na cara dela agora.

–Charlotte. -Mrs. Goode balança a cabeça, como se dissesse "oi". Eu aceno pra ela, e Samantha me analisa.

–Não veio com o óculos porque pirralha? -Na mesma hora eu sinto o sangue subir, mas me controlo e digo, ignorando o olhar de Mrs. Goode e Ray:

–E aquele soco, Samantha? Doendo muito?

–Ah você vai ver...

–Ms. Brown, por favor. -Mrs. Goode fala e Samantha faz cara de nojo, mas cala a boca.

–Mrs. Goode, porque eu estou aqui? Eu não quero ver Samantha beijando Ray ou tirando sarro da minha cara, por favor.

–Mas que droga, Charlie! Eu não estou namorando ela! -De novo isso? Qual é.

–Charlotte, não é o que você pensa. Eu chamei Samantha aqui porque ela lhe deve desculpas.

–Além de acabar com a minha vida, o que exatamente ela fez para mim?

–Eu não fiz nada! -Ela disse. Mrs. Goode chega mais perto de mim, para falar só comigo.

–Ela acabou descobrindo sobre você. Você sabe... Sobre Madim. -Eu sinto meu sangue descer ou simplesmente sumir. Então era ela mesmo que me mandou aquela mensagem.

–Como? -Eu pergunto olhando para Samantha, que tenta chegar perto de Ray, mas ele desvia.

–Ela te seguiu um dia até a redação.

–Filha da mãe! -Eu grito e me viro para ela. -Você é uma baita de uma megera, sabia disso? -Eu simplesmente estou furiosa demais!

–Charlotte, sem baixar o nível, deixe me terminar.

–Ela vai contar pra todo mundo, Mrs. Goode! Eu estou acabada! Urgh!

O pior é que aí as lágrimas de raiva já estão saindo e eu fico com mais raiva ainda então cada vez mais lágrimas saem.

–Ela não vai. -Ray fala, se botando entre eu e Samantha.

–Como você sabe? -Eu pergunto, mais desesperada do que furiosa, já que, bem, estou falando com Ray. Se bem que, eu devia estar furiosa, já que ele está protegendo ela.

–Porque se ela fizer isso, o diretor já tem uma carta de suspensão e alguns dias de detenção programados pra ela. -Mrs. Goode diz e eu sinto uma onda de alívio percorrer meu corpo. -Agora, Samantha... -Samantha faz outra cara de nojo e parece que vai vomitar quando fala:

–Desculpe, pirralha. -Por favor, Deus, jogue uma câmera de vídeo do céu direto nas minhas mãos! Dito isso, Mrs. Goode puxa ela pela manga do casaco e sai de lá com cara de quem está furiosa com Samantha.

–Eu ainda não entendi porque ela me pediu desculpas. Foi um momento único, eu sei, mas... qualquer um pode me seguir e descobrir... -Eu pergunto para Ray, que está parado na minha frente. Ele bota a mão nos bolsos da bermuda.

–Ela estava me chantageando. Ela disse que falaria pra todo mundo que você era a Madim da coluna se eu não dissesse pra todo mundo que estávamos namorando. É, ela é bem perturbada da cabeça. Porque ela fez isso eu não sei...

Eu não sei se eu quero morrer ou me enterrar no chão. Agora tudo faz sentido. Meu Deus. Ele não gostava dela, ele estava fazendo tudo aquilo pra me proteger. Acho que acabei de me apaixonar por ele de novo. Isso quer dizer que... eu tenho uma chance com ele.

–Eu sei. -Eu sussurro. Ele me olha surpreso e confuso.

–Porque então?

Quer saber, eu nunca pensei que eu precisaria da ajuda de Samantha pra me declarar para Ray, mas eu tenho que dizer um "obrigada" à ela depois. Porque eu estou aqui, prestes a me declarar para o garoto que eu estou apaixonada, e sabe de uma coisa? Eu não estou com vergonha. Nem com medo. Nem nada. Eu não quero mais esconder isso, e é com muito orgulho que eu abro a boca para falar:

–Porque eu estou apaixonada por você.

