Eu estava sentada no sofá do porão assistindo à TV enquanto terminava de enxugar meus cabelos, que mais cedo eu tingira de loiro escuro e fizera cachos. Com alguma dificuldade, coloquei as novas lentes nos meus olhos, elas fariam com que ficassem de um verde azulado.
Eu estava assistindo ao noticiário e uma notícia de última hora ocupou a tela: "Criminosa suposta por tentar roubar artefato do museu Lincoln foge. Polícia está investigando provável paradeiro." Claramente, era de Gwen que falavam. Eu já imaginava que ela fugiria. Você deve estar imaginando que meus esforços foram em vão, mas na verdade eu consegui exatamente o que queria. Consegui tirá-la da minha cola, a polícia provavelmente deixou meu caso de lado (lembra que eu fugi da cadeia?) e, além de tudo, foi divertido.
Desliguei a televisão e fui até o espelho mais próximo. Eu realmente não parecia em nada comigo mesma. Minha pele estava um pouco mais bronzeada, os cabelos claros caiam em cascata nos meus ombros e os olhos verdes me davam uma aparência inocente. Realmente, não parecia nem um pouco com a Louise que eu era.
Ouvi passos no piso de madeira acima de mim. Subi e dei de cara com April. Ela e Isac, provavelmente. Ela me analisou com os olhos cerrados.
-Quem é você?- Ela apontou acusadoramente para mim. Eu ri.
-Sou a rainha da Inglaterra, agora se ajoelhe porque vou cortar sua cabeça. - Empinei o nariz e April riu.
-Às suas ordens, Vossa Graça. - Ela me entregou a faca que estava em seu cinto e se ajoelhou à minha frente, tirando o cabelo curto do pescoço e abaixando a cabeça. Levantei a faca acima da minha cabeça e comecei a baixá-la vagarosamente na direção do pescoço de April. Nesse momento, um Isac estabanado entrou correndo pela sala, gritando palavras ininteligíveis.
-O que você está fazendo, Louise? - Ele arrancou a faca da minha mão. - Você e a April são amigas, okay? Não a mate!
Por um momento eu e April nos entreolhamos, divertidas, então começamos a rir. Eu e April caímos no chão, gargalhando alto, e Isac apenas nos olha atônito. Aos poucos consegui diminuir a risada e percebi que Isac se deu conta do que aconteceu e ficou vermelho de raiva.
-Tá. Vocês me pegaram. De novo. - Ele deu ênfase nas duas últimas palavras. - Sinceramente, vocês não poderiam parar de fazer isso? Eu sou muito jovem para morrer de ataque cardíaco.
Eu me apoiei nos cotovelos e inclinei a cabeça para o lado. April já havia parado de rir, mas permaneceu com um sorriso zombeteiro no rosto.
-Então é melhor colocar seu seguro de vida em dia, amigo. - Pisquei para ele, que me ajudou a levantar.
Ele se virou e desceu até o porão, bufando. Eu cumprimentei April com um soquinho e depois fomos atrás dele.
Ele se sentou no sofá em que eu tinha estado antes, assistindo TV. Isac pegou o jornal e leu atentamente a manchete, depois ele sorriu e se voltou para mim e April.
-Certo, qual é o plano? - Ele perguntou alegremente. April provavelmente já havia contado a ele e agora ele estava rindo da minha desgraça.
Porque, honestamente, eu odiei o plano com todas as minhas forças desde que Emily e April abriram a boca para contá-lo. Mas as vezes são necessários sacrifícios. Mesmo que eu tenha que fazê-los para o meu próprio bem.
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P.O.V Narrador

Villain's Institute

-Parece que vamos ter uma novata! -disse Bianca alegremente, balançando levemente os cabelos curtos e ruivos enquanto anotava algo em seu sempre presente celular.
Gabryella sorriu, as mechas vermelhas praticamente da cor do cabelo de Bianca.
-Finalmente alguém novo! Já estava com saudades de pregar peça nas pessoas. - Ela estava sentada em uma das mesas de piquenique no gramado do Instituto com as amigas. Miki, ao seu lado, curiosa como sempre, tentou pegar o celular de Bianca, que desviou o objeto e deu língua para a amiga. Miki cruzou os braços, claramente enfurecida.
-Mas você não vai dizer nada sobre ela? Nome? Idade? Nada? - Miki espiou o celular da menina por trás de Gabryella, sem muito êxito. Bianca sorriu.
