Premonição: Caçada Insana escrita por PeehWill


Capítulo 5
Santuário


Notas iniciais do capítulo

Mais um capítulo entregue, com antecipação. Já que ficou pronto antes do tempo previsto, pois eu só postaria amanhã. Mas já que já está pronto, resolvi postá-lo. :)
Por enquanto é só...
Aproveitem!



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Miranda foi abrindo os olhos devagar, sentindo a luz bater em seus olhos. Quando seus olhos cinzentos estavam totalmente abertos, ela pode ver Drew sorrindo. Era a primeira vez em anos que ela vira seu sorriso verdadeiro.

— Que bom que acordou. — Ela disse contente.

— Onde eu est... — Miranda não falou mais nada. Já sabia onde estava.

O quarto de Drew era mais espaçoso que o dela. Não era tão simples quanto o seu, mas sua decoração também não era tão exagerada. Ela sentiu seu corpo nas nuvens, a cama da irmã era muito macia.

— Por que me trouxe para cá?

Miranda não sabia ao certo qual era a intenção de Drew em levá-la até seu quarto. Até onde sabia, ela era proibida de entrar em seu território.

— Eu só achei que você se sentiria melhor em uma cama de verdade. — E deu mais um sorriso.

Ela está tão contente.

Drew levou as mãos até o travesseiro que estava embaixo da cabeça da irmã. Ela o retirou por alguns segundos e o maneou de forma que ficasse mais fofo e macio. Então o pôs de volta embaixo de sua cabeça. Ela recostou-a levemente, até sentir a verdadeira maciez do travesseiro.

— Não precisava ter me trazido até aqui. — Miranda fez muxoxo, encarando a janela.

— Mi. — Drew sentou-se na cama ao seu lado.

Ela estava com um penteado simples, apenas uma trança mal colocada para frente e um pouco da sua franja sobre os olhos. Então tocou sua mão com o maior carinho que podia e olhou em seus olhos, deixando Miranda totalmente desconcertada.

— Você não pode esquecer que somos irmãs, e que às vezes temos que fazer alguns sacrifícios na vida, que possam valer a pena. — Uma lágrima quase escapou de seus olhos.

— Onde você decorou esta frase? — Miranda brincou, franzindo a testa.

— Em lugar nenhum, sua boba. — E apertou sua mão.

Drew sentiu vontade de lhe dar um abraço. Por isso, antes de Miranda sequer perceber e lhe parar, ela se inclinou e lhe abraçou, com a maior força que podia. Ela sabia que não poderia perder aquele momento.

— Me desculpa. — Foi o que ela disse, se erguendo da cama. — Você deve estar com fome. Quer que eu prepare algo pra você? — Segurou na porta.

— Será que você poderia devolver a minha irmã? Só por alguns minutinhos? Esta não é a Fiona que mora comigo. — A irmã caçula gargalhou.

— Tem certeza que quer que aquela bruxa volte? — Drew também entrou na brincadeira.

— Prefiro. — Miranda ficou séria e novamente olhou para a janela.

Drew saiu do quarto rindo da conversa. Ela prepararia algo para as duas comerem. Afinal, já havia passado do horário do almoço. Miranda continuou na cama, sentindo o travesseiro amparar o peso de sua consciência. Ela conseguira terminar a ordem, mas havia desmaiado e até agora, só lembrava-se de Loren, Chris e Gavin. O desenho da ordem! A jovem acabou lembrando o rabisco que fizera.

— Drew!

x-x-x

Amy já estava preocupada com Leona. Ela não havia chegado ainda da sessão de fotos com seu amigo de colegial, Patrick. A loira pegou o celular que estava jogado ao seu lado e discou o número dela. Ela não atendeu.

Tentou duas, três, quatro vezes. Ainda nada.

De repente Amy ouviu uma buzina vinda do lado de fora. Ela foi até a porta e a abriu. Olhando por cima do gramado ela pode ver um carro parado de frente à sua casa. Finalmente a luz que precisava. Ela correu, descendo a varanda às pressas, o carro de Luther não era tão ruim, uma pick up cinza. Assim que ela se aproximou e se apoiou na porta, sentiu o cheiro agradável do estofado do veículo. Então deduziu: Ele comprou um carro novo.

