Premonição: Caçada Insana escrita por PeehWill


Capítulo 4
Estrela de Fogo


Notas iniciais do capítulo

Mais um capítulo.
Espero que gostem!
Basicamente é isto. Não tenho tanta coisa pra dizer aqui.
Aproveitem!



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Assim que acordou, Drew fez questão de ir fazer compras. Isso, antes de chegar a hora de ir ensaiar sua peça. A manhã nublada parecia entristecida e turbulenta. A jovem caminhava pela calçada, sem saber o que a aguardava alguns quarteirões dali. Enquanto andava pensava em Miranda, e conseguintemente em suas recentes atitudes. Drew ainda estava incrédula, sua irmã caçula havia mudado tanto. Tudo nela havia se transformado da água para o vinho, fora algo muito repentino. Ela se tornou uma caçula ausente, e Drew sentia falta de quando ela caia e pedia para que ela acalmasse sua dor. Ou quando Miranda pedia para ela cantar, enquanto dançava seu ballet.

Quando Drew deu por si, nem seus passos eram mais audíveis. O som de uma ou duas sirenes estava atrapalhando muito. Enquanto ela torcia para não ser algo muito grave, apelou para a corrida. Então, apressou os passos imediatamente, seguindo até a próxima rua.

Assim que chegou ao local encontrou um carro do serviço dos bombeiros, além de: duas viaturas da polícia, uma ambulância e vários curiosos. Entre eles uma jovem pintora. Violet estava parada, sua expressão de pavor ainda estava à mostra. Drew tentou se aproximar aos pouco, mas mal falava com a melhor amiga de sua irmã. Ao mesmo tempo em que hesitava em se aproximar, sua curiosidade falava mais alto, e algo dentro de si pedia que ela falasse com Violet.

Ainda com um pouco de receio, a jovem resolveu falar. Era algo incomum para ela, mas ela sentia que deveria.

— Oi. — Não sabia o que dizer de primeiro momento.

Violet não entendeu o porquê dela falar do nada com ela. Mas entendeu que ela queria saber o que acontecera ali, então, sem pestanejar, falou:

— Olá. — Violet deu um sorriso breve, até voltar a ficar séria.

— O que houve aqui? — Drew girou o olhar, na intenção de conseguir ver algo que pudesse levá-la a resposta sobre o acontecido que trouxera tantas pessoas até aquela casa.

— Aconteceu um acidente com um amigo que mora aqui. — Violet passou, pela voz, uma tristeza irreparável.

— Ele também era amigo da minha irmã? — Drew se inclinou, mas logo voltou a olhar Violet.

— Se não se importar, queria contar eu mesma para ela. — E enxugou a lágrima com a manga longa de seu moletom preto.

— Claro. — Drew percebeu a tristeza de Violet e decidiu seguir caminho, não queria chegar tão tarde e atrasar o almoço. — Até outro dia. — Acenou.

Violet nada falou, apenas meneou a cabeça como um sim.

O carro da perícia já havia passado ali, mas voltou para buscar o corpo, que estava sendo coberto por um saco preto. Gavin. Violet não agüentou e se viu derramando algumas lágrimas, afastada de todos. O quanto mais ficasse ali, próxima à cena sangrenta que encontrara enquanto passava pelo local, mais sentiria Gavin ainda presente. Como deve estar sua mãe? Como ela vai reagir ao souber da sua morte? Violet não poderia se preocupar com aquilo. Enquanto voltava a olhar para as rosas do jardim, banhadas de sangue, ela acabava por lembrar que a mãe do amigo estava em um estado debilitado.

Recriando um tipo de força, ela se desfez do choro e continuou andando na calçada. Decidira avisar Miranda sobre o acontecido. Ela precisa saber!




x-x-x

Luther resolveu que não apareceria no treino por um bom tempo. Primeiro, eles haviam perdido as regionais na Filadélfia, agora seu companheiro e braço direito do time, Chris, estava morto. A cena de sua cabeça rolando pelo piso do banheiro do vestiário ainda o assombrava. Ele já tentou tirar aquilo da mente várias vezes, mas foi tudo em vão. Quando desceu para tomar café, com a menor disposição possível viu Leona entrando na cozinha, onde ele estava. Ele não fez questão de saber como ela havia entrado, apenas sorriu e deu um leve aceno.

A loira se aproximou e beijou o topo de sua cabeça.

— Bom dia, campeão. — Quando falou, percebeu a reação de indiferença dele.

— Campeão? Não mais. — Ele levou uma waffle até a boca.

