Jogo De Ideias escrita por Melo


Capítulo 11
As cores do céu embriagado


Notas iniciais do capítulo

Ahhh >.< até que fim consegui escrever otro capítulo! Desculpa pela demora....mas é que os capítulos levam tempo para escreve-los.....

Pss: não me responsabilizo por erros gramaticais de português.

Pss 2: Boa leitura ^ ^!



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As cores do céu embriagado

Fiquei olhando e entreolhando a aquela silhueta que tinha na minha frente, neste dia nada mais que frequente. De frente, nesta manha que apenas acordava, com aquela fisionomia que eu tanto reconhecia e o seu corpo de bom grado ao meu lado. As suas bochechas coravam de leve nessa manha que apenas acordava, enquanto que o seu corpo permanecia ainda espreguiçado na cama, neste ato de não querer acordar todavia.

Permaneci ao seu lado, apoiado ao seu corpo, no ato de também não querer acordar todavia. Ou era na verdade, no ato de não querer sair ainda do seu lado. Enquanto deitado, ainda tinha os cobertores ao meu lado e o seu rosto de bom grado. Enquanto nos espreguiçávamos nesse dia que apenas começava, permaneci ao seu lado num ato de bom grado. E simplesmente acordar para mais uma rotina da vida e logo perceber que acordamos para mais um dia. Esse simples ato de abrir os olhos e ver a mesma realidade, a exata que tanto conhecemos e que estamos tão acostumados. Abrir os olhos e perceber a mesma realidade de ontem, que não muda e que não mudou, porque continuamos vivos. E a nossa vida continua do mesmo jeito, com os mesmos hábitos e com os mesmos trabalhos. Com as mesmas expectativas e as mesmas expectativas que esperam de nos. E assim continua: dia trás dia. Apenas acordamos para estar em mais um destes estranhos dias. Para testemunhar as coisas que fazemos e que deixamos de fazer. Para testemunhar as tantas coisas deste mundo; para testemunhar este mundo de contrastes. Não sei se tudo isso apenas se trata de uma má piada, mas talvez acordamos para fazer apenas parte deste mundo (e ser apenas mais um ser biótico entre as tantas formas de vida) ou será acordamos para ser apenas testemunhas deste complexo  mundo? E mesmo assim, continuamos com as nossas vidas sem saber ao certo quando tudo isso termina. Apenas estamos no meio disto tudo, no passo por acaso. No acaso de cada passo, neste mundo de tantos traços. O ser humano vai passo a passo como uma praga no seu encalço. E mesmo assim tudo continua com o seu peculiar compasso, em cada traço, em cada pedaço; indo, agindo e reagindo, criando e transformando: a vida continua em andamento com o seus contínuos acontecimentos.  E pensar que fazemos parte disto.  Esse simples ato de abrir os olhos e perceber que a vida continua do seu jeito... que a vida continua em andamento e que logo não passa de um mero passatempo. Com o qual gastamos o nosso tempo com preocupações tão banais quanto necessárias para fugir-nos de nós mesmos e emergir nas futilidades cotidianas e esquecer-nos da própria vida. E não podemos fazer mais nada, a não ser agir como sempre agimos dentro do banal transcurso da sociedade e atuar simplesmente como sempre fizemos... Sim, a vida continua do seu mesmo jeito.