— Cadê a sua irmã? A gente combinou de sair. — Luther perguntou, arrumando os óculos escuros no rosto.

— É isso mesmo que eu quero descobrir. Ela saiu bem cedo e disse que faria uma sessão de fotos com um amigo. O nome dele é Patrick, eles se conheceram no... — Antes que Amy pudesse terminar de caracterizar a relação entre Leona e Patrick, Luther o interrompeu.

— Patrick Turner? O maluco sociopata? — Luther estava incrédulo. Aquilo que Amy disse mexeu com toda sua mente.

— Sociopata? Como assim? Ele me pareceu se dá bem com todos. — E tentou dar-lhe as melhores explicações possíveis para não acreditar na verdade.

— Sociopatas são assim. É isso que eles querem que você pense. — Luther retrucou.

— Tem certeza que você não está confundindo um pouco as coisas, Luther? — Amy se afastou um pouco do carro.

— Entra logo Amy! Eu não tenho tempo pra esperar que ele tente fazer algo com ela!

Não deu três segundos e Amy já estava dentro do carro. Ela não entendeu o porquê de Luther dizer que o fotógrafo era maluco, mas ele deveria ter fundamentos para tal afirmação.

O loiro acelerou, cantando pneu pela rua. Amy colocou o cinto e viu os olhos enfurecidos do namorado da irmã. Extinto de proteção. A loira já havia encaixado tudo. Provavelmente Patrick se meteu na vida pessoal do casal popular e isso foi deixado bem claro com o rosto de fúria que estava nos olhos de seu “cunhado”.

x-x-x

O ateliê de Violet estava pouco iluminado, como sempre. A ruiva meneava o pincel com maestria pela tela, que já não era mais branca. Enquanto foi pintando, a imagem de Miranda veio a sua mente. Quando ela perderia o medo de falar o que sentia pela amiga? Será que ela reprovaria? O que ela acharia de tudo? As perguntas a deixavam mais nervosas. Sua mão começara a tremer e ela se espantou quando viu o término da pintura. Mais uma tela com o rosto de Miranda havia sido pintada.

Ela já não sabia mais o que realmente fazer. Estava entalada, com um nó na garganta. Tudo que ela queria era facilitar as coisas e dizer logo de uma vez o que sentia pela melhor amiga, mas o receio de ser reprimida retornava para amedrontá-la cada vez mais.

Repentinamente Violet pensou na possibilidade do que Miranda estar falando ser verdadeira. Ela confiaria o bastante em Loren para acreditar nela? Ela passaria por cima dos ciúmes para acreditar nas palavras de Miranda? Nada mais fazia sentido, tudo estava embaralhado, com um monte de cartas espalhado pelo chão. Ela teria de juntar seus pensamentos novamente, antes que mais uma tela com o rosto de Miranda fosse pintada.

Seu telefone tocou. Era sua mãe, muito preocupada.

Você está melhor, querida? — A voz de sua mãe era a mais acalentadora de todos. Um timbre suave e um tom que despertava a mais íntima tranqüilidade.

— Claro que estou mãe. — Violet não queria contar a verdade. Tudo que ela estava passando serviria de lição. Preciso aprender as regras antes de começar a segui-las.

Eu e seu pai voltamos em duas semanas. Tudo bem pra você?

— Claro. — Violet sorriu de lado.

Assim que sua mãe desligou, depois de um beijo, Violet se pôs a pensar em tudo o que Miranda lhe falou. Ela necessitava acreditar naquilo. O jogador e Gavin haviam morrido. Não tinha coincidência ali. Era obra de algo sobrenatural.

x-x-x

O carro de Luther freou bruscamente, fazendo seus corpos serem lançados violentamente para frente. Estavam com o cinto de segurança. Ele abriu a porta, em estado de êxtase. Amy nem sequer saiu do carro, ela conseguia ver bem tudo de dentro do veículo. A fumaça negra tomava quase toda a fachada do prédio. Tudo que se conseguia ver era as paredes chamuscadas e o fogo sendo apagado pela equipe do corpo de bombeiros.

