Coração De Marfim. escrita por Amizitah


Capítulo 12
Capítulo 12 - Cada um com seu problema.


Notas iniciais do capítulo

Oie!! Me desculpe não ter postado ontem como no cronograma, mas não consegui terminar a tempo para isso, ainda faltava a metade. Bem, agora que estamos entendidos, vamos a mais um capítulo!
Beijos!!
Ami ~



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Faltava pouco para que aquele sol distante no horizonte desaparecesse e anoitecesse finalmente. No momento em que toda a claridade que ainda irradiava não se passava de um cálido tom alaranjado no céu, Mitsue batucava os dedos no apoio de braço do banco estofado da sala de espera do hospital, relembrando seu dia em cenas aleatórias que se passavam como que por vontade própria em sua mente, mas o maior destaque entre elas era o Ryo e a conclusão precipitada que ele tirou dela de manhã. Mas aquilo não tinha como ela discutir. Desde o primeiro momento em que conversaram, percebeu que Ryo pensava de mais, ainda mais quando se tratava àquele colégio. Não era de se surpreender que ele pensasse que ela havia armado tudo, apesar de ser mentira. Apertou brevemente a boca e encostou no banco estofado com uma lufada de ar escapando dos lábios.

Era muita coisa a pensar num dia só, isso porque não era somente o Ryo sua atual complicação.

- Terasu-san.

Se levantou do banco de modo quase automático ao ouvir a voz da enfermeira perto dela. Por reflexo, arrumou sua saia e umedeceu os lábios antes de falar com a moça pequena de cabelos presos a sua frente.

- Posso vê-la?

- Sim, pode me acompanhar - Sorriu gentilmente e fez um sinal para que a seguisse, e assim fez.

O hospital estava vazio no fim do dia, talvez pelo fato de quase todas as visitas terem terminado já que estava perto do horário delas se darem por encerrado. Mas aquilo não era problema. O que importava é que veria sua mãe mesmo que por pouco tempo.

Depois de mais alguns momentos passando nos corredores do hospital com a enfermeira, as duas pararam na frente da porta que correspondia ao quarto da Miwa, e ao parar, por breves segundos se lembrou da ultima vez que esteve ali, com o Kakashi-sensei e o colega de trabalho de sua mãe a apoiando. Parece que tinha muitas dividas a pagar para o seu professor.

Quando o clique característico da porta sendo aberta surgiu em seus ouvidos, Mitsue olhou para a porta aberta ao mesmo tempo que sentia seu coração bater um pouco mais forte. A enfermeira então sorriu e disse numa voz controlada:

- Terá dez minutos com ela Terasu-san. Sei que é um tempo curto, mas foi o máximo que pude conseguir pelo horário em que chegou - Se desculpou silenciosamente com um sorriso mais suave. Mitsue negou com a cabeça ao perceber.

- Não tem problemas, já é muito que tenha conseguido isso apesar do atraso.

Ela aproximou um pouco e apontou para o uniforme que Mitsue usava.

- Posso não conhecer muito sobre esse colégio, mas sei que costumam sair bem mais tarde que a maioria dos alunos de outras escolas, então seu atraso pode ser perdoado - Sorriu pela ultima vez e se retirou da porta - Virei daqui a dez minutos para que eu possa cuidar de sua mãe, Terasu-san. Aproveite seu tempo.

- Obrigada - Agradeceu com as bochechas discretamente coradas pela gentileza da mulher, e entrou no quarto, fechando a porta atrás de si.

O quarto estava da mesma maneira que havia deixado quando Kakashi e ela saíram dali, com o mesmo cheiro peculiar dos produtos que usavam para esterilizar o chão e as paredes como  todo o hospital tinha espalhado ao redor, e o barulho baixo dos aparelhos que mediam os batimentos de sua mãe num ritmo continuo e bem vindo que indicava que tudo estava bem. Se sentou numa cadeira ao lado do leito da mãe e colocou sua bolsa da escola ao lado dela, no chão, sem tirar os olhos claros no rosto suave da mulher que ressonava a sua frente. As faixas de antes continuavam em volta da cabeça da Miwa, a cobrindo quase por inteiro e sua pele estava num tom mais claro que o comum, mas nada alarmante para o alivio da Mitsue; porém, iria demorar mais um pouco até que os hematomas e cortes desaparecessem. Parecia que sua mãe estava melhorando no fim das contas.

