Chamamento De Sangue escrita por Melanie Blair


Capítulo 16
XVI


Notas iniciais do capítulo

Desculpem, desculpem não cumpri o que tinha prometido. O senhor Kant, de filosofia, vai-me dar na cabeça por ter feito uma ação errada.

:( :(

Música do capítulo: http://www.youtube.com/watch?v=vc6vs-l5dkc



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A luz do sol passava pelos estores das janelas, perturbando as pálpebras dos meus olhos, forçando-me a acordar.

Espreguicei-me e rugi tal como uma leoa maldisposta. Distraidamente, olhei para o despertador. “Ah”, pensei, “Ainda só são oito horas.”. Só depois de pensar seriamente no tempo que me restava, gritei:

– O quêêêê?- agarrei o despertador.- Oito horas? Já? Tens a certeza?

Como esperado, o relógio não me respondeu. Saí, aos trambolhões, da cama e vesti-me.

– Yori, despacha-te! Vamos chegar atrasadas!- disse, enquanto tentava não engolir a pasta dos dentes.

Yori não me respondeu. Limpei a cara e espreitei para a cama dela. “Ah, grande cabrita”, pensei ao deparar-me com a cama vazia, “ Foste embora e nem te dês-te ao trabalho de me acordar”.

Calcei, aos saltos, os meus sapatos e corri pelos jardins. Quando cheguei ao portão do dormitório da noite, espreitei o meu relógio de pulso. Ufa, eram oito e vinte e cinco. Ainda faltavam cinco minutos para a hora do encontro entre as turmas. Mas não eram esses minutos que mantinham os admiradores da turma da noite longe daquele local. Estas raparigas devem madrugar para estarem aqui antes de mim.

E, como sempre, Zero não se encontrava a horas. Quando o meu relógio mostrou que a hora tinha chegado, abri os portões, dando espaço para os alunos sobrenaturais caminharem. Estranhei o facto de estes se mostrarem mais tristes que o normal. O que se passará?

Aidou notou a minha preocupação e piscou-me o olho. Mas não foi o único a perceber a minha presença. Maria-senpai avançou na minha direcção, levantou a mão e acariciou-me a face. Não senti o seu toque por mais do que um segundo, já que tanto Aidou como Zero (vindo de não sei de onde) me tiraram de perto dela. Enquanto Aidou me puxava pelos braços, Zero ocupava o espaço entre mim e ela. Ao perceber que não estabeleceria mais contacto comigo, Maria sorriu e disse ao amante de cavalos:

– Deves ser o Zero…- senti-o a estremecer ao ouvir a voz dela.- Prazer.

Ela estendeu a sua mão pequena e esperou que ele a cumprimenta-se com a sua. Pórem, Zero não o fez.

– Vai-te embora!- exclamou ele, rudemente. Maria olhou-o, com uma face que dizia “Vou chorar”.

“O que se está a passar?”, pensei. Sacudi os meus braços das mãos de Aidou e encaminhei-me para perto dos dois. O olhar de Zero, um pouco medonho e asqueroso, assustou-me.

– Zero, o que se passa?- perguntei-lhe. Ele, porém, não me fitou e apenas murmurou.

– Fica longe dela, Ayame!

“Mas que raio andou ele a fumar?”, pensei. Fitei Maria:

– Peço desculpas por ele. Zero não costuma ser assim.

Ao contrário do esperado, ela sorriu e exclamou:

– Não tem mal. Espero que nos tornemos grandes amigas.- e abraçou-me.

Senti o corpo de Zero a retesar-se e murmurei-lhe “Acalma-te.”. Segundos depois, Maria largou-me, despediu-se e correu até alcançar os outros alunos, que não os tinham esperado.

Virei-me na direcção de Aidou.

– O que se passa?- perguntei-lhe.

– Depois eu falo contigo, ok?- disse ele simplesmente.

– Ok.- respondo.

Depois de ver Aidou a tentar passar pelas raparigas que tentavam tocá-lo, perguntei a Zero:

– Não tens explicações para me dar?

– Acordaste tarde hoje, não foi?- tentou distrair-me. Resultou. Encarei-o, curiosa.

– Como sabes?

