Dead Or Alive escrita por Juh Begnini Collins


Capítulo 7
Capítulo 7


Notas iniciais do capítulo

Esse foi um dos capítulos mais difíceis que eu já escrevi, então espero que esteja bom, viu?
Boa leitura.



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Dean estava jogado na sua cama no motel. Cass estava sentado em uma cadeira da pequena mesa do lugar, com uma garrafa de cerveja em mãos e o olhar inexpressivo dirigido para o nada.

            Ouviram o barulho da porta sendo forçada, e Dean colocou a mão por sobre o coldre da arma, preparado para atirar em qualquer coisa que se movesse. A porta abriu-se e Sam entrou, acompanhado por Lorane. A mão de Dean relaxou.

            - Como foi com a Jenkens? – perguntou Sam.

            Dean suspirou e sentou-se na cama, ficando de frente para o irmão, que estava agora sentado na outra cama do quarto. Lory sentou-se ao seu lado, e Cass ocupou o lugar ao lado de Dean, entregando a ele uma garrafa de cerveja, cerveja essa que o humano gentilmente agradeceu.

            - Fora o fato de “ela nunca ter provado um chá de limão tão bom quanto o de Ohio”, nada. Ele era imaculado.

            - Com exceção de eu ter descoberto um caso que ele mantinha há um ano e meio. – completou Cass. – Com uma moça qualquer, que ele engravidou e dispensou. Mas não deve ser grande coisa, pois ele estava prestes a fazer isso de novo com a fantasma. Eu só não entendo por que os humanos nunca estão satisfeit...

            - Ah, Castiel, e em que momento decidiu que fosse uma boa ideia me esconder isso? – disse Dean, furioso, interrompendo-o.

            O anjo o encarou, ainda inexpressivo.

            - Você não me perguntou. – respondeu, apenas.

            Lory deu uma risada doce que fez os pelos dos braços de Dean eriçarem-se.

            - E vocês, como foram com a Senhorita Johanson? – perguntou o anjo.

            - Surpreendentemente, ela o odiava. E ele traia ela, foi a própria que nos contou. Fora isso, nada também. A mesma admitiu que o noivo era uma personalidade imaculada em qualquer assunto que não envolvesse fidelidade para com ela.

            - Então... – principiou-se a morena. – será que é o espírito de uma traída matando infiéis?

            - É o que parece. – respondeu Sam.

            Dean levantou-se, e começou a caminhar de um lado para o outro, incessantemente, periodicamente dando goles na bebida gelada na garrafa em sua mão.

            - Cara, Petterson... eu tenho certeza de que deixei escapar algo dessa tal Petterson, algo muito importante. Só não lembro o que era.

            - Acho melhor você se lembrar, Dean, por que nós estamos tateando às cegas aqui. – disse Sam, acompanhando com os olhos o movimento incessante do irmão.

            O Winchester mais velho deu outro gole na sua cerveja.

            - Obrigado, Mr. Óbvio. – falou o Winchester mais velho com sua voz grave e rouca rotineira.

            - De qualquer maneira, o Mr. Óbvio aqui vai dar uma folga por hoje. Não adianta, não temos mesmo mais nada a fazer.

            Todos encararam Sam, atônitos.

            - Que foi? – perguntou ele, rindo.

            - Quem é você e o que fez com Sam Winchester? – perguntou Lory, rindo descontroladamente da careta do ex.

            O moreno continuou olhando de um para o outro, ainda meio perdido.

            - Bem... eu só pensei que, como não temos uma mínima pista de quem seja, e como ela anda matando esses homens com alguns dias de pausa entre cada vítima, nós poderíamos ir para um bar, beber e jogar sinuca.

            Dean encarou o irmão, um tanto perdido. Na verdade, estranhamente, ele não queria sair hoje. Esperava poder ficar em casa, tomar umas cervejas – e ele tinha comprado um fardo inteiro, reabastecendo a caixa de isopor – e assistir alguns animes pornôs pra relaxar. E, é claro, ficar ouvindo seu irmão reclamar por não receber ajuda nas pesquisas.

            - Até que pode ser uma boa ideia, Sam! Relaxar depois de um dia de trabalho. – disse Lory. – Vocês vem?

            - Eu acho que vou ficar em casa, beber umas cervejas... – disse Dean.

            - E acessar o asiáticas peitudas, Dean? – interrompeu Sam. – E desde quando você recusa sair para relaxar depois do trabalho? Ir para um bar, ver garotas... pensei que fosse o que você queria.

            - Em minha defesa, eu não tinha pensando em nada sobre o asiáticas peitudas! – defendeu-se Dean. – Além disso, falar com a senhora Jenkens sobre coisas de padre me deixou cansado. Eu passo, hoje.

            Sam encarou o irmão, entre abismado e divertido.

            - Bem, e você... Cass? – disse Lory, olhando ao redor.

            Às vezes, a mania de aparecer e desaparecer do nada que o Castiel tinha irritava demais.

            - Bem, Winchester... – principiou-se a garota. – Parece que somos só eu e você.

