Premonição: Caçada Insana escrita por PeehWill


Capítulo 7
Confissão


Notas iniciais do capítulo

Este capítulo saiu depois da data prevista, que seria ontem. Mas enfim, consegui terminá-lo.
Aproveitem!



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Assim que abriu a porta, depois de escutar a campainha, Miranda avistou Luther parado. Ele olhava-a como se pedisse um tipo de ajuda, mas não precisou o rapaz falar, pois ela o deixou entrar. Ele, ainda de maneira discreta e nada simpática, parou ao lado do sofá. Cruzou os braços e esperou que alguém começasse a falar. Miranda parou ao lado do loiro e disse:

— Obrigada por vir. — E sorriu de canto, enquanto se afastava.

O rapaz se fez de indiferente, e apenas continuou como uma estatueta, ao lado do sofá. A morena sentou ao lado de Violet e viu a irmã chegar à sala. Ela sentou em uma poltrona, enquanto Loren estava sentada em um puff ali próximo. Os cinco se entreolharam, esperando alguém começar a falar. Luther estava um pouco desconfortável.

Ele havia se recusado a ir à casa de Miranda, ainda estava desconfortável com a morte de Dave. Teve pesadelos, além da insônia que o deixou de pé a noite toda. Aquela lista era algo novo para ele. Ele nunca havia perdido alguém em toda sua vida, sempre tivera seus pais e seu irmão ali tão próximos dele. De uma hora para outra ver seu irmão ir de uma forma trágica. Ele tinha uma explicação, mas não sabia se ele mesmo havia criado aquilo, ou se era algo criado de sua imaginação.

Mesmo assim aceitou ir até a casa de Miranda. Ele pensou a noite toda, e percebeu que ele estava inteiramente envolvido com isso. Cinco pessoas já haviam morrido, ele sentia que estava sem saída. Mas muito disposto a descobrir um modo de terminar com aquilo, de cessar aquele desconforto, de extinguir a lista. A qualquer custo.

Antes mesmo de alguém começar a falar, Drew segurava para não chorar. Ela acabara de lembrar-se de seu namorado, e no triste fim que ele teve. Ela ainda estava confusa quanto a tal lista, Miranda não havia falado exatamente tudo. A jovem já sabia que eles estavam em uma lista e todos teriam que morrer mais cedo ou mais tarde, nada mais.

— Bem... — Loren iniciou.

Todos levaram o olhar até ela. Estavam todos atentos para escutar o que Loren tinha a falar. Era de extrema importância, todas as suas vidas estavam em jogo.

— Gente, eu andei pesquisando muito este tempo todo. São várias as teorias que temos para acabar com a lista. Algumas delas não serão aceitas, porque eu sei disso. Outras serão de difícil escolha. Mas isso vai depender do psicológico de cada um.

— Quando quiser. — Disse Luther, um pouco incomodado.

— A primeira teoria é a de que uma nova vida dentro da lista pode deter diretamente com os planos da morte. — Tentou falar da maneira mais compreensível possível.

Mas o que Loren ganhou fora a cara de dúvida de todos.

— O que quer dizer com nova vida? — Miranda perguntou.

— Um bebê. — Loren foi direta,

— O quê? Ter um bebê é quase impossível para a gente! — Violet logo se manifestou.

Miranda olhou para Luther, e ele nem sequer deu sua opinião, apenas devolveu com um olhar pacífico.

— Pode continuar. — Drew disse, com um tom de impaciência.

— A outra teoria é a de que o último da ordem deve se suicidar. — Loren silenciou, olhando para Miranda.

— É você. Não é? — Drew falou, olhando também para a irmã. Viu-a muito espantada.

Miranda engoliu em seco quando escutou aquilo. Ela era a última da fila.

— Deve ter outra teoria, não é? — Miranda falou com uma voz entrecortada.

— Agora vem a que eu acho mais absurda de todas... — Houve uma longa pausa. Loren olhou para todos, antes de mencionar a última teoria. Respirou fundo. — A última teoria é a de que entregando uma vida para a morte no lugar da sua, você estará fora da lista. Você adquire a vida da pessoa em troca disto.

— Eu não entendi. — Violet falou, erguendo uma das sobrancelhas.

