Jogo De Ideias escrita por Melo


Capítulo 10
Inutilia Truncat




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/313013/chapter/10

Inutilia Truncat

A brisa levantava levemente o seu aroma peculiar. Era um tênue aroma vindo com um gosto tão familiar. Tão agradável e desejável, junto com essa silhueta tão proferida e reconhecida nesta mente, a minha tão inconveniente. Era tudo uma questão de deixar o seu leve aroma se familiarizar com esse peculiar desgastante aroma intervindo do meio ambiente mal vindo. Era tudo uma questão de deixar essa brisa levar e anular esse leve aroma tão reconhecido por mim, o aroma dessa peculiar presença inesquecível, na insignificância deste tempo que o vento leva.

A sensação da brisa no seu corpo fez que ela puxasse a manga da blusa para o encosto das suas mãos. Me aproximei dela, vendo a reação do corpo estremecendo com este cálido frio de outono. Coloquei o meu braço sobre o seu ombro, envolvendo parte do seu suave pescoço, puxando-a mais perto ao meu encontro, ao meu cálido corpo, com um único pressuposto. E de encontro ao seu corpo, puxei com o meu braço o que era a sua clavícula, puxando-a para o meu dorso em contrapartida, a procura de um beijo entretido que fosse contido no meio desse outono distraído.

Anne puxou ainda mais o que era a manga da minha blusa, tentando em vão se proteger da brusca mudança de temperatura que acontecia pela ausência do calor do dia, da mistura do ar quente do subsolo com o inerente e inexpressivo ar frio da atmosfera, que jazia agora no ar que respirávamos; um acontecimento natural para esse fim de tarde nada mais que alaranjado.

E era nesse fim de tarde, que crianças corriam de um lado para outro, tentando com muita concentração, empinar as suas pipas com a ajuda desse vento extraordinário muito bem provindo da atmosfera para essa devida audácia premeditada e para conseguir os sorrisos já conquistados.

Certamente era um momento singular aquele. E também uma imagem peculiar, deste sentimento secular. Ao fim dessa tarde a se falar, com tão pouco a se admirar, ao não ser o bem que eu tinha em minhas mãos. Que agarrava fortemente o encosto da minha blusa, puxando-me para mais perto, para ter o resquício inusitado desse cálido momento.

Anne contemplava as crianças enquanto brincavam despreocupadamente, sem saber muito da vida ou do que realmente acontecia, no meio desse outono todo ofuscado. Contemplava cada bola jogada ao chão, cada chute articulado pela brincadeira, cada sorriso proferido pelo momento elaborado e cada sonho protegido pela criança entretida. Era inocência em abundancia para a vida nada mais que em aparência.

E da brincadeira e dos risos que se formava o contemplo momento. E o momento era tudo o que tínhamos, era o presente inusitado, angustiado tempo dado, quitado, para ser gasto, para ser vivido. Era cada folha que caia no chão desse outono nada mais que gasto, era cada pipa que era vendida, era cada passo dado, era cada sorriso traçado ao lado de companhias de bom grado. Era cada palpitar de vida dentro de cada coração sofrido. Era cada sonho despido para a realidade temida, embalada em cada esperança abstraída. Pois era o momento tudo o que tínhamos, onde construímos o nosso presente e esperamos o nosso futuro. Onde, cada atitude toma vida, reflete e é refletida para o cenário da vida.

E se não for para alguma mudança, apenas somos um aglomerado da própria historia humana. Pouco visto, pouco sentido e pouco compreendido, apenas um retrato vivo da sociedade em que vivemos.

Era apenas parte de uma vida que eu mal compreendia. Mas o que podem fazer os vivos, senão viver? Tentar de entender a vida, seria apenas tempo perdido, neurônios gastos, além desses que tanto precisamos, os mesmos, o mesmo tempo, os mesmos neurônios que precisamos tanto para viver a mesma. Para poder ter estes momentos vividos e não gastos, para ter estes pensamentos elaborados e não refutados, para ter os nossos atos criados e não apenas desejados, sonhados num paradigma inusitado de uma realidade inexpressiva, inexistente, dentro de uma utopia inexperiente. É como tentar entender por que que o átomo existe, ou por quê que a formação da vida ocorre dentro de uma placenta!? Isso não importa, não significa nada! E não muda nada no que concerne a minha curta existência!

