Premonição: Caçada Insana escrita por PeehWill


Capítulo 2
Castigo Abominável


Notas iniciais do capítulo

Bem, o capítulo não demorou muito, então... XD
Neste capítulo, acabarei com todas as dúvidas que ficaram na mente de muitos quanto à minha segunda fic e seu final. As brechas agora foram fechadas e tudo foi explicado.
A morte também já começou a agir com a lista...
Aproveitem!



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Todos os jovens aguardavam em uma sala pequena. Eles se entreolhavam como se entre eles estivesse um assassino. O alvo dos olhares era Miranda. A garota estava estóica, encarando o pequeno ventilador que tinha a função de soprar uma pequena rajada de vento, para esfriar aquela sala quente e sufocante, mas não estava funcionando. A delegacia ficava em Washington e eles aguardavam os seus respectivos pais. A única coisa que Miranda queria tirar da mente naquele momento era o terror vivido por ela e os outros no seu pesadelo. Aquilo havia grudado em sua cabeça.

— Por que vocês estão olhando assim para mim? Olham-me como se eu tivesse causado o acidente. — E percebeu que até Violet lhe olhava de forma estranha. — Eu já disse que não foi culpa minha, eu vi todo o acidente acontecer.

— Ela usa drogas? — Dave perguntou para Drew, que estava ao lado da irmã.

Drew estava nervosa.

— Eu... Não sei. — E baixou novamente a cabeça.

Todos estavam fazendo da garota, um ser abominável. Violet tentava esquecer o ocorrido aos poucos, mas não dava. De repente a porta rangeu e abriu-se, um homem alto e forte entrou na pequena sala, olhando nos rostos de cada um dos que estavam ali.

— Olá a todos. Eu sou o oficial Marshow... Algum de vocês precisa de assistência médica? — Continuou os olhando.

Ficaram em silêncio.

— O que eu quero é sair daqui o mais rápido possível. — Amy murmurou.

— Muitos dos jogadores do time morreram, eles ficaram no ônibus. — Chris falou.

— Bem, eu só queria fazer algumas perguntas que ainda não foram resolvidas, acerca do acidente. — Marshow falou, olhando as expressões apavoradas de cada um dos jovens.



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Agora Miranda era a única pessoa na pequena sala, além do oficial Marshow. Ele observava-a de maneira duvidosa, estava desconfiando de que ela fosse a terrorista responsável pela explosão do ônibus, já que as causas do acidente ainda não foram definidas.

— Aqui no relatório diz: “Eu sabia que ia acontecer, eu tive uma intuição.” Como foi exatamente esta intuição que você teve? — O oficial Marshow perguntou com leve tom de desconfiança.

— Eu vi todo o acidente acontecer... Todos morrendo... — Ouve uma pausa, antes de continuar. — De repente, todos estavam novamente na rodoviária e o ônibus não havia partido ainda.

— O que te impulsionou a sair do veículo naquele momento? — Ele ainda permanecia desconfiado.

— O medo. — Miranda respondeu seca.



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A prima de Gavin havia ido buscá-lo. Os pais de Luther e Dave também apareceram no departamento de polícia para buscá-los, o que deixou certo constrangimento nos dois. Eles não se olhavam por nenhuma maneira, nenhum motivo sequer. A mãe de Dave fez questão de conversar com o pai de Luther alguns assuntos que os desinteressavam, nem eles fizeram questão de saber sobre o que era. Drew se aproximou de Miranda, estava muito preocupada e sabia que daquele dia em diante teriam várias conversas.

— Mi. A mãe do Dave pode nos dar uma carona, você vem? — Drew a esperava.

— Não. — Miranda respondeu seca.

— Você não vai sozinha. Vai? — Drew não acreditou na decisão da irmã. Dali até sua casa era várias quadras, o que dava mais de meia-hora de caminhada.

— Eu irei com a Violet. Não fique preocupada. — Apenas sorriu de lado e segurou na mão de Violet, pedindo que a acompanhasse.

Miranda sabia que aquele pesadelo não havia acabado, que com toda a certeza, os policiais a interrogariam novamente. Eles desconfiavam dela ser a causadora do acidente.

— Se é assim que você quer. — Drew entendeu a irmã.

Drew estava confusa, e suas dúvidas só se extinguiriam quando conversasse com a irmã. Miranda foi saindo do departamento de polícia, até ser parada por Luther. O jovem deixou que seu pai caminhasse sem ele e olhou para ela.