— Dê uma vida para a morte em troca da sua. — Luther falou. — Mate uma pessoa! Não é assim? — Continuou, em um tom mais forte, como se tivesse achado a salvação.

— Assassinato? Nem pensar! — Miranda arregalou os olhos.

— É mesmo a mais absurda! — Violet arfou.

— E a mais fácil. — Luther retrucou.

— Você não está dizendo que... — Drew tentou imaginar o que ele diria.

— É fácil matar uma pessoa. — Seu tom de voz foi ficando mais misterioso.

— Eu não acredito nisso! Você já matou alguém? — A expressão de Loren de espanto foi inevitável.

— Claro que não! Mas deve ser muito fácil você atirar em alguém, ou esfaquear alguém. — Deu com ombros, como se conseguisse lidar muito bem com aquilo.

— Você é doente. — Violet o olhou com desdém.

— Loren. Será que não tem mais nenhuma forma da gente deter a lista? Além das que você já falou? Que em minha opinião são péssimas. — Miranda foi franca no que disse. Realmente ela havia detestado todas as teorias de deter a lista.

— Tem outra. Esta realmente deve funcionar.

Loren teve o olhar de todos voltados a ela novamente.

— Alguém deve morrer fora da ordem, quando a morte esperar levar outra pessoa.

— Mas primeiro devemos saber quem é a próxima pessoa da lista. — Violet virou-se diretamente para Miranda. — Fala, Mi. Quem é a próxima vítima?

A morena hesitou e relutou muito consigo mesma para poder falar. Ela já sabia quem era o próximo, segundo a ordem que fizera.

— É você. — Conseguiu dizer.

Violet ficou paralisada. Uma onda de eletricidade percorreu seu corpo e ela tremeu.

— Eu sou a pró-próxima? — Gaguejou, antes de deixar que uma gota de suor descesse pelo rosto.

Isso foi o bastante para Drew se erguer da poltrona e sair da sala, indo em direção à porta. Ela estava cheia com tudo aquilo, com toda a lista. Ela estava feliz por ter sobrevivido, afinal, sua irmã havia lhe salvado da morte. Ela teria muito que agradecer à Miranda. Mas, depois de saber que só acabou indo parar do final da lista, sua animação baixou à zero. Ela ainda continuava na lista. Ela se esforçou para me salvar... E eu só fui para o final. Ela se esforçou para nada. Suspirou lembrando tudo, lembrando do Grande Senhor dos Ventos, o grande ventilador que quase a deixou em pedaços no galpão do teatro. Ela estava muito nervosa, sentia que deveria fazer alguma coisa para tirar aqueles sentimentos negativos de si. Algo definitivo.

— Alguém tem algo mais pra dizer? — Luther olhou as três paradas ali na sala.

— Tudo que eu sei, eu já disse. — Loren baixou a cabeça, se erguendo do chão.

— Então ta. Eu já vou indo. — O loiro caminhou até a porta, mas parou, olhando para trás por cima do ombro. — Eu aviso quando tiver conseguido deter a lista. — Falou em um tom misterioso.

Ele não pode estar pensando em matar alguém. Miranda pensou. Não ele! Ela não queria acreditar na hipótese de Luther querer matar alguém. Ele era seu soldado grego, era portador de seus sonhos. Então, deixou que ele fosse. Loren se aproximou da morena e sorriu.

— Eu tenho uma idéia. — Loren tocou a mão de Miranda.

— Que idéia?

— Vamos pregar uma peça na morte, e acabar de vez com isso. — Loren falava em um tom encorajador.

— O que você tem em mente? Morrer fora de ordem?

— Isso!

— E quem se sacrificaria no lugar da Violet? — Miranda perguntou, tentando desvendar o Loren faria.

— Eu. — Loren olhou no fundo dos olhos de Miranda.

Neste momento Violet se aproximou, com uma expressão entristecida.

— Eu já estou indo, Mi. Cuida-se, ta? — Beijou o rosto de Miranda e saiu.

Miranda corou de imediato. Loren não entendeu muito bem o que se passava ali, mas estava muito mais focada no plano que sacrificaria sua vida. A morena voltou o olhar novamente para Loren, muito indigesta.

— Eu não estou acreditando no que eu estou ouvindo! — Miranda se afastou. — Loren, você pirou? Você não pode fazer isso!

