The Helper escrita por loliveira


Capítulo 19
Bancando a Barbie




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Os fogos são amanhã. 

Isso significa que eu tenho que escrever o artigo sobre amanhã. E tenho que achar alguma coisa bonita pra vestir! 

-Jay, o que eu vou fazer? -Eu pergunto, desesperada, olhando para a pilha de vestidos. 

-Você vai provar esses vestidos. 

Isso é o bom de ter um amigo gay como Jay. Ele nunca te deixaria passar vergonha usando um lixo. E o jeito com que ele falou foi autoritário, o que quer dizer que ele não está sugerindo. Ele está mandando. Eu pego um roxo primeiro, que eu ganhei da minha mãe há uns três anos, mas que na época ficou enorme, e vou para o banheiro provar ele. 

-Ei, porque você não pinta o cabelo? -Ele pergunta curioso e eu quase tenho um troço. Acho que minha mãe me mataria. 

-Não sei se a minha mãe ia deixar. 

-Ah! Estou tão animado! Posso pegar esse caderno de matemática, rapidinho? Preciso anotar umas coisas. 

-Claro. -Acho que ele vai anotar todos os produtos que vai querer que eu use amanhã. Quando a escola faz a noite dos Fogos, de manhã nós não temos aula, porque os professores ficam arrumando as coisas para deixar o campo onde a gente fica, "apresentável"; então estou prevendo que amanhã vou ser alvo das loucuras de Jay. Eu visto o vestido e saio do banheiro, parando na frente dele e dando um giro. Ele olha critico, como se estivesse avaliando o vestido da Primeira Dama. 

-Não. Tenta outro. -Eu pego outro e visto, esse é meio apertado, porque faz um tempão que eu não o uso, mas ainda sim, é bonitinho. Amarelo com florezinhas vermelhas que vai até o joelho. Eu gosto porque parece antigo. 

-Garota, você não vai à uma convenção Elisabeth Taylor. Bota outro. -Às vezes eu acho que Jay daria um ótimo apresentador de programas de moda.  Eu visto mais uns cinco, e em todos eles Jay bota algum defeito. Eu gosto de todos, mas aparentemente, não são apropriados para uma jovem moça como eu (Jay fala tão antiquadamente que eu tenho medo de ficar velha só de ouvir as palavras que ele fala). 

Ele continua anotando e então eu percebo alguns hematomas no braço dele, meu coração aperta. Eu ainda tenho vontade de matar o bêbado babaca que bateu nele. Jay parece estar melhor, mas ele ainda não fala daquilo ou do pai dele. A noite, quando ele está deitado no colchão do lado da minha cama, eu fico pensando se eu deveria perguntar pra ele ou não, sobre essas coisas que estão acontecendo. Eu falei com minha mãe e ela disse que eu não posso pressionar ele, mas ao mesmo tempo ele não pode guardar tudo para ele mesmo. Jay sempre parece bem, mas ele anda quieto e meio abalado e eu não sei se é hora de perguntar ou não. 

Eu boto um vestido simples de tecido branco, sem muito fru-fru nem nada, que vai até os joelhos e não tem estampa nenhuma. Eu não gosto muito, mas quando olho para Jay, eu sei que ele amou. 

-Sério? De todos os vestidos esse aqui você gostou? Nem o de três mil dólares que Benjamin me deu? Fala sério, você disse que tinha bom gosto, Jay!  -Eu tento persuadir ele, mas a expressão dele não muda nem um pouquinho. 

-Charlie, liga pra Audrey por favor. -Ele parece hipnotizado, e eu estou ficando com medo, porque ele nem pisca. Pego meu celular, mas quando eu vou discar o número de Audrey, o nome dela aparece na tela do meu celular. 

-Ei! Sua vidente! Eu ia ligar pra você agora mesmo! -Mas minha animação desaparece quando eu escuto os soluços dela. -Audrey, o que aconteceu? Está tudo bem?

-Charlie, eu sei que Jay está aí, mas... posso morar com você um tempinho também? 