Tudo isso apenas para ter uns momentos vividos dentro da parcela insignificante de tempo em que vivo. Mas essa parcela insignificante de tempo é importante para mim, pois, sem ela, como irei de sentir os tênues lábios tão desejáveis, num impulso arrogante de um beijo embriagante? Como irei de sentir estas caricias empolgantes que me tiram dos meus mais extravagantes devaneios. E foi nesse exato momento que senti uns dedos tão bem conhecidos entrelaçando-se no que era o dorso do meu antebraço. Tirando de mim estes loucos pensamentos (que eram consumidos na incerteza do interrogatório da minha mente) graças à sensação dos dedos cada vez mais fortes, mais pulsantes, captando o que era a minha atenção para aquele estímulo nitidamente sentido, vivido.

E os dedos seguiram para um lugar um pouco mais ambicioso, para o extremo norte da minha nuca, elevando-se cada vez mais, para tocar os meus lábios ainda mais silenciosos.

Mal percebi quando Anne se virou, ficando de frente para mim (pois pouco tempo atrás ela estava nos meus braços), tamanha eram os meus inoportunos devaneios. Nesse silencio dos atos feitos, os seus lábios tocaram os meus num ato perfeito. Nesse momento rarefeito, com tantos suspeitos e sujeitos, fez-se um beijo certo. E satisfeito com tamanho deleito, fui incriminado em direito de tamanho proveito. Mas longe de qualquer preconceito ou pleito, asserto que foi com afeto aquele beijo (per) feito.

E como uma brincadeira de criança, nos dois rimos juntos depois daquele contrafeito. E daquele jeito, sem preconceito, admiramos o nosso ato feito nesse presente aceito. Tirando assim do meu parapeito os meus loucos devaneios. E o que foi ao seu respeito, foi com tamanho jeito, aquele belo sorriso sujeito nos seus lábios com tamanho gesto. Num sorriso de improviso, sobre visto nesses belos lábios onde eu arrisco um toque impreciso. Mas, muito mais que certo para esse momento preciso.

E era tudo isso que importava: apenas aquele breve momento de um qualquer cotidiano, insignificante diante de qualquer estranhamento, estranho não é? Que para um estranho os meus momentos não importam, não interferem...passam diante dos seus olhos sem causar nenhuma mudança ou efeito provocante no diacho da sua pactuante vida. Somente quando os nossos atos começam a ter um efeito na vida dos outros é quando nos paramos de ser apenas uns estranhos para eles. E mesmo assim a vida é feita de muitos e tantos abstratos estranhos.

Mas não era ela. Não era o caso da Anne. Ela não era mais uma estranha diante dos meus olhos castanhos. Pelo contrario, era alguém que tem importância no presente vivido, e nas lembranças do passado já perdido.

Perdidos para os sentimentos provocados, entre a tua pele e a tua boca. Nestes atos acometidos, cariciei o seu rosto entretido. Agarrando a minha mão, para o que seria um beijo sem nenhum interesse seguido. Enquanto ela agarrava a minha mão, fiquei ao seu lado apoiado no seu ombro, encurvado no que diria entre o seu seio e o seu pescoço num abraço receoso. E ficamos assim, junto com o silencio do tempo, apenas comovente neste presente nada benevolente. E assim foram as suas palavras proferidas, apenas contundentes:

– Icaro, o que importa? O que importa?....realmente tudo isso importa? – ela disse de novo de uma forma incerta, deixando o silencio a contragosto. - Icaro! – ela disse, gritando no dito momento, quebrando o gosto do silencio.