Luther viu Amy sair do carro com os olhos marejados. Ela carregava um rosto apavorado. Ela se aproximou e disse:

— Aquele é o prédio. — Amy elevou o indicador até o monte de cimento chamuscado. Seus dedos estavam trêmulos.

— Caralho! Ela pode estar... — Luther passou a mão na cabeça desesperado.

Então o jovem correu por entre a multidão que ali havia se instalado. O barulho da sirene do carro dos bombeiros, misturado com o barulho do jato da mangueira que apagava o fogo, que já estava contido. Ele empurrava várias pessoas, enquanto gritava pelo nome da namorada. O suor já estava visível, seu rosto estava vermelho.

Ele encontrou algumas vítimas do incêndio sendo atendidas pela ambulância que havia acabado de chegar. Mas não avistou em nenhum ponto, sua namorada. Ela está aqui! Eu sei disso! E continuou procurando.

Assim que parou para retomar o fôlego viu o carro da perícia, dele saíram dois homens: um era alto, negro e forte; o outro era baixo, mas também era forte. O mais alto o olhou dos pés à cabeça e enquanto carregava em um saco preto um corpo, disse:

— A morte odeia ser enganada. Primeiro vocês brincam com ela, depois ela vem pegar cada um de uma vez. — Sua voz era paralisante.

Luther ficou estóico e sentiu um enorme frio na espinha. O homem negro e alto havia o feito arrepiar.

— O que você quer dizer com isso? — Ele viu o homem desaparecer na multidão. — Ei!

Amy se aproximou, tocando seu ombro. Ela estava pálida. O abraçou e deixou que suas lágrimas caíssem sobre sua blusa. Ele tirou-lhe de seu “ombro amigo” e a olhou.

— O que houve? Ei! Por que está assim? O que aconteceu? — Ele segurava suas mãos trêmulas. — Você está tremendo.

— É a Leona... — Começou a chorar em seu peito.

— Fica calma e me conta direitinho o que aconteceu! — Abraçava-a forte.

— Ela não saiu do prédio! — Seu choro se tornou mais forte. — A Leona não saiu do prédio! — Ela gritou.

Os olhos de Luther se arregalaram na mesma hora. E enquanto Amy se debulhava em lágrimas, ele observou a fachada do prédio. O fogo queimou TUDO. Mais um arrepio o deixou atônito. A única coisa que viera em sua mente neste momento foram as palavras do legista.

x-x-x

Drew chegou ao quarto com uma bandeja. Miranda já estava sentada, com uma face muito cansada.

— Não precisava. — Miranda arfou.

— Claro que precisava mana. — Ela sentia-se bondosa.

Na bandeja havia algumas torradas e um tipo de patê. Era pasta de amendoim. Drew sabia que a caçula adorava comer aquilo. Também tinha um copo de suco.

— Você precisa se hidratar e comer.

— Desde quando você virou enfermeira? — Miranda brincou, pegando uma das torradas e passando pasta de amendoim.

— Desde que eu percebi que minha irmã precisava de mim. Ora! — Colocou as mãos na cintura e depois se sentou ao lado dela, na cama.

— Como quiser. — A mais jovem fingiu indiferença.

Drew ergueu-se e foi em direção a porta para sair do quarto, mas lembrou-se de algo e voltou a virar para Miranda.

— Eu ouvi você gritar meu nome. Algum problema? — Seu interesse não era tão grande. Mas não hesitou em perguntar.

— Sim. É que antes de desmaiar eu acho que deixei um papel com um rabisco sobre a mesa, e... — Não continuou, pois foi interrompida facilmente pela irmã.

— Ah! Aquela folha de papel rabiscada sobre a mesa? Não se preocupe, já foi pro lixo. — E sorriu como se tivesse feito o certo.

Miranda ficou subitamente mais pálida. Seu olhar vidrou no rosto de “confusa” de Drew. A ordem...

— O que você tem? Quer mais alguma coisa? — Drew percebeu o olhar estranho da irmã.

— Eu preciso da folha. É caso de vida ou morte! — E a morena deixou a bandeja sobre o criado-mudo. — Ela contém a salvação de todos.

— Como? — Drew não acreditava no que a irmã dizia.