-Não. - Disse com uma voz irritantemente infantil.
-Uma hora ou outra eu vou descobrir mesmo. - Ela resmungou, fazendo Gabryella rir. Nesse instante, Bianca olhou estupefada o visor do celular e Miki se segurou para não explodir de curiosidade. A ruiva começou a puxar as duas amigas para fora do gramado, entrando no edifício.
Gabryella a olhou confusa, mas se deixou ser guiada pela louca da Bianca. Miki não aguentou e explodiu:
-O QUE VOCÊ ESTÁ FAZENDO? PARA ONDE ESTAMOS INDO?
-De onde viemos? Para onde vamos? - Gabryella acrescentou sarcástica e calmamente. Bianca apenas revirou os olhos e mandou as duas se calarem. Elas estavam passando perto da secretaria quando ouviram vozes lá de dentro. Elas reconheceram uma, que era a de Lia, a mais simpática coordenadora do Instituto, mas a outra voz nenhuma delas nunca tinha ouvido, era uma voz calma e feminina. Bianca largou as duas e sorriu.
-Ela chegou.
Foi então que Lia e a outra menina saíram da secretaria e deram de cara com as três meninas. Gabryella a analisou, cabelos loiro escuros cacheados, olhos meio verdes e meio azuis, pele clara, um pouco bronzeada, feições astutas e delicadas. A garota sorriu.
-Olá. - Ela disse, a voz baixa e calma. Lia deu um tapinha nas costas dela e sorriu amigavelmente.
-Miki, Gaby e Bianca - ela apontou para cada uma- essa é Devynn, a nova recruta. Vocês podem mostrar o Instituto para ela e contar como são as coisas por aqui. Ela vai ficar no quarto 390. - Lia saiu apressadamente, deixando as quatro garotas.
Gabryella foi a primeira a se pronunciar.
-Oi. Venha, vamos levar as coisas para o seu quarto antes de te mostrar todo o Instituto. - Ela disse, sorrindo.
-Oi. - Miki e Bianca disseram em uníssono, acenando avidamente.
Gaby ajudou Devynn a levar uma mala para o quarto, com as outras duas seguindo-as. Deixaram as malas no quarto, jogadas de qualquer jeito sobre a cama e foram embora do dormitório.
-Certo. Você já deve ter ideia do que fazemos aqui. - Gabryella apontou para o local. Devynn acenou com a cabeça.
-Vocês certamente não fazem katchup. - Devynn disse, irônica, as outras meninas riram. Elas andaram por uma fileira de portas, cada uma com um quadrado de vidro na parte superior.
-Essas aqui são, basicamente, as salas de aula. Mas aqui aprendemos apenas história e teoria. Nos campos e quadras é que treinamos realmente a prática. - Miki disse. Parecia ter dito tanto aquilo que já sabia de cor. Devynn as entendia.
-Deve ser bem mais divertidas as aulas de prática, só acho. - Devynn falou e Gabryella lhe lançou um sorriso sarcástico.
-Você não imagina como.
Elas continuaram rondando o Instituto e pararam apenas na hora do almoço, quando foram ao refeitório junto a uma multidão faminta que se aglomerava nas mesas.
Elas se sentaram meio distantes, observando a fila para pegar o almoço ir diminuindo. Quando estava já bem pequena a fila, elas foram se servir. A comida era boa, como a de um restaurante, mas Devynn não podia deixar de comparar tudo aquilo à Academia Para Vilões. O Instituto e a Academia podiam ser diferentes, mas também eram muito parecidos.
Seus devaneios foram interrompidos por uma voz atrás dela.
-Olá, meninas! - Ela se virou e deu de cara com o dono da voz, era um garoto alto, com cabelos castanhos bagunçados e brilhantes olhos azuis escuros.
- O que as três... quer dizer, quatro mocinhas elegantes estão fazendo?
-Almoçando. - Bianca respondeu como se fosse óbvio. O garoto deu uma volta na mesa e se sentou à frente delas. Analisou Devynn por um momento com os olhos faiscando. A menina o encarou de volta e ele sorriu.
-E quem é você? - Ele perguntou apontando a cabeça para Devynn. Ela, por sua vez, ergueu as sobrancelhas, os cantos da boca se curvaram em um sorriso sarcástico.
-Eu adoraria te dizer, mas eu teria que te matar. - Devynn retrucou, e de certa maneira era verdade, mas eles não sabiam disso. - Quem é você? - Ela devolveu a pergunta.