Ok. Meu orgulho foi embora depois que eu disse isso, porque a cara de choque de Ray me faz ter alguns mini ataques cardíacos e eu paro de respirar. Mas quando ele demora mais de vinte segundos para falar eu sou obrigada a respirar de novo, porque senão vou morrer, mas eu sinto que já estou morrendo e vou continuar morrendo até ele falar alguma coisa.

–Ok. Isso está ficando esquisito. É... -Eu tento pensar em algo para falar mais não me vem nada na cabeça e eu sinto meu rosto ficando vermelho.

–Você acabou de dizer que é apaixonada por mim?

–É bem, -Eu bufo, meio nervosa enquanto ele chega mais perto, para ouvir melhor - Desde o ano passado. Mas aí você começou a "namorar" Samantha e eu meio que perdi as esperanças de ser correspondida e...

–Mas e Jay? -Ele pergunta. Quê?

–O que tem Jay?

–Bem, primeiro eu achei que você gostava dele...

–Espera. Jay é gay, Ray. -Essa foi a frase mais engraçada que eu já falei, sonoramente falando. Estou com vontade de rir.

–O quê?!

–É, tipo, super gay. -Eu nem estou mais consciente do que eu estou falando, acho que meu corpo vai isso quando eu estou passando vergonha. Qual é, eu acabei de dizer que sou apaixonada por ele e ele pergunta por Jay? Só o que me falta ele ser gay também.

–Eu achei que vocês estavam namorando.

–Eca!

–E depois você aparece namorando Benjamin McCoy.

–Ah não, ele também é gay. Eu só estava dando uma de namorada de mentira para os pais dele não desconfiarem que ele é gay.

–Qual é a sua com gays, hein?

–Eles me amam. -Eu digo, brincando nervosa.

–Eu também.

Calma.

Espera aí.

Ele....?

–Você acabou de dizer que me ama. -Eu dou um passo em sua direção. Ele passa a mão pelo cabelo e fica tão vermelho quanto eu.

SOS.

OMG.

–Eu te amo.

Meu mundo para. Meu Deus. Ele me ama.

Ele me ama.

Ele. Me. Ama.

Eu não posso acreditar.

Eu chego perto dele e faço a coisa mais ridícula que alguém pode imaginar.

Eu... abraço ele. Oi?

Eu enterro o rosto no peito dele e começo a rir da minha cara, me sentindo vermelha até demais. Ele levanta minha cabeça e me olha confuso, passando os braços pelas minhas costas.

–Eu queria beijar você, mas meu corpo acabou te abraçando. -Eu digo, ainda rindo que nem uma louca e no fim ele começa a rir também. E as coisas ficam em câmera lenta quando o rosto dele começa a ficar cada vez mais perto do meu.

E então ele me beija.

E eu não sei se os sons dos fogos de artifício são da minha cabeça ou reais mesmo, mas eu escuto eles explodirem assim que os lábios de Ray tocam os meus.

Acho que a gente fica se beijando por muito tempo. Muito mesmo. Ele me aperta contra ele e eu fico na ponta dos pés, e pela primeira vez em muito tempo, eu me sinto feliz.

Feliz como eu não estive por muito tempo. Como se tudo estivesse bem, finalmente. Como se eu tivesse achado aquilo que eu nem sabia que estava procurando. Eu só estou extremamente feliz, como se meu coração fosse explodir.

Quando a gente se separa, sorri um para o outro, e ele me abraça de novo, me dando espaço para ver as pessoas no campo. E é com surpresa que eu vejo Benjamin McCoy aqui e agora, conversando com Audrey e Jay. Ele sorri quando me vê e acena, e eu faço isso também. Olho para Ray, que aparentemente já viu Ben também.

–E aí, quer conhecer meu namorado de mentira? -Ele ri.

–Só se você apresentar para ele seu namorado de verdade.

E ele me beija de novo.

Dúvidas e questões sobre relacionamentos? Pergunte à Madim!

Todos os nomes são protegidos para manter o anonimato dos autores.

Essa coluna pertence à Rixon High School.

Querida Madim,

Então, eu e esse garoto, nós finalmente estamos juntos... e agora?

Querida,

Você vive o seu felizes para sempre.

Com amor, Madim.