Ela não está passando bem.

x-x-x

Amy entrou chorando em casa, junta de Luther. O jovem, assim que entrou, viu os pais da loira chorando. Eles já devem saber. E viu também quando Amy correu e se refugiou nos braços dos pais. Ele também se sentia um fracasso, estava cabisbaixo e com os olhos marejados. Fora de longe o pior de todos os namorados. Ele sentia que não tinha dado o amor desnecessário, o amor eu ela tanto necessitava. Ela procurou fugir de mim nas fotografias. Minha deusa do sol... Eu não pude protegê-la. Por fora podia parecer durão, fazia parte de sua aparente conduta popular de capitão do time de futebol, mas nem nisso conseguia pensar. Ele ficou vermelho e prendia algo dentro de si... Algo inimaginável. Uma sensação um tanto inexplicável.

Estava se sentindo sufocado. Precisava espairecer... Queria certo ombro amigo, mas lembrou-se de que Chris também não estava vivo. Primeiro o Chris e agora, minha deusa do sol... Luther também se lembrou de que a última expressão que vira nos olhos de sua namorada fora a de raiva. Ela ficara com raiva dele pela última vez.

Amy entre os incansáveis soluços viu Luther bater a porta. Ela também fazia parte da vida dele.  Seu choro continuou, até suas lágrimas esgotarem e ela decidir que sua tristeza a consumisse dentro de seu quarto. A loira correu, deixando os pais abraçados na sala. Enquanto se afastava ouvia o som dos soluços abafados mais longes, até eles sumirem.

Antes de chegar a seu quarto, Amy parou de frente ao quarto de Leona. Ela abriu a porta vagarosamente e ficou de frente ao santuário dela. Seu quarto era sempre um lugar alegre e agitado. Ela acabou lembrando os finais de semanas que elas e Drew agitavam. Ligavam o som no último volume e deixavam o barulho ensurdecedor, na medida de desmoronar a casa do vizinho. Mas agora o quarto era somente um tipo de santuário, um lugar vazio e medonho. Não havia mais alegria ali. Apenas era um cômodo com móveis, não mais utilizados.

Amy entrou, tirando os chinelos. Ela passou a mão na mesa do laptop da irmã e gemeu, soltando um gritinho abafado, ela sentia os estilhaços de vidro bem embaixo de seus pés. Ela olhou para o chão e viu a fotografia preferida de Leona. Eram as duas de frente à varanda, com o lago e dois patos juntinhos como cenário. Parecia algo irônico do destino. Tem que ser... Amy pensou nisso, assim que viu a enorme rachadura trincada no porta-retratos, causada pela queda. Ela estava proporcionalmente alinhada entre as duas, as separando. O Chris e minha irmã... Onde mais isso pode parar? Será que é coisa da bruxa? Da bruxa que previu o acidente do ônibus? As coisas pareciam clarear para a loira. Ela estava crente de que Miranda estivesse por trás de tudo.

— Só pode ser... Só pode ter sido ela! Deve ser alguma bruxaria. Vou imediatamente falar com ela! — Amy não sabia onde Miranda morava, mas estava decidida de uma coisa: tomaria as devidas providências.

A loira deixaria de lado a postura de dama francesa e partiria para o ataque. Nem sabia se o que faria estaria certo, mas tentaria ao menos arrancar explicações da morena. Eu sei onde a bruxa mora. No instante em que pensou isso soltou mais um gemido, e quando olhou debaixo do pé encontrou um pedaço de vidro. Ele penetrou o bastante para ela senti-lo tocar sua carne. Quando o tirou a sangue frio, pode ver a fenda aberta por ele. Uma gota de sangue escorreu e caiu sobre o tapete.

x-x-x

Miranda sentia-se um pouco melhor. Já havia levantado da cama, afinal já estava na hora de sair das dependências de Drew. Foi assim que funcionou seu otimismo. Ela chegou à cozinha com esforço, pois ainda sentia dor de cabeça. Então se pôs a procurar a folha rabiscada, agora ela dependia mais da folha do que de Drew.

Ela foi até a lixeira e revirou-a, com certo nojo de mexer ali, havia restos de comida e um cheiro desagradável. Depois de alguns segundos, ela desistiu de procurar, pois não havia achado nada. De repente a campainha soou e ela rapidamente foi atender.