Apenas estava muito cedo para começar tudo isso. Acordar mais um dia e agir sem nenhuma mudança consciente. Correspondente com outro dia não muito diferente. Queria apenas não começar esse dia todavia. E poder me espreguiçar um pouco mais na cama numa tentativa. E deixar para mais tarde esse dia de hoje. Deitar um pouco mais, jogar-me na cama sem pensar em mais nada, nem no sol que teimava em entrar pela janela entreaberta. Bendita janela aberta que deixava entrar os raios de sol sem remorso e piedade. Recordando-me do novo do mal bem dito dia, com cada partícula de luz que caia no meu rosto. Fazendo apenas o oposto dos meus pensamentos maldispostos. Iluminando tudo o que estava no meu campo de visão receoso. Todo o que era esse espaço bagunçado do que devia ser o nosso quarto estrampalhado. Mostrando indevidamente as coisas esparzidas no chão, entre as tantas e tantas coisas que não deviam estar ai, como as minhas roupas (já amassadas), telas, lápis de cor, cadernos, os meus livros, os desenhos da Anne, os seus sprays, o despertador caído no chão e muitas e outras coisas que não deviam estar ai como o nosso cobertor que teimava em lamber o chão. Percebi então o desafio que tínhamos criado para chegar ate a porta com toda esta bagunça. Bela forma de vida, pensei ironicamente. E Anne simplesmente não se importava com aquilo. Apenas jogávamos as coisas, entre livros e roupas, lápis e cadernos no amontoado de coisas que já estavam postos no chão disposto. E tudo fazia parte da bagunça, colocado de forma tão deliberante e ao mesmo tempo cuidadosa que criava a impressão de que as coisas não foram jogadas propositalmente no chão, mas que tinham sido jogadas de forma tão analisado que parecia que o seu lugar sempre fosse o chão. E era no meio da bagunça que ficavam as nossas coisas. Deliberadamente colocadas neste emaranhado de coisa toda. No mar de mix de cores e diferentes objetos, entre os meus e os dela. E observei, com a tênue luz que vinha da janela, os tantos dos seus esboços, lápis e cores ao lado de uma caixa de madeira que tinha mais utensílios dentro. Percebi que tudo o que Anne fazia era por causa de alguma arte, que os seus atos eram movidos pelo o que ela chamava de “arte”. “Arte” que eu não compreendia....a faculdade já me deixava com muitas coisas na cabeça para pensar em “arte”...  A mesma arte que não me ajudaria em nada nas aulas de Calculo, ao não ser na arte de dar dor de cabeça.  Droga. Tinha esquecido já da Iniciação Científica. E como era possível que a Anne pudesse dormir tão tranquilamente? Deixar apenas o seu corpo relaxar sem se preocupar á mínima como o dia a dia. E maldita seja: os meus pensamentos não me deixavam dormir outra vez. Esse ato de pensar, de forma incessante, como se a mente nunca parasse de funcionar e me perturbar, constantemente, elaborando e refutando ideias que na mínima não tem uma utilidade prática no dia á dia. Então para que me servem estes pensamentos? Se não me servem para nada? Apenas tornam o tédio do tempo passar de forma mais rápida. Como se eu quisesse que o tempo transcorresse mais rápido, mas do que já é... Para que no fim se perceba de forma trágica a minha incompetência de utilizar o tempo de forma mais útil. Como se não passasse igual, de toda forma. Apenas me assusta perceber que passamos a maioria do nosso tempo vegetando a custa de nossas ilusões simplórias que não abarcam nada a nossa vida e assim fagocitamos de forma tão trágica os segundos e os minutos do tempo que não passa mais que uma má piada do destino. O mesmo, que leva os meus pensamentos num trágico detrimento e deixa sem culpa o que eu faço, cada ato, cada atitude para o eterno Alzerhimer... do tempo.  

O tempo que leva sem preconceito os acontecimentos no esquecimento. O que resta são os fragmentos em andamento. Mas se não for pelo mesmo envolvimento, do espaço/tempo, não há o cumprimento dos acontecimentos. E sem o tempo, não há acontecimentos. Então, como irei sentir os teus beijos embriagantes nesse ato meramente arrogante? E é somente porque o tempo existe, que as minhas ações vem à tona á realidade e deixam de serem apenas pensamentos descontínuos deste fluxo neuronal secundário.

Éh... é apesar de tudo, o dia apenas começava.

Olhei de novo para a janela entreaberta; essas tênues partículas de luz entrando entre as fretas abertas, iluminado de forma vaga o quarto e a silhueta do corpo ao meu lado. A luz se refletia obliquamente no corpo opaco, iluminado suavemente o contorno do seu corpo branco. E levemente a luz incidia sobre a sua pele clara, enfocando-se na pele descoberta do seu braço, clareando o que era a superfície nítida da pele contínua e denunciando assim a biologia genuína ao apresentar uma imagem dos loiros fios que arrepiavam no braço ao longo dos minúsculos pontinhos que formavam a epiderme. E entretanto, essa luz que incidia sobre o seu rosto iluminava de forma clara os leves contornos que formavam o mesmo rosto. E o mesmo espectro de luz iluminava de forma leve as maças do seu rosto condizente de forma quase obediente, iluminando o perfil do rosto adequadamente. Os seus olhos continuavam fechados, a tênue luz iluminava de forma detalhada os seus cílios arredondados. Senti os meus lábios se juntarem á sua testa num beijo bem demonstrado. Enquanto ela dormia sossegadamente, eu continuava calado ao seu lado. E vi de forma afortunada, o abrir desses olhos azulados. Fiquei olhando e entreolhando a aqueles olhos que eu tinha na minha frente, nesta manha nada mais que frequente. De frente, com aqueles olhos que acordavam ao lado de uma companhia conveniente.