— Pare com isso, Luther! Você sabe que sempre será um campeão. Não importa a circunstância, entendeu? Para mim sempre será!

Então lhe surpreendeu com um beijo.

— Obrigado por tentar me animar, mas ainda sim, não mudei de opinião. — Ele afastou-a, num gesto grosseiro.

— Hoje você está difícil mesmo em? — Leona se afastou e sentou em uma cadeira a sua frente. — Só não espero que essa sua “depressão”... — Leona fez aspas com os dedos propositalmente — Não induza você a fazer aquilo.

— Você deveria parar mais de se incomodar com o que eu faço, sabia? — Luther estava estressado, sentia-se pesado. Essas palavras grosseiras com Leona eram apenas conseqüências de seu estado emocional um tanto delicado.

— Você está diferente. — Depois de pensar um pouco, a loira resolveu comentar.

— Você não sabe o que é fracassar em tudo que faz.

Leona percebeu seus olhos marejados.

— O que disse? Fracasso? Diz para mim, em que você fracassou Luther! Você está com a vida ganha, garoto! — Ela se ergueu da cadeira.

O pai de Luther havia acabado de chegar e resolveu não interromper. Ele passou diretamente para a garagem.

— Eu fracassei minha vida toda! Você foi a única pessoa que não percebeu isso! — Gritou.

Leona sentiu-se magoada. Não sabia ao certo o porquê, apenas comprimiu os olhos ligeiramente.

— Cala a boca! — Ela virou as costas e saiu.

Antes de abrir a porta ela mostrou o dedo do meio para ele, fazendo-o apenas observar sua reação. Leona bateu a porta com força. O pai de Luther, o Sr. Williams voltou à cozinha.

— O que houve filho? Vocês brigaram? — Ele não estava ali para perguntar aquilo, mas perguntou.

— O que está parecendo? — Abriu os braços, respondendo rudemente o pai.

O loiro saiu em seguida, também batendo a porta com força. O Sr. Williams apenas observou a agressividade do rapaz. Espero que ele não vá fazer nenhuma besteira.

x-x-x

Já era a quinta vez que Miranda ligara para Violet, depois que acordou. Teve uma noite pesada e desconfortável. Isso tudo, depois de saber mais sobre a lista da morte. Ela ainda sentia um desconforto maior em não saber no que acreditar. Ela não conhecia bem Loren, para saber se estava falando a verdade. Eu vi sua reação quando ela viu a matéria sobre a Presage Paper. Eu senti a perda que ela sentira. Aquilo era apenas o início de uma confusão mental absurda.

A garota de olhos acinzentados caminhou por toda a casa, até perceber que não havia tomado o café da manhã. Quando chegou a cozinha, seu local menos preferido de toda a casa viu sobre a mesa um prato contendo: pão com pasta de amendoim; além de uma jarra com suco de morango. A primeira e única pessoa que passou pela sua mente neste momento fora Drew.

Miranda começou a imaginar no quanto a irmã estava se esforçando para lhe agradar, para não lhe deixar preocupada e nem cheia de problemas. Afinal, mesmo não tendo culpa de nada, Drew estava levando o peso da irmã. Estou levando ela para o sofrimento também. Um pensamento rápido e de fácil desaparecimento. Miranda deixou aquele pensamento de lado e começou a comer, sem se importar se fora Drew que prepara ou não.

Enquanto comia, ela sentia uma sensação estranha. Depois de dar três mordidas no seu sanduíche de pasta de amendoim, ela lembrou-se da visão que tivera duas noites antes. Seu corpo estremeceu, com um enorme arrepio. Ela desejou que aquilo passasse.

Assim que terminou de comer ouviu o barulho da campainha. Com um suspiro de indisposição ela caminhou vagarosamente até a porta e quando abriu se espantou. Era Violet, e ela carregava consigo uma expressão de tristeza e dor.

— O que houve? — Miranda fechou a porta e deixou que ela sentasse no sofá. — Achei que nos encontraríamos na casa do Gavin.

No momento em que pronunciou o nome do amigo, Miranda sentiu um ar pesado passar por elas.

— O que foi que aconteceu com o Gavin? — E se ergueu do sofá. — Não me diz que... Ai meu Deus!

Violet continuou com a mesma expressão, sua tristeza ainda pairava ali e estava exposta em seu olhar triste e vago. Miranda despencou novamente no sofá e colocou a mão sobre o rosto. Ela sentia uma pequena lágrima descer em seu rosto, e quando percebeu, estava deitada no colo de Violet, choramingando. Violet apenas levou a mão até seus cabelos e passou a acariciá-los. Os soluços de Miranda se juntavam às suas lágrimas.