Quando abriu a porta se espantou. Loren estava de pé ali. Ela sorriu de canto e deixou-a entrar.

— Alguma novidade sobre a ordem? — Seria direta.

— Eu consegui que consegui uma suposta ordem. Mas, não encontro o papel em que desenhei. — E voltou à cozinha.

— Você desenhou a ordem? Como assim? — Metade do que Miranda falou para Loren ela acreditou, a outra metade se perdeu de seus pensamentos.

— Eu consegui lembrar uma coisa comum entre o acidente e as mortes.

— O que, por exemplo?

— A ordem em que todos estavam sentados. Eram como se tivessem sido alinhados como um zig zag. — Ela não sabia se a sua teoria estava certa, mas àquela altura, tudo poderia ser uma teoria.

— Agora eu lembrei! Eu estava sentada com o jogador, não estava? Eu era a primeira e ele o segundo... — Miranda a interrompeu.

— O outro foi o Gavin e eu acho que ele estava em uma poltrona adjacente  à de vocês. Não me lembro qual o número de poltronas depois. — E respirou fundo, tentando lembrar o restante do desenho. — Você não consegue lembrar quem estava sentado atrás de vocês? — Mesmo que tentasse fazer força para lembrar, Miranda não conseguia.

Loren não conseguiu retirar nada de sua memória, a não ser por um único detalhe.

— Eu me lembro de uns risos femininos bem histéricos atrás de mim. Isso serve? — Loren recostou-se na parede.

— Isso! As irmãs! Elas devem ser as próximas! Se minha ordem estiver certa e elas sentaram atrás de vocês nas poltronas, provavelmente elas serão as próximas! — Miranda sentia sua mente um pouco mais brilhante que o normal.

— Mas como vamos avisar a elas? — Loren não conhecia nenhuma das duas, afinal, não conhecia ninguém que escapara do acidente, a não ser Miranda sua irmã e Violet.

— A Drew, minha irmã! Ela é amiga das duas. — Miranda então chegou próxima da escada para gritar pela irmã. — Drew! Vem aqui, por favor!

E num rompante a porta da frente se abriu. Miranda e Loren olharam simultaneamente para a porta. De lá surgiu uma figura feminina, de longos cabelos loiros e um olhar de um azul celestial. Ela trazia consigo um olhar de fúria. Isso não impediu que Miranda reconhecesse-a de imediato. Uma das irmãs. Ela estava feliz de vê-la em sua casa, pela primeira vez. Das outras vezes era só para trazer bagunça a noite toda, com as festas do pijama que as três faziam.

Loren estranhou que nenhuma palavra fora dita pela jovem que havia acabado de entrar, mas viu quando ela ergueu os braços. Ela agarrou seu pescoço com violência, sentindo as unhas a machucarem. A morena foi empurrada contra o balcão, mas não tivera tempo de sentir dor, pois estava ao chão. A loira estava em cima dela, ainda apertando seu pescoço.

— O que você está fazendo garota? — Loren perguntava, enquanto via as duas no chão.

— O que você fez com minha irmã? Bruxa! — A loira sacudia a cabeça de Miranda, enquanto a segunda tentava tirá-la de cima dela.

Em um movimento rápido e nada estratégico, Miranda segurou o cabelo de Amy com força e o puxou para trás. Ela soltou um grito, não sabia se era de dor ou raiva, mas tombou para o lado. Miranda se ergueu rapidamente, Loren se aproximou a ajudando a ficar de pé.

— Me diz o que você fez com minha irmã! — E a loira pensou novamente em avançar, mas Loren se meteu na frente e segurou seus braços.

— Ei! Fica calma garota! — Ela olhava nos olhos da loira furiosa.

O rosto de Amy foi apagando a vermelhidão da fúria e logo, ela estava novamente com o rosto angelical. Suas lágrimas foram inevitáveis. Miranda não entendia o motivo de ela estar chorando e perguntando pela irmã. Miranda achava que elas ainda estavam bem.

Drew descia a escadas às pressas, com um copo de vidro que antes estava cheio de suco. Ela parou no fim da escada, observando as três garotas, ali paradas. Ela sabia que era Amy, mas não entendia seu choro.

— Dá pra alguém me explicar o que está acontecendo aqui? E Amy... O que aconteceu? — Drew se aproximou, mas não largou o copo.