            - Então vamos lá! – disse o alto, buscando o casaco que estava jogado em cima de uma cadeira. – Tem certeza de que vai ficar bem, Dean? Não existe nada dentro do armário, viu?

            - Há há, idiota. – disse o mais velho, jogando-se na cama com o notebook em mãos. – Espero que não encontre nenhum palhaço pelo caminho. – revidou.

            Lory riu, pegou Sam pelo braço e o arrastou para fora do quarto, abanando suavemente para Dean pela porta.

            Dean, seu ídolo. Ela ainda não podia acreditar que estava trabalhando com o grande Dean Winchester. E apesar de tudo, dava para ver como seu sentimento por Sam, e sua amizade com Cass, o enfraqueciam, o deixavam sentimental demais para ser um caçador tão exemplar quanto ela sabia que ele tinha a capacidade.

            Sim, ele se fazia de durão. Dean era aquele exato tipo de cara que queria aparentar estar sempre bem, sempre preparado, mantendo tudo sobre controle. Mas no fundo, ela sabia, ele era um cara exatamente igual à Sam. Sentimental, doado, bobalhão.

            Ela só não sabia se aquilo era bom ou ruim.

~~*~~

            - Sam? Você já está de volta? – gritou Dean ao barulho vindo do lado de fora da porta do banheiro. – Sammy? – chamou de novo, sem receber respostas.

            Saiu do chuveiro, enrolando uma toalha na cintura. Abriu o armário da pia e, de lá, retirou um revólver. Engatilhou-o e preparou-se, pronto para atirar.

            - Mais uma chance para responder ou ser morto: Castiel? Sério, anjo desgraçado, se você me pregar mais um daqueles sustos, eu te arranco a cabeça.

            Nenhuma resposta. Lentamente, o Winchester abriu a porta, adentrando no quarto escuro.

            Caminhou de um lado para o outro, “tateando às cegas” à procura de algo minimamente capaz de emitir sons. Nada.

            - Você está cada vez mais gostoso, Dean. Andou malhando? – disse uma voz, vinda de trás dele.

            O rapaz sobressaltou-se. Virou para trás, mas já não havia mais ninguém lá.

            - O que foi? Perdeu a habilidade, ou foi só a agilidade? – perguntou novamente a voz, às suas costas. - Por que eu odiaria perder sua habilidade... naquilo.

            Dean virou-se novamente, mas de novo, ninguém estava lá. Ele conhecia aquela voz, sabia que conhecia. Era a peça do quebra-cabeça que estivera faltando aquele tempo todo. Mas precisava vê-la. Precisava ter certeza.

            - Elizabeth? Liz, é você? – chamou ele, em meio à penumbra do quarto. Não queria ligar a luz. Não queria vê-la. Não de novo.

            Não depois daquilo.

            - Bingo! Qual é o prêmio dele, Vanda? – tirou sarro. – Olá, Dean. Sentiu minha falta?

            O rapaz olhou para os lados, desesperado por encontra-la. Só parou quando seus olhos bateram na imagem um pouco sobressalente ao resto do local à sua volta. Com uma leve aura prata, que a iluminava discretamente em meio à extrema escuridão do quarto, a garota de cabelos ruivos, olhos cor de mel e sorriso torto, sentada à beirada da cama jamais poderia ser esquecida. Pernas longas, cintura fina, corpo esguio, com altura suficiente para ser modelo e, mesmo assim, podia usar salto alto sem ficar mais alta que ele. Sua pele alva já existia antes de sua morte, mas a luz prata leve, como se fosse o brilho da lua a bater em sua pele, somente ressaltava ainda mais a branca maciez de seu corpo.

            Aquele era o espírito de Elizabeth Petterson. A peça perdida que completava o quebra-cabeça. A sua Liz, sua luz. E agora, não passava de outro monstro que ele deveria destruir.

            - Parece surpreso em me ver, galã. – disse ela. – O gato comeu sua língua ou uma das suas garotas a engoliu?

            - Eu não acredito que você se tornou um deles, Liz. Não acredito que você se tornou uma assassina.

            A garota olhou para cima, ingenuamente, até seus olhos encontrarem a face de Dean, encarando-a tristemente. Ele estava decepcionado.

            - Estou te fazendo um favor, Dean! Pensei que gostasse do seu trabalho. – ela disse, e nos olhos do Winchester, brotou a mágoa. – Lembre-se que para existir o herói, tem que existir o vilão.

            Dean andou de um lado para o outro, passando a mão pela boca e descendo pelo queixo, naquele seu típico gesto de nervosismo, aquela sua mania quando estava decepcionado.

            - Eu só não entendo... por que? Por que você se tornou tudo aquilo que eu passei minha vida toda combatendo? – ele fez uma pausa, e quando voltou, sua voz já estava dois tons mais alta. – POR QUE, ELIZABETH, VOCÊ FEZ ISSO COMIGO?

            A garota levantou-se e se colocou na frente do rapaz, encarando-o face a face, de baixo para cima.

            - Com você? – agora a mágoa estava no olhar dela também. – Eu fiz isso com você? VOCÊ, Dean, você fez isso comigo. Você me transformou nesse monstro, okay?