— Está mesmo acontecendo Violet! — Miranda gritou, tirando as mãos do rosto e se erguendo novamente do sofá.

— Do que você está falando? — O medo se tornou curiosidade e receio.

Miranda primeiro deu um tempo, antes de engolir em seco e começar a falar:

— Quando eu tive a premonição, na rodoviária, eu não sabia que estava assinando a nossa própria sentença de morte. Quando eu tirei você, a mim e mais algumas pessoas do ônibus antes dele embarcar e sofrer o acidente, eu não sabia que estávamos indo parar na lista da morte. É isso mesmo! Estamos condenados! Você ainda não reparou que duas pessoas que eu salvei morreram em acidentes bizarros? Primeiro o jogadorzinho de futebol amigo da Drew, e agora você vem me dizer que o Gavin está... — Houve uma longa pausa, antes de Miranda tomar fôlego e completar seu “discurso” —... Morto?

— Quem te falou estas coisas, Mi? Foi aquela tal de Loren, não foi? Ela está te enchendo com estas coisas, amiga. Ela está te deixando confusa! Eu pensei muito e cheguei à conclusão de que aquela história da lista deve ser só uma lenda urbana. Não podemos deixar que isso nos atrapalhe de viver. Estes pensamentos negativos só nos deixam mais apreensivos...

Violet não tinha certeza se o que estava falando era o certo, mas ela tinha de falar aquilo. No fundo, ela não estava gostando daquela relação de coleguismo entre Miranda e Loren. Ela estava enciumada, mas não queria admitir isso para si mesma.

— Eu não sei... Algo que diz que a Loren está certa, Violet. Ela me mostrou o site... Ela me disse o que aconteceu com a mãe dela. Todos que a mãe dela salvou de um acidente envolvendo um prédio, agora estão mortos, a sete palmos do chão... Ela mesma presenciou algumas das mortes! — Miranda parecia engasgada com aquela situação. — Seria coincidência se só o amigo da Drew tivesse morrido, mas o Gavin também está morto. É melhor encararmos os fatos, Violet... Estamos entregues às moscas. Estamos na maldita lista da morte, assim como a mãe da Loren.

Violet arrepiou-se. Ela estava frustrada com a reação de Miranda. Eu ainda não engoli esta história.

A ruiva estava se importando mais em deixar que o ciúme a conduzisse, do que em acreditar na verdade.

— Loren também disse que existe uma ordem. — Sem poupar esforços Miranda continuou.

— Ordem? — Violet indagou num tom de indiferença. — Que ordem?

— As ordens para que as mortes aconteçam. Lembra daquela mesma noite do acidente na rodoviária? Quando voltávamos para casa... — Miranda nem terminou de fala e já havia sido interrompida.

— Sim.

— Eu salvei a Loren daquele atropelamento. Eu a salvei da morte. Ela era a primeira da lista.

— Espera ai, Mi! Quer dizer, que a tal Loren está fora da lista? Ela está salva? — Violet indagou num tom irônico e de incredibilidade, como se não desejasse que Loren estivesse fora da lista.

— Não. Ela apenas foi pulada e foi para o fim da lista.

— Arg! Eu não estou entendendo mais nada. — Violet estava começando a ficar confusa. — Se há uma ordem... Quem é o próximo da lista então? — Violet queria arrancar aquilo de Miranda, mesmo sem entender o resto. Ela queria provar para a melhor amiga que Loren estava errada, e que aquilo era tudo paranóia dela.

— Eu não sei. A Loren também me disse que só eu sei quem é o próximo. Mas, na verdade eu nem sabia que ela era a primeira e os outros em seguida.

— Loren, Loren, Loren! Tudo é Loren agora? — Violet revirou os olhos e arfou algumas palavras que eram relevantes.

— Violet. Você está com ciúmes da Loren? — Miranda perguntou incrédula.

As duas haviam tirado a morte de Gavin da cabeça por alguns minutos, mas sabiam que ele voltaria à tona em suas mentes.



x-x-x


A noite chegou mais rápido do que pensava. Já eram 18h00min quando Miranda ligou a tevê para assistir. O tédio era imenso, já não sabia quantas vezes tentou se ocupar com alguma coisa, a resposta sempre era a mesma, não conseguia se distrair com nada. A tevê, ao menos, reduzia este sentimento de solidão. Quando os noticiários começavam e quando os apresentadores davam boa noite, ela respondia com entusiasmo, como se realmente quisesse conversar com eles.