Apontou para os meus pés. Olhei para baixo até perceber do que ele estava a falar. Nas minhas pernas perfeitamente visíveis pela curta saia, percorriam duas meias totalmente diferentes: uma cor-de-rosa com bonecos de neve e outra verde.

– Que vergonha!- gritei, embaraçada enquanto me apoiava no ombro de Zero, me descalçava e retirava as meias. Escondi-as no bolso da minha saia e exclamei:

– Vá, temos de ir para a aula!

******************************************************************************

Chegou a hora do recolher. Zero e eu caminhávamos silenciosamente até ouvirmos uns passos não muito longe de nós. Zero retirou a Bloody Rose do seu casaco e eu manejei a Artemis que se encontrava presa na minha coxa. O som parou.

– É melhor separarmo-nos. Assim, cobriremos maior área em menor tempo.

Acenei a cabeça enquanto dirigimo-nos em direcções opostas. Sabia que se encontrasse alguém, essa pessoa seria severamente castigada. Relembrei a noite em que descobri o segredo de Zero e o medo que tinha sentido. “Concentra-te no que estás a fazer, Ayame”, pensei.

Ao ouvir novamente o ruído, retirei a Artemis e apontei-a para onde vinha o som.

– Sei que estás aí. Saí!- ordenei.

Dos arbustos saiu um vulto pequeno, de cabelos e olhos cinzentos e de uniforme branco.

– Maria.- suspirei, enquanto ela baixou os braços que tinha elevado acima da cabeça. Riu-se.

– Desculpa, assustei-te.- disse ela.

– Não há problema.- suspirei.- Não devias estar nas aulas?

Ela bateu, suavemente, na sua cabeça como se declarasse o quão estúpida era.

– Perdi-me.- declarou. Ao ver a expressão dela, não me contive e gargalhei. Arrumei a Artemis e disse-lhe.

– Eu digo-te o caminho. Vem atrás de mim.

Ela acompanhou-me devagar. Quando finalmente alcançámos o edifício onde se davam aulas, exclamei:

– É aqui!

Ela, ao reconhecer o local, abraçou-me novamente.

– Obrigada. Não sei o que faria sem a tua ajuda!

Vindo de “sei lá onde”, uma mão partiu o abraço e repeliu Maria para longe de mim. Uma arma foi colocada em direcção à cabeça da vampira.

– Zero?

Ele ignorou-me. Maria sorria.

– Se lhe tocares outra vez, juro que te mato.- ultimou Zero.

Ela continuava a sorrir. “Já chega desta porcaria”, pensei.

Coloquei-me no curto espaço entre a arma e Maria.

– Se a matares, terás de me matar primeiro.- avisei-o.

– Afasta-te Ayame.- voltou ele a avisar-me.

– O que andaste a beber?- perguntei-lhe.- Que mal fez ela para a tratares desta maneira?

– Ela é cruel.- foi a única resposta que ele me deu.

– Poupa-me. Nem a conheces.

Virei-me para a rapariga assustada.

– É melhor ires para as aulas.- recomendei-lhe.

Ela, sem sorrir, acenou a cabeça e dirigiu-se para a escuridão das escadas.

Ignorei a cara que Zero me estava a mandar e caminhei para o lado oposto de Maria até me deparar pela figura do ariano.

– Aidou…-murmurei-lhe.

Ele aproximou-se de mim e suspirou.

– Pela primeira vez na minha vida tenho de concordar com o caçador.

– O quê?- estranhei.

– Acho que é melhor afastares-te de Maria.- declarou.

– Porquê?- perguntei.

Ele coçou os caracóis louros.

– Bem…não sei o porquê. Mas sinto que ela não é de confiança

– Tu sentes que ela não é de confiança?- gritei.

Ele acenou a cabeça, envergonhado.

– Se eu me guiasse por sentimentos, por pressupostos, nunca faria nada. Se eu de manhã pensasse “Hoje o dia não me vai correr bem” nunca sairia da cama.

Nenhum dos dois me fitou.

– Enquanto eu não tiver provas que ela é realmente má pessoa… vou continuar a falar normalmente com ela. E nada do que vocês me possam dizer me vai mudar de ideias.

Mais aborrecida do que zangada, abandonei o recinto sem, nem uma vez, olhar para eles.


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