— Sua irmã! Essa bruxa! — Amy gritou. — Ela matou a Leona! — E mais lágrimas saíam de seus olhos. Amy acabaria se afogando em seu próprio choro.

— O quê? — Drew sentiu o copo escorregar de sua mão e se chocar contra o chão, espalhando seus cacos de vidro por todo o lugar.

Miranda e Loren permaneceram estóicas.

— Isso quer dizer que... — Miranda refletiu. —... Que você é a próxima! — Deduziu.

Amy olhou-a incrédula. Não estava acreditando que mesmo com Leona morta, ela ainda preferia brincar com seus sentimentos. Ela é mesmo uma bruxa... Ela está escolhendo quem é o próximo. É isso? Nada fazia sentido para a loira, mas uma coisa era certa: Miranda era a bruxa.

A loira bufou novamente ficando vermelha.

— Por que você está fazendo isso? — Seu choro ainda era constante.

Drew se viu ajoelhada próxima dos cacos. Ela começara a apanhá-los do chão, para que ninguém se ferisse, mas parou para chorar.

— Do que você está falando Mi? — Drew ergueu o olhar entristecido para a irmã.

— É uma história muito longa, mas precisam acreditar em mim! Não sei como dizer isso... — Miranda tentava encontrar as palavras certas para falar sobre a lista para elas.

— Todos nós estamos presos em uma lista. — Loren começou. — A lista da morte.

— Hein? — O rosto de Drew mudou de tristeza para frustração em segundos.

— O que ela quer dizer é que todos nós vamos morrer ok? Eu enganei a morte naquela rodoviária e ela só quer o que a pertence. Por que era isso que ela teria, se não tivéssemos saído daquele ônibus! — Ela se segurava para não chorar.

— Parem com isso! — A loira gritou. Ela caminhou até a porta. — Aqui pra vocês! — E mostrou o dedo do meio, como o maior insulta que podia fazer na frente de Drew.

A jovem que estava ajoelhada apenas baixou a cabeça, se erguendo e sentando na cadeira.

— Espera! — Miranda gritou.

Drew continuou sentada, deixando que suas lágrimas caíssem em paz. Ela estava com um dos cacos de vidro, em mãos. O observou por alguns segundos e o jogou no chão novamente. Miranda e Loren se entreolharam, mas algo as assustou. As luzes da casa começaram a piscar freneticamente, deixando-as com um aperto no coração.

— O que foi isso? — Miranda olhou para cima, vendo as lâmpadas voltarem ao normal.

— Uma pista! A morte está nos avisando de que entrará em ação! — Loren correu até a porta.

— Loren! — Miranda a seguiu.

As duas, assim que saíram, viram Amy se afastando às pressas. Ela corria esbaforida, então decidiram a seguir.

— Amy! — Miranda gritava, enquanto corria. Loren continuava indo na frente, ela sentia-se menos veloz.

— Me deixem! — Continuou gritando na rua.

O sol já estava pronto para se pôr, quando Amy parou. Ela não estava decidida a ouvi-las, mas queria dizer uma última coisa. A raiva estava ali, junta da loira, a sua perda fora tão grande a ponto de pensar besteira.

— Você é quem vai arder no fogo do inferno, sua bruxa! — Ela gritou, sem perceber o que viria a seguir.

Amy não percebeu o caminhão de carga em alta velocidade e decidiu atravessar a rua. Sua frase já havia sido dita. Miranda percebeu o caminhão e gritou. Ela correu para tentar salvar Amy. Mesmo que ela ache que sou uma bruxa. E acelerou a corrida.

Amy já estava no meio da rua, quando ouviu a buzina do caminhão. No último segundo ela conseguiu sair do meio da rua, parando na calçada, atônita. Ela viu o caminhão passar rapidamente perto dela, o vento chegou a balançar seus cabelos com fúria, mas não viu quando sua roda se soltou e veio em sua direção.