Dessa vez ela voltou a dormir, sem saber nada do dia presente, jogando o rosto no travesseiro consequente. Espreguiçando-se completamente no pequeno espaço contundente. Nesse ato de não querer acordar enquanto que o seu corpo se espreguiçava entre cobertores indulgentes.

- BOM DIA Anne! – gritei perto do seu ouvido. – ela me olhou de cara feia, com essa vaga ideia se era noite ou dia. Ficando logo zangada com a cara emburrada. - Então, dormiu bem?

Sarcasmo....era o que precisava nessa manha sem entusiasmo.  E o ser que eu tinha ao meu lado ficou me observando, ficando em silencio por alguns segundos, antes de dar a sua resposta para o pequeno ser absurdo:

- Ééé... estava dormindo bem ANTES QUE VOCÊ me acordasse. Legal Icaro.

- Ah, por nada. Aos seus serviç....- mas o  ultimo que vi antes de poder falar foi uma almofada indo a minha cara. Jogando-me contra a cama. Cai de forma absolutamente descarada.

Ela continuou jogando a almofada contra a mim, puxando-me mais todavia contra a cama. Forçado a ficar deitado contra as almofadas lançadas, nesse exato melodrama por nada. Já tinha acordado mal-humorada e a sua cara zangada fazia graça nessa má piada. Tudo por este absurdo drama te der acordado cedo enquanto podia estar se espreguiçando ainda na cama. Quanto melodrama por nada.  

- Anne, acorda de uma vez. – disse enquanto a puxava com o meu cotovelo.

- Ninguém merece acordar cedo em pleno sábado– ela disse zangada, mas o que era engraçado não era a sua raiva mas sim e a melena do seu cabelo que caia de forma bagunçada. E resmungava, nesse exato momento em que levava o cobertor para a sua cara. Puxei-a mais ainda com o cotovelo, enquanto ela reclamava para que deixasse dormir.

- Me deixe dormir em paz......- disse de forma clara.

- Não.

Olhou-me de forma zangada, sem disser absolutamente nada. Puxando os cobertores para si e ficando logo de costas para mim, nesse mínimo ato de “não me importa o que você faça”. Não me quedava mais remédio de que tira-la de ai.

Me aproximei lentamente ao seu corpo e com os cobertores por todo lado, carreguei-a fora da cama. E de mau gosto, puxei-a fora do seu sono.

- Icaro, me deixa!- disse zangada.

- Não. – disse sem mais nem menos.

- Porque não?

- Porque sim

- Como assim “porque sim”?! – disse enfada.

- Porque eu quero.

- “Porque você que”?

- Sim, por que eu quero.

- E o que você que?

- Você.

As suas bochechas coraram logo de imediato, com um leve sorriso, desse peculiar ato. E essas bochechas coraram com o mero relato do teu tato. Exato, nestes motivos nada pacatos. Eram apenas disfarces para ter o teu peculiar contato. E no interinato, entretanto, poder ter o teu sorriso nato.

Enquanto o sol desenhava finos traços de roxo e laranjado num único retrato; ela estava nos meus braços. Enquanto o céu clareava no seu recanto, ao seu modo, nesse fraco avanço por enquanto; contemplei de maneira clara á aquela joia rara que eu tinha. Que teimava em soltar-se de forma descarada.

- Anne, já...se acalme. – disse enquanto a soltava no sofá. - Apenas olhe.

E assim ela olhou para essa tênue aurora que tinha na sua frente. A noite que dava oportunidade para o dia e permanecia calado nessa melodia, em que lentamente era apagado pelas cores nascentes do dia. Anne contemplava essa lenta melodia, desse truque de magia.  

- é lindo. – ela reagiu. O assombro estava nos seus olhos claros.

- Éééh, é lindo Anne. – concordei meio com ela. – Bom, ao menos é bem melhor que os desenhos que você faz.

- Cala a boca, Icaro. – ela disse com o seu orgulho ferido, enquanto me jogava outra almofada em contrapartida. Era guerra de almofada ou quê?   – Mas você tem razão: olhar para o céu é bem melhor do que olhar para um desenho. A vida é arte em si mesma, eu apenas tento copiá-la.