Sua mão foi até o controle remoto novamente e quando o ergueu na altura certa, iniciou a mudança de canais. Miranda achava aquilo mais divertido que qualquer coisa, depois das suas constantes brincadeiras com Zack, que raramente estava de mau humor. Ele estava ao seu lado, lhe fazendo companhia, já que Drew havia saído com Dave.

Na maioria das vezes, quando Drew saia com Dave, eles sempre demoravam muito. Aquilo a incomodava, já que sua única companhia para passeios noturnos era Violet. Elas sempre passeavam juntas à noite, costumavam ir ao cinema e também se divertir no parque, que surpreendentemente era mais animado à noite.

Zack fazia um som estranho, arranhando o estofado do sofá, em uma fofura incomum. A jovem se virou para ele e agarrou-o, colocando seu focinho de frente ao seu rosto e o pressionando contra seu nariz. Aquela sensação era agradável, o focinho dele era gelado e fazia-a querer ainda mais brincar com ele.

— Só você mesmo. — E sorriu de lado, lembrando de tudo que havia acontecido até aquele momento. — Aqui está tão quieto sem os gritos da Drew, você não acha?

Miranda observava a direção do olhar vermelho de Zack. Ele fitava a janela que dava para a rua.

— Não sei por que você gosta tanto de olhar para a rua. O que tem de tão bom nisso?

A dona do coelho sempre se perguntava o porquê do coelho gostar tanto de observar a rua. Ela nunca conseguiu as respostas necessárias.

— Já sei. Que tal darmos um passeio? Vai ser bom, acredite. — E se ergueu do sofá, ainda com o coelho em mãos.

Subiu ao quarto e colocou Zack sobre a cama. Então, pegou uma jaqueta e foi até a penteadeira.

— Não sei por que ainda guardo isso. — Ela retirou um pequeno colar banhado em ouro. Ela sabia que não era de ouro, mas tinha um grande significado.

O pingente era em forma de coração. Ao abri-lo, ela se deparou com sua foto, em uma metade, e a foto de sua mãe, Judy, na outra. Uma lágrima desceu seu rosto, mas Miranda não ficou nenhum pouco a fim de limpá-la. Queria lembrar daquilo, queria sentir a mãe perto. Quanto mais ela tentava fazer algo agradável, algo que agradasse à sua mãe fazia algo errado, e sentia que havia a decepcionando.

Colocou de volta o colar na gaveta, embaixo de algumas roupas, e admirando Zack falou:

— Está pronto para ver a rua? — E sorriu, esperando que Zack também sorrisse para ela.

Os dois saíram de casa. Miranda o levava acalentado e em volta de seus braços. Ao contrário das outras noites tenebrosas, aquela estava muito mais apresentável. Ela sentiu uma brisa quente bater em seu rosto e fechou os olhos, parando de frente a um lindo jardim de uma casa qualquer de sua rua. Em seus pensamentos ela enxergou por alguns segundos Gavin de frente ao seu computador. Ele parecia feliz e sorridente, mas logo a imagem se apagou.

Em seguida, ela abriu os olhos e percebeu que ele não estava mais ali, naquele mundo. Ele está em um lugar melhor. Tenho certeza disso. A morena continuou caminhando, enquanto observava, em algum momento da caminhada, várias nuvens taparem a belíssima imagem da lua. Outra brisa bateu em seu rosto, essa era mais fria e assustadora. De uma hora para outra, o tempo pareceu ficar furioso e conspirando contra ela. As nuvens estavam anunciando um temporal.

Miranda apenas parou e pensou que já estava longe demais do quarteirão de sua casa para voltar. Decidiu que seguiria até o parque, mesmo sabendo que com o anúncio do temporal, não haveria pessoas lá. Mas ela já tinha visto algo como que uma pequena choupana, que servia de lanchonete. Era um ótimo abrigo, já que estava tão perto do local. Decidiu seguir caminho, antes que o temporal começasse. Zack pareceu assentir por alguns segundos, concordando com sua dona.

Assim que chegou ao parque avistou a choupana, que na verdade era uma lanchonete. Haviam três pessoas ali. Um casal com sua filhinha de aparentes seis anos. Miranda, se aproximando, lembrou-se de quando era pequena. Aquelas lembranças sempre vinham à tona em momentos como aquele, quando ela estava sozinha. Na verdade, ela estava com Zack, e ele era a companhia mais agradável para ela naquele instante.

Ela se aproximou serenamente, enquanto o casal a observava. Rapidamente a pequena filha do casal sorriu e correu na direção dela.