— Eu queria... — Foi interrompido.

Leona o beijou e o abraçou forte.

— Você não vem? — E tocou sua mão.

— Eu já estou indo. — E sorriu de lado para Miranda. — Obrigado. — Limitou-se ao dizer algo mais.

Os dois loiros, que mais pareciam irmãos, saíram abraçados, até alcançarem o Sr. Williams. Miranda e sua amiga ruiva, Violet, se entreolharam e riram.

— Bom. Vamos! Pois, temos uma longa caminhada. — Violet observou a porta e percebeu que a mesma garota da lanchonete, agora estava escorada na mesma.

As duas passaram, mas logo a garota tocou o ombro de Miranda, que se virou.

— Olá. — A garota disse em um tom de murmúrio.

— Oi. — Miranda parou.

— Eu queria falar com você. — A garota de cabelos ondulados resolveu revelar tudo à morena. — Bem, meu nome é Loren Miller.

— Miranda Jones. Esta aqui é minha amiga Violet. — A morena fez Violet acenar, mesmo com desgosto. — Vamos! A gente conversa no caminho.

Miranda pôs-se a andar, junta de Violet e Loren. As três caminhavam por entre as ruas estreitas e vielas escuras de um bairro afastado de Washington. A partir daquele horário, todos os estabelecimentos fechavam, deixando tudo à mercê dos sem-tetos e de ladrões. Loren ainda andava intimidada, ela não era de Washington, havia se instalado naquela cidade só tinham algumas semanas. Havia decidido viajar até a Filadélfia para visitar sua tia de criação, Charlotte. Ela vivia com sua tia há sete anos, desde a tragédia com sua mãe. Charlotte havia pegado sua guarda, por ser a pessoa mais próxima da garota desde então.

Loren sempre recebeu todo o carinho e amor que precisava. Sua mãe havia falecido depois de sofrer um grave acidente em um circo. Charlotte e seu falecido marido, Tristan, também estavam no acidente. Porém, só ela e Loren conseguiram escapar.



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Era sábado à noite. Jenna olhava a filha com admiração, sua postura estava totalmente diferente, depois de tudo que elas vivenciaram. Aquele vestidinho florido havia combinado com sua pele alva e seus cabelos castanhos. Com uma fita no cabelo, a pequena sentiu-se pronta para se divertir. Jenna acariciou seu rosto, antes de dizer com calma:

— Que bom que estamos bem. — A mulher de cabelos negros beijou o rosto e a testa da pequena, antes de tocar em sua mão para saírem de casa.

As duas programaram uma noite divertida em um circo recém chegado na cidade. Elas estavam felizes. Jenna estava aliviada por tudo ter acabado. Trancando a porta ela sentiu a brisa fresca daquela noite, ligou para sua amiga e marcou de encontrá-la no local.

Assim que chegaram ao local, Jenna foi surpreendida por um mágico, que a elogiou.

— Que bela mulher estou vendo aqui! — E tocou sua mão.

— Obrigada. — Ela respondeu corada.

Loren sorria entusiasmada.

— Espere! O que é isso? — Ele movimentou as mãos rapidamente e delas surgiu um balão vermelho.

Loren foi rápida e agarrou o balão, sorrindo. O mágico sorriu e em seguida, fez mais movimentos com as mãos, até uma linda rosa surgir por entre seus dedos. Loren e Jenna estavam maravilhadas.

— Que linda! — Jenna cheirou-a.

— Que flor linda, mamãe! — Loren sorriu, segurando seu balão vermelho.

Jenna abaixou-se para mostrar a rosa para Loren, mas quando voltou a virar-se para agradecer novamente ao mágico, ele não estava mais ali. Ele havia sumido em meio à uma fumaça colorida, que se espalhou rapidamente. Jenna segurou a rosa por alguns segundos, até sentir um de seus espinhos penetrarem em seu dedo.

— Au! — Ela soltou a rosa, que caiu no chão, cobrindo-se de poeira.

A mulher olhou fixamente para o dedo, que estava com um pequeno furo no meio, deixando escapar uma gotícula de sangue. Ela levou o dedo até a boca, eliminando o sangue que estava na superfície do dedo. As duas resolveram entrar.

— Vem querida! — E segurou a mão da filha.