Sentei-me calado ao seu lado, roçando levemente o meu ombro contra o dela. E assim, puxei o seu rosto contra o meu peito, num ato obediente de tê-la perto. Nesse exato jeito de um ato perfeito, fui suspeito de tamanho efeito; em que calado, ela estava por certo, encostada no meu parapeito.

E calados lado a lado, contemplávamos maravilhados: o céu inusitado. Esse céu desolado em que o sol amanhecia para esse outro novo reinado. Em que levemente, pequenos traços de cor tomavam forma dentro do céu desocupado, para as cores mais sonhadas do amanhecer tocado. Esses traços e esboços do céu premeditado, onde as suas cores se confundiam e faziam uma obra prima. O dia começa e as cores apareciam.  Essa mistura de cores do rosa e o alaranjado que logo se desvaneciam para o céu azul mais inusitado.

Essas cores que se fragmentavam nesse céu opaco, construindo o mais incrível paradigma sonhado. Entre o alaranjado e o azul ofuscado, misturando-se com o teu sorriso. De este único amanhecer, em que as cores aproveitavam e faziam a sua obra. Destilando levemente os seus tons, emaranhando- se com o horizonte desolado. Tons esperados, tons desejados, que se embriagavam com o céu ignorado. Faziam finos traços de cores, vermelho e laranja, roxo e azul, a luz caindo na superfície no seu contemplo anonimato. Nas coisas e seres acatos, de imediato, iluminando a realidade refrata. Desgastada, com os atos humanos. E amanhecia, para um novo dia, para um novo retrato: contemplávamos calados esse ato. Onde o sol surgia e outro dia se concebia. Para outra nova rotina, para outro cotidiano, em que o dia amanhecia nesse ato conspiratório, que não passava de apenas uma mudança rotatória.

O passo dos dias, o passo do tempo, que apenas marca este contratempo. Onde nasce o dia sem padecer e morre, com o mais lindo entardecer, condenada para a noite irmã. Nessa angustia genuína que é o transcurso do tempo, em que os dias passam sem nenhuma mudança e a noite apenas marca a mudança do dia de ontem. Cada segundo, cada minuto, cada dia... passa. Passa igual em qualquer mudança, como uma cobrança. E passa por todos por igual sem esperança. Que eventualmente apenas passa a ser parte de uma memoria em deterioramento. Os dias apenas marcam o continuo fluxo desse regulamento.

E num patético lamento, a vida continua em seu andamento.

 E mesmo assim, não nos importamos, não nos interessamos com estes pensamento. E continuamos os dias num corriqueiro rotineiro. Fazemos expectativas para cada novo dia, como se dia fosse uma promessa. O problema é que essa promessa não a fazemos para nós mesmos, apenas a contemplamos, a imaginamos e seguimos vegetando no contemplo de cada dia com uma única expectativa vegetativa: a da felicidade imaginativa. Talvez não sejamos tão diferentes assim dos demais seres bióticos: que germinam, fagocitam e esperam que as suas funções vitais se deteriorem com tempo; a promessa de quê? De uma felicidade que nunca alcançamos, que mais parece uma felicidade vingativa. Pospondo assim a cada dia os nossos sonhos, os nossos projetos, o que queremos fazer hoje, as nossas amizades....apenas para estar dentro com as expectativas de uma sociedade sem rosto e muito menos sem pressupostos.

E assim a vida continua em andamento com o ser humano no seu encalço.

- Sabe Icaro.... – a sua suave voz tirou-me dos meus pensamentos. – A alegria genuína vem das coisas que são gratuitas.

- Que? – respondi, surpreendido dos meus devaneios.

- Digo...- respondeu Anne com uma tênue voz - somente percebemos o valor de um momento quando o preconceito do dinheiro não esta envolvido. – e depois de um longo silencio, continuo:

- O dinheiro pode trazer muitas coisas e facilita amplamente a vida da gente Icaro, mas ele tira a graça das coisas que são realmente genuínas. Se todo fosse medido pelo dinheiro, então não haveria graça em ter uma conversar ou no simples ato de abrir os olhos e admirar-se com o amanhecer, porque isso seria perda de dinheiro. Mas os meus atos não podem ser regidos por dinheiro, mas sim pelos meus motivos. E os meus motivos não podem ser regido pelo dinheiro, mas sim pelo o que eu quero, pelo o que eu sonho, pelo o que eu sou. Porque sou uma pessoa e não um produto com uma barra de etiqueta.

