Assim que Gabriel deixou a sala Juliana levantou os olhos para encarar Dona Joana.. A mulher que sempre lhe oferecia os mais calorosos sorrisos agora a encarava como se a julgasse até para respirar. Juliana suspirou frustrada por constatar que aquela seria apenas a primeira das reações negativas que veria. E em seguida, sorriu um pouquinho por pensar assim. Isso significava que ela não pretendia desistir assim tão cedo.

– Eu só quero saber quando vocês pretendiam contar sobre isso? – A mulher quebrou o silencio com palavras cortantes. – Ou melhor, até quando vocês pretendiam levar isso como se ninguém nunca fosse descobrir.

– Não entendo por que a senhora está tratando disse tudo no passado. – Juliana respondeu com a força e a confiança que não tinha.

– Você ainda insinua que quer continuar com isso mocinha? - Joana perguntou e ela riu com desdém.

– Mocinha? Não admito que me chame assim. Se eu fosse mesmo uma mocinha qualquer você não estaria fazendo este escândalo todo. – Ela revidou e foi a vez da mulher rir.

– Escândalo? – Ela falou e Juliana estremeceu com seu tom de voz ameaçador. – Você como professora devia saber o significado dessa palavra, e se soubesse saberia que o que eu estou fazendo não passa nem perto de ser um escândalo como você diz. Escândalo é o que a mãe desse menino faria se estivesse no meu lugar, escândalo é ver uma professora beijando um aluno. Isso, se a senhorita não sabe, define muito melhor o que escândalo quer dizer.

– É engraçado te ouvir falando desse jeito. É engraçado como podemos estar de lados opostos em tão pouco tempo. – Juliana começou agora sem a mesma firmeza de antes. – Engraçado sim, por que o que eu fiz pode ser mesmo considerado um escândalo, mas não pelos motivos que você afirma. Eu já tenho vinte e quatro anos e me apaixonei por um garoto de dezessete. Eu sou a professora mais desqualificada do mundo, mas não por não saber lecionar. O que me torna desqualificada é que na arte de ensinar fui eu quem perdeu. Foi Gabriel quem me ensinou muita coisa. Foi Gabriel que me ensinou que limitações não definem talentos, que beleza enche sim os olhos, mas que caráter mantém o encanto. Foi ele que me ensinou que não importa idade ou status para o amor. Foi Gabriel, meu aluno, que me ensinou a amar. E me ensinou ainda que para amar, só precisamos de um coração e todo o resto é complemento. Não para um amor sujo ou pecaminoso, mas para um amor de verdade. Que nasce e cresce dentro da gente mesmo que seja duramente repreendido. Por que o amor é o mais forte dos sentimentos. Mas forte até do que o meu medo de vivê-lo pode causar. – Assim que ela disse as ultimas palavras do discurso seus olhos embaçados de lágrimas passaram por sobre os ombros de Dona Joana, encontrando no canto afastado da sala o olhar surpreso e admirado de Gabriel. Era o seu garoto. Seu garoto a encarava com uma admiração tão latente que ela quase pode sentir o carinho vindo do olhar dele.

– Eu pensei ter mandado você sair Gabriel. – Dona Joana seguiu o olhar de Juliana e encontrou o rapaz.

– E a senhora mando mesmo Tia. – Ele falou se aproximando mais e se colocando frente a frente com a mulher. A diferença de altura entre os dois era notável. Gabriel sorriu. – Sabe tia, a senhora costuma ser tão grande perto de mim. – Ele falou sorrindo e ela permaneceu o encarando. – A senhora cuidou dos meus machucados quando os meninos me derrubaram do escorregador no parquinho. Foi a senhora que tirou o chiclete rosa que colaram no meu cabelo, e foi a senhora que fez a diretora me deixar Ed castigo quando eu rabisquei com canetinha os muros da escola. – Ele falou sorrindo e ela riu de leve. – Mas não vamos esquecer que fui eu quem fez os moleques do primeiro ano varrer o pátio duas vezes ano passado por que eles desrespeitaram a senhora jogando lixo de propósito, e que fui eu também que fiz três caras do terceiro ano no ano passado limparem todas as privadas do banheiro que eles encheram de papel higiênico. – Ele completou com um sorriso danado e ela assentiu mais uma vez.

– Sabe onde eu quero chegar com isso tia? – Ele perguntou e ela apenas o encarou mais. – Eu quero te mostrar tia, que a senhora me viu crescer, me defendeu quando eu precisei, mas que agora eu cresci. Cresci a ponto de poder ajudar a senhora. Cresci e fiquei grande para poder escolher o que me faz bem. E a tampinha – Ele apontou com a cabeça para Juliana. – Ela é uma das minhas escolas certas. A outra delas vai ser confiar na senhora e ter certeza de que não vai ser da sua boca que vai sair a nossa condenação. Vou confiar por que a senhora sempre quis minha felicidade e eu tenho certeza que agora que eu finalmente a encontrei tia, a senhora vai ficar feliz por mim e não estragar tudo.

– Eu não sei o que fazer com você Gabriel. Eu realmente não sei. – Dona Joana começou agora com um tomo menos agressivo e mais preocupado. Quase beirando ao desespero. – Você sabe que eu te amo como o filho que eu nunca tive criança, e sabe que sua mãe é como uma irmã para mim. Quanto a você Juliana, não pense que eu quero seu mal. Pelo contrario. Tudo que eu falo é pelo bem de vocês. E vou dizer mais. Não é comigo que vocês tem que se preocupar. Não é segredo para ninguém que vocês tem mais que uma relação de professora e aluno. Tomem cuidado crianças. Eu não quero ter que encontrar vocês dois assim outra vez. – Ela falou passando freneticamente a mão nos cabelos e instantaneamente Gabriel a tomou nos braços para o um abraço apertado que atirou do chão.

– Isso quer dizer que a senhora não vai denunciar agente? – Ele perguntou e ela o fez a colocar de volta no chão com um tapa no braço.

– Eu nunca faria algo pra prejudicar você Gabriel. – Ela falou seria outra vez. – Mas, isso não quer dizer que vocês tenham meu apoio ou que eu concordo com isso. Eu só estou dizendo que não vai por mim que você vai ser expulso e a Juliana demitida. Tomem cuidado e pensem muito bem no que vão fazer. – Ela falou e encarou uma ultima vez os dois jovens antes de sair da sala e os deixar a sós.

– Eu não posso acreditar. – Juliana sussurrou depois de soltar o ar pesadamente.

– Está tudo bem agora tampinha. – Ele falou e ela o encarou com os olhos marejados.

– Eu tive tanto medo Gabriel. – Ele falou e o abraçou despreocupadamente ignorando o conselho anterior da doa Joana. – Eu tive tanto medo d perder você.

Gabriel a encarou agarrada a seu peito como se ela fosse uma espécie em extinção.

– Você quer dizer que poderia ter perdido o emprego e ter o diploma cassado e estava mais preocupada em me perder? – Ele falou a afastando um pouco para encarar os olhos marejados dela.

– Diplomas e empregos não são nada se comparados ao que você me faz sentir. – Ela falou confirmando cada palavra que tinha dito antes no seu discurso para dona Joana.

– E eu me sinto envergonhado de não ter nada a oferecer a você. – Ele falou a puxando para si novamente enterrando rosto nos cabelos dela.

– Você já me deu mais do que qualquer outro poderia dar garoto. Eu amo você.