Chamamento De Sangue escrita por Melanie Blair


Capítulo 17
XVII


Notas iniciais do capítulo

Desculpem a minha ausência. Para vos recompensar, a vocês meus afincos leitores, a todos aqueles que já favoritaram ou comentaram, às duas pessoas bondosas que já recomendaram...OBRIGADA. Para vocês, aqui vai um capítulo grandinho.
Música do capítulo: http://www.youtube.com/watch?v=CWGntZZl2AE



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No dia seguinte, ao contrário do normal, poucas pessoas se encontravam à frente do edifício da noite. Zero que, ao contrário do normal tinha chegado a horas, suspirou, aborrecido.

– Hoje há pouco movimento!- comentei.

– Como é óbvio, os admiradores dos chupadores de sangue devem estar a estudar.- respondeu-me simplesmente.

“Estudar?”, pensei, “Porque raios iam eles estudar?”. Um mau pressentimento parou, por momentos, o meu batimento cardíaco.

– Porque dizes isso?- perguntei-lhe.

Ele olhou-me confuso.

– Como é óbvio,- repetiu- estão a estudar para os exames de amanhã.

“Oh, merda”, pensei.

Não lhe disse nada. A minha mente estava demasiado ocupada a planear um plano de fuga (por exemplo uma constipação contagiosa que, quem a apanhar, quando for à casa de banho, caga fezes verdes).

– Não me digas que te esqueceste dos exames?- insistiu Zero, ignorando a minha tentativa de o ignorar.

Ele gargalhou, achando piada à minha miséria e, causadora de tudo isto, à minha falta enorme de memória. Mas o meu esquecimento não era o único culpado- penso que aliado a ele estiveram os acontecimentos suspeitos e estranhos dos últimos dias, que me mantiveram o encéfalo demasiado ocupado para pensar em testes.

Outro pensamento percorreu-me: se tirasse negativa nos exames, ver-me-ia obrigada a… Estremeci com aquela imagem.

– Se chumbares, Ayame…- começou Zero.- Terás de organizar o baile!

Ainda faltavam três dias para o fim da primeira metade do período- que, talvez por coincidência, calhava no dia de Halloween. A academia, para celebrar, organizava um baile onde todos os alunos, tanto da turma do dia como da noite, vestiam-se a rigor e embebedavam-se até caírem para o lado.

Porém, quem tivesse menos de dez a um dos exames teria de se responsabilizar por todos as tarefas que o baile acarretava: música, comida, decoração e, menos agradável, limpar as casas de banho do pátio…

Sendo eu uma aluna mediana, sem um estudo devidamente prévio, as minhas possibilidades de ter sucesso eram…deixem-me fazer as contas…um mais dois…trinta a dividir por seis…a raiz quadrada de cento e quarenta…ZERO!

– Só espero que ninguém ande com diarreia.- suspirei, fazendo Zero rir-se novamente. Depois de se acalmar, Zero fitou-me, sério.

– Ayame, quanto ao baile…- começou-… Será que podes vir…?

A nossa conversa foi interrompida com o barulho enferrujado dos portões, que se tentavam abrir. Lentamente (e tão surpreendidos com o silêncio quanto nós), os alunos sobrenaturais saíram e encaminharam-se pelo corredor de árvores de grande porte.

Ao avistar Maria que caminhava timidamente no final do grupo, dei-lhe um sorriso encorajador, ao qual ela me respondeu com um vergonhado. Zero, ao ver esta troca de sorrisos, colocou-se à minha frente, numa posição protectora. Aidou, do outro lado do corredor, acenou a sua cabeça, como se gostasse da reacção de Zero. “Que infantis!”, pensei enquanto colocava a língua de fora. A minha falta de educação não passou ao lado do ariano que me deu um olhar que me repreendia “Quem é que está ser infantil agora?”.

Depois deles saírem da minha mira, desviei-me do braço de Zero.

– Vocês os dois estão a ser uns grandes bebes!- exclamei-lhe.

Ele, ao ouvir-me, encolheu os ombros, despreocupado.

– Toda a precaução é pouca.- disse, simplesmente, enquanto me empurrava para a aula de Filosofia.


Eram oito da noite (hora da supervisão) quando me dirigi ao gabinete do director.

– Passa-se algo, Ayame?- perguntou Kaien, ao ver-me um pouco agitada.