— Mamãe! Olhe! Olhe! É um coelhinho! — E se aproximou ainda mais, ficando de frente à jovem. — Qual o nome dele? — A garota perguntou.

— É Zack. — Miranda apenas sorriu.

Quando olhou para os pais da garota, Miranda percebeu seus sorrisos contentes.

— Quer brincar um pouco com ele? — Ela se abaixou, ficando da altura da garotinha.

— Sim.

Miranda então entregou seu bichinho de estimação para a pequena garotinha e sorriu satisfeita. Ela merece mais do que eu. Estava incrédula quando percebeu o que tinha acabado de pensar. Fora bem estranho de sua parte.

Assim que sentou em um dos bancos de frente à lanchonete, um vento bateu em sua nuca e ela olhou para trás, a vista dava-se para o lago, e ela viu próximo à ele um jovem. Ele cambaleava à beira do lago, enquanto tropeçava em seus próprios pés. Permanecia apenas uma silhueta no meio de uma estranha neblina que acabara de invadir todo o parque.

A mulher que estava atendendo o casal, também conseguiu ver a mesma silhueta e falou, enquanto servia um café para a moça:

— É apenas um bêbado. — Ela suspirou.

Miranda conseguiu ver o rosto do jovem embriagado. Agora, ele caminhava em direção à choupana. Luther! Estava incrédula perante a figura do jovem capitão do time da universidade. Logo virou o rosto, não queria que ele a reconhecesse.

Ele sentou no banco ao seu lado e quase tombou. Miranda queria rir da cena, mas preferia não fazer aquilo. O casal bebia os cafés, enquanto a garotinha brincava com as orelhas de Zack, como se ele fosse de pelúcia. Ninguém reparava no bêbado que acabara de se instalar ali. Mesmo reparando que o jovem embriagado era na verdade Luther Williams, o amigo de sua irmã, ela não deixara de lado que nunca havia falado com ele. Nem mesmo no ônibus. Ele não parece aquele soldado grego. Tão lindo e tão inconseqüente.

Assim que a moça da lanchonete trouxe um chocolate quente para ela, o jovem bêbado deitou a cabeça no balcão, e em alguns instantes já estava cochilando. Enquanto ela bebia seu chocolate, pensava em uma maneira de reduzir sua humilhação. Eu não o conheço, mas sei que o tirei do ônibus no dia do acidente. Ele também poderia estar morto a esta altura. Isso quer dizer que ele também está na lista. Ninguém precisa saber que eu o ajudei. Já havia se decidido.

Quando o casal terminou o café, tocaram a mão da filha, que se recusava a devolver Zack. Por fora, Miranda aceitava sua reação, era apenas uma garotinha com sonhos e também com muito carinho para dar a um animal de estimação tão agradável. Mas por dentro estava uma fera, ela não poderia ficar sem seu coelho, seu conselheiro, e com seu ciúme latente pelo bichinho, apenas segurou-o. Ela havia acabado de tirar a felicidade de uma criança. Ao mesmo tempo em que sentia felicidade em tê-lo novamente, sentia um pouco de culpa por não tê-lo deixado mais um pouco com a pobre criança.

Assim que segurou o coelho, olhou novamente para o capitão do time de futebol, totalmente bêbado. Ela se aproximou, levantando a cabeça do rapaz com certa grosseria. Mesmo com um puxão no cabelo, ele não havia acordado, parecia estar desmaiado, mas não estava. Ele apenas dorme. Ela pensou, levantando seu braço e o colocando em volta de seu ombro. Miranda arrumou um jeito de colocar o coelho na outra mão.

— Droga! Vai começar o temporal logo agora?

Miranda sentiu algumas gotículas de água se chocar contra seu límpido rosto. A dona da choupana que servia de lanchonete os olhou com certa misericórdia, então falou:

— Eu posso lhes dar uma carona! — Ela gritou. — Vem um terrível temporal por aí!

Pela primeira vez, Miranda se sentiu totalmente indefesa, e realmente ela não conseguiria achar a casa do garoto. Certamente, Drew saberia como ajudá-la.

— Nós aceitamos sim a carona. — E olhou para Zack, ali, aconchegado próximo de seu casaco.

Foi no momento que todos entraram no furgão que o temporal começou. Miranda esperava chegar logo, para que Drew a ajudasse, mesmo que indiretamente. Ela pode guardar segredo. Ninguém irá saber que eu o ajudei.

x-x-x


Leona estava de frente ao espelho, escolhendo a melhor roupa para se encontrar com Patrick Hall. Ele era um antigo amigo de colegial, que agora tinha um estúdio de fotografia famoso no centro da cidade. Há alguns dias ele havia avisado-lhe sobre uma sessão de fotos para uma revista semanal de moda. A loira estava muito empolgada, sua carreira como modelo estava indo bem. Em menos de quatro dias e ela já havia marcado várias sessões de fotos e desfiles para divulgações de linhas e coleções novas para o inverno.