Suspirou de leve, reprimindo parte do seu grande alivio para que não viesse a acordar a mulher que dormia. Dessa vez com um sorriso discreto no rosto, levou os olhos novamente ao rosto dela e afastou um fio negro que estava entre seus olhos fechados, e embalou com suas duas mãos a que estava pousada a beira da cama, a fim de aquecê-las.

Apesar de seu cuidado, o toque das mãos bastou para que as pálpebras de fartos cílios se abrissem devagar, e encontrasse o rosto distraído da garota.

- Minha querida - Chamou com a voz rouca de quem não falava a muito tempo, mas foi bastante para que os olhos vagantes da garota fossem para a mãe.

- Mãe - Respondeu em voz baixa - Você precisa dormir mãe. Não precisa me dar atenção.

Miwa abriu um sorriso ao ouvir aquilo, e apertou a mão da filha.

- Pare de falar besteiras Mitsue, eu sou sua mãe, tenho que te dar atenção em todos os momentos - Limpou a garganta e se arrumou na cama de modo que ficasse sentada sobre ela. Quando terminou, voltou a olha-la - Eu fiquei ansiosa para te ver, e preocupada também.

- Comigo? - Mitsue sorriu - Eu já tenho dezessete anos mãe. Consigo fazer os afazeres de casa tão bem quanto você.

Ela não pode evitar um sorriso ao ouvir sobre afazeres de casa. Nisso tinha que admitir que não tinha um pingo de dúvida, principalmente sobre as habilidades da filha na cozinha, mas não era isso que ela queria dizer.

- Sue, quando eu digo que estou preocupada eu me refiro a você. Eu sei como esse tipo de coisa te afeta.

O sorriso da garota diminuiu um pouco.

- Fala da sua queda? - Miwa assentiu e ela soltou um suspiro - Mãe, você está ótima, os médicos e as enfermeiras me dizem isso todo o tempo.  Eu não ficaria afetada só por...

- Mitsue - A garota calou imediatamente com o olhar concentrado de autoridade da mãe, mas acima de tudo, denunciando que não se convenceria de uma mentira tão óbvia - Não tente enganar sua própria mãe. Eu te conheço melhor que qualquer um nesse planeta - Miwa continuou com aquele olhar sobre a garota até que o escudo invisível de coragem em volta dela se quebrasse completamente. A garota baixou a cabeça, sentindo as emoções tão expostas com aquele olhar que a mera lembrança do dia em que recebeu a noticia quase a fazia chorar de novo.

Miwa suavizou a expressão novamente ao notar a situação da filha.

- Eu sabia que você ficaria assim - Miwa tirou uma das mãos do aperto das mãos da filha e tocou a bochecha dela com a palma inteira - Espero que não tenha acontecido nada naquele dia.

A garota balançou a cabeça.

- Não... Eu consegui vir em segurança, e seu colega de trabalho estava aqui - Uma satisfação enorme a tomou quando não ouviu a voz chorosa que esperava.

- Ah sim... Está falando do Kouta-san, não é? - Assentiu, então a mãe pareceu mais tranquila - ótimo... Então foi ele quem te levou para casa. - Abriu um sorriso aliviado, então Mitsue levantou a cabeça, certa de que aquilo não foi uma pergunta, mas que mesmo assim estava errada.

- É... Mãe, sobre isso...  - Miwa voltou a ela com um sorriso.

- Sim?

- Não foi ele quem me levou para casa. Foi o meu... Professor.

Deu para ver a surpresa nos olhos que acabaram de aumentar de tamanho, mas ao contrario do que pensava, sua mãe não demonstrava nenhum tipo de preocupação. O motivo disso a deixou levemente curiosa, principalmente pelo fato da próxima pergunta não ser algo sobre "Como assim?! Quem é ele?!"

- Você veio para cá no horário de aula?

- Sim, ficar na escola sabendo disso valeria a mesma coisa de não está presente nas aulas. Não adiantaria de nada.

- É verdade - Ela se tranquilizou novamente, mas pareceu se lembrar do detalhe importante de novo - Mas... Porque um professor te trouxe?

Mitsue soltou o ar pela boca, mas dessa vez pela falta de preocupação da mãe. E se fosse algum tipo de professor pedófilo ou coisa assim? Em vez de pensar nisso, ela apenas deu de ombros e respondeu:

- É que... Ele percebeu que eu estava mal, e quando soube do que aconteceu se ofereceu a me trazer aqui - Claro que não iria contar que fugiu da sua sala de aula, e que este professor a encontrou em prantos quanto um monitor tentava a levar para o diretor. Isso era uma coisa que poderia ser ignorada.