– Bem…sabe como amanhã há exames…- tentei explicar, sem lhe dar demasiada informação: a informação que eu me tinha esquecido dele (não queria que ele pensasse que eu era uma baldas- que sou).

– Ainda não estudaste, pois não?- adivinhou o director.

Sem abrir a boca, estendi os braços e cruzei-os: a minha forma de dizer “BINGO!”.

– Quando o Zero chegar nós avisamo-lo que hoje não farás supervisão.

Sem mais demoras, dirigiu-se ao armário e, de lá, retirou cerca de uma dezena de livros.

– Se realizares os exercícios destes livros, estarás pronta para os exames!- anunciou Kaien, sorrindo-me.

Apetecia-me gritar “WTF? O senhor só pode estar a brincar comigo!”, mas não querendo parecer mal-agradecida, peguei num livro de matemática A e comecei a folheá-lo, até encontrar uma página dedicada aos exercícios “Até um puto faz isto!”. Pensei “Perfeito! Devo conseguir fazer isto.”

Concentrei-me num desses exercícios por alguns minutos. O desafio era encontrar o valor de x, utilizando semelhança de triângulos e teorema de Pitágoras. Depois de realizado, corri para as soluções e percebi que tinha errado. Parece que o título da página é enganador: em vez de “puto” devia estar escrito “génio matemático que não tem vida social”. Só quem passa horas por dia a estudar é que resolveria aquilo.

Voltei a tentar e a tentar. Não percebia onde estava o erro. “Mas que porra!”, pensava enquanto mirava a fogueira e controlava o desejo de colocar o livro direitinho ao fogo que ardia incandescente.

Finalmente, Zero acabou por chegar. Enquanto eu percebia que tinha trocado um cateto por uma hipotenusa (erro estúpido), o director dava a notícia ao filho adoptivo.

– Importaste de ajudar a Ayame nos estudos?- perguntou Kaien a Zero, enquanto este último gozava com o meu erro.

– E a supervisão?- perguntei.

– Faço-a eu.- respondeu o director.- Se eu te ajudasse, temo conceder-te algumas informações sobre os testes.

“Isso é que seria uma chatice”, pensei ironicamente.

Assim que Kaien saiu da sala, Zero sentou-se ao meu lado. Pouco tempo depois (não mais que cinco minutos), chateei-me com os números e passei para Geografia.

O tema realmente não me interessava: “Espaços Urbanos”.

– Então,- comecei, tentando lembrar-me do que tinha lido no livro há cinco segundos atrás- Uma das diferenças entre uma cidade europeia e uma americana é a inexistência de…a inexistência de… Mas lembro-me que a América tem edifícios!

Senti-me gloriosa por me ter, finalmente, lembrado de algo. Mas o orgulho dissipou-se assim que reflecti no que tinha dito. Prédios há em todo o lado, por amor de Deus! Que coisa tão rudimentar de se dizer.

Aí percebi que Zero estava demasiado calado. Ele, que neste momento, devia estar a rir-se da minha estupidez.

Levantei o meu olhar até encontrar o dele. A mão dele agarrava com força o seu pescoço, a sua cicatriz, enquanto a sua face arquejava de dor.

– Dói-te o pescoço?- perguntei, trazendo, intuitivamente, a minha mão ao seu pescoço.

Ele acenou a cabeça e, estranhamente, não retirou a minha mão da sua pele.

– O local onde aquela mulher me mordeu está a arder.

Vendo uma oportunidade rara para, além de conhecer melhor aquele rapaz, de largar os estudos, coloquei os livros fora da minha vista.

– Nunca me contaste a história toda.- afirmei.

Ele suspirou.

– Acho que não to contei, pois não?- perguntou-me.

Abanei a cabeça. Zero voltou a suspirar.

– Tudo se passou há seis anos. Eu estava a ser exigentemente treinado para me tornar num caçador de vampiros, tal como os meus pais tão orgulhosamente eram. Numa noite, uma mulher apareceu em minha casa e eu soube, no momento, o que ela era. Mas os meus pais e irmão…

– Tinhas um irmão?- perguntei, surpreendida.

Ele assentiu e continuou, com voz chorosa.

– Ela matou-os a todos e pensou que me tinha matado.- apertou-me a mão que ainda estava sobre o seu pescoço, a ponto de me magoar.