Eu quase morro do coração. Ela continua chorando bastante enquanto explica porque ela não quer mais ficar em casa. Ela finalmente contou para a mãe dela sobre o cara, e a mãe dela tentou convencer Audrey a não contar para Mr. Montgomery, mas o que elas não sabiam é que ele estava escutando tudo. Então ele entrou na sala, gritando como um louco, e eles começaram a brigar. Então Audrey surtou e começou a chorar feito uma louca, mas aí a mãe dela começou a gritar com ela por motivos desconhecidos e ela não aguentou e se trancou no quarto. Ela fica alguns minutos implorando pelo celular, enquanto eu peço pra minha mãe. 

Minha mãe não gosta muito da ideia de ter mais uma boca para alimentar, mas ela conhece e ama Jay e Audrey então no fim acho que ela acaba deixando. Audrey chora de alívio e então eu lembro que Jay queria falar com ela. 

-Ei, A, Jay quer falar com você. -Eu passo o telefone para ele e ele corre para o banheiro, fazendo uma cara sacana pra mim e depois uma cara de preocupação quando pergunta para Audrey o que tinha acontecido. Eles ficam conversando por uns dez minutos e enquanto isso eu vou guardando os outros vestidos rejeitados (Até o mega-super-lindo-caríssimo vestido do Ben). 

Quinze minutos depois, Audrey aparece com três malas cheias de roupa, travesseiros e livros da escola (pra adicionar ao monte de livros e cadernos da escola meus e de Jay). Mas o que mais me chama atenção são as tintas para tecido e a tintura loira para cabelo que ainda está com o preço da farmácia. Audrey joga tudo no chão e vem correndo me abraçar, chorando. Jay não aguenta e começa a chorar também. Então ficamos nós três chorando, por diversos motivos diferentes. A gente senta na minha cama, tirando tudo de cima dela e fica encarando os rostos vermelhos e inchados uns dos outros. 

-Como você está? -Eu pergunto para Audrey. 

-Eu sinto como se eles não me amassem. -Ela volta a chorar mais ainda. 

-Eles te amam sim, só que às vezes eles estão ocupados se odiando pra mostrar que te amam.

-Mas eles ficam ocupados a vida toda. -Ela resmunga e limpa as lágrimas. -Jay, você está bem também? 

-Meu pai me odeia. -Nós três voltamos a chorar. Nossos choros são esquisitos e parece que a gente está morrendo de ataque cardíaco, mas cada vez que a gente olha um pro outro, a vontade de chorar volta. 

-Então você não precisa dele. Você tem a gente. -Eu digo pra ele, o abraçando de lado. -Vai ficar tudo bem. Pra vocês dois. Pra nós três. Acho que a única coisa que a gente não pode fazer é perder a esperança. Vai ficar tudo bem. -Eu fico repetindo. Não sei porque eu me inclui nesse grupo, mas eu sinto que eu precisava.

-Ninguém precisa de pais idiotas quando se tem melhores amigos. -Audrey diz, limpando de novo as lágrimas e levantando o dedo mindinho. Jay sorri um pouquinho e enrosca o dedo no dela. Eu faço a mesma coisa e a gente fica fazendo uma guerrinha de dedinhos até eu conseguir machucar o dedo de Jay. -Eu amo vocês. 

-A gente também te ama. -Eu e Jay dizemos ao mesmo tempo e abraçamos ela. Depois, quando nós nos soltamos, ficamos encarando a cara um do outro, e começamos a rir. É até engraçado, porque a cinco minutos atrás a gente estava chorando nossos olhos fora. Eu olho para Audrey e a gente fica séria por dois segundos antes de começar a rir de novo e Jay fica reprimindo um sorriso, mas acaba dando risadas de novo. Não são nem risadas, são gargalhadas. E eu estou até agora tentando entender porque a gente está rindo, mas isso torna tudo mais engraçado ainda. Jay levanta.

-Vamos, temos que nos preparar pra amanhã.

-Ei pra que as tintas? -Eu pergunto, curiosa, a dor na garganta por causa da risada passando aos poucos. 

-Nós vamos pintar o seu vestido. 