Miranda achou que Amy havia se salvado, mas só teve tempo de ver seus olhos azuis transmitindo seu medo súbito. A roda quicou uma vez e a loira foi atingida com brutalidade pelo enorme objeto de borracha, que a prensou contra uma parede. A roda transformou seu corpo em uma massa rubra disforme. Loren se aproximou e conseguiu ver ainda um pouco de seus fios loiros, e vomitou. Miranda permaneceu parada ao seu lado. Não sabia se gritava, chorava, ficava chocada ou vomitava. Sua reação era a mesma, ela estava hipnotizada.

x-x-x

Quando Luther chegou em casa, depois de relutar e hesitar para não encher a cara novamente, percebeu a gritaria que estava se formando ali dentro. Eram vozes familiares. Ele revirou os olhos e refletiu um pouco, ele já sabia quem era os responsáveis pela barulheira. Ele subiu alguns degraus da escada, até escutar sobre o que os pais discutiam.

Ele ouviu tudo que eles falavam: sobre como o Sr. Williams estava sendo irresponsável ao ponto de deixar o filho encher a cara e passar a noite toda fora, em como a sua mãe se tornou ausente na vida do garoto, em como as discussões sempre acabavam. Em Nada. Então Luther desceu novamente e viu que Dave estava de frente a ele, parado, o observando.

— Satisfeito? — Sorriu ironicamente.

— Por isso? Claro, eles estão juntos agora. Não estão? — Ele sentiu a ironia do irmão e já que não era tão bom com indiretas, resolveu testar suas habilidades entrando no mesmo joguinho.

— Eu soube da Leona. Triste fim que ela teve... — Ele mostrou estar emocionado, mas Luther sentiu seu aroma de sarcasmo de longe.

— Cala a boca. — E limitou a dizer só isso. Mesmo que sua relação com Dave fosse turbulenta, ele não queria machucá-lo e nem magoá-lo com palavras ofensivas. Mas pensou que poderia ser bom colocar sua raiva para fora, ele não pôde beber, estava irritado. — Pelo menos eu consegui transar com ela antes disso acontecer. — Ele sentiu-se a pessoa mais insensível naquele momento. Aquele era seu extremo.

Dave sentiu seu corpo fervilhar. Ele não ofendera o irmão a tal ponto. Sua cabeça latejava de tanta raiva, foi ai que ele partiu para cima de Luther, que caiu de imediato no tapete. Os dois davam socos e chutes, enquanto tentavam um se pôr por cima do outro. Luther conseguiu acertar um soco em Dave, que bateu com força sua cabeça em uma coluna de pedra. Ele passou por cima da dor e inferiu dois golpes contra o rosto de Luther, que tocou os lábios e sentiu o sangue descer pelo canto da boca.

— Chega! — A Sra. Williams chegou naquele momento. Ela estava com o Sr. Williams do lado. — Vão continuar assim, como dois cães de rua? Foi este o significado de “Um pelos dois, e os dois por um?”. Aquilo não fazia muito sentido para os dois, mas para ela fazia todo o sentido do mundo. Era como os três mosqueteiros, só que em menor número.

Os dois pararam de imediato. Estavam vermelhos e com alguns ferimentos em cada um dos rostos.

x-x-x

— Vamos começar. — Loren colocou a enorme folha de cartolina sobre a mesinha de centro da sala.

— Espero que eu consiga fazer isto de novo. — Miranda respirou fundo.

— Não esquece que eu irei desenhar. Eu sempre fui boa desenhista, não sei o quanto, mas sempre fui. — E sorriu contente por poder ajudá-la.

Violet estava sentada no sofá e não estava gostando nada daquela parceria entre as duas. Ela pensou muito e depois de passar todos os seus sentimentos para as telas de seu ateliê resolveu dar uma chance para a amiga e resolveu acreditar nela. Agora, ela ajudava-as a desvendar novamente a ordem das mortes. Elas não podem deixar mais ninguém passar. E sentou-se ao lado de Miranda.

A morena ficara contente por Violet acreditar nela, ou ao menos tentar acreditar. Loren começou a desenhar e primeiro surgiu o “esqueleto” do ônibus. Logo depois, Loren começou a desenhar as poltronas, da maneira como Miranda lhe dissera. A morena fez um esforço danado para lembrar a visão, mas ainda nada. Então Loren começou a nomear as poltronas com os seus nomes, mas Miranda não lembrava muita coisa.