– Lamento muito, Zero.- disse-lhe, enquanto lhe afagava o cabelo.

Ele recompôs-se, tentando esconder a mágoa e tristeza que sentia.

– Fui encontrado e tratado a tempo. Mas nada que me fizessem podia retirar a mordida dela do meu pescoço. Nada podia salvar-me do que me ia tornar…

Levantei-me e abracei-o. Nunca tinha visto esta faceta de Zero e, na verdade, não a queria ver mais. Preferia mil vezes que ele gozasse comigo do que se sentisse triste por algo que ele não podia controlar.

– Obrigado, Ayame.- murmurou ele, contra o meu cabelo.

– Porque me agradeces?- perguntei, curiosa. Este Zero era, realmente, estranho.

– Por estares ao meu lado. Por me apoiares. Obrigado.

Senti as minhas bochechas a ganhar cor. Não estava acostumada a receber elogios dele. Sussurrei um fraco “De nada” e separei-me dele.

Tentei acalmar o meu batimento cardíaco forte e súbito. Ele, por sua vez, levantou-se e dirigiu-se para a porta:

– Estou cansado. Consegues continuar a estudar sem a minha ajuda?

– Que remédio!- resmunguei, ele riu-se e desapareceu por detrás da porta.

Voltei para a mesa onde se encontravam os meus inimigos: os livros. Quando comecei a abrir de novo a página das cidades americanas, reparei num telemóvel situado perto de mim. Era o telemóvel de Zero. Será que ele se esqueceu dele?

Zero não poderia estar muito longe. Agarrei no instrumento e corri pelos corredores, procurando um sinal do cabelo cinzento dele.

Cansada, desacelerei o passo e caminhei ate uma voz me parar.

– Nós temos um laço inquebrável!

Aquela voz conhecida chocou-me. Espreitei pela porta entreaberta. Zero estava de pé, olhando para um vulto pequeno que se encontrava sentado no outro lado do compartimento. Um vulto…Maria!

Sem responder à insinuação de Maria, Zero retirou a Bloody Rose e apontou-a à pequena. Mas não disparou. Percebi que o seu braço, envolvendo a arma, tremia.

– Surpreendido?- perguntou Maria.- Já devias saber que não me consegues matar.

Assim, sem qualquer objecção ou obstáculo, Maria aproximou-se dele, colocou as mãos na face de Zero e tentou beijá-lo. Ele, com repulsa, afasta-a.

– Não me toques!- ordenou Zero.

Ela sorriu:

– Meu querido e amado Zero…- suspirou ela.- Tentas afastar-me mas sabes que não me poderás resistir por muito mais tempo. O teu corpo quer-me. Tu queres-me. Tu anseias pelo meu toque. Temos algo em especial. Algo que nunca poderás ter com aquela humana nojenta.

A minha espinha foi comovida por um arrepio. Estaria Maria a falar de mim?

– É algo que só a tua criadora pode fazer-te sentir.

O quê? Maria era a criadora de Zero? Fora Maria que lhe mordeu? Fora Maria que matou a família de Zero? Estava petrificada com tal declaração.

– A única coisa que me fazes sentir é nojo!- exclamou Zero, encaminhando-se na direcção dela e batendo-lhe. Em resposta, Maria atacou-o com uma faca. A luta tinha começado.

Sabendo o pouco que sei sobre vampiros, percebi que Zero não teria qualquer hipótese de vencer. Nos seres sobrenaturais, a força aumenta com a idade e tudo isto novo de criadora e “discípulo”…

Não pensei duas vezes. Abri totalmente a porta e gritei o nome dele. Ao ouvir a minha voz, Zero voltou-se para me encarar. Mas eu já não estava ali. Com uma velocidade estonteante, alguém me retirara da frente da porta e me colocara num compartimente escuro, desconhecido. Estava aprisionada. Dois braços fortes envolviam-me, não me deixando mexer.

Ao ouvir um disparo, comecei de novo a tentar escapar, mas…a força estava a começar-me a faltar…tal como a consciência.

– Desculpa.- disse-me uma voz.- Mas não te posso perder.

– Aidou…?- e desmaiei.


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Notas finais do capítulo

Quero saber tudo o que vos está a passar pela cabeça. Aceito tudo: recomendações, elogios...ATÉ À PRÓXIMA