Sublimes Sonhos escrita por Jonathan Loppes


Capítulo 12
Hormônios


Notas iniciais do capítulo

Fui me arrastando. Um pé após o outro, até chegar perto o suficiente para toca-lo e sentir seus poros abertos respirando perto dos meus.



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Estavamos envoltos por uma escuridão peculiar e simples, e nisso carregava seu ar de especialidade. Há tempos, já me acostumara com o barulho dos animais futucando a floresta, e muitas vezes a coruja se anunciava presente e eu não percebia. De fato, pela situação que me encontrava, um exército de anjos me caçando como se fosse um demônio. Isso é insano demais! Demasiadamente pertubador! Já parou pra pensar em tão pouca estabilidade realmente temos, em um momento que agora me parece distante eu estava em casa reclamando da minha vida desinteressante para compartilhar com Mia, agora sou a presa de seres com assas que não sei porque merda enxergam em mim a auréola que não veem em seus reflexos no espelho; Devo confessar que não sinto saudades dos dias que antecederam a Pedro, e muito pouco guardo de antes. Mas hoje não sei como será minha vida amanhã, ou se vida ainda existira em mim, só sei que nos últimos minutos venho dizendo a mim mesma que quero viver todas as emoções que puder nas próximas horas. E se serão minhas últimas horas de vida, valeram muito a pena.

"Anjos tem sexo?" Me aproximei com disposição suficiente para recuar, minha voz saiu perfeitamente como desejei que saísse. Doce e intimidadora.

"Vocês humanos são tão bizarros!" Ele deu uma rizada gostosa e continuou "Sim!" Afirmou com clara ênfase "E só pra confirmar eu sou masculino!" E prosseguiu rindo lindamente.

 Acompanhei a sua rizada mesmo sem achar graça alguma, e toda saiu sem parecer tão forçada como realmente era. 

"E você tem namorada?" Perguntei dekicada interrompendo uma gargalhada.

"Não tenho e nunca terei." As rizadas se cessaram do nada, tomando um ar de seriedade.

"Mas por que? Você é um cara tão... Simpático." Ia dizer indo porém me contive e sorri o mais largo que pude.

"Motivos pessoais!" Ele exclamou como se estivesse brincando, mas se fora uma brincadeira o verdadeiro porquê não veio em seguida.

"Sim, senhor. Respeito vossa privacidade." Disse em tom descontraído e sarcástico. 

"Muito obrigado madame." No mesmo tom descontraído e leve respondeu, deixando no ar gargalhadas fracas.

"Falando nisso..." Disse rápido antes que o gelo nos tomasse conta "...Uma vez no segundo ano eu e a Mia ficamos paquerando por dias um tal de Felipe do terceiro ano, porém no dia em que Mia ia ficar com amiga dele, porque eu não iria me meter nessa sozinha né, eu acho que ele tinha perdido a escova de dentes..." Pedro interrompeu aquela história  sem graça.

"...Mas aí quando você foi ficar com ele , viu duas cáries nos molares, e fingiu que a mensatruação havia descido adiantada. É eu conheço muito bem essa história.

  Começamos os dois a rir como se o que nos unisse não fosse tão drastico como realmente é. 

"Desde então nunca mais tentei dar o meu primeiro beijo na boca!" Disse como se achasse engraçado. 

"Algumas garotas teriam vergonha de dizer isso em bom som."  Comentou respondendo ao meu riso.

"Algumas não, todas. E eu tenho, só que não de você." 

"Amé. Poís se tem alguém que pode te ver nua sem ficar excitado, esse alguém sou eu."

"Isso não é bom. Eu sou tão esquelética assim!"

Ele riu e quiz avançar em seus lábios, porém me contive. Só não sabia até quando.