Mas Miwa ainda parecia confusa.

- Eu entendo que qualquer professor tentaria ajudar uma aluna numa hora dessas, mas me surpreende o fato dele sair desse jeito no meio do trabalho.

Ela havia esquecido desse detalhe.

- É que ele só dá aula a tarde... Enfim mãe. É uma longa história - Sorriu, tentando mudar de assunto de uma vez, o que pareceu dar certo.

- Tudo bem! Apesar de não entender direito, eu fico aliviada por alguém ter te ajudado - Miwa parou por um momento e analisou o rosto da filha cuidadosamente para então falar - Mas... O que me pergunto agora é se é correto te deixar sozinha naquela casa. Não que eu esteja em condições de fazer algo mas... Me preocupa.

- Eu vou ficar bem mãe. Eu sobrevivi um dia então posso sobreviver mais alguns dias - Não que aquele acidente no escritório do seu pai fosse "sobreviver", mas ela conseguiria mesmo se tivesse que se trancar no quarto o dia inteiro.

Miwa continuou olhando a filha por longos segundos, realmente temerosa do que poderia acontecer e do que poderia ter acontecido de verdade, mas em suas condições, as circunstancias não deixavam escolhas se não se calar e entregar toda sua confiança de mãe nas mãos de sua filha.

- Se você realmente está bem, então não há motivos para mais perguntas - Disse, lutando contra a vontade de dizer o contrário.

Mitsue, diferente da mãe, ficou bastante aliviada pela resposta final, e para não haver mais perguntas, a porta atrás delas foi aberta revelando a pequena enfermeira de cabelos presos. Miwa notou ela assim que entrou no quarto e abriu um sorriso amigável para as duas.

- Lamento interromper, mas vai ser apenas isso por hoje - Andou próximo a Miwa e a analisou brevemente com o olhar - Melhor descansar por agora "mãe". Assim não vou poder deixa-la ir tão cedo.

Mitsue sentiu no olhar insatisfeito da mãe que ela ia falar alguma coisa, mas antes que qualquer sílaba fosse dita, se levantou da cadeira e sorriu para as duas da mesma maneira que a enfermeira agora a pouco.

- Melhor eu ir, com certeza já deve ter anoitecido e preciso fazer muito dever de casa ainda.

Miwa pareceu se convencer.

- É mesmo, quase que me esqueço disso - Sorriu, envergonhada - Me desculpe querida. Vá para casa e descanse um pouco.

- Vou fazer isso,mas não perca tempo se preocupando comigo - Se aproximou da mãe e depositou um beijo demorado na testa dela antes de se afastar e sair pela porta com a bolsa em mãos, mas antes que fechasse a porta, Miwa se inclina para ela e diz:

- Querida! Não se esqueça de agradecer àquele professor que te trouxe. Diga que mal posso esperar para poder sair daqui e agradecê-lo pessoalmente - E alargou o sorriso, parecendo mais animada, o que fez Mitsue rir um pouco.

- Tudo bem, agora vá dormir mãe. Boa noite.

Miwa voltou a se encostar na cama e suavizou o sorriso para a filha.

- Boa noite meu amor. Durma bem ok?

Mitsue devolveu o sorriso e assentiu antes de sumir pela porta que se fechou. Em vez de seguir caminho pelo corredor para não ficar muito tarde, Mitsue ainda ficou parada na porta, observando ela como se pudesse atravessá-la e ver sua mãe de novo.

Era nessas horas que ela via o quanto precisava da companhia da mãe.

- Traumas trazem vários prejuízos, e pior... - Suspirou, dando as costas para a porta enquanto caminhava para o elevador, e a lembrança perfeita dela com nove anos tocando o velho Brasted veio a mente -... Nos impõe grandes limitações - Finalizou sua frase com mais um suspiro triste.

Sem a mãe e sem a música... Era mais complicado que o normal.

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O som de bater dos talheres na louça e das conversas distantes do seu restaurante preferido passavam despercebidamente pelos sensíveis ouvidos, estes que prestavam atenção a tudo que Kurenai dizia entre um gole de vinho ou uma colherada da sobremesa. Depois de provar mais um pouco da própria sobremesa, voltou a prestar atenção a bela mulher a sua frente.

-... Ah Deus! E com a aproximação das provas então? Mal tive tempo para cuidar de mim mesma - Afastou um fio dos pesados cabelos para trás e olhou para o grisalho, calado desde que ela começou aquele assunto.