O garoto riu e lhe estendeu a mão.
-Sean. Prazer em conhecê-la...- Deixou a frase incompleta propositalmente.
-Devynn. - Ela apertou a mão de Sean. - Não posso dizer o mesmo... Ainda.
Sean parecia extremamente divertido. Ele se virou para as outras três meninas.
-Ela vai participar do treino com a gente? - Se dirigiu para Gaby, que franziu o cenho.
-Acho que não. Talvez seja melhor ela apenas observar por hoje. - Ela respondeu, Bianca ao seu lado protestou.
-Mas ela sabe alguns estilos de luta! -Ela falou. Devynn a encarou com os olhos cerrados.
-Como você sabe disso? - Lançou-lhe um olhar ameaçador. Bianca apenas deu de ombros.
-Ela é uma stalker. - Miki respondeu pela amiga.
-Stalker? - Ela as olhou confusa. Devynn sabia o que era uma stalker, mas, mesmo assim...
Sean riu.
-É. Stalker. Do verbo stalkear, ou, como Miki prefere dizer, "fazer uma pesquisa profunda sobre a vida dos outros". - Ele se levantou - Vamos? Não queremos chegar atrasados ao treino.
Elas se levantaram também. Devynn as seguiu para fora do prédio, passando pelo gramado, onde havia um outro tipo de construção, completamente fechada e cinza. E, do lado de fora, havia vários alvos e instrumentos de treino.

P.O.V Devynn/Louise

Eu tinha que me lembrar o tempo todo de que agora eu não era mais Louise, e sim Devynn. Pra mim era uma tarefa bem difícil, já que fui chamada de Louise a vida inteira.
Apesar de todo o meu preconceito contra o Instituto, percebi que nem todos eram vadios como a Gwen, chegavam até a ser legais comigo.
Entramos na construção cinza, que também tinha vários equipamentos e uma pequena arena circular no meio. De um lado havia alvos e algumas pessoas treinavam, eles não pareciam ter percebido a nossa chegada ou, se perceberam, fingiram que não e se concentraram em suas atividades. Num canto havia uma estante de armas. Armas de fogo, adagas, lanças, arcos, flechas, etc. Comecei a analisar algumas, escolhendo a minha. Gabryella e Bianca foram treinar com os arcos e flechas e Miki desapareceu em algum canto com uma adaga. Peguei uma Mauser 721 e coloquei a munição, que claramente não era chumbo, mas eu não conseguia identificar, parecia algo como... Gel. Os pelos da minha nuca se eriçaram repentinamente.
-Boa escolha de arma, mas você devia começar com uma mais leve, não acha? - Sean sussurrou no meu ouvido com a voz sexy e rouca. Me virei e encarei seus olhos azuis escuros.
-Está me chamando de fraca? -Provoquei, cutucando-lhe a barriga com o cano da arma.
Ele sorriu divertido e afastou a arma com uma das mãos.
-Não. A palavra certa seria despreparada. - Cerrei os olhos quando ele disse isso. Numa questão de segundos, ergui a arma ao lado do meu corpo e atirei, sem hesitar. Só então me virei para ver onde a bala tinha acertado. Ela parecia uma pequena mancha de tinta espalhada bem mo centro do alvo. Me voltei para ele, que me observava com as sobrancelhas erguidas, impressionado. Lancei-lhe um sorriso sarcástico e só então percebi que algumas pessoas tinham parado para olhar. Fitei-as e elas rapidamente desviaram o olhar.
-Então... O que você estava dizendo?
-Onde você aprendeu a mexer com armas?- Ele franziu o cenho. Me repreendi mentalmente, eu não devia ter demonstrado tanta habilidade.
-Meu pai era policial, ele fazia questão de que eu soubesse me defender. - Foi a primeira mentira que me veio à cabeça. Sean pareceu acreditar. Ele inclinou a cabeça pro lado, ainda com um sorriso zombeteiro.
-Curioso, a filha de um policial decide virar uma vilã. -Ele falou e imediatamente imaginei que aquilo daria uma boa manchete. Dei de ombros.
-O mundo dá voltas. - Respondi, simplesmente. Sean riu e, nesse momento, toda a sala ficou silenciosa. Me virei para ver o que estava acontecendo e me deparei com uma imagem familiar que entrava pela porta. Gwendolyn.