No momento em que chegaram até uma abertura na lona, feita como porta, totalmente enfeitada e com uma enorme placa: Entrada; algo lhes chamou a atenção. Jenna viu um tumulto na entrada. Um garotinho gritava, enquanto um homem, talvez seu pai, estava indo atrás. Algumas pessoas faziam o mesmo. Ela não entendia bem o que o menino gritava, mas continuou seguindo caminho. Ela ainda segura na mão de Loren, até ver Charlotte, seu amiga. O garotinho, que antes gritava, acabou esbarrando em Loren. Ela havia deixado o balão escapar de sua mão e correu para alcançá-lo, saindo novamente do circo.

— Meu balão! — A garota continuava correndo.

Jenna via o garotinho ser amparado pelo pai, que perguntava o que ele tinha. Charlotte rapidamente falou:

— Deixa comigo Jen. Vai lá, guarda seu lugar, que eu vou atrás da Loren e trago ela! — Sorriu, correndo atrás da garota.

— Está bem. — E Jenna entrou.

Charlotte havia alcançado Loren, a pequena havia perdido o balão, que estourou em uma cerca ali próxima.

— Fique calma, princesa. Titia promete que compra outro balão. — E sorriu para Loren, que parou de choramingar.

Charlotte escutou o garotinho que antes havia corrido, falar:

— Pai, me escuta! O circo vai pegar fogo, acredita em mim! — Ele chorava. — Vamos chamar a mamãe e a Lucy! — Seus soluços eram inevitáveis.

Charlotte então arregalou os olhos para Loren. A ruiva ficou estóica por alguns segundos, até criar forças para erguer-se e correr de volta ao circo.

— Jenna! Tristan! — Gritou, achando que seus gritos chegariam aos ouvidos deles.

Houve um enorme clarão. Um estrondo terrível. As lonas do circo estavam tomadas pelas chamas, ouviam-se vários gritos e pessoas se espalhavam do lado de fora, correndo. Elas pareciam várias formigas, fugindo de uma enchente. Charlotte tinha certeza de que era diferente, era uma enchente de fogo.

Loren encheu os olhos de lágrimas e gritou:

— Mamãe! — Tentou correr, mas Charlotte a segurou, abraçando-a com toda a força que podia.

Em alguns segundos, Charlotte olhou para o lado e viu o pai do garotinho desesperado e gritando por dois nomes: Lucy e Vivian. Ele também deixou pessoas que ele amava, dentro do circo. Ele também está sentindo suas dores.




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Miranda arrepiou-se depois de ouvir Loren. Ela não acreditava que tudo aquilo havia acontecido com a garota, que tinha perdido a mãe de uma forma tão trágica.

— Nossa! — Violet arfou uma palavra.

— Isso é... — Miranda não sabia o que dizer. — Terrível. — Foi somente isso que ela conseguiu retirar do pensamento.

Loren parou por um momento, embaixo de um poste piscando. Ela baixou a cabeça e foi falando, em um tom baixo e quase inaudível:

— Você sabe o que ela tem em comum com você. Miranda? — As duas perceberam que uma gota descia sobre o rosto de Loren.

— Não. — Miranda respondeu.

— Ela também teve uma premonição. — Falou, deixando Miranda trêmula.

A jovem de olhos acinzentados estava com os membros inferiores tremendo, estava com a mente confusa.

— Premonição? — Ela sabia o que Loren queria dizer, mas o momento não a deixou pensar direito.

— Sim. O aviso que lhe foi dado... Isso foi uma premonição. Você teve a premonição do acidente do ônibus, salvando todos nós. — Foi se aproximando aos poucos. — Pena que não sabe o que acontece depois que se engana a morte.

Violet estava assustada, naquele instante ela sentiu o mal dentro de Loren, um rancor profundo, além de um sentimento de culpa inexplicável.

— E... O que acontece? — Miranda perguntou se afastando de Loren.

— O jogo acaba para todos! — Ela aumentou o tom de voz.

A sua voz entrou nos ouvidos de Miranda e vez uma onda fria percorrer seu corpo. Era a mesma sensação da rodoviária. Do que ela está falando?

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Chris havia acabado de chegar a casa. A noite estava nebulosa, tudo estava estranho ao seu redor. Ele não sentia a mesma alegria de sempre, até as piadas havia escapado de sua mente. Ele estava vazio. Ficou pensando por alguns segundos, o que havia dado em Miranda para ela pirar daquele jeito? Nem ela mesma poderia responder aquelas perguntas, acreditava.