O seus olhos me fitaram de uma certa forma angustiante, para o trágico momento dessas palavras relutantes, na procura das minhas palavras para uma resposta confortante. Mas eu não sabia o que dizer, nem tinha certeza se qualquer coisa que eu dissesse seria a resposta certa da sua procura. Somente ela saberia dizer o que ela queria escutar. Por isso o silencio foi à resposta, não a satisfatória, mas a mais certa para o momento composto. Pois o silencio daria paz para os seus pensamentos interpostos. Isso se eu não tivesse esquecido a contragosto a personalidade ansiosa e aflita dela, dos seus atos nada mais que prematuros. E ouvi novamente a sua voz as escuras:

–* “ Que importa o mundo e as ilusões defuntas?

Que importa o mundo e os seus orgulhos em vãos?

O mundo? O amor?

Importa nada mais as nossas bocas juntas!” .....Icaro.

Fiquei atônito. Não sabia como reagir e muito menos o que fazer. Perplexo, diante dos complexos pensamentos. Aturdido, como se me tivessem dopado. E como um drogado que não sabe o que passa, eu não sabia o que se passava naquele exato momento. E muito menos poderia supor no que se passava dentro daquela singela mente. Mas por quê foi o meu desconcerto? Porque o meu assombro? Tal vez foi o significado dessas palavras? Ou foi o fato daquelas palavras incertas vindo de uma boca tão certa? Que me agarraram por um impulso, na fracção desse novo impulso para um novo ato imposto, a gosto: “importa nada mais as nossas bocas juntas!”

E os seus lábios me embriagaram de tal acerto, que a tensão do meu corpo foi descoberto. Inevitavelmente encoberto de tal efeito, os seus lábios me puxaram ainda mais para alguns atos feitos. Sentindo o calor do seu corpo, o aroma da sua nuca e as suas palavras que nada tem de sagrado. Já reconhecia esse corpo de tão bom grado. Tendo-a por perto, reconhecia a parte detrás da sua nuca, esse aroma interessante, dilacerante por um ser tão incomodante. Indo da parte detrás da sua orelha, para o que ainda restava de respeito do ombro, agora nu, descoberto por alguns beijos indevidos e atrevidos, desse instante arrogante. O seus beijos provocantes, o seu aroma embriagante, não havia nada semelhante que pudesse tirar de mim os meus desejos mais hesitantes.

E ficamos assim, no manifesto desse devido instante, juntos nesse provido tempo. E levemente apoiei o meu rosto no seu ombro, sentindo o seu incitante pescoço e o seu aroma provocante. Anne encostou a sua cabeça contra a minha, agarrando a minha mão contra dela. Podia escutar o som rítmico do seu coração acrítico. Não somente o escutava, mas podia sentir o palpitar de vida dentro do seu peito. Era um som que não cessava, harmonicamente, que continuava com o mesmo ritmo sem interompimento. Acontecesse o que acontecesse, se perdêssemos o nosso emprego, se não tivéssemos aonde dormir ou mesmo se não tivéssemos companhia com quem compartir a miserável vida, o palpitar desse mecanismo incondolente, continuaria e sempre continuará, como se seu único proposito fosse palpitar incansavelmente, ate o fim da vida.... e dos tempos.

E de tempos e tempos eu olhava para aquela silhueta que tinha ao meu lado. Por isso procurei algo muito mais afável, palpável para o gosto intervindo dos meus fúteis sentidos. Procurei algo que tivesse sentido fora desse vicio. E encontrei no canto da sua boca a angustia insignificante. Os meus lábios levemente tocaram os seus de forma deliberante, mas mais do que um crime, houve um desejo sublime. Tocando os seus leves sentidos sem nenhum fato de soberba ou arrogância, deste mal desejo de ganancia. Apenas foi um fato sem igual, surreal, tendo os nossos corpos por pertos, no que era uma tensão ideal, foi algo irreal dentro de algo mais leal.

