P.O.V Murtagh

            Voávamos já há algumas horas quando Thorn pousou para prepararmos um acampamento improsidado para prenoitarmos. Em situações normais, eu apenas acenderia uma fogueira junto a Thorn e dormiria encostado à sua barriga escamosa, mas com Lunah a acompanhar-me senti-me na obrigação de lhe atribuir o máximo de conforto possível.

            Enquanto montava a tenda vi Lunah a afastar-se de junto de Thorn, adormecido. Seguia pela floresta e vi-a alcansar um lago cristalino.

            Observei enquanto ela tirava o vestido e entrava lentamente na água. Eu sabia que não era correto invadir assim a sua privacidade mas não conseguia sair da minha posição, era como se os meus pés estivessem presos ao chão e os meus olhos hipnotisados pelo seu belo corpo.

            Não posso dizer que fui um “santo” durante todos estes anos de exilo. Acabava sempre por encontrar alguma mulher por quem sentisse alguma atração, nada mais, mas ainda assim, os nossos relacionamentos nunca demoravam mais do que meras semanas, porque eu acabava sempre por deixá-las, chorosas e soluçando o meu nome, para seguir viajem.

            O que me incomoda é que tenho certo medo de rever Nasuada. Tenho receio de voltar a ficar preso a um amor que não é mútuo e já me conduziu à ruina. Era perigoso estar apaixonado em tempo de guerra. O inimigo podia utilizar o nosso amor como arma, ferindo o dono da nossa afeição e controlando-nos com base na tortura.

            “O que estás a fazer Murtagh?”

            Thorn gritou na minha mente. Julgava-o adormecido.

            “Pára de espiar a Lunah! Saí já daí!”

            A voz dele era tão ameaçadora que recuei de volta para o acampamento num piscar de olhos, embora com pena de deixar para trás um Lunah a banhar-se calmamente nas águas do lago. Tenho de admitir, ela era linda e o corpo dela, Perfeito!

            “O que foi aquilo Murtagh? Já não te chegaram as companheiras que tiveste durante todos estes anos? A idade não te ensinou nada? Tem vergonha na cara Murtagh! Já não és uma criança! A Lunah já tem o coração partido o suficiente e para além disso estamos às portas de uma nova batalha, queres que a «usem como arma contra ti?”

            “Desculpa!! Não se volta a repetir e peço imensa desculpa por me ter divertido um bocado durante o meu exilio! Deves julgar-te fácil de aturar! Eu estava só a ver se ela estava segura e não se afastava muito de nós…”

            Thorn estava muito sério e bruto! Fiquei muito chateado com a atitude dele e fechei-lhe a mente. Não me interpretem mal, eu adoro o Thorn, mas por vezes ele exagera. Eu sei que o que fiz não foi correto, mas daí a fazer aquele escândalo! Ele tem de se acalmar, está assim desde que a tal coisa importante, que ele não sabe o que é, aconteceu. É urgente chegarmos a Ellesméra.

P.O.V. Eragon

Os convidados finalmente que faltavam finalmente chegaram e realizámos um enorme banquete de boas vindas a todos, no final do qual se realizaria o momento onde seriam dados os ovos a tocar por todos.

Ao chegar ao salão, acompanhado de Arya, notei alguns olhares cúmplices por parte de Nasuada e Elva. Orik saudou-me com grande felicidade e desculpou-se por não se fazer acompanhar da sua mulher, justificando a sua ausência com o seu presente estado de gravidez.

“Parabéns Orik, serás um excelente pai!”

Orik sorriu como nunca o tinha visto sorrir e respondeu, após Arya também o felicitar:

“Tu também serás um excelente pai, Eragon…”

Sorri em compreensão e dirigi-me à mesa, cumprimentando toda a gente presente, e por fim sentando-me junto da minha companheira que já se tinha ausentado da conversa com Orik.

O almoço foi servido e eu permiti-me a observar melhor o salão de gala onde nos encontrávamos. A sala era extremamente bonita, embora simples, com desenhos e retalhos típicos da cultura élfica decorados especialmente para a ocasião em casa com delicados cortinados de seda dourada com desenhos prateados, assim como todas as outras decorações e o vestido de Arya.

Arya estava deslumbrante com o seu vestido cor de ouro com bordados prata e o cabelo apanhado num elaborado penteado apanhado. Eu estava simples mas elegante, com uma túnica branca e umas calças pretas.

Quando o almoço terminou fomos para junto dos dragões e cada pessoa teve a oportunidade de tentar a sua sorte com os ovos.

O primeiro foi Roran, mas nenhum ovo deu sinais de vida. Seguiu-se Katrina e Ângela, mas nenhum ovo chocou para elas.

Nasuada aproximou-se do ovo amarelo e nada, laranja e novamente nada, mas quando tocou o ovo prateado fez-se sentir um abanão e lentamente a casca do ovo rachou revelando um dragão do tamanho de um gato com escamas mais prateadas do que o próprio metal. A cara de surpresa de Nasuada era enorme e quando lentamente tocou com a palma da mão na cabeça do recém-nascido dragão sentiu uma corrente gelada percorrer-lhe o corpo. Quando a sensação passou agarrou o dragão e com ele no colo virou-se para encarar a cara dos seus conhecidos e amigos.~

“Parabéns Nasuada, parece que o nosso filho te escolheu! Trata-o bem, um dragão é uma presença insubstituível na nossa vida e rapidamente se tornará essencial para ela.”

Saphira terminou de falar e logo Eragon a seguiu:

“Um dragão é uma bênção, trata-o com a tua vida porque se o perderes, perdes-te a ti.”

De repente ouviu-se um rugido e acorreram todos aos jardins do castelo de onde viram um, mancha vermelha no céu.

“Não pode ser!”, Pensei, mas a mancha aterrou revelando-se como sendo um enorme dragão carmesim montado por Murtagh e uma rapariga de beleza característica.

“Olá irmão!”, Disse Murtagh com um enorme sorriso no rosto. Desmontou a sela de Thorn e cumprimentou-me com grande alegria.

“Esta é Lunah, creio que será importante termos uma conversa a sós…”