Percebendo o olhar dela, engoliu a sobremesa e limpou a garganta.

- Eu te entendo nesse ponto, mas provas escritas é com que menos me preocupo, pois é nada menos do que colocar o que eu sei e ver se ele também sabem. Mas as bancas... - Balançou a cabeça para os lados rapidamente, como que para repelir o simples pensamento daquilo - Ai é outra história.

Kurenai deu uma olhada nele e perguntou antes de dar mais uma colherada da sobremesa:

- É sempre tão ruim?

Kakashi deu de ombros.

- A palavra não é exatamente "ruim", mas os alunos sempre ficam um pouco nervoso nelas e isso afeta mais que eles pensam, então eu tenho que arranjar uma forma de dar um crédito a eles - Kakashi soltou a colher e pegou a taça, girando o líquido vermelho escuro nas bordas dela antes de realmente bebê-lo - É isso que me deixa louco. Eu não posso "controla-los" numa banca. É algo que depende inteiramente deles e não de mim - Uniu as sobrancelhas e levou a taça aos lábios para dar um bom gole.

Kurenai sorriu, colocando a colher sobre o prato agora vazio.

- Será que você não está fazendo tempestade de mais no seu copo? Seus alunos são considerados os melhores Kakashi - Ela parou, e entortou os lábios - Pensando melhor, todos daquela Ala são excelentes alunos. Devia ficar mais tranquilo quanto a eles.

Kakashi riu, olhando para ela em vez da taça que pousou na mesa.

- Se eu te contasse o quanto isso dificulta as coisas, você não acreditaria em mim.

Ela colocou os antebraços sobre a mesa, revelando uma das mãos com suas unhas impecavelmente pintadas de vermelho cereja, então se inclinou.

- Tem razão, não vejo sentido algum nisso - Sorriu - Mas... Já que estamos falando em "excelentes alunos", como vai sua nova aluna?

Kakashi demorou alguns segundos até entender a quem ela se referia.

- Ah! A Terasu Mitsue-san - Passou a mão pelos cabelos bagunçados num gesto automático - Minha opinião sobre ela ser uma garota prodígio ainda não mudou, apesar de... - Parou, lembrando da súbita mudança de humor que teve durante a aula.

- Apesar de...? - Kurenai o trouxe de volta ao presente com um sorriso suave.

- Hm não é nada de mais. Apenas umas leves complicações que podem ser resolvidas - Pegou a taça de novo e deu um novo gole, tentando disfarçar a mentira que contara. Aquilo não chegava perto de ser uma "leve" complicação.

- Bem... - Kurenai se encostou na cadeira de novo e juntou os braços no colo - Ela realmente parece ser uma boa garota apesar do pequeno trabalho que deu.

Kakashi ergueu uma sobrancelha.

- Ela não deu trabalho algum Kurenai. Se está se referindo a ontem, aquilo foi por minha causa apenas. Ela mesma dizia milhões de vezes que aquilo não era necessário, mas, o que eu poderia fazer? Ela precisava de ajuda, e aquele monitor não ajudou em nada a não ser em fazê-la chorar - Franziu o cenho ao lembrar a grosseria dele em não prestar ajuda adequada a ela.

- Olhe Kakashi, não digo que foi errado socorrê-la naquele momento, eu mesma iria fazer aquilo se pudesse, mas é ai onde está a questão - Kurenai olhou para ele, percebendo que estava levemente distraído, então se aproximou, dizendo - Não acha que está indo um pouco longe de mais?

Agora ele deu atenção a ela.

- Não, não acho - Respondeu de pronto, então Kurenai soltou um suspiro.

- Claro que está Kakashi! Desde quando um professor desobedece uma das principais regras da escola com a própria autoridade para sair dela com um aluno? Pensando bem, você e ela burlaram duas regras: "Não andar na escola durante as aulas" e "Não usar privilégios de mestre para benefício dos próprios alunos, seja qual for a circunstância."

- Ela não era minha aluna na época, então acho que a segunda regra não vale, e ela não estava apenas "andando" fora de sala, ela tinha boas razões para sair dela - Disse, teimoso como de costume.

- Kakashi, você sabe que está errado - Insistiu Kurenai pegando sua taça e dando um gole do tinto doce antes de pousa-lo de volta - Não parou para pensar que o Monitor ter levado ela para o diretor poderia ser melhor já que ela tinha bons motivos? Ele poderia ter achado uma solução sem que você fosse contra as regras e ela poderia se acalmar.