Neste momento apenas silencioso, envolvi o meu braço ao longo do seu pescoço. Juntando-me mais ao seu peito, percebi o sublime ato da sua respiração, apenas tranquila, refutando esse movimento lento de vida dentro do seu peito. Abracei-a por uns instantes, sentindo a minha mão detrás da sua cabeça e respirando detrás do seu pescoço. Parecia que se a soltasse perderia algo muito importante.

Senti o seu rosto indo para o meu encontro, mas as nossas bocas não se encontraram, não se tocaram. Apenas trocávamos o ar que respirávamos. E ficamos assim, no deleite destes profanos segundos. Trocando apenas o que eram os nossos olhares.

Nesse tempo distraído, contemplei esses olhos azuis que me fitavam. Enquanto que o seu rosto resplandecia o típico vermelhão feminino depois de um ato físico, juntas com algumas mechas distraídas que caiam levemente ao encontro desse rosto. E sem igual, deitai-me apenas ao seu lado, acariciando o seu rosto de bom grado.

Apenas queria ficar um pouco ao teu lado, com os teus beijos de bom grado e o teus lábios acostumados. Neste tempo tão bem elaborado, foi questão dos atos parados, que te queria mais ao meu lado. Com os teu rosto acostumado e as tuas palavras tão bem memorizadas, nestas atitudes a serem admiradas. Apenas para estes momentos de bom grado, a procura de um novo significado, queria o teu beijo nada mais embriagado.

E foram desses lábios que escutei as tuas palavras:

– Icaro, vem, fique mas perto de mim.

– O que foi? – perguntei

– Nada. Somente fique perto. – disse enquanto me abraçava.

“Ta bom”, pensei comigo mesmo.

– No que você esta pensando Anne?

– No mundo. Nas pessoas. – ela me respondeu sem mais nem menos.

– Ahh? Como assim?

– Penso no mundo Icaro. E das pessoas que faz parte dela. – parou por alguns segundos.

– Nada – ela riu ao ver a minha cara assustada. – Não é nada Icaro.- sorriu. Ficou em silencio por alguns segundos, até retomar de novo a conversa. - É que às vezes damos demasiada importância a questões que na real não tem importância nenhuma, Icaro. E disso gastamos o nosso tempo, investimos os nossos esforços para algo que é apenas inútil. Isso me entristece. É apenas estúpido desperdiçar as nossas vidas diante de ideias e preconceitos que são fúteis, que apenas mostram o quão insignificante somos.

– Como assim Anne? – fiquei perplexo. “Por quê essa conversa do meio do nada”, pensei.

– Fazemos tantas coisas sem necessidade nenhuma Icaro. Fazemos muitas coisas que não tem a menor importância ao mesmo tempo em que não damos à devida importância as coisas que realmente tem a sua importância. Devido a nossa ignorância, ou melhor dito, a nossa teimosia de não querer enxergar, escutar e entender. Graças a nossa teimosia estúpida, convicção simplória ao pensar que somos melhores que tudo e que os outros. Mas não somos. E nunca podemos sê-lo. Porque a nossa vida e feita e composta por tantos e outros, que somente graças às pessoas que eu tenho por perto, que sou o que sou e tenho o que eu tenho. Somente porque você esta aqui comigo é que eu consigo estar bem. E considero isso como o bem mais valioso Icaro.

– Anne, você não é como as demais. – disse.

– E nem quero sê-lo. Não quero ser como os outros que não pensam nos seus próprios atos e no que fazem nos demais Icaro. Gastamos tanto tempo e esforço para mostrar inutilmente que somos melhores que os outros, mas não vemos que precisamos justamente desse “outro” na nossa vida. Desprezamos, sempre que podemos as pessoas que estão ao nosso redor, somente para poder ter esse fútil sentimento de superioridade inútil que não nos serve para nada. Mas o que me serve mostrar que eu sou melhor que você? Nada, serve para nada. Só mostra ainda mais o quão inúteis somos ao não poder enxergar o outro como semelhante. Apenas mostra ainda mais a nossa ignorância. Ignorância ingrata ao não poder apreciar o que realmente temos. Mas afinal, não somos nada e não temos nada, e a nossa convicção simplória apenas mostra o quão estúpidos nos somos. O estúpido é aquele que diz que “é melhor que você”, sem perceber ao mínimo que pode aprender muito com você. Somos nada. Somos apenas nada. Insignificantes diante da nossa ignorância. O que somos nos diante do Universo? O que significamos diante disso tudo? “Apenas somos uma gota de agua que cai no oceano infinito. Nada dura para sempre, além da terra e do céu”. Somente quando começamos a fazer algo de valor(para os outros, para este mundo como um todo) é quando também adquirimos algo de valor.

