VI. Porque ser invisível é partir para aventuras.

– Não acredito que vou mesmo pro fim do mundo – resmunguei enquanto ajeitava minha mochila no banco de trás do Chaulau – e pra melhorar tudo, vou pro fim do mundo em um carro azul. Ainda não entendi por que não vamos junto com os outros no ônibus escolar. Por que sempre somos estranhas, até pra viajar? E ainda por cima viajar pro fim do mundo...

Dorcas riu do meu lado, enquanto girava a chave e Chaulau fazia um barulho estanho mostrando que estava ligado.

– Relaxa Lily – disse ela enquanto seguia o ônibus barulhento a nossa frente – É muito melhor viajar aqui do que naquele ônibus.

– Pelo menos né – disse suspirando e relaxando um pouco mais – Não sei como você gosta desses acampamentos no meio do nada.

– Não é no meio do nada. É um dos acampamentos mais famosos do País – disse olhando para a estrada.

– Não é até você cruzar os portões – expliquei – Depois pra qualquer lugar que você olhe tem mato. Só falta alguém aparecer gritando Tarzan – disse rindo e ela riu também.

– O que seria muito legal – comentou.

Conversamos bem pouco, ainda era cedo, 6 da manhã. A viajem seria muito longa e provavelmente pegaria o dia todo e parte da madrugada. Conversamos e eu dormi bem pouco e pelo que pareceu 2 horas e meia depois, fizemos a primeira parada para comer. Já estávamos fora da cidade, e pelo que parece bem longe. O ônibus parou e os estudantes começaram a descer, e assim como nós, os outros carros de outros alunos.

Descemos e entramos no restaurante lotado. Estávamos sem fome então fomos direto para o banheiro. Entramos e estava meio cheio. Lavei meu rosto para espantar o sono e penteei meus cabelos flamejantes com os dedos enquanto Dorcas fazia o mesmo no espelho ao lado. Ficamos lá por poucos minutos e saímos.

Mas tivemos a infelicidade de encontrar Potter, Black e Lupin no corredor que dava acesso aos banheiros. Suspirei quase voltando atrás e me enfiar no banheiro. Assim que Potter me viu, sorriu marotamente e veio em nossa direção.

– Oi Dorcas – disse Lupin ao se aproximar, estranhamente corado e deixando Dorcas do mesmo jeito. Black levantou a sobrancelha para ele enquanto Potter me cumprimentava também.

– Ruiva, veio de carro também? – perguntou. Respirei fundo.

– Não me chame de ruiva e não te interressa – disse numa voz rouca pelo sono que sentia.

Comecei a o ignorar virando as costas e olhando para Dorcas, que conversava com Lupin, não iria a arrastar dali. Não estragaria os momentos que ela tem com Lupin somente por eu não me entender com Potter.

Estranhamente, nem o Poter nem o Black me encheram. Black por ter ido flertar com uma garota que passava e Potter eu não sei.

Senti vontade de usar o banheiro e entrei novamente, e agora estava vazio. Entrei numa cabine e rapidamente usei, logo saindo e indo lavar as mãos. Dorcas cruzou a porta com um sorrisinho.

– Vamos Lily? – estava pronta para responder quando ouvi um soluço contido na ultima cabine. Olhei para Dorcas curiosa e nós duas fomos em direção e abrindo a porta, dando de cara com McKinnon sentada no chão, chorando.

– O que foi? – perguntei de cenho franzido. Ela se levantou, ainda sem conter os soluços e Dorcas, que estava mais perto, fora atingida por um abraço esmagador.

Dorcas me olhou de olhos arregalados e assustados enquanto eu abria a boca para perguntar, o banheiro fora invadido pelos marotos.

– Hei! Vocês não podem entrar aqui – eu disse virando para encarar o Potter.

– Meninas – disse o Black – sinto em informar, mas o ônibus já partiu... Marlenne? – emendou rapidamente ao reconhecer a morena que largara repentinamente de Dorcas.

– Como assim o ônibus partiu? – berrei com os olhos arregalados.

– Fomos procurar o cachorro do Sirius – disse Lupin, olhando mortalmente pro Black – e quando vimos o ônibus não estava lá.

Abri a boca de horror. Estávamos perdidos no meio do nada, não sabíamos nem o nome da cidade onde estávamos, se estamos numa cidade. Estava a ponto de chorar quando uma senhorinha entrou, com uma vassoura na mão e começou a berrar.

– Sem-vergonhice no meu banheiro! Onde já se viu! Meninos e meninas num banheiro feminino – berrou espantando a todos com sua vassoura – Que ultraje! Nunca vi coisa mais sem vergonha em minha vida!

Saímos correndo em direção á nossos carros evitando vassouradas e logo entrei no Chaulau enquanto os marotos corriam para o dele e McKinnon se tacava no banco de trás. Numa velocidade incrível, Dorcas colocou a chave e girou, ligando Chaulau e o manobrando.

Saímos do estacionamento rapidamente e logo os marotos estavam com seu carro ao nosso lado, com Black dirigindo.

– Pra onde nós vamos? – perguntei assim que encostamos. Isso era essencial.

– Sinceramente não sei – respondeu Black sorrindo, e ligando o rádio e uma banda de rock tocava – Só sei que vou curtir! – berrou enquanto ria com o resto dos marotos.

Abri a boca pra protestar. Isso não é brincadeira, estávamos perdidos!

– Ah! Vai Evans! – disse Potter se sentando em sua janela – Vamos curtir. Não é todo dia que se tem essa liberdade.

Marlenne soltou uma risadinha fraca (o que ela fazia aqui?) e seus olhos ainda estavam vermelhos. Dorcas colocou nossa rádio em sintonia com a deles e começou a rir também e a gritar. Eu estava pronta para berrar que parassem e que focassem no problema mas...

Eu nunca havia feito nada demais de especial. Nunca havia me aventurado. Acho que essa era a chance perfeita de, pela primeira vez, curtir minha adolescência como devia. O sangue em minhas veias pareceu esquentar.

Logo começamos a andar numa velocidade alta, com os Marotos á frente. Movida pelo impulso de novas aventuras, sentindo o doce gosto da liberdade, abri a janela completamente e me sentei na porta, assim como Potter, sentindo o vento e o sol bater em meu rosto. Fechei os olhos e sorri, me segurando fortemente com medo de cair e gritei, contagiando a Dorcas, que gritou enquanto aumentava o volume, e a McKinnon que estava quieta no fundo do carro.

Estávamos ferrados, nós sabemos, mas vamos ignorar isso por enquanto.