 Ficamos ali por um tempo, conversando sobre uma vida que ele conhece melhor que eu. A minha vida. Foi engraçado assisti-lo relatar o que Felipe pensou quando puxei Mia a procura de um absorvente, e me lembrar de quando aos cinco anos tentei fazer um bolo de chocolate escondida no banheiro depois de deixar o que mamãe fez cair. Vê-lo contar sobre cada detalhe da minha trajetória na Terra, me trouxe de novo a sensação de que muito pouco fiz em anos. A falta de emoção suficientemente fortes para controlar os meus dias a curto ou longo prazo, me fez pensar na criança de cinco anos que fui lá trás. Alguém em que as decisões se resumiam em escolher a roupa da barbie e qual sabor de bala é o favorito. Nada que me faça diferença. Ser telespectadora da vida de Melanie e Mia, me posicionou como se asistisse a vida que queria e deveria poder ter, mas é inútil tentar. E chega a ser engraçado, pois quando tenho que tomar uma decisão verdadeira, é algo como matar ou morrer. Isso não é justo! Como alguém pode renunciar a si mesmo ou aqueles que mais ama. Quando Pedro tenta me explicar meus pensamentos se subtraem a porquês. Ter uma auréola em cima de mim. Uma perfeição. é quase inacreditável! E ter que matar quem me gerou -meus pais ou seres do céu- é absurdo, intendível, surreal e louco a mais elevados padrões.

 Quando nossa conversa trouxe um ritmo lento, fez emergir o assunto que rancava lágrimas pesadas de ambos.

"O que vamos fazer quando...?" Falei o mais natural possível como se isso não causasse dor.

"Só nos resta lutar. Lutar até o fim." 

"Espero que tenha um final feliz!"

"Vai ter. Só não posso garantir que será para nós."

"Você sabeia me dizer quantas horas faltam para amanhecer?"

"Literalmente amanhecerá daqui a duas horas, mas você sentirá trinta minutos." Seu rosto se encheu de preocupações e ele tentou não transparecer.

  Trinta minutos. Em trinta minutos estarei nas mãos de um exército que tanto caçou minha sombra que enfim chegou ao meu corpo. Será que me matarão com uma espada peito adentro assim como Pedro sugeriu que o fizesse, ou darão nós nas minhas mãos e pernas e me jogaram no oceano assim como faziam as bruxas no período das trevas. Não importa como e sim o que definitavamente vai acontecer. Não viverei ao meio-dia , pois assim que o sol tomar forma no céu estarei nas mãos de Verbana e de seu exército. Estarei nas mãos da morte, a salvo nas mãos de Deus.

 Rez estava adestra de um tronco onde Pedro apoiava o corpo, e de vez e vez se encochava na pele de Pedro. Desejei ter a mesma liberdade. Para tocá-lo sem aviso prévio, sentir o calor que dele exala, isso seria inexplicavelmente maravilhoso e indescritível. Era hora de viver cada segundo como se fosse o último, afinal poderia ele mesmo ser. 

 Acariciei os pelos de Rex lentamente, procurei tirar todo ar superficial naquela cena, mas ainda seria difícil e as minhas intenções eram claramente falsas. Passei a mão por todo o tronco, e Rex recebia aquele carinho com agrado. Continuei até a cabeça e comentei algo sobre a beleza do animal com Pedro, fitei os olhos de Rex e vi lá dentro uma garota desajeitada, magrela normalmente, mas esquelética no meio de gigantes fortes. Percebi minha palides e o camisa estampava a Hannah Montana -Jesus! Qualquer garota na minha idade nunca dormiria com isso.

"Ele é incrível!" Não sorri pois tive medo dos meus dentes estarem sujos. Me ver nos olhos de Rex era de fazer qualquer um louco.

Começamos os dois a conversar sobre Rex, sua beleza. E o quanto amigo os dois eram. Estavamos um de frente para o outro, fiquei por um tempo perdida, mas a malícia logo voltou me lembrando do que tinha em mente. Apenas um passo e eu estaria nos braços de Pedro.

 Como se sentisse a tensão nos puxando e fora caminhando, ouvi alguns passos lentos e marcados, espalhando terra molhada e quebrando algumas folhas secas. Ainda de costas senti a ácidez na língua e como se em uma cusparada tentasse tirar o gosto ruim da boca, disse para quem pudesse ouvir deixando meus desejos aflorarem.

"Me beije!" Soou como uma ordem. E era.

 Pedro se virou em minha direção e me fitou daquele jeito que só ele sabe, se aproximou e senti sua respiração lenta. Me arrependi por tal coragem, porém o leite já estava derramado, e havia respingado para todo o lado.

"Não." Pedro foi seco. Sua resposta fora simples e humilhante, a vergonha se estabilizou no meu rosto.

  Pelo jeito aqui ele manda e eu obedeço.


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