Eu acordei molhada. E com o olho ardendo - acho que chorei até adormecer. Mas não era por isso que estava molhada... é que o papelão que eu repousava em cima estava sobre uma poça d'água que antes era gelo. O dia hoje estava bem mais quente que ontem.

Minha cabeça dói. Muito.

Eu tentei me sentar, mas minha mão escorregou e eu caí. Estou fraca - faminta na verdade, não como há dias... Consigo me sentar, encostada na parede de tijolos, é claro. O mundo gira um pouco, meu olho se acostuma com a claridade e um gosto horrível de metal está na minha boca. O ar parece pesado - e eu pareço mais leve. O mundo se estabiliza. Me sinto mais forte, minha tontura passa. Acho que levantei rápido demais, ou algo do tipo.

Sei que quando reabri meus olhos, tinha um menino na minha frente. Não um garotinho, um moço. Talvez minha idade ou um ano a mais... Não muito mais alto que eu e com roupas limpas. Seu cabelo era mais preto e sua pele mais escura, isso com certeza. Ele era lindo. Acho que meu susto foi silencioso, talvez até despercebido, mas minha cara era de uma pessoa assustada com certeza, pois ele me olhou estranho e perguntou se estava bem.

– Quem é você?? - Foi a minha resposta

– Quem somos não importa, o que importa é para onde vamos. E nós vamos ao oeste, sempre oeste!

– O que? Do que está falando??

– Puxa, você parece fraca... Aqui, tenho um pouco de feijão, você pode comer tudo, - Ele falava tão rápido - mas coma depressa, temos que ir. Precisamos chegar lá, seguindo o oeste é claro. Coma, coma!

Eu comi. Com medo, mas agradecida... Minha primeira refeição em dias, estava tão bom!

–Você ainda não me disse quem é. E o que tem no oeste?

–"O QUE TEM NO OESTE?" Tem tudo no oeste. Vamos, estamos perdendo!

– Perdendo o que?

Ele me olhou. Por uns 2 minutos. Sua expressão não dizia nada, ele só estava me olhando. Então pela primeira vez ele falou algo calmamente:

–Tempo. Estamos perdendo tempo.

Não sei como, porquê, mas eu o segui. Rumo ao oeste. Descobrir o que quer que seja o que encontrarmos.