-Quem é esse... Demônio? –Sebastian perguntou ainda meio irritado.

-Ele é meu mordomo. –Respondi, sem ver problemas nisso.

-Alice, não seja tão sínica! –Ele falou, com um tom de voz alto.

-Não aumente o tom de voz para mim, Sebastian! –Berrei com ele.

-Você é quem está gritando, sua... Humana maluca! –Ele disse, num tom de voz ainda mais alto.

-Não me chame assim, você é o demônio maluco aqui! Se queria saber algo, apenas dissesse! –Disse, discutindo, de frente com ele.

Sebastian era um demônio que poderia acabar com a minha vida em dois tempos,sem pensar duas vezes e sem fazer esforço algum. Mas eu não estava ligando para nada disso, a questão é, se ele quisesse que eu esclarecesse algo, apenas perguntasse, não precisava desse teatro dramático todo.

-Quer saber? É impossível conversar com você assim! –Sebastian disse, levantando-se e indo para o banheiro.

Bati na porta.

-Abra a porta, Sebastian! –Disse, do lado de fora.

-Eu não quero fazer uma besteira com você, Alice. –Ele disse, do lado de dentro, com uma voz embargada.

-Sebastian, você não vai chorar, vai? –Disse, ainda um pouco nervosa, mas, querendo ver se Sebastian estava bem .

Demônios podem mesmo chorar? Ou entristecerem?

Sebastian saiu do banheiro.

-Não, eu estou bem. –Ele respondeu.

-Venha, sente-se aqui. –Eu disse, segurando as mãos molhadas dele e indo em direção à cama. –Vamos, eu vou explicar tudo o que você precisa saber, tudo bem?

Sebastian, como uma criança inocente, acenou positivamente com a cabeça.

-Quem é ele? Você fez um contrato com ele? Ele... Não comeu sua alma, por quê? Vocês... Estão em um relacionamento? –Ele perguntou, uma pergunta atrás da outra sem pausas para respirar.

Respirei fundo.

-Tantas perguntas de uma vez. –Disse. –Mas, vou responder uma por uma. Bem, ele se chama Louis Willians, eu não fiz um contrato com ele... Ele não comeu minha alma porque eu não permiti que fizesse. E nós não temos relação alguma além de mordomo e mestre. –Eu disse.

-Isso me deixa mais tranquilo. –Ele disse, desviando o olhar. –Não foi exatamente isso que ele me disse, quando entrei pela janela e ele estava arrumando a cama.

-E você preferiu acreditar nele, do que em mim? –Perguntei, fitando Sebastian que estava sentado do meu lado, com sua mão em baixo da minha.

-Eu estava nervoso, Lady Alice. Mesmo ontem disse que estava me apaixonando por você e então, no outro dia, outro mordomo aparece e isso me fez perder a cabeça. –Sebastian respondeu.

Suspirei.

-Agora já sabe, não é? Antes de ter atitudes precipitadas, venha falar comigo!–Disse, dando uma bronca em um demônio que deveria ter pelo menos, 200 anos a mais que eu.

-Sim, Alice. –Ele respondeu.

Eu ri.

-Brigamos como um casal. –Eu disse, ainda rindo.

Sebastian sorriu.

-Eu queria que fossemos um. –Disse o demônio me olhando.

Corei levemente. Como Sebastian pode falar algo assim para mim? Ele realmente não pensa no que diz...

-E não somos, porque ainda não chegou a hora. –Eu disse, abaixando a vista.

-Me alivia saber que você entende. –Ele disse.

-Se não eu, quem entenderia? –Perguntei, passando a mão em seus cabelos negros molhados.

-Suas mãos estão frias. –Ele disse, colocando uma de suas mãos sobre a minha. –Queria conseguir te deixar confortável.

-Você me deixa confortável. –Disse, indignando-me sobre a opinião do demônio sobre como ele age junto a mim.

-Que bom que acha isso. –Ele disse, sorrindo de seu modo mais natural, fechado.

-Ah, Sebastian, não deveria estar com Ciel? –Perguntei, me assustando.

-Meu Jovem Mestre já está dormindo. –Ele respondeu. –Tem ido se deitar cedo desde que você se foi daquela mansão. Parece que os dias que passou lá trouxe vida de novo a aquele lugar sombrio, e fez com que meu Jovem Mestre sorrisse.

-Ah, eu sinto muito por isso. –Eu disse, colocando minhas mãos em meu rosto.

Sebastian me analisou um instante, segurou minhas mãos e as tirou de meu rosto.

-De certa forma, eu tenho sorte por poder vê-la. –Ele disse.

-E eu tenho sorte de que você venha me ver. –Falei, passando a mão no rosto dele.

Sebastian inclinou-se para me beijar no rosto, mas foi interrompido por batidas na porta.

Levantei-me e pedi para que Sebastian se trancasse no banheiro, caso fosse minha avó.

-Sim? –Disse abrindo a porta.

-Jovem Lady, vim avisar que tomei a liberdade de preparar seu jantar, já que notei que não comeu nada hoje. –Louis disse.

-Ah, claro, Louis. –Respondi sorrindo. –Eu já vou descer, mas, por favor, peça para minha avó jantar comigo hoje, tudo bem?

-Yes, My Fair Lady. –Louis curvou-se e foi fazer o que eu pedi.

Sebastian saiu do banheiro.

-Sabe, é até bom ter um mordomo. –Eu disse, brincando com o demônio ciumento.

Sebastian me olhou com uma cara de: “Vamos mesmo ter que brigar de novo?”.

-Não quero você falando com ele. –Sebastian disse.

-Não é você quem decidi isso. –Eu disse. –Ele é meu mordomo, preciso falar com ele.

-Eu sei... Mas, evite. –Ele disse, colocando a mão na testa.

-Não seja tão ciumento. –Disse, sorrindo para ele.

-Não sou ciumento. –Ele indagou.

-Claro que é. –Disse eu, indo para frente do espelho e passando a mão em meu penteado.

Sebastian segurou minha cintura.

-Se eu tenho ciúmes, significa que você é minha? –Ele perguntou.

Eu me soltei dele e sorri.

-Não sei... Responda-me você. Isso deve ser uma troca, se eu fosse sua, você seria meu? –Eu disse.

-Faça o contrato comigo, e eu serei todo seu. –Ele disse, brincando e sentando-se na cama.

-Claro. –Respondi sem hesitar. –Quando?

-O que? Sem pensar duas vezes? –Ele falou, assustado. –Já disse que não quero sua alma...

Suspirei decepcionada.

-Tudo bem, então. Se quiser dormir aqui, irá ter que me esperar no quarto. –Eu disse. –Vou jantar com minha avó.

-Seria muito abuso meu dormir dois dias seguidos com a senhorita. –Ele falou, devolvendo formalidade a conversa.

-Eu não me incomodo, senhor Sebastian. –Disse, brincando. –Vou jantar. Até mais.

-Até mais. –Ele respondeu, me olhando andar em direção a porta e sair, indo em direção ao jantar.

E de repente, eu e Sebastian ficamos tão íntimos...

E foi só um outro demônio entrar no jogo que Sebastian quase morreu de ciúmes.

Não devo tratar isso como se não gostasse, na verdade, eu adorei.

Tirando o fato de que terei que tirar satisfações com Louis, quero saber o que ele disse para Sebastian que o fez ficar tão nervoso.