P.O.V. Murtagh

Acordei com a respiração ruidosa de Thorn a bater-me no rosto. Ainda é de madrugada, por isso vou dar uma volta. Ontem aterrámos numa zona resguardada com mato um pouco denso em redor. Andei até perder o enorme dragão escarlate de vista, o que, sinceramente, não foi muito difícil, visto estarmos quase dentro da floresta. Dei de caras com a entrada de uma gruta cheia de flores à volta, dava até a impressão de ser um jardim, o que é impossível, ou não? Olhei o céu. O sol já estava alto mas não o suficiente para ser meio dia, Thorn pareceu-me bastante cansado então decidi deixá-lo descansar e entrei.

Na gruta estava uma escuridão imensa, portanto para iluminá-la pronunciei um simples feitiço: naina. Uma luz mágica de forma indistinta surgiu imediatamente na minha frente, iluminando o caminho. A entrada da gruta era grande, mas assim que comecei a caminhar para o seu interior o corredor de rocha que delimitava o caminho foi ficando cada vez mais pequeno e vi-me ligeiramente apertado lá dentro (não que eu seja gordo, mas tenho músculo…). Felizmente a abertura que me permitia a passagem voltou a aumentar dando origem a uma câmara ampla de teto alto. A luz anteriormente útil deixou de surtir efeito na sala e eu reformulei o feitiço: naina hvitr un böllr. O feixe de luz foi substituído por um globo de lu branca.

– Audr– o globo subiu até alcançar o teto da camara, que se demonstrou muito mais alta e maior do que calculara inicialmente.

A câmara transmitia-me algum medo, admito. Sentia uma presença estranha no ar e uma estranha raiva pairada no ar, ou será que era dor? As paredes eram desenhadas e tinham relevos que davam uma impressão de movimento. Contavam uma história.

Aproximei-me da parede mais próxima de mim. Os desenhos que apresentava eram extremamente delicados. Estava neles representada uma rapariga de cabelos castanhos e olhos azuis, deitada num banco de rua de aparência élfica. A sua pele era morena, mas transmitia um brilho angelical, sim eu achei a sua beleza angelical. Ela encarava a pessoa que observava a pintura com uma expressão triste e sem me aperceber perdi-me nos seus olhos e entrei na história:

Está tudo nublado. Começo a andar cautelosamente e volto a vislumbrar a figura da rapariga. Parece tão real. Só agora reparo que chora, trajando um vestido de veludo preto. Ela começa a caminhar. Sigo-a. A rapariga para de repente e encara uma lápide com o nome Feliph. Mais lágrimas escorrem pelo seu rosto dócil e de dentro da manga larga do vestido ela arranca uma rosa vermelha com um anel preso. Cai de joelhos a chorar e passados alguns minutos levanta-se novamente, deixando no chão a rosa e o anel. Espera, é um anel de casamento. Porque o deixa ela um anel de casamento aqui? Não faz sentido, a não ser que… O meu coração apertou com esse pensamento. Como pode alguém perder o amor para a morte de forma tão cruel? Voltei a minha atenção para a rapariga chorosa que está à minha frente. Ela vira-se. O seu olhar perdeu a cor… No lugar do azul torquesa brilhante que observava à pouco está um cinzento escuro e opaco. A minha vontade é abraça-la, dar-lhe força, ajudar de alguma forma… É como se ela fizesse parte da minha vida e ocupasse um lugar muito importante nela. Quando me preparava para a abraçar fui enviado de novo para a realidade com um grito:

– Jierda!

Virei-me e deparei-me com 5 facas afiadas a voar velozmente ao meu encontro. Só tive tempo de me baixar e gritar “Vaetna” na tentativa de desvia as armas que me eram apontadas.

P.O.V. Eragon

As mensagens já tinham sido enviadas à alguns dias mas ainda não havia respostas de ninguém a quem tinham sido enviadas.

Eu e Arya estamos muito bem. Não sei porquê mas desde que Saphira pôs os ovos nós tornamo-nos quase inseparáveis, se é que era possível andar-mos mais juntos antes… A Arya está diferente, mais feliz. Fico contente de saber que sou a principal causa de tanta felicidade, embora os ovos também a tivessem deixado radiante.

Ultimamente tenho pensado muito no meu irmão. Vocês podem pensar que estou a brincar mas a ideia do isolamento do Murtagh deixa-me inquieto. Mesmo tendo o Thorn para o defender, temo pela sua segurança, afinal ele é meu irmão. Pergunto-me onde está neste preciso momento…

P.O.V. Murtagh

– Vaetna!

As facas desviaram-se de mim por pouco e consegui finalmente levantar-me. À minha frente está a pessoa que me atacou. Veste uma capa com capuz e não consigo ver-lhe a cara. Tem cabelos castanhos a escapar pelo capuz. Aquela silhueta… Tenho a estranha impressão de que já a vi. É isso! Quase me esqueci… Nos últimos tempos tenho sonhado com uma pessoa disfarçada com uma capa e capuz semelhantes a estes. Em dois dos estranhos sonhos pareceu-me ouvi-la soluçar…

O meu atacante deve ter-se apercebido da minha distração e tentou atacar a minha mente. A sua força era notável mas eu tenho barreiras inquebráveis na mente. É o que acontece quando se lida com Galbatorix, aprendemos a defender-nos e a desconfiar de tudo. Como resposta ao ataque coloquei toda a minha força de mente em ataque contra o meu inimigo. As suas barreiras também eram fortes mas rapidamente as quebrei e entrei na sua mente, forçando-o a ajoelhar-se no chão.

Caminhei até ele e puxei-lhe o capuz para trás revelando um rosto feminino, moreno e de brilho angelical. A minha atacante olhou-me nos olhos com raiva, demonstrando os seus olhos cinza. Quem era ela? Porque mexia comigo assim? O que faz aqui?