— Tanto posso... Como vou! — Loren já estava decidida. Não tinha como voltar atrás.

Miranda apenas continuou ali, parada. Esperando que Loren dissesse que era somente uma brincadeira.

— Vai dar tudo certo! A morte espera levar a sua amiga, Violet, não é? Mal ela sabe que irá levar a pessoa errada. — Abraçou Miranda. — Confia em mim. Vocês todos vão sair bem dessa.

Miranda sentiu algo escorregar pelo seu rosto, era uma lágrima. Ela não sabia se ela lágrima de alegria, por Loren estar querendo salvar a ela e os outros da lista; ou tristeza, por Loren querer acabar com a própria vida para salvar as suas.




x-x-x

Drew comia seu sundae, preocupada. Cady olhava-a tentando adivinhar no que ela estava pensando.

— O que você tem? Quer que eu te ajude? — Cady sorriu, mas sua expressão mudou quando percebeu a tristeza explícita no rosto de Drew. — É o seu namorado. Não é?

— Sim. — Drew tocou o canudo de um suco que pedira alguns minutos antes e começou a mexê-lo dentro do recipiente vazio. — Eu não consigo esquecê-lo. Eu já tentei, por várias vezes... Mas seu sangue volta para me fazer lembrar que ele está morto. — Sua voz tornou-se cansada.

— Eu já te contei que perdi meu pai há um ano. Não contei?

— Sim, já. — De súbito, Drew lembrou-se da mãe, e de como eram ótimos seus beijos de “boa noite”.

— Mas acho que não contei o que faço para me sentir melhor, depois que acabo lembrando-se dele.

— Isso não. — Drew respondeu.

— Eu recito um poema pra ele. No túmulo dele. — Começou, respirando fundo. — Muitas vezes eu ensaiava no túmulo, pra ele perceber o quanto eu estava me esforçando para agradá-lo. Mesmo morto. — Cady não se sentia incomodada ao contar aquilo. Certamente ela conseguia esquecer que ele havia morrido, ao fazer isso.

— Você ensaiava no túmulo dele? Mas isso não é coisa de gente normal. — Drew não se arrependeu de falar aquilo, tudo que ela queria era ser sincera com Cady, já que a outra também estava sendo muito verdadeira ao tentar ajudá-la com Dave.

— Eu me sentia bem falando com ele. — Retrucou. — Eu até cheguei a senti-lo me aplaudindo depois de recitar as poesias... — Repentinamente Cady começou a chorar. — Isso me fazia muito bem. — E limpou uma das lágrimas com um guardanapo.

Drew não disse nada, apenas afastou a cadeira para próximo da amiga e deixou-a deitar a cabeça em seu ombro. Ela tentando me consolar, e eu que a consolo no final. Drew sorriu de momento, mas seu sorriso desapareceu novamente ao lembrar-se de sua mãe e de Dave.

— Você pode tentar. — Cady recuperou o fôlego e pareceu muito melhor do que antes, depois de chorar.

— Eu queria muito poder dizer pro Dave, o que não disse no dia em que ele morreu. — A jovem voltou ao seu lugar, e voltou a pegar o mesmo canudo que antes mexia.

— Você quer ir ao túmulo dele?

— Não onde ele foi enterrado. E sim, onde ele morreu, sabe? Ele partiu lá... — Drew segurou-se para não chorar.

Ela sentia-se a garota mais dramática de todas. Mas não por culpar de alguma coisa, pois não se culpava. Mas pelo arrependimento de não ter dado o que Dave queria. Eu devo meu perdão a ele. Ele tem que me escutar, afinal, eu fui muito egoísta. Foi pensando por alguns instantes, enquanto terminava seu sundae, que Drew decidiu o que faria.

— Cady. Será que você pode me levar até a saída da cidade?

— Claro. Posso sim! Tudo para ver a melhor atriz daquele teatro bem. — Não se importava em dizer aquilo, mesmo sendo uma das atrizes do teatro. Cady sempre considerou muito a amizade de Drew, as duas se conheciam desde pequenas, mas se afastaram por conta que Cady teve de viajar, e só voltou dois anos depois de sua ida.