Patrick mantinha uma queda por ela em segredo, mas tinha uma pontada de dúvida quanto á ela saber deste “segredo”. Sempre que dava chamava-a para sair, mas sempre Amy ia. Isso atrapalhava e muito o rendimento de paquera do rapaz. Mas daquela vez seria diferente, o esquema seria mais bem planejado. O homem havia usado a sessão de fotos como uma chamativa fachada, para que Leona se sentisse atraída pelo emprego. O que Patrick mais queria era poder usá-la, tê-la como seu objeto sexual e de desejo, e isso sempre vieram em sua cabeça desde o colegial. Ele só esperava a oportunidade certa.

A roupa já estava pronta sobre a cama e Leona entrara no banheiro. Já haviam se passado duas semanas desde o acidente do amigo, Chris. Mas ela prometera para ela mesma, que por mais que ele fosse seu amigo, ela não poderia se deixar abater por causa dele. Ela sempre pensara que aquilo faria sua profissão de modelo despencar de vez, e com as recentes oportunidades para sua carreira avançar, ela não as deixaria passar.

Depois de fazer sua higiene: banho e limpeza de pele; ela saiu do banheiro, certa de que tudo ocorreria bem com Patrick e suas fotos. Ela sempre soube que ele era afim dela, mas nunca ligou. Depois de repetir alguns anos no colegial, Leona viu o colega de classe se formar e abrir seu próprio negócio. No início era algo como um hobbie, mas depois que Patrick começou a trabalhar com famosos, isso o tornou reconhecido na profissão. E Leona gostava daquilo, gostava de fama, via-a como sendo a glória para toda modelo. Não tinha nenhum problema estético e que fosse um motivo para ela se desfazer do sonho. Eu vou brilhar e cintilar nas passarelas.

Quando estava completamente pronta para o encontro, respirou fundo e foi em direção à porta. Antes de sair, passou de frente à mesa do laptop. Ao lado dele estavam algumas bugigangas de fans de pop, além de um porta-retratos com uma foto dela e Amy juntas. Assim que pegou sua bolsa, que inclusive estava ao lado do porta-retratos, sentiu um frio percorrer sua espinha, mas não fora nada demais. No momento em que deu mais alguns passos apressados bateu a bolsa contra o porta-retratos, o fazendo despencar da mesa. Ela saiu apressada do quarto, sem perceber o que tinha feito.

Com a queda do porta-retratos, uma enorme rachadura se formou sobre a foto, separando as duas de uma forma surreal.

Quando desceu Leona encontrou Amy no sofá, comendo o que parecia ser brigadeiro. Ela assistia a uma comédia romântica, mas ainda sim, sentia falta de Chris ao seu lado. Era ele seu companheiro de maratonas de filmes.

Leona ainda permanecia apressada. Então passou bem rápido pela sala, indo em direção à porta.

— Aonde vai? — Amy perguntou, inclinando a cabeça para olhar a roupa que a irmã vestia. Espantou-se. — Aonde vai desse jeito? — Ela levou uma colherada do brigadeiro até a boca.

— Vou tirar algumas fotos naquele estúdio... Daquele meu amigo...

— O Patrick?

— Sim. Agora me deixe ir, que estou apressada. — E colocou um par de óculos escuros, que combinavam com sua roupa.

— Então ta. — Amy falou com indiferença, dando de ombros. Ela voltou a assistir ao filme.




x-x-x




Miranda rabiscava vários papéis. Nestas duas semanas que passou ela tentou pensar novamente no acidente e em como tudo aconteceu, mas nada veio à sua mente. Quanto mais força ela fazia, mais ela lembrava somente do sangue que era derramado dentro do ônibus, nada mais. Ela fechava os olhos e se colocava em silêncio, tentando lembrar. Nada.

A casa naquela manhã estava silenciosa, Drew estava em seu quarto, ensaiando sua peça. Aquela era um peça muito importante, aquele era um hobbie pelo qual Drew se apaixonara desde que fora visitar pela primeira vez, a Companhia de teatro.

Já era a sétima vez que Miranda amassava uma folha do caderno e jogava no cesto mais próximo. Ela já estava a ponto de se descabelar.

— Droga! — Bateu furiosamente os punhos contra a mesa.