Foi até o banheiro e se despiu, pegou uma toalha e se direcionou até o chuveiro. Ele precisava seriamente de uma ducha. Passou o sabonete por todo o corpo, delineando com suas mãos ásperas. Ele olhava para aqueles movimentos e lembrava-se de um passado turbulento e difícil. Não mais difícil que o passado dos outros. Chris convivia com uma doença. Doença essa, que não o deixava se aproximar mais ninguém, além de Amy. Ele se sentia mal por ter mentido para ela, achava que o que ele estava passando não era nada mais, nada menos, que um castigo por ter mentido tanto para ela. Por tê-la traído.

Ele acreditava que já havia perdido a juventude há muito tempo, pregar aquelas piadas fora de hora e sem graça eram só uma das maneiras de não sentir-se não imundo por dentro. Aqueles risos momentâneos só abafavam tudo que ele sentia, ele precisava de um banho interior. Nem sua mãe com seus sermões davam-lhe a vontade de querer ser alguém melhor.

Muitas vezes batia uma vergonha de ser amigo de Luther, sua relação com Leona está indo tão bem. O que ele sente não é inveja, mas sim, saudade dos tempos bons que vivia com Amy. Aquele era um castigo, uma tortura causada por sua alma fraca e indisciplinada. O garoto não se achava isolado, nem rebaixado. Afinal, ele tinha amigos que se importavam com ele, era o que ele achava.

Quando acabou o banho, Chris saiu do banheiro e escorregou no corredor. Com o escorregão, ele bateu o braço contra um vaso indiano que havia ao lado da porta do banheiro. Entretanto, estava tudo bem, só havia sido o susto. O arranhão rapidamente estava sendo curado pela mãe, que passava um tipo de antiinflamatório. Depois do escorregão, Chris resolveu acalmar-se, a noite seria longa para ele e seus pensamentos.




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Miranda, Violet e Loren já se aproximavam de casa. Miranda ainda estava com receio de que algo ruim pudesse acontecer, ela não queria certamente acreditar em Loren. Mas, a mãe dela... Ela teve uma premonição também. Ela queria que nada daquilo fosse verdade, Loren também contou sobre o destino de quem driblasse a morte. Ela já estava envolvida, não poderia negar.

— Bom, eu tenho que ir. Já perdi o embarque desta noite mesmo. Minha casa é no próximo quarteirão, até mais. — Loren foi se afastando aos poucos. — Liga pra mim se precisar de alguma coisa, Miranda. — Entregou-lhe em uma folha de papel, seu número do celular.

Miranda não respondeu nada, apenas pegou a folha e guardou no bolso da calça jeans. Violet olhou para o céu e em um olhar discreto, falou:

— Parece que vai chover. — Estava cansada, com suas bagagens em mãos.

— Até logo. — Miranda acenou.

Loren devolveu com um aceno e começou atravessar a rua deserta, ainda olhando-as. Miranda sentiu um forte arrepio percorrer sua pele, deixando seus pelos em pé.

— Cuidado! — Violet gritou.

Loren só conseguiu ver o clarão dos enormes faróis. Logo em seguida, sentiu seu corpo flutuar. O ônibus passou com velocidade bem ao seu lado, rugindo com sua buzina ensurdecedora. Ela tapou os ouvidos, antes de ficar horrorizada. Miranda havia a empurrado, e por pouco um ônibus não lhe atropelava. Miranda salvou-a da morte novamente.

Violet esperou que as duas retornassem para a calçada.

— Miranda... — Loren respirou fundo antes de dizer algo.

— Vocês estão bem? — Violet se aproximou.

Miranda estava pálida. Loren olhou-a no fundo dos olhos, então disse:

— Começou. A morte construiu uma nova lista. — Loren tentava falar com cautela, entre arrepios.

— O que quer dizer? — Só em perguntar, Violet já estava ficando amedrontada.

A morena de olhos acinzentados estava atônita, ainda tentando tomar fôlego.

— A morte está com uma nova lista. Nós estamos nela. — Loren disse-lhes.

Foi o bastante para as duas ficarem estóicas. Neste momento suas mentes estavam sendo bombardeadas com perguntas sem respostas, com indagações sem explicações. Estavam apenas, sofrendo sem saber.




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Chris passou a mão no pequeno ferimento causado pelo vaso. Ele já tinha reclamado com a mãe sobre o vaso que tinha uma aparência estranha. Enquanto olhava pela janela e via uma garoa cair, ele se lembrava do quarto de motel. A imagem de Vallery vinha em sua mente. Para ela, ela fora a causadora de tudo, de todo seu sofrimento. Tão jovem e tão sofredor. Foi aquela biscate! Foi ela quem me deixou assim, imundo! Ele apertava o lençol com força, esmagando-o e comprimindo-o sobre seus dedos ásperos.