– E mesmo assim, é tão difícil quebrar certos preconceitos. *É muito mais fácil quebrar um átimo do que um preconceito Icaro. Isso porque a nossa cultura nos ensina a diferenciar-nos, a separar-nos; sejam em cor, política, nacionalidade ou religião. Que idiota: a gente indo á guerra por causa de política. Que idiota: a gente matando-se por causa da religião. E mesmo assim, não vemos que apenas estamos fazendo dano a nos mesmos. Com certos preconceitos tão inúteis, que não servem para nada. Só mostram o quão insignificantes nos somos, ao não poder fazer um bem ao este mundo. Somente quando possamos fazer um bem a este mundo é quando passamos de ser nada, a ser algo. Algo com valor, algo com importância, à medida que criamos laços verdadeiros com diferentes pessoas e começamos a tornar sonhos em realidade. E quando percebemos a importância destes laços, nos também nos tornamos importantes. Ao perceber a verdadeira importância que outra pessoa tem na minha vida, nas nossas vidas...e assim a falta que ela faz. Ao valorizar as pessoas que constituem a nossa vida assim como você é importante para mim. Somente no momento que eu quis te conhecer e ter uma conversa com você, é que você deixou de ser um estranho para mim, e resultou ser que você é mais que um amigo. O problema esta que a nossa cultura nos ensina que é mais importante ter status e dinheiro do que um verdadeiro amigo. Vivemos numa sociedade idiota, que nos diz que é mais importante ter um carro importado ou uma roupa de marca do que realmente passar a vida com os amigos. É isso é belamente retratado quando ligamos a T.V., onde os comerciais nos bombardeiam com tantas e tantas coisas que realmente não precisamos, mas que insistem em nos disser que realmente precisamos delas, que precisamos compra-las e apenas tê-lo, diferente de uma conversa que é simplesmente dada e uma amizade que se conquista. E ao não perceber isso, fazemos tantas coisas idiotas e colecionamos tantos atos inúteis no nosso cotidiano, que na real real, tudo isso apenas nos estressam. E nos estressamos com nos mesmos, com as pessoas que temos por perto, como o nosso dia a dia e com tudo que temos ao nosso redor, simplesmente porque não podemos satisfazer a mentira que as revistas e a televisão contam de como deve ser a nossa vida. E esquecemos que a vida é nossa e não de uma revista com um “perfect american life” (um perfeito estilo de vida norteamericano), onde o luxo excede em cada canto inusitado assim como a miséria de realmente compreender o mundo em que vivemos. Numa sociedade fútil que apenas nos mostra que a felicidade é conquistada através das coisas que temos....mas as coisas, os bens materiais são como grãos de areia que temos nas nossas mãos: apenas por milimétricos instantes os temos, ate fugirem da nossa mãos. E assim simplesmente não pensamos, não vemos ou reagimos; apenas agimos conforme o que nos foi imposto, conforme o que nos fui ensinado, como quando um elefante de circo levanta a patinha nesse ato veterano, apenas porque faz parte do seu monótono quotidiano, depois de ser queimado varias vezes nessa mesma patinha que não devia tocar esse maldito chão metropolitano. E isso acontece com a gente, numa mediocridade massificada, disseminada pela escola, pela Igreja e pela TV. (mídia). Pois todo o que a gente “faz” são atos que os demais esperam, são atos da massa; assim como o elefantinho de circo aprendeu a levantar a patinha depois de ser varias vezes queimado, do mesmo jeito aprendemos a ser idiotas na mediocridade das nossas vidas.