Tempo suficiente para Drew ter feito novas amizades: Leona e Amy.

x-x-x

Violet andava pela sala, ansiosa. Ela esfregava as mãos no short jeans surrado e na blusa caída sobre um dos ombros, tingida de azul. Seus cabelos estavam bagunçados, de tanto ela os assanhar, pensando em uma maneira de sair da lista. Matar, não será a melhor saída. Ter um bebê é impossível a esta altura. O último da lista se matar... Miranda chegou à mente da ruiva, como um raio. Violet lembrava-se de que ainda tinha de contar a ela sobre sua paixão secreta. Ela já estava farta de tudo: esconder que amava sua melhor amiga, fingir para os pais seu bem-estar, além de se refugiar falsamente em suas pinturas. Àquela altura, Violet já estava incomodada de olhar suas pinturas e só ver o rosto de Miranda. Será que não consigo pintar nada, a não ser ela? Essa sensação de desconforto precisa ser tirada de mim... Necessito desabafar e contar a verdade. Só assim me sentirei mais calma, e mais aliviada. Rapidamente Violet pegou o celular que estava em seu bolso e discou para Miranda, que rapidamente atendeu.

— Mi, eu...

— Aconteceu alguma coisa, Violet? — O tom de voz de Miranda parecia se alterar, enquanto mais ela sentia-se preocupada.

— Não, não é isso Mi. Eu quero que hoje à noite você venha até minha casa, e sozinha. — Respirou fundo, e então voltou a falar. — Eu tenho uma coisa pra te dizer e te mostrar.

Violet sentiu o peso de sua consciência ao falar aquilo. Ela estava receosa de que algo pudesse dar errado, de que a morte se aproveitasse daquele momento e viesse buscá-la. Mas para ela, nada era mais importante do que dizer logo de uma vez para Miranda de que ela a amava. Afinal, ela tinha de fazer aquilo mais cedo ou mais tarde, antes que a morte conseguisse levá-la.

— Está bem. Hoje à noite eu vou até ai. Sozinha. — Falou calmamente. — Beijo. Até lá, qualquer coisa estranha que acontecer me liga!

— Pode deixar. — Violet desligou, tremendo.

Miranda desligou em seguida, com o celular ainda na orelha.

Violet se jogou no sofá, imaginando a reação de Miranda, de curiosidade ao ouvir o que ela disse. Naquele momento ela sentia-se a pessoa mais inspirada para pintar, mas do que adiantaria se tudo que apareceria na tela fosse o rosto de Miranda? Nada adiantaria. Então, caminhou até a cozinha para preparar um chá. Estava cansada, e um chá a faria sentir-se um pouco melhor. A noite seria longa.

No momento em que colocou a água para ferver, a ruiva ouviu um barulho estranho vindo da sala. Mas ninguém poderia estar ali: seus pais chegariam somente alguns dias depois, e ela não estava esperando ninguém. Então, deixou a água fervendo e foi ver quem era. Quando chegou à sala, não encontrou ninguém, a sala estava vazia. Ela olhou para as escadas que davam acesso ao segundo andar, mas também não encontrou nada, além dos degraus empoeirados.

E foi voltando à cozinha que ela sentiu um vento fraco e ameaçador bater em sua nuca. Ela levou a mão até a mesma e coçou. A ruiva olhou para um lado e para o outro, percebendo que sua preocupação era à toa. Quando escutou o chiado da chaleira, ela desligou o botão do fogão e viu o fogo desaparecer. A chaleira quente permanecia em cima do eletrodoméstico, enquanto ela prendia o cabelo em um coque desarrumado. Esquecendo totalmente da temperatura, e se dispersando por alguns instantes por causa de dois bips do relógio digital do micro-ondas, ela tocou na chaleira. Com um grito de dor, que ela tirou os dedos rapidamente dali e levou-os até a pia que ficava próxima. Ligou a torneira com a mão que não estava queimada e colocou seus dedos embaixo da água fria.

Seu suspiro acalmou mais seus nervos. Burra! Violet falou mal de si, enquanto tentava amenizar a dor da queimadura.

— Será que você não consegue nem tirar uma chaleira do fogão? — Resmungou, depois de desligar a torneira e pegar um pano úmido para conseguir tirar a chaleira do fogão.