Seu celular vibrou em cima da cômoda. Quando pegou o celular e olhou de quem era a ligação, queria jogar o celular bem longe. Seu sangue fervia, a ferida voltara a doer. Quando jogou o celular no chão, ao lado da cama, ele suspirou, tentando tirar a sensação ruim de seu corpo. O celular vibrou mais uma, duas, três vezes.

Era Vallery.



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Tudo estava totalmente escuro, até Miranda se vê no meio de um gramado de futebol, diante de um enorme espelho, maior do que ela mesma. Enquanto passa sua mão macia por todo o espelho, ela o vê encher-se de rachaduras e se afasta conseguintemente. De repente, o espelho se quebra e dele jorra muito sangue.

O sangue cai por todo seu corpo deixando-a ensopada. Ela cai no gramado e o espelho continua derramando sangue, até seus cacos caírem totalmente sobre o gramado. Ela grita, até sentir-se fora de si.

O quarto está bem iluminado. O sol batia em seu rosto com flechas de luz solar que irradiavam em sua pele alva. Seus olhos brilhavam ao se chocarem com a luz, mas ela preferiu fechá-los e voltar a dormir. Porém, se dependesse de Drew, sua irmã, ela não voltaria a grudar os olhos.

— Preciso conversar com você. — A voz entrou nos ouvidos de Miranda, fazendo-a desistir de fechar as pálpebras novamente.

— Não quero conversar agora. Nem acordei ainda. — Murmurou, virando-se para o lado contrário.

— Eu tenho que ter as devidas explicações para o que aconteceu ontem, Miranda. — Drew assemelhava sua mãe em todos os aspectos, até no seu próprio tom de voz.



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Diante da manhã ensolarada que surgira no céu, Chris corria pelo gramado com toda a vontade que havia reunido durante a noite. A ligação de Vallery só o fez aumentar ainda mais, seu desejo de fazer tudo como se fosse o último minuto de sua vida. Depois de dar várias voltas ao redor do enorme campo de futebol, resolveu tomar um banho. Vallery não poderia impedi-lo de viver ao máximo sua vida, ela havia degradado-o aos poucos, mas ele não se daria por vencido. Ainda era jovem, porque se corroer por algo que não valia a pena?

Antes de entrar no vestiário, após passar pelas arquibancadas, Chris sentiu um vento frio na sua espinha. Acho estranho, pois a manhã estava tão ensolarada, que não tinha brisa alguma. Suspirou e voltou a andar, mas uma voz feminina o fez travar.

— Chris... — A voz foi sumindo aos poucos, até fazê-lo virar-se.

— O que vo-você está fa-fazendo a-aqui? — Ele era gago, mas só demonstrava isso quando estava muito nervoso.

Ao olhar no fundo dos olhos da bela jovem que estava em sua frente, ele sentiu várias gotas de suor dançarem em seu rosto. Começou a ficar vermelho e irritado. Estava rotulado em seu olhar que ele sentia vontade de saltar em seu pescoço, mas ela era mulher. Ele não queria ter conseqüências maiores.

— O que você faz aqui? — Seus olhos já estavam transformados em órbitas vazias e escuras.

— Vim aqui te pedir perdão... — A voz de Vallery era acalentadora e ao mesmo tempo, forte.

— Você acha que é o bastante? — Chris foi ficando ainda mais vermelho e mais irritado.

— Eu sei... Eu... Sinto muito! — E tentou lhe abraçar.

Chris recuou e não teve mais coragem em olhar-lhe nos olhos. Foram sem êxito, as tentativas frustrantes de Vallery se aproximar dele, depois de todo o ocorrido.

— Por que você está agindo dessa forma comigo? — Ela esticou a mão, na tentativa de tocar-lhe no rosto.

— Você me transformou nesta aberração! — Ele gritou.

Luther havia acabado de chegar para o treino, assim como Chris. Enquanto ele caminhava na arquibancada, se aproximando do vestiário, avistou Chris e Vallery parados de frente ao gramado, ele parecia muito irritado. Antes que pudesse falar algo, Luther sentiu a falta de algo muito importante.

— Que droga! Esqueci meu celular dentro do carro! — Bufou, refazendo o mesmo trajeto, até o carro de seu pai. — Quem será ela? — Pensou alto, enquanto caminhava.

