Pov. Amy Carter

– Você está noiva. – Falei, olhando cinicamente para ela pelo espelho. Leslie me encheu tanto o saco que eu acabei aceitando sua oferta de me arrumar para a Colheita.

– Mas e daí? O Woody não é de se jogar fora. – Ela disse, sorrindo para meu reflexo.

Revirei os olhos e senti um fio sendo puxado.

– AI! – Reclamei.

– Desculpa! Mas você não para quieta! – Ela retrucou, enquanto continuava a pentear minha juba ruiva. – Eu sou a favor de fazer um protesto. Quem sabe assim você começa a pentear mais o seu cabelo.

– Você quem quis arrumar esse ninho aí. – Fechei a cara.

– Eu sei! Você devia me agradecer por isso! – Ela respondeu. – Mas voltando ao assunto... Quantos anos você acha que ele tem?

– O Woody? Uns 30. – Respondi. – Mas, Leslie, minha querida, seus dias de garota louca por homens mais velhos estão contados.

– Eu sei, eu sei que eu vou me casar... Mas se eu não fosse, acho que investiria. – Ela disse, pegando um prendedor.

– Espera aí que eu vou vomitar. – Falei, forçando a cabeça para o lado.

– Se você não parar quieta, eu não vou conseguir terminar. Se eu não terminar, você vai lamentar ter ficado se mexendo. – Ela disse, segurando meu cabelo com força.

– AI!

– Pois é. Agora trate de ficar quieta. – Ela fechou a cara.

Assim que ela terminou, coloquei um vestido amarelo que era de Cindy e fui com Leslie até a praça na frente da Prefeitura.

Já estávamos relativamente atrasadas. A fila estava bem curta e Woody já estava em cima do palco.

Coletaram o meu sangue e o de Leslie e fomos até onde as garotas de 16 anos estavam.

– Porque tem as bolas ali? – Ela perguntou. Olhei para o palco e, de fato, as bolas que ficam os nomes estavam ali.

– Talvez seja para dar a impressão de que vai ser um ano como qualquer outro. – Falei, encolhendo os ombros.

– É... Talvez. – Ela disse. Senti que ela estava nervosa.

– Olha lá, ele vai começar. – Falei, tentando distraí-la.

– Um bom dia para todos! – Woody sorriu, com seu típico cabelo roxo-escuro em um moicano de um metro (mentira, não tanto, mas era bem exagerado). – Todos ansiosos para a vigésima quinta edição dos Jogos Vorazes? Eu também.

– Sério que você acha essa coisa atraente? – Sussurrei para Leslie. Ela sufocou um riso.

– Adivinhem só o que eu trouxe? Um vídeo! Isso mesmo, quem acertou ganha um amendoim no fim da Colheita. – Ele sorriu.

– Há. Há. – Falei, fazendo Leslie me dar um pisão no pé.

O vídeo mostrando toda a desgraça da guerra e do Distrito 13 e blá-blá-blá passou.

Assim que terminou, Woody foi novamente até o microfone e sorriu para todos. Ele parecia um corvo. Seu nariz era pontudo e seus olhos verdes pareciam faiscar.

– Esse ano, os Jogos terão uma mudança. Uma mudança significativa, devo dizer. A 25° Edição dos Jogos Vorazes receberá o nome de Massacre Quartenário e...

– Blá-bla-blá. – Leslie sussurrou. – Odeio Dé Javùs.

– A cada vinte e cinco anos! Isso não é legal?

– Não. – Murmurei, fazendo Leslie dar um sorrisinho.

– Vocês duas aí! Silêncio! – Um Pacificador falou, posicionando a arma na nossa direção.

Ignoramos o cara e continuamos olhando para frente, como se não fosse conosco.

– E para comemorar, foi decidido que o próprio Distrito escolherá um casal para ir aos Jogos. – Ele disse, seus olhos faiscando em cima dos possíveis tributos. – Agora, como eu sou um exímio cavalheiro...

– Só que não. – Murmurei.

– Eu não vou falar de novo! – O Pacificador ameaçou. Continuamos ignorando-o.

– Damas primeiro! – Ele sorriu. Fico me perguntando se em todos os Distritos é assim.

Ele foi até um assistente e pegou um envelope.

– E, de acordo com o Distrito 7, a garota que irá competir na Arena será... – Ele abriu o envelope. Todas as garotas (sem exceção) ao meu redor prenderam a respiração. – Amy Carter!