Kakashi esqueceu do que restava de sua sobremesa com aquilo, então fixou bem seus olhos negros nos dela.

- Kurenai, ela estava  desesperada. Nada a faria ficar calma a não ser ver a mãe dela, e eu estava livre naquela hora - Quando percebeu o olhar levemente chateado dela sobre ele, percebeu que o termo "livre" não era o melhor - Não importa, aquilo era algo a ser tratado rapidamente. Eu não posso simplesmente ignorar uma adolescente desesperada.

Kurenai se ajeitou na cadeira e levantou as duas mãos.

- Já vi que não vou chegar a lugar nenhum tentando te convencer disso, mas já te aviso Kakashi. Mitsue é uma adolescente de dezessete anos prestes a terminar o colegial, e você um professor dez anos mais velho. Tem que ter cuidado sobre como age perto dela ou então pode haver mal entendidos. Sabe, os professores de ambas as Alas já estão começando a falar... - Falou num tom discretamente mais baixo, mas Kakashi cortou.

- E o que eles tem a dizer afinal Kurenai? O que é? Só falta que eles digam que eu estou tendo um caso com a Mitsue-san. E o engraçado é que eu tenho tido esta impressão quando me perguntam sobre ela - Kurenai já ia dizer alguma coisa ao notar que pisou em falso, mas agora Kakashi realmente não deixaria essa passar - Não... Na verdade o que falta é você pensar que tenho um caso com ela, mas quer saber? Se realmente tiverem falando e uma história dessas cair no ouvido dos alunos, então eu vou ser o primeiro a ir contra todos. Eles não sabem os meus motivos e os dela para falarem isso.

- Com licença - Kakashi parou de falar assim que percebeu que o garçom estava parado ao lado dele, então limpou a garganta - Gostariam de mais algo?

- Kurenai...? - Olhou para ela, mas apenas disse um "Não, obrigada". Kakashi se virou para o homen - Traga a conta por favor.

- Claro - Deu as costas para ele, desviando das outras mesas para algum lugar.

- Me desculpe - Disse Kurenai depois que o Homem desapareceu - Sei que você é um homem correto Kakashi, então simplesmente esqueça o que eu disse sobre os professores.

- É, melhor esquecer - Passou a mão de novo pelos cabelos, mas dessa vez era um gesto nervoso - E se objetivo desse assunto sobre os professores era me afastar dela, digo que chegou tarde de mais.

Kurenai levantou o olhar a ele, abrindo de leve os lábios de choque no que ele poderia querer dizer.

- Kakashi, não me diga que... - Sua fala foi interrompida quando o garçom voltou a mesa com a conta em mãos, então Kakashi a pegou, assinando e pondo o dinheiro dentro dela para entregar novamente a ele.

O homem se curvou de leve, agradecendo, então Kakashi se levantou da cadeira, indo até Kurenai para oferecer o braço. A mulher aceitou apesar da pergunta incompleta na garganta, e os dois foram para o lado de fora do restaurante, sendo recebidos pelo ar fresco da noite que acabara de cair.

- E então? Sobre ela... - Kurenai puxou o assunto novamente, fazendo o grisalho parar a alguma distancia do Audi prata para observa-la.

- Tornei ela minha aluna particular hoje a tarde - Falou num tom calmo, mas o rosto assustado da Kurenai não demonstrou a mesma calma.

- Como assim?! Você nunca aceitou um aluno tão rápido Kakashi...

Kakashi curvou as sobrancelhas.

- Porque o espanto? Uma hora ou outra eu ia acabar encontrando o aluno.

- Mas, a novata? Ela entrou naquela Ala faz um dia. - Kakashi soltou um suspiro cansado.

- Eu já a conhecia antes disso, além do mais, eu a ouvi tocar. Percebi nela o talento e é isso que importa, não o tempo que ela está no colégio - Kakashi afastou o braço dela e fez sinal para que entrasse no carro. Quando já haviam entrado, Kakashi ligou o Audi e o tirou da vaga que estava. Quando já estavam na rua, Kakashi voltou ao assunto - Eu tenho que ser inteligente Kurenai. Mitsue está no terceiro ano do colegial. Eu tenho apenas esse ano com ela.

Kurenai apertou os lábios, desta vez sem argumentos a ter contra isso apesar de querer muito um. Algo ainda a incomodava em relação aos dois, e ela tinha medo do que viria com ele sendo professor particular dela, mas claro, manteve o silêncio. Se falasse isso a ele, seria o fim de anos de namoro.