Chris e Vallery ainda se encaravam. Desta vez uma lágrima desceu no rosto do rapaz, misturando-se ao suor.

— Me diz! — Voltou a gritar. — Está feliz agora? — Segurou nos braços da moça.

— Você está assim por causa daquilo? — Sua voz falhou.

— E muito mais. Você me passou uma doença, sua vadia! Agora eu estou castigado pelo resto de minha vida! — Seus rostos pareciam mais tensos. Ele apertava ainda mais o braço da asiática. — Por culpa sua agora eu tenho que conviver com a droga do HIV!

Naquele momento, Chris não queria poupar-se dos palavrões e ofensas, ditas com fúrias para Vallery. A garota estava sentindo-se humilhada, destroçada, acabada. Ela não teve a culpa de ter passado a doença para ele, ela mesma não sabia que tinha o vírus dentro de si.

— Eu também não sabia... Eu era muito ingênua... Você também participou disso! — Ela chegou a gritar, mas Chris não agüentou.

O estalo da tapa que Chris dera em Vallery ecoou em todo aquele local, servindo como orquestra de sua fúria.

— Eu não quero te ver mais na minha frente, está me ouvindo? — Sem mais nenhuma palavra, ainda vermelho, ele entrou no vestiário.

Vallery sentiu-se arrasada, ficou alguns segundos o olhando, até o ver sumindo no corredor. Ela chorou, correndo pela arquibancada. Luther voltava e a viu daquela forma, apenas baixou o olhar e continuou andando, se dirigindo ao vestiário.



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Chris entrou bufando. Com seu rosto mais vermelho que antes, ele chegou a olhar-se no espelho, mas uma rachadura enorme o fez desistir. Estou imundo, preciso de um banho. Apenas suspirou e tirou o uniforme do treino. Ligou o chuveiro e esperou a água gelada cair sobre seu corpo, calmamente. Ele queria mais que tudo que aquela sujeira interior se dissipasse dali, fugisse e nunca mais voltasse.

Enquanto fechou os olhos, não sentiu mais nada ao seu redor. A porta do vestiário trancou-se repentinamente, depois de uma forte rajada de vento inexplicável. Em seguida, pegou um xampu e colocou sobre a cabeça. Sua mão acabou batendo em uma pequenina saboneteira, que deixou que seu produto escorregasse até o piso do Box. O sabonete escorregou sobre a superfície de água, que estava indo em direção ao ralo, parando próximo de seus pés.

Quando um pouco do xampu escorreu até seus olhos, ele os sentiu arder e ficaram irritados na mesma hora. Com seus olhos ardendo, ele não pode ver o sabonete e deixou que seu pé fosse levado pelo mesmo. Ele escorregou, batendo a mão e cabeça contra a enorme vidraça do Box. O som dos vidros estilhaçando foram ensurdecedores.

Assim que chegou na porta do vestiário, Luther batia na porta freneticamente, enquanto não recebia respostas de seu amigo.

— Que merda! — Ele sentiu a dor da fenda causada pelo choque com o vidro, em sua cabeça.

Com as costas sobre os estilhaços de vidro, ele tentava se mexer, mas não tinha êxito com as tentativas. Olhando um pouco embaçado para cima, ainda sentindo a ardência causada pelo produto de beleza em seus olhos, ele pode ver uma parte da vidraça intacta. Ela continuava rachando bem acima e estava prestes a cair. Com os músculos e ossos doloridos, ele tentava se erguer, mas não conseguiu. Quando escutou a porta bater, soube que estava a salvo. Quando olhou para o lado, viu o sangue dos ferimentos serpentear até o outro Box.

Viu Luther se aproximando, mas um rangido o fez tremer. Chris olhou para cima e um último grito, sua dor se esvaiu. A parte da vidraça intacta, agora deslizava pelo suporte, em um efeito guilhotina. O pescoço do jogador partiu-se em dois, o osso fez um estalo horrendo, enquanto o sangue espirrava na vidraça do outro box.

— Chris! — Luther gritou e vomitou.

Os olhos do loiro continuaram arregalados. Ele viu a poça de sangue se espalhar, enquanto a cabeça do amigo rolava pelo piso rubro do lugar. Chris permaneceu de olhos abertos, fitando o terrível e obscuro vazio.



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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado do capítulo!
O capítulo 03 sairá em breve... Prometo que não irá demorar :)
E ah! Não esqueçam de comentar, haushuas.
Não decepcionem! Olhem lá viu? :B