-E o seu cabelo. -Audrey acrescenta. 

-Ei! Eu não quero pintar meu cabelo! -Audrey faz um biquinho, mas ela sabe que eu estou falando sério. 

-Ok. Tenho uma proposta. Vamos fazer uma mecha no nosso cabelo. Ah por favor, só pra eu não ter jogado dinheiro fora! 

-Mas você é rica. -Jay opina. -Mas eu gostei, também quero uma. 

-Bem, eu era rica, agora acho que meus pais me tiraram a herança. 

-Vou te visitar quando você for morar embaixo da ponte. 

-Se eu for, você vai junto idiota. -Ela diz pra mim, e depois fica esperando minha resposta. Eu faço cara de que penso um monte.

-Ok. -Os dois soltam gritinhos.

-Audrey, comece com a estampa do vestido, enquanto eu faço a mecha na Charlie, depois você faz a mecha e eu termino o vestido. -Jay diz, autoritário e Audrey levanta, bate continência e sai para pegar as tintas. Eu abro a janela e ligo o som enquanto Jay me leva pro banheiro, pra fazer a mecha loira. Tenho que confessar que eu estou um pouquinho nervosa. São muitas mudanças pra um dia só. 

Apesar de não ter durado muito, toda aquela choradeira foi boa. Eu me sinto revigorada. Não estou tão mal por causa de Ray, eu ainda estou mal pra caramba e não aguento ver ele e Samantha juntos, mas eu acho que isso me deu esperanças de que - se eles conseguem ficar bem, eu também fico. Jay está com uma cara bem melhor agora e eu só rezo pra que ele volte a ficar como era antes. Todo maluco e idiota. Audrey vai superar isso bem rápido, eu aposto. Ela é durona afinal. 

Acho que nós ficamos nessa rotina até a madrugada. Cada um faz a sua mecha e fica com aquele papel alumínio no cabelo, que serve de motivo de piada pra qualquer um fazer gracinha um com o outro. O vestido - que vai ficar lindo, como Audrey prometeu - está sendo pintado do jeito mais pirado que eu já vi. Jay pega uma esponja e molha na tinta depois vai passando por toda a extensão do vestido, lá embaixo. Audrey fez algumas coisas atrás e eles estão usando todas as cores possíveis (eu só quero ver na hora de limpar meu quarto, quem vai ficar com essa missão). A gente fica dançando e cantando umas músicas bem velhas que passam na rádio também, porque eu botei na estação de músicas dos anos noventa. De vez em quando, quando passa alguma música trilha sonora da adolescência dos meus pais, ou meu pai ou minha mãe entram no quarto e ficam cantando a música também, pra alegria de Audrey e Jay e pra minha vergonha. 

Dúvidas e questões sobre relacionamentos? Pergunte à Madim!

Todos os nomes são protegidos para manter o anonimato dos autores.

Essa coluna pertence à Rixon High School.

Querida Madim, 

Os Fogos estão chegando. Você acha que é uma boa eu levar meu namorado de fora da escola pra lá? E se ele achar alguma das minhas amigas mais bonita do que eu?! Se ele souber que os Fogos passaram e eu não convidei ele, acho que ele vai ficar muito bravo, mas eu estou com medo de que ele não goste de alguma das minhas amigas ou goste até demais. O que eu faço?

Querida, 

Você  precisa confiar nele! Se ele está com você, é porque ele te ama. Não porque ele só está esperando pra achar alguém melhor. Ele ama você e eu acho que você precisa dar uma chance à ele. Leva ele... porque não? Vai mostrar que você confia nele e você vai ter a chance de ver se ele realmente ama você. Espero ter ajudado, 

Com amor, Madim. 

A última coisa que eu vejo antes de dormir é o rosto todo colorido pela tinta de Audrey, uma mecha loira no meu cabelo e  Jay babando com a boca aberta do meu lado. 


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Notas finais do capítulo

O que acharam? Amanhã tem o último capítulo (tirando o epílogo ou sei lá o quê)! OMG! Nunca achei que eu ia chegar tão longe gente, vou chorar!



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