Anjo Morto escrita por Duda


Capítulo 3
Até quando ela acaba




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Caminhamos por horas. O sol estava se pondo e ele andava com um sorriso satisfeito no rosto, mas não falava nada. Eu estava me irritando com o fato de um desconhecido maluco estar me levando ao oeste sem nem me dizer porque, mas se eu não fosse ao oeste, iria aonde? E se não estivesse com ele, estaria com quem?

–QUEM É VOCÊ??

–Você já perguntou isso.

–Bom, você não me respondeu aquela vez!

–E o que lhe faz pensar que vou responder agora?

–Argh. Então me diga porque está me levando ao oeste.

–Quando chegarmos você verá. - Ele deu um sorriso maior ainda e ergueu as sobrancelhas.

Ele deu mais uma olhada no horizonte e parou. Dei uns dois passos a frente até ver que deveria parar também.

–Vamos dormir aqui, amanhã continuamos...

–Você fala como se estivéssemos perseguindo um pote de ouro ao fim do arco-iris.

–E todos nós não estamos?

Não entendi. Acho que ele gosta de falar coisas confusas para parecer mais inteligente... Sei que achamos um espaço atrás da padaria, onde era quentinho por causa do forno, e sentamos.

–Está com fome? - Ele perguntou

–Morrendo!

Ele riu, como se fosse uma piada interna, fiquei com vergonha e quando ele percebeu parou de rir. Me estendeu mais um pouco de feijão e não pegou para si.

–Não vai comer?

–Estou sem fome. Pode comer...

Terminei rapidamente o meu jantar, não lembrava exatamente o gosto do feijão, mas esse parecia diferente... de qualquer forma, muito bom. Estava com frio, o que era estranho pois o lugar parecia tão quente. Comecei a tremer e ele notou. Nem pediu nada, só pegou um montinho de madeira que tinha do outro lado da rua e fez uma fogueira. Sentamos em volta dela e só ficamos ali, vendo o fogo. Mesmo assim ainda sentia frio. Senti frio o dia todo...

–Por que você mora na rua? Por que sozinha? Digo, por que vive assim?

Fiquei em silêncio, pensando... Nunca pensei que responderia algo do tipo, mas a resposta veio pronta em minha mente:

–Algumas pessoas moram em apartamentos, outras em casas. Eu vivo na rua
Algumas pessoas têm a família, outras apenas amigos. Eu só tenho a mim mesma.
Você não pede a alguém por que ela vive assim. É a vida dela. Só porque minha vida não é do jeito que você considera normal, não quer dizer que não seja uma vida.

Agora foi ele quem ficou em silêncio. Ficou mais tempo que eu, ficou muito tempo. Como se analisasse minha resposta e pensava em sua própria vida. Então ele se deitou de lado, fechou os olhos e disse:

Toda vida é eterna, até quando ela acaba.


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