Anos que aliás, já estavam ficando longos de mais.

Kurenai virou o rosto para ele. Desta vez iria resolver esse assunto com ele antes que fugisse dela novamente. Já estava perto dos 30, estava mais que na hora.

Tocou o braço que segurava o câmbio do carro.

- Kakashi, poderíamos passar o resto da noite juntos, não acha? - Perguntou com um sorriso, este que diminuiu com a resposta.

- Me desculpe Kurenai, mas hoje vou te levar para casa. Tenho que organizar algumas coisas para depois das aulas. Ainda não tive tempo de planejar nada para a aula particular - Sorriu para ela em desculpas, mas ela já havia se afastado, sem o sorriso no rosto. Kakashi parou num semáforo na hora perfeita, então tirou a mão do cambio para tocar a mão dela - Kurenai, não é como se eu não quisesse passar o resto da noite com você, sabe disso.

Mesmo assim ela não olhou para ele.

- É isso o que eu digo para mim mesma Kakashi, mas... Já faz muito tempo que repito a mesma coisa.

- Kurenai, é só por hoje. Eu prometo. Então vamos passar mais tempo juntos como antes.

Kurenai estala a língua, e vira o rosto para ele com uma expressão chateada.

- Se você mesmo diz que podemos passar mais tempo junto comigo, porque ainda não moramos juntos afinal?! Vai completar dois anos que estamos juntos e você nem se quer tocou no assunto!

Kakashi afastou a mão dela, assustado pela súbita mudança de humor, mas o sinal do semáforo logo fica verde e ele é obrigado a dar atenção ao transito novamente. Com Kurenai chateada do seu lado e um assunto inacabado, ele não teve escolha a não ser encontrar um encostamento e parar ali até que isso fosse resolvido de alguma forma. Quando desligou o carro, se encostou no banco e virou o rosto para ela com um ar evidentemente cansado.

- Porque esse assunto agora? - Tentou soar calmo, mas o estado dela ajudava em nada.

- Porque eu estou cansada disso Kakashi - Soltou, então resolveu olhar ele de novo - Nós andamos nos vendo tão pouco, e sempre me diz que gostaria de ter mais tempo comigo, mas é difícil, então me deixa em casa e desaparece de novo - Ela soltou o ar pela boca e afastou alguns fios de cabelo do rosto para continuar - Porque nós não damos um ponto final a isso de uma vez? Meu apartamento não é grande, mas a sua casa tem espaço de sobra para mais de duas pessoas. Eu podia me mudar para lá, então essa história se encerraria.

Ele parou um segundo para digerir tudo aquilo, então se desencostou do banco para ficar mais próximo dela.

- Era isso que parecia estar te incomodando tanto afinal?

- Sim, era isso - Respondeu, um pouco mais calma por soltar tudo.

Kakashi abriu um sorriso torto quando ela confirmou, então voltou a pegar a mão dela.

- Então venha para minha casa, oras. Era só ter dito isso antes - Os olhos da Kurenai aumentaram quando ele disse aquilo com a facilidade que dizia bom dia, então um leve vestígio de sorriso pareceu surgir no rosto dela.

- Tem certeza mesmo?

- Porque não? Você mesma disse que já fazem quase dois anos que estamos juntos, e para ser sincero, morar numa casa grande como a minha sozinho é meio desolador - Deu uma leve risada no final, então o sorriso no rosto da Kurenai surgiu, brilhante de alegria.

- Ai Kakashi! - Kurenai se jogou nos braços do grisalho, quase o jogando contra o encosto do banco de novo, então afastou o rosto para olhar para ele - Vou arrumar minhas coisas para mudar neste final de semana, pode ser?

- Se quiser, tudo bem - Falou o grisalho, meio perdido pela mulher ter pulado nele tão de repente, e para deixa-lo mais perdido ainda, Kurenai o beijou tão de repente quanto o abraçou.

Quando se separou dele, o batom vermelho dela estava metade em sua boca e metade no grisalho, e os dois começaram a rir por isso. Kakashi tentou desfazer parte da bagunça usando seus dedos nos lábios dela, e quanto estava mais apresentável, afastaram-se.

- Bem... Agora vou te levar para casa para se organizar melhor. Falamos mais sobre isso amanha.

- Tudo bem - Concordou ela com um sorriso leve nos lábios.

Pelo menos agora, havia um problema a menos para o grisalho. Agora só faltava o maior de todos, começando por amanhã.


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