Quando colocou a chaleira debaixo da mesma torneira para esfriá-la, viu seu reflexo e também, pôde ver um vulto bem atrás dela. Quando se virou instintivamente, não viu nada, além da cozinha vazia.

Quando terminou de preparar seu chá, foi até a sala e ligou a tevê, esperando encontrar algo que lhe agradasse àquela hora.




x-x-x

— Já disse que não quero mais saber disto, pai! — Luther gritou, deixando seu rosto vermelho de raiva.

Seu pai, o Sr. Williams estava tentando se aproximar, mas com a expressão de raiva do filho, era quase impossível de se fazer aquilo. Luther olhou o pai e o empurrou, fazendo-o bater na parede com força.

— Você bebeu meu filho?

— Cala a boca! Se eu bebi ou não... Não é da sua conta!

— Claro que é! Eu sou seu pai! — Depois do empurrão, o pai de Luther se posicionou mais uma vez na frente do filho.

— Desde quando você é meu pai? Desde que você achou que se separando da mãe, tudo ia ficar bem? Desde que você acreditou que fingindo que seu filho era mais importante que seu emprego naquela droga de empresa, nossa relação ia melhorar? Não pai! Desde nunca! — E socou um vaso de planta ali próximo, fazendo-o cair no chão e se despedaçar.

— Acalme-se meu filho! Você está equivocado. Precisa de um banho, pra esfriar a cabeça. — Na tentativa frustrante de se aproximar, levou outro empurrão do loiro.

— Me deixa em paz. Ok? — Luther bateu a porta, e não sabia o rumo que tomaria naquela noite.

A lista estava o deixando maluco. Entretanto, ele já sabia o que fazer para aquilo ter um fim. Ele já sabia qual teoria usar. A teoria mais fácil, segundo ele. Ele deveria entregar uma vida para a morte, uma vida que representasse a sua. Ele deveria assassinar alguém.




x-x-x



Miranda andava na calçada, em direção à casa de Violet. Ela pensava na forma delas conseguirem montar uma armadilha para a morte, usando Violet. Ela não achava perigosa a idéia, mais absurdo era Loren querer se sacrificar para salvá-los. Ela não pode fazer isto. E quando percebeu já estava na porta da casa da ruiva, arrumando o cabelo castanho para estar bem mais apresentável para a amiga.

Antes que pudesse tocar a campainha, Miranda olhou para trás e viu o exato momento em que uma van passou lentamente pela rua. Em sua lateral, um enorme logo, como um desenho de uma aranha e a inscrição: Viúva Negra. Pensou no quanto foi irônico o que acabara de ver, então a van sumiu de sua visão, ao dobrar na esquina mais próxima.

Quando se virou novamente para a porta da casa da amiga, levou um susto, ela já a esperava, com a porta aberta. A morena soltou um gritinho, mas logo se recuperou, ouvindo a amiga dizer:

— Que bom que você veio.

Miranda sorriu.

— É para isso que servem as amigas. — O sorriso de canto mostrou que ela ainda estava receosa pelo que acabara de ver.

Enquanto as duas entravam, Miranda olhava a casa, admirada.

— Quantos quadros têm aqui. Não é? Você que os pintou? — Passou os dedos finos em um dos quadros.

— Não. — Violet disse, enquanto se aproximava por trás. — Vem! Preciso te mostrar uma coisa.

— Ta. — Miranda a acompanhou.

As duas andaram por um corredor pouco iluminado, mas Miranda lembrou-se da van e resolveu perguntar, já que o que vira fora bem irônico.

— Você costuma ver aranhas por aqui?

— Aranhas? — Violet tremeu, mas nem sequer olhou-a. — Não muitas, mas já gritei muito depois de ver uma no banheiro. — Riu. — Mas, porque a pergunta?

— É que eu vi... — Miranda não respondeu, pois as palavras tinham acabado de entalar em sua garganta.

A morena paralisou, seus olhos pararam diante da cena que estava vendo. Ela não teve coragem de dar mais nenhum passo, pois estava em estado de êxtase. Seus milhares de pensamentos foram todos interrompidos, quando Violet puxou sua mão, para ela entrar de vez no ateliê.

Miranda estava de frente às várias telas pintadas pela amiga. Mas não fora isso que a chocou e sim, o fato de ela estar em todas as imagens. Em diferentes ângulos e poses. Miranda era a musa da inspiração para a ruiva.