            O rapaz virou-se, andando para mais distante dela.

            No que sua pequena garotinha tinha se transformado? O que havia acontecido com ela?

            Uma lágrima escorreu pelo canto do seu olho, e ele rapidamente secou.

            - Eu nunca quis isso. Você sabe muito bem, eu só queria protege-la, e àqueles que você amava. – agora a voz dele já era quase um sussurro.

            - Para você, parece que deu certo, Dean? Parece que eu estou protegida? Parece que eu estou segura? Pois para mim, eu nunca estive tão perdida, tão confusa, tão só.

            - E por que, agora, a culpa é minha? Você é que não quis ir com o ceifeiro, você é que decidiu ficar e sofrer! Não fui eu, mas você, Elizabeth! Por que, agora, sou eu o vilão?

            - POR QUE VOCÊ ME MATOU, DEAN WINCHESTER!

            Aquelas palavras feriram aos dois como facas. Eles jamais haviam tido a chance de pôr as cartas sobre a mesa. Aquela poderia ser a única que teriam em toda a sua vida.

            Um silêncio invadiu a sala por alguns instantes.

            - Você me matou. – agora a voz dela estava sussurrada, sofrida. – Quando me trouxe para o seu mundo, quando entrou na minha vida.

            - Naquele momento, Liz, eu não podia salvar os dois!

            - Mas seu pai QUIS entrar nessa vida, ele QUIS ser caçador, sabia dos riscos. Eu nunca quis isso para mim, Dean! Eu queria amadurecer, ir ao cinema, namorar, noivar, casar com você... eu queria ter filhos com você, Dean! Eu sonhava com o nosso futuro! E para você, eu era só mais uma noite em um motel barato, não era?

            - Você nunca foi só mais uma noite! Você foi uma das únicas mulheres que eu realmente amei!

            Ambos estavam normalmente encarando-se, frente a frente. Só que nenhum dos dois sabia quem havia se aproximado, pois estavam perdidos naquele passado, no passado que os dois haviam compartilhado. Cutucando a ferida que ambos queriam que cicatrizasse. Mas era tarde demais para aquilo.

            - E mesmo assim, você pensava em partir! Nunca pensou em ficar comigo, e também nunca relutou antes de deixar que aquele demônio me ferisse. E nunca relutou em puxar o gatilho.

            - Era meu trabalho, Liz! Eu não podia simplesmente dar as costas e partir! Aquele demônio te feriu tanto que você estava morrendo de dor! E você ia morrer, Liz! Acha que puxar aquele gatilho não foi uma das coisas mais difíceis que eu já fiz em toda a minha vida? Mas eu não tinha escolha! Era te matar e acabar com seu sofrimento ou vê-la sofrer até morrer! E eu não podia te ver sofrer, Liz!

            E os dois já choravam. O Winchester deixou de lado toda a sua força, sua determinação... suas barreiras caíram, inteiras, e tudo o que ele deveria ter chorado antes viera à tona naquele momento. Ele só não queria mais segurar aquilo tudo para si.

            - Então não entrasse na minha vida, Dean. E não minta que eu não fui só mais uma transa sem compromisso, sem sentimento.

            - E não foi!

            - Ah, não? Desculpa, mas eu não vou fingir que acredito, okay? Tente convencer a si próprio com essa mentira. Mas esse espírito, essa assassina, é o que eu sou agora, e eu não vou parar. Então, ou você me detém, ou me mata de novo... ou então, cada gota de sangue que escorrer estará em suas mãos. As mesmas mãos que seguraram a arma, que puxaram o gatilho, que deferiram a bala que acabou com a minha vida.

            Ela virou-se e começou a partir, em direção à porta.

            - Liz! – chamou Dean, e ela se virou. – Eu sinto muito.

            Uma lágrima correu pelo rosto dela, cristalina como sua imagem.

            - Agora é tarde demais, Dean. Não dá mais para voltar atrás. É matar ou ser morta. Dependo de você para me salvar. – ela fez uma pausa. – Só não vai errar. Se for para matar, mata de verdade. De uma vez por todas. Só assim você pode salvar a garota que um dia te amou.

            E então ela desapareceu, suave como uma brisa de outono.

            E deixou para trás um Dean, sentindo-se mais culpado do que jamais antes. Ele, sendo idiota, conseguiu destruir uma linda garota, doce e meiga como um lírio. E pensar que passou tanto tempo culpando-se por mata-la.

            Se tivesse a matado definitivamente, ela não estaria sofrendo por tirar a vida de outra pessoa. No fundo, ele sabia que ela não queria ser um monstro, não queria matar.

            Mas, como ela mesma dissera, era tarde demais para aquilo. Era matar ou ser morto. Era matar ou sofrer.

            E sabendo o peso de ter sangue humano em suas mãos, sabendo da responsabilidade que é saber que você matou alguém, ele tinha certeza de que Liz estava pedindo ajuda. Pedindo para ser liberta.


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Notas finais do capítulo

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Beijoos e até mais.