Eu tenho que pensar... Tenho que voltar até o acidente e saber a ordem de tudo! Loren me disse... Só eu posso salvar os que ainda restam: Drew e Violet... Luther. A morena admirou-se ao pensar no soldado grego daquela forma, ela estava desejando que ele se livrasse. Realmente ninguém merecia estar na lista. Ninguém.

O design que Miranda construíra na folha não estava lhe ajudando muito. Era como se fosse a parte interna no ônibus. Miranda não era boa com desenhos, mas precisava rabiscar e ver o que estava faltando para ela descobrir a ordem. Bem que a Violet poderia me ajudar com esses desenhos. Bufou. A jovem não queria mais incomodar a amiga com aquele assunto, já era algo em demasia para ela. Já não bastasse a morte de Gavin e agora ter que forçá-la a acreditar no que estava dizendo. Ela precisa acreditar por si só.

Quando terminou de fazer o ônibus por dentro, de acordo com que sua memória ia lhe ajudando, ela decidiu nomear os assentos, assim, possibilitando uma melhor lembrança dos locais onde todos estavam sentados. Assim que fechou os olhos sentiu um vento forte entrar pela janela, e se viu novamente caminhando dentro do ônibus com suas bagagens. Enquanto caminhava avistou o jogador de futebol, Chris e Loren, sentados juntos. Andou mais um pouco e percebeu um assento sem ninguém, ao lado dos dois. Deve ser a poltrona do Gavin. Caminhou até o fundo do ônibus, lembrando de seu assento.

Ela tentou lembrar no momento do fuzuê, quando todos os jogadores entravam. Ela lembrou-se que Violet estava ao seu lado, na poltrona do outro lado do corredor, com a velha senhora. Os jogadores de futebol entraram e ela viu quando Drew e Dave sentaram-se nas poltronas bem à sua frente. Ela também se lembrou da discussão entre Luther e sua namorada. Ela e sua irmã ficaram nas poltronas de frente a de Drew e seu namorado.

Enquanto isso, Miranda foi escrevendo seus nomes em seus respectivos lugares e foi em um piscar e olhos que tudo fez sentido. Ela havia percebido que eles estavam sentados estrategicamente na ordem de suas mortes. Primeiro a Loren e o Chris... Depois o Gavin... Logo em seguida as irmãs... Sua vista logo embaçou e ela sentiu uma enorme tontura. Drew acabara de descer de seu quarto e vira a irmã quase despencar da cadeira. Ela correu e segurou-lhe no último segundo. Miranda havia desmaiado.




x-x-x

Leona havia acabado de chegar ao estúdio de Patrick. Estava sentada sobre um puff coberto com uma estampa de zebra. Ela estava abismada e incrédula com tanto bom gosto do jovem, ele não parecia ter todo este estilo no colegial. Ela olhou ao redor e tudo o que viu fora a beleza de um verdadeiro estúdio de fotografia. Havia vários equipamentos de iluminação e cenário. Um verdadeiro sonho de modelo. Leona estava feliz, faria seu primeiro trabalho com Patrick, a quem tanto lhe ajudou no primário. De alguma forma, mesmo que indiretamente, ele me ajudou a entrar para as líderes de torcida. Devo parte da minha popularidade à ele.

Leona se trocou, à pedidos do fotógrafo e ficou somente de casaco e short. Ela usava um sutiã por baixo do casaco, mas aquilo não lhe impedia de sentir certo receio, ela via a malícia em seus olhos. Seu corpo emanava uma grande adrenalina, sua testa começou a suar então ela falou:

— Não estou me sentindo bem, Pat. — E sentou-se novamente.

— Deve ser o ar-condicionado. — Então ele se afastou e foi até os aparelhos de ar-condicionado, os regulando.

Assim que saiu de perto do aparelho, o mesmo começou a apresentar pequenas falhas e a diminuir a temperatura ambiente e deixar o estúdio bem quente.

Leona ergueu-se de novo. Ela sabia que aquele seu nervosismo não estava sendo causado pelo aparelho de ar-condicionado, mas sim pelo olhar cheio de malícia de Patrick.

— No outro cenário é melhor. Você vai se sentir mais a vontade. — Ele falou, tocando sua mão.

Leona andou até os fundos do estúdio, onde atrás de uma porta havia uma pequena sala com um pequeno cenário montado. Era o que parecia. Havia uma cama, algo que Leona estranhou de momento. Ela engoliu em seco e de repente sentiu duas mãos pesadas contra suas costas. Ela foi empurrada e caiu sobre a cama. Seus cabelos já estavam bagunçados. Ela gritou:

— Você não quer tirar fotos minhas! Não é? — Ela se ergueu da cama, mas Patrick deu-lhe mais um empurrão.