— Por quê? — A garota de olhos cinzentos perguntou para a amiga, que estava tremendo de tão nervosa, bem atrás dela.

— Mi. Eu não consegui dizer todo este tempo, que eu sinto uma admiração muito grande por você. Não só admiração, mas também amor. Mi, eu te amo.

As palavras de Violet entraram nos ouvidos de Miranda com um terremoto. Ela estremecia seus membros. Eles não estavam mais respondendo, seus olhos começaram a ficar marejados. Ela sempre me amou... Como eu nunca pude perceber isso antes? Na verdade, Miranda já havia quase descoberto uma vez, enquanto as duas andavam de bicicleta no parque, ao redor do lago, mas prometeu para si mesma que aqueles pensamentos não passavam de bobagens. Ela sempre achou que poderia ferir a ruiva se achasse que ela tinha um afeto por ela.

A jovem estava ocupada demais observando seu rosto nas telas. Não escutou o que Violet disse, e continuou ali parada, como se não tivesse acreditado ainda no que acabara de ouvir. Desta vez, a morena escutou muito bem o que a amiga disse:

— Não sai daqui! Eu quero pegar uma coisa pra você. — Então Violet saiu do ateliê em direção aos fundos da casa.

Ela chegou a um pequeno quartinho que ficava nos fundos da casa. O quartinho era como um porta-bugingangas. Havia vários cacarecos lá dentro, mas também havia coisas utilitárias, como algumas ferramentas de seu pai. A jovem ruiva abriu a porta e olhou para as prateleiras mais altas. Fora em uma delas que ela guardou a caixinha, que dias antes havia feito para entregar para Miranda. Era uma linda caixinha enfeitada. Ela ainda não tinha parado para pensar na resposta e na reação de sua amiga com relação a aquilo tudo. Mas se já era sua vez de morrer, porque esperar ainda mais pela morte?

Então, a ruiva ficou na ponta dos pés para alcançar a prateleira onde estava a caixinha. Ainda se perguntava onde estava com a cabeça, para deixar a caixinha dentro daquele quartinho quase isolado. Estava com a cabeça em Miranda, todo este tempo. Ela apoiou as duas mãos na prateleira, fazendo-a desprender em um dos lados. Uma lata de cola super forte estava na beirada da prateleira, aberta.

Quando Violet se apoiou ainda mais para alcançar a caixinha, a lata de cola caiu sobre ela. Só deu tempo de ela fechar os olhos e a boca. A cola caiu sobre seu rosto, de modo a grudar seus olhos e sua boca. Estava impossibilitada de ver ou falar alguma coisa. Ela tentou mover as mãos, para tirar aquela gosma de seu rosto, mas o líquido gelatinoso e grudento também estava embaixo de suas mãos. Suas mãos artísticas estavam grudadas na prateleira, assim como seus olhos e boca também estava grudada.

Ela gemia e gritava, mas nenhum som saia, apenas o gemido abafado. A jovem fez uma força danada para abrir os olhos, sorte que a cola não fora toda naquela área. Então ela conseguiu abrir os olhos, ainda sim, com muita dificuldade. Quando viu a caixinha ela sentiu um vento frio entrar no quartinho, e de repente alguma coisa saia de detrás da caixa. Era uma aranha. Viúva Negra. Pensou. Foi ai que o medo começou a tomar conta de todo seu corpo, ela estava de frente à uma aranha de um veneno fatal.

A jovem se debatia freneticamente, tentando retirar as mãos da prateleira, para que pudesse retirar a cola da boca. Miranda veio na sua mente, e ela tentou gritar, mas nenhuma palavra saia.

Miranda estava impaciente, ao mesmo tempo, incrédula. Ela sentia falta da amiga, saíra há alguns minutos para pegar algo, mas ainda não tinha voltado. Foi ai que de súbito, a imagem da aranha da van veio à tona. A jovem de olhos cinzentos saiu do ateliê, procurando a amiga, mas ao encontrou nada.

Ela correu até os fundos da casa, mas também não havia nada ali. Onde você se meteu Violet?



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Notas finais do capítulo

Um capítulo sem mortes, mas intenso.
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