Logo agora, ela contemplava o amanhecer com um olhar sereno, enquanto alguns fios claros do cabelo caíam ao lado do seu rosto, ela colocava os fios fora do seu olho. E em nesse contemplo silencioso, somente ela poderia saber o que lhe diziam os seus pensamentos transitórios.

-  Icaro -  ela retomou a conversa - O que é gratuito me ensinou a dar valor no que eu faço. Me ensinou a  dar valor aos momentos que vivencio,  que não estão e não podem estar rotulados por um preço, isso porque vivemos por causa de nós mesmos, e não por causa do dinheiro.  Então a primeira responsabilidade que temos é com a nossa vida e não com o dinheiro. Porque somos pessoas e não produtos, mas muitas vezes nos esquecemos disso. Nos deixamos embriagar pelo que temos e não pelo que fazemos Icaro. E nisso criamos um ciclo onde as nossas atitudes estão apenas concentradas pelo que temos e devemos ter e não pelo que devemos ser. Há muito por que viver, mas não acho que o dinheiro seja uma dessas causas, ela é apenas uma consequência. – Anne disse de forma serena, casual. - Somente quando nos embriagamos nos momentos e curtimos com uma despreocupação sensata os vários acontecimentos que a vida nos oferece; podemos disser que vivemos, além de apenas existir. E quando nos olvidamos do dinheiro por um momento, quando as nossas atitudes não visam o dinheiro, mas sim viver, então percebemos a graça genuína das coisas.

“A graça genuínas das coisas”, pensei comigo mesmo, como o amanhecer dessa tênue aurora, com as suas cores e outrora, singular para o momento de agora; que não vão embora mesmo se o momento se evapora...

Anne fitava levemente o horizonte, admirando com graça à paisagem grata. A final de contas, os melhores momentos são aqueles que vem de graça e em que neles nos submergimos e descobrimos o seu valor verdadeiro.

- Icaro – disse suavemente - ...E assim vão os momentos de uma vida, no contemplo do que verdadeiramente valorizamos. E são destas coisas que valorizamos que construímos os nossos princípios e atitudes e assim o nosso devido respeito.  Afinal de contas, somos pessoas e não produtos para o consumo. E por isso valorizamos o que logicamente achamos importante. Mas cada “valor” difere de cada um, de cada mente e de cada atitude. Por isso, conhecendo-se o que a pessoa valoriza, se pode conhece muito de ela.

Ela me olhou, os seus olhos azuis claros fitavam os meus esperando uma resposta. Sem nada que dizer, sem nada poder fazer, nem sabia ao certo qual era o pensamento certo. Os seus gestos contundentes me fizeram por experto. Ao inusitado desse momento rarefeito.

- O que realmente valorizamos, o que somos, o que fazemos e o que seremos, depende de nos. Somos nos que fazemos as respostas destes perguntas, porque depende apenas de nós mesmos concretiza-las. Mas são os nossos pensamentos que definem as nossas atitudes. E são nossos pensamentos que moldam o caminho da nossa vida. E assim, tudo o que temos na nossa vida é porque conscientemente permitimos que assim fosse. E se consumimos a própria vida, se consumimos as nossas mentiras, é problema nosso, porque assim o permitimos. Permitimos que o conhecimento seja um produto de venda e os medicamentos um comercio. Permitimos que seja mais importante ter do que ser. Porque vivemos numa sociedade com a ignorância estampada no peito. Porque a nossa cultura nos ensina que o mais importante na vida é ter dinheiro e não respeito. E eu não quero viver numa sociedade assim, que não valoriza por certo, este amanhecer perfeito.

- Anne, não se preocupe. Com tal que você acredite nos teus pensamentos, dificilmente este mundo poderá esses pensamentos.

- obrigada Icaro. – consolou-se ao meu lado.

E ao meu lado, fitou o horizonte pintado. Apoiada no meu antebraço, segurava fortemente o meu braço. Calada, fitava o mundo desolado. Olhava com esperança esse mundo que mal a olhava. Esse mundo opaco, em que a luz do dia incidia, inocentemente para um outro novo dia engraçado. E mesmo assim, ela fitava o céu ensolarado. Que calado, avançava sobre a terra em seus atos despreocupados. Iluminando vagamente os pequenos espaços do quarto apático. O sol incidia sobre o seu rosto carismático. E iluminava suavemente, os finos traços desse rosto ao meu lado. Com os seus gestos de bom grado e o seu sorriso sossegado. O ser que tinha ao meu lado e logo nos meus braços, para um beijo embriagado.


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