– Vivemos numa sociedade pacata, porque a gente convive com convecções simplórias, que com o tempo fomos nos acostumando e achando normal. Acabamos a ser medíocres com o tempo ao não perceber as coisas que tem real importância nas nossas vidas. E não percebemos que temos uma existência curta, para gasta-la com alguns princípios um tanto banais. Eu simplesmente não sou a roupa que eu usei e muito menos o dinheiro que eu tenho. Eu sou um pedacinho dos meus amigos, misturada pelas minhas lembranças e as deles, guiado pela importância do laço formado. Ao mesmo tempo em que sou o que eu faço, o que eu amo, “*pois tudo o que a gente realmente ama, acaba por tornar-se parte de nos*”. Somente quisera tirar a futilidade de tais preconceitos. A futilidade de tantas coisas que mostramos e fazemos e que não enxergamos, que apenas fere as nossas vidas, abrindo diferentes grutas de desespero ao não conseguir satisfazer esta futilidade inútil ao mesmo tempo em que distanciamos as pessoas que temos por perto. Apenas quero tirar esta futilidade inútil. Sabe? Que não serve mas que teimamos em disser que é importante para as nossas vidas.. Apenas cortar o inútil. Inutilia Truncat. Apenas isso para melhorar a sociedade em que vivemos Icaro.....- ela disse, tendo ainda um pouco de esperança.

Olhei-a de forma desanimada, sem muita alteração no meu estado, não mostrei nenhuma razão ou preconceito, pois com todo este conceito perfeito Anne, a tua esperança é mais que um sonho rarefeito. E neste mundo burocrático, não precisamos de mais sonhos erráticos. É apenas um sonho... Sim um sonho, por isso que não faz parte da realidade. Apenas uma monódica utopia cegada por tua própria miopia Anne. E mesmos se pudéssemos cortar o inútil das nossas vidas, buscaríamos uma desculpa ou algo mais para justificar os nossos atos idiotas e inúteis. Precisamos do fútil Anne. As pessoas não suportariam uma vida sem futilidades, sem as revistas de novelas que se vendem nos supermercados, sem as fofocas da vizinha da pessoa alheia, sem os Reality Shows nada haver, sem o novo Ipad que temos e que logo será ultrapassado. Sim, o mundo tem muitas coisas inúteis, mas mesmo estas coisas inúteis servem para alguém, nem que seja para torna-lo mais medíocre. Precisamos destas futilidades, nem que seja apenas para disser que fazemos parte dos medíocres...que também fazemos parte. E senão é da mesma futilidade das fofocas, que tornam as fofocas interessantes? Se não é pela futilidade da conversa alheia, que torna a conversa mais atraente? E se não fosse pelo inútil, muitos comerciantes, paparazzi, jornalistas, comandantes perderiam os seus empregos. Sim, vivemos num mundo inútil e complicado.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

ahhh bom, o capítulo tem muitas referencias de outros autores e estas referencias estão marcados com *. Comecemos: * Que importa o mundo e as ilusões defuntas?Que importa o mundo e os seus orgulhos em vãos?O mundo? O amor? Importa nada mais as nossas bocas juntas! FLORBELA ESPANCA....dramaturga portuguesa* É mais fácil quebrar um átomo do que um preconceito" ALBERT EISNTEIN*" Tudo o que realmente amamos, termina em tornar-se parte de nos" HELEN KELLER, escritora norteamericana, que teve uma alta febre na infância que a deixou cega e surda.....mas mesmo assim: consegui ser escritora. *"Apenas somos uma gota de agua que cai no oceano infinito. Nada dura para sempre, além da terra e do céu....trecho da música Dust In The Wind, da banda americana KANSAS. Tudo o resto e da minha maluca autoria....dentro dos pensamentos de Anne e Icaro.