Ele se aproximou e se ajoelhou na cama, segurando seus punhos com ferocidade. Leona se debatia freneticamente, tentando escapar da armadilha corpórea de Patrick. Ele aproximou ainda mais seu corpo. Agora ele estava com os joelhos sobre os punhos da loira, enquanto mantinha a mão sobre sua boca.

— Agora caladinha... Sua puta! — E deu-lhe uma tapa com a outra mão.

Ele foi abrindo o zíper da calça, enquanto Leona ainda se debatia e tentava gritar, mas seu grito era abafado. E aos poucos Patrick foi mostrando sua cueca, em seguida ele estava com seu pênis para fora, tentando o colocar sobre o rosto da loira. Enquanto tudo acontecia, o ar-condicionado estava muito quente. Dele saia uma fumaça, e por algum momento liberou algumas faíscas. Repentinamente ele se desprendeu e caiu com força no chão, se transformando em uma bola de fogo.

Em poucos segundos todo o estúdio estava em chamas. As labaredas se alastravam por todo o lugar e a fumaça havia chegado ao quarto onde os dois jovens estavam. Assim que sentiu o cheiro pesado da fumaça, Patrick pensou logo em fogo e saiu rapidamente de cima da loira, se vestindo. Ele olhou uma última vez para ela tomando fôlego na cama e disse:

— Droga! Os equipamentos!

E saiu rapidamente do quarto, trancando a porta.

Agora você vai queimar... Vadia!

Leona não estava acreditando. Aquilo estava virando um forno. A loira tirou apenas o casaco e tentou achar alguma coisa que arrombasse a porta. Próximo ao que parecia uma estante ela encontrou uma marreta. Ela deu vários golpes contra a porta, abrindo um buraco, foi o bastante para destrancá-la. Ela correu, saindo do quarto às pressas, mas logo se viu encurralada. O fogo estava chegando ao teto, era algo inacreditável, todo o estúdio estava se transformando em cinzas.

Leona não avistava mais Patrick. O filho da puta fugiu! Ela sentiu uma fúria acompanhada de medo invadir seu corpo e ainda com a marreta em mãos criou coragem para seguir até a porta, mas antes que pudesse dizer alguma coisa a viu bloqueada por vários móveis. O calor estava escaldante, o estúdio havia se transformado em uma caldeira. Quando percebeu que o teto desabaria, a jovem correu. Entretanto tropeçou em alguns fios e sentiu algo pesado cair contra seu corpo. Um dos cenários havia desabado sobre ela.

Com seus braços livres do peso do cenário, ela tirou o equipamento de cima dela. Seu corpo estava repleto de ferimentos, foi quando avistou as escadas de incêndio do lado de fora do apartamento. Ela se aproximou da janela e ouviu um chiado estranho, mas só queria sair daquela armadilha flamejante. O fogo continuava consumindo todo o local. Ela olhou uma última vez para trás, antes de sair pela janela e ouviu um estalo.

Leona viu um enorme clarão, que queimou seus olhos de imediato. Ela não viu nada a partir daí, mas pode sentir algo atingir seu abdômen com violência, e sair em suas costas. Com seus olhos chamuscados e mesmo com a visão embaçada, ela pode ver um enorme tripé atravessado em seu abdômen. Deu tempo de ela gemer e cuspir algum sangue, antes de cair de joelhos. Um último grito ecoou por entre as chamas do estúdio.

De repente outra explosão, desta vez uma grande placa de zinco fora em direção a ela, partindo-a em duas. Metade de seu corpo tombou para o lado, enquanto a outra permaneceu inerte do outro. Suas tripas e órgãos estavam espalhados por ali, uma enorme poça de sangue se alastrou, enquanto seu corpo virava churrasco. Rapidamente seu corpo foi totalmente engolido pelas chamas.

Leona continuou cintilando. Mesmo que quisesse, sua estrela jamais se apagaria.



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Notas finais do capítulo

Se você ainda não leu o capítulo não leia as considerações finais agora, pois elas contém SPOILERS.
Primeiramente, na outra versão que eu havia planejado, Amy iria até o estúdio, atrás de Leona e as duas morreriam. Mas eu abandonei esta ideia e quem acabou morrendo neste capítulo fora somente Leona.
Prontinho! Era só isso que eu queria falar.
Até o próximo capítulo e não esqueçam de comentar.



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