P.O.V Murtagh

“Quem és tu?”

“Desculpa? Não fui eu que entrei na casa dos outros e me pus a coscuvilhar as suas memórias!!”

Definitivamente eu não entendia esta rapariga… Tentei por muito tempo perceber qual era o seu nome, mas ela continuava a evitar a minha pergunta recorrendo a ofensivas contra mim.

“Desculpa se entrei na tua casa, mas pensava ser uma simples gruta abandonada na floresta! Responde à minha pergunta!”

“Eu não te devo quaisquer explicações, ao contrário de ti… Diz-me o teu nome e eu dir-te-ei o meu.”

“A minha paciência acabou! Tenho tentado levar a situação a bem, mas isto é de mais: Tu atacas-me com todas as tuas forças e ainda te achas no direito de me exigir respostas?! Eu sou Murtagh, filho de Morzan e irmão de Eragon, Aniquilador de Espectros e Reis.”

“E consideras-te, por isso, no direito de invadir a minha propriedade!!”

Agora eu estava mesmo a chegar aos meus limites de compreensão. Quem é esta rapariga que se julga tão importante?

“Eu já me desculpei por ter entrado na tua casa. Responde-me! Quem és tu?”

“E o facto de teres entrado nos meus quadros mágicos? Não me digas que julgavas que eram meros desenhos na parede! Com a luz que trouxeste contigo era fácil de ver as molduras mágicas e as inscrições do feitiço que te transporta para dentro delas!”

Na verdade, só agora me apercebia das inscrições nas parede e das molduras. A rapariga não estava a mentir em relação a elas… Mas podia jurar que não estavam lá quando cheguei e com toda a certeza eu não li as inscrições do feitiço!

“Não estavam inscrições ou molduras quando cheguei aqui. Meros desenhos, como disseste.”

“Como assim não estavam aqui? Isso é impossível! Só eu e ele é que sabemos como as esconder… A não ser que… Não isso é de loucos!”

As suas últimas fases foram ditas num sussurro, mas mesmo assim foi-me possível ouvi-las.

“Ele quem?”

“Feliph… Era meu noivo. Foi ele quem construiu esta casa na gruta e fez todos os quadros com exceção daqueles nos quais entraste. Ele morreu a defender-me de um ataque dos Razac’s, fi-los em sua homenagem. “

“Os Razac’s atacaram-te? Eles só seguiam aqueles que o rei procurava. Quem és tu e qual a tua relação com o rei?”

“Eu chamo-me Lunah, sou a sobrinha de Galbatorix.”

“Como assim sobrinha? Galbatorix não tinha irmãos! E Selena só tinha um, cujo filho é Roran. “

“Na verdade Galbatorix tinha uma irmã, a minha mãe, Elena, mas ela cortou relações com ele quando percebeu naquilo que o seu irmão se estava a tornar. Ela fugiu e casou com o meu pai, Joseh, e eu nasci. Nós vivíamos felizes numa pequena casa no meio da floresta até Galbatorix descobrir que tinha uma herdeira ilegítima que não lhe jurara fidelidade e lhe poderia tirar o trono se o conseguisse chegar aos Varden. Desde então não parou de nos perseguir. Fomos obrigados a esconder-nos numa aldeia e lá conheci Feliph e ficámos noivos. Todos morreram quando os Razac’s nos encontraram e queimaram a nossa casa. O Felih empurrou-me para fora da casa, salvando-me, mas quando voltou, para ajudar os meus pais, ficou preso nas chamas.”

Um choro silencioso juntou-se à voz já chorosa da rapariga e eu não me consegui conter, abracei-a. Ela assustou-se com o meu toque, mas rapidamente se encosto a mim e chorou no meu peito. Passados alguns minutos acalmou e pude continuar a conversa:

“Posso perguntar-te o porquê de esta casa ter sido construída se vivias com os teus pais?”

“Nós íamos mudar-nos na noite seguinte ao incêndio. Esta gruta foi transformada para que nos pudéssemos esconder dos Razac’s e de Galbatorix. Não prevíamos que chegassem tão cedo… Decidi mudar-me para cá depois do incidente para viver e vingá-los!”

“Mas Galbatorix já foi morto em conjunto com os Razac’s e os Espectros há anos!”

“Eles podem ter sido mortos, mas algo de terrível está para chegar. Sou feiticeira, sei que algo se passa, algo sombrio cresce no seio da nação. Algo muito mais poderoso do que Galbatorix alguma vez se poderia tornar e vem atrás de todos os que tornaram esta terra tão pacífica.”

“Tenho de partir e avisar o meu irmão. E tu virás comigo, saberás melhor do que eu ajudá-lo.”

“Tu és sábio, Mestre Murtagh… Tu não entraste na gruta por acaso e tampouco me tratas-te tão calmamente sem razão. Tu tens-me visto em sonhos, uma presença minha desconhecida tem penetrado a minha mente à noite.”

“Sim, realmente tenho sonhado com uma rapariga semelhante a ti, mas a minha entrada na gruta foi mero acaso.”

“Nada é um acaso, tudo tem uma razão de ser… Mas vamos embora, o teu irmão deve ser informado.”

Voltamos para junto de Thorn, depois de Lunah agarrar as suas bagagens já preparadas com antecedência, e partimos em direção a Ellesméra.

P.O.V. Eragon

Esta manhã acordei com um pressentimento estranho. Por várias vezes Arya tentou descobrir o que se passava comigo para estar tão fechado e distante, mas apenas disse que tinha dormido mal.

Já passa do meio-dia e esta sensação ainda não me deixou. Decidi ir passear para os bosques e meditar.

P.O.V. Saphira

O Eragon tem estado estranho todo o dia. A sua mente só me transmite uma sensação de preocupação e estranheza. Já questionei Arya sobre possíveis razões, mas nem ela sabe.

Ele fechou-me a mente desde que se levantou, típico do Eragon quando algo o inquieta.

Agora foi para os bosques… Acho melhor ir atrás dele e tentar perceber o que se passa, talvez um tempo só os dois nos faça bem.

P.O.V Eragon

Quando cheguei aos bosques ouvi um bater de asas e o som de algo enorme a aterrar atrás de mim.

“Sabes que não me podes ignorar para sempre, certo? Sou a tua dragão! Fala comigo! Deixas-me preocupada nesse estado.”

“Eu sei, mas nem eu sei o que se passa e não te quero preocupar, afinal, acabas-te de pôr ovos.”

“Deixando-me na ignorância só aumentas a minha preocupação. Sobe, vamos voar juntos um bocado. Abrir a mente e aproveitar a companhia um do outro.”

E assim fizemos. A sombra que tinha atingido a minha mente desapareceu só com algumas horas de vôo na companhia da minha Saphira. O que seria de mim sem ela?