— As irmãs estavam atrás de você no ônibus. Precisamos saber quem estavam depois delas, quero dizer, na forma de zig zag. — Então ela pegou um lápis e fez o efeito zig zag no esqueleto do ônibus.

— Aqui. Os próximos deveriam estar nestas duas poltronas. — Violet decidiu se pronunciar, apontando com o indicador, o local exato das próximas vítimas.

Então Miranda silenciou e quando deu por si, estava mais uma vez dentro do ônibus no dia do acidente, mas algo estava mais claro. Agora ela estava de pé no corredor e conseguia ver plenamente todos sentados. Até ela. Então, ela caminhou, podendo ver Loren e Chris, mais atrás estava Gavin com fones de ouvido. Atrás dele estavam Amy e Leona, elas gargalhavam histericamente. Miranda quis rir da situação, mas não dava, ela estava prestes a ver todo o acidente novamente.

E quando percebeu quem estavam segundo o zig zag, seu corpo gelou e tremeu. Eram eles, Drew e Dave. Repentinamente a cena mudou e ela estava em meio acidente. E viu Loren e Chris serem arremessados contra a vidraça dianteira, e também viu Gavin ser atingido por um objeto metálico; Leona e Amy terem seus rostos e corpos perfurados por vários vidros, além de Dave ter a cabeça perfurada por uma barra de ferro, que acabara de surgir de onde Miranda não conseguia ver. O rebuliço no ônibus parou, o ônibus parou. Miranda sentiu um aperto no peito quando Drew gritou para seu outro “eu”, dizendo que Dave estava morto.

Então Miranda escutou um estalo, um chiado estranho e olhou para a ordem das poltronas uma última vez. Conseguiu ver perfeitamente: Drew, Violet, Luther e Ela. Logo após houve um clarão e uma enorme explosão que começou da parte dianteira do ônibus. Então ela viu as chamas atravessar seu corpo e seu outro “eu” gritar muito, ela acabou sentindo novamente o que era ter a alma ardendo em chamas. A explosão final provava a teoria do zig zag. A explosão chegou até nós na mesma ordem em que estávamos, assim como os outros morreram da mesma forma, na mesma ordem.

Quando olhou para o lado viu Violet sorrir.

— Brincando de estátua?

Violet foi a única a brincar. Loren permanecia séria.

— Viu alguma coisa? — Ela não hesitou em perguntar.

— Eu vi tudo. — E Miranda tremeu.

— Então... Quem são os próximos?

Miranda não respondeu, pois neste momento uma enorme onda de eletricidade invadiu seu corpo. Ela escutou ao fundo Drew ao celular, ela parecia estar implorando algo, ela não sabia ao certo com que ela conversava. Então, a morena aguçou os ouvidos e apenas prestou atenção na conversa. Ela não achava aquilo uma intromissão, ela achava aquilo a salvação.

— Alpinismo Dave? — Drew tentou falar baixo, mas não sabia se estava funcionando. — Você sabe como não me dou bem com altura. Além disso, tenho ensaio da peça daqui a vinte minutos. Já estava até de saída. Lembra que a estréia vai ser no sábado? — Houve uma pausa. — Ok! Faça o que você quiser, só depois não venha chorar pelo leite derramado. Beijo.

E desligou. Assim que tirou o celular do ouvido, Drew percebeu a irmã tentando ouvi-la. Apenas pegou sua bolsa que estava em cima do balcão e disse séria:

— Não tenho hora para voltar. Vou para o ensaio. — E saiu, batendo a porta.

Miranda tremeu novamente.

— E ai, Mi? Quem é o próximo da lista?

Novamente Miranda não respondeu. Ela ficou encarando a porta por alguns instantes e falou:

— Vamos até a casa do Luther! — O rosto do seu soldado grego veio à tona, mostrando que só ele saberia onde encontrar o irmão.


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Notas finais do capítulo

Se não leu o capítulo ainda, não leia esta consideração final. Ela contém SPOILER.
A morte de Amy foi baseada em um acidente real, que ocorreu na cidade do Rio de Janeiro. Vejam no link abaixo:
http://g1.globo.com/rio-de-janeiro/noticia/2012/08/mulher-morre-atingida-por-roda-de-caminhao-na-avenida-brasil.html
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