Dead Or Alive escrita por Juh Begnini Collins


Capítulo 6
Capítulo 6


Notas iniciais do capítulo

Está na hora de uma conversinha casual com as parentes mais próximas aos falecidos.
Novo Capítulo para vocês. Espero que gostem.



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Duas batidas na porta. A chorosa Sra. Jenkens secou as lágrimas que continuavam a rolar pelo seu rosto com a manga de seu suéter de algodão. Levantou-se e, arrastando os chinelos de pano pelo chão de madeira rosada, dirigiu-se até a porta da frente da casa de sua irmã.

            - Dean, eu não gosto dessa ideia e...

            - Confia em mim, Castiel! Eu sei o que estou fazendo. – respondeu o loiro.

            A porta abriu-se, e uma mulher de meia idade, loira e despenteada, um tanto encurvada graças ao tempo em que estivera chorando, parecendo tão frágil que poderia desfazer-se em pedaços ao menor soprar de vento, olhou pela fenda, em direção aos dois.

            - Olha, rapazes, não é uma boa... – disse ela, antes de ver o colarinho branco. – Ah, me desculpem, eu sinto muito, padres. Por favor, entrem!

            Ela deu passagem porta adentro para os dois desconhecidos. Era normal, naquele lugar, o aparecimento de padres transferidos de outras igrejas, em momentos de luto.

            - Ah, nós não somos pa...

            Dean cutucou o anjo, fortemente, tendo sorte de não ter sido visto pela viúva. Maldita incapacidade de mentir.

            - O que ele queria dizer é que nós não somos padres nessa hora, Sr. Jenkens. Somos irmãos e fonte de apoio, apenas mensageiros trazendo de Deus seus acalantos.

            Congratulou-se mentalmente por ter conseguido criar, em tão pouco tempo, uma frase de tanto efeito. “Quem precisa de faculdade, Sam?” pensou, até ver a reprovação na face do anjo, escondida por detrás da eterna falta de expressão daquelas feições, o que o fez ter vontade de rir. Controlou-se.

            A senhora os guiou até a sala e apontou para os sofás, colocando uma mecha do cabelo loiro por detrás da orelha e assoando leve e discretamente o nariz vermelho do choro em um lenço de papel em sua mão.

            - Sentem-se, padres. Eu vou pegar um chá para vocês.

            - Deus te acompanhe, irmã. – disse Dean, levando um cutucão.

            A mulher sorriu de maneira fraca e retirou-se.

            - Dean, você não pode falar uma coisa dessas para ela, é errado! Você está se passando por falso mensageiro de Deus!

            - Cala a boca, Cass. – disse o homem, encarando-o de maneira indignada. – Eu estou MEN-TIN-DO! O que você queria que eu fizesse? Chegasse aqui e dissesse “hey senhora, eu vim descobrir que criatura maligna matou seu marido. Suspeito que ele tenha ameaçado te trair com uma fantasma irritadinha, e ela o matou, mas tenho que ter certeza”?

            Por um segundo, o anjo parecer refletir. Abriu a boca para dar uma resposta, mas a senhora já havia voltado com duas xícaras de chá quente e alguns biscoitos confeitados.

            - Desculpem-me, padres, mas eu não perguntei o nome de vocês.

            - Que descuido o meu. – principiou-se Dean, prevendo que teria de fazer o trabalho todo por si. – Meu nome é Harry Johns, e esse é meu parceiro de seminário Willis Marshall.

            A mulher assentiu positivamente, sentando-se no sofá em frente aos mesmos.

            - Eu sinto muito pelo que aconteceu com o seu marido, Sr. Jenkens. Ele era um bom homem... costumava ir à igreja, não é? – perguntou o loiro.

            Castiel afundou-se no sofá, preparado para deixar que Dean fizesse todo o trabalho que envolvesse mentiras.

            - Sim. – disse a senhora, colocando a mecha de cabelo de volta para detrás da orelha, como um gesto de desconforto. – Ele era assíduo, ia para lá todas as sextas-feiras, não importava o que tivesse que deixar de lado ou o compromisso que teria de desmarcar para isso.

            Ela encarou os dois rapazes às suas frentes com o olhar vago, desesperado. Seu rosto já estava inchado de tanto chorar.

            - Sabia que eu o reconhecia da igreja. O padre Hilton, responsável pela paróquia, pediu que viéssemos até aqui pessoalmente para prestarmos as nossas condolências em nome de todos.

            - Mande a eles meus sinceros agradecimentos. – disse ela, e as lágrimas voltaram aos seus olhos. – Sabem, Todd era um homem muito bom, tinha paciência e era realmente um doce comigo. Nessas últimas semanas, ele tinha andado um tanto distante, mas mesmo assim, continuava sendo maravilhoso. Ele não merecia ter morrido daquela maneira.

            - Dean, nós já acabamos aqui? – pediu Cass, aos sussurros.

            - Por que?

            - Para eu pôr essa mulher para dormir e ir embora antes de ficar duas horas aqui ouvindo sobre como o cara era maravilhoso.

            Dean encarou de maneira reprovadora o anjo.

            - Ainda não, Cass. – sussurrou em resposta o humano.

            - Senhora Jenkens... eu poderia usar o banheiro? – pediu Castiel, complascente, interrompendo a cena da viúva.

            - Ah, claro... é no fim do corredor, virando à direita.

            O anjo levantou-se prontamente, e foi seguido pelo amigo.

            - O que você vai fazer? – pediu, cuidando para que a mulher não ouvisse.

            - Distraia ela, eu vou checar a vida do homem por aí. Procurar a sujeira escondida no corpo morto.

            - Okay, mas não demore, ela pensa que você está indo ao banheiro.

            O anjo foi sem mais nada dizer. Dean jogou-se novamente no sofá, sorrindo um tanto constrangido. Ia ser uma longa conversa.

~~*~~

            Lory ajeitou a gravata do rapaz, rapidamente, antes que a porta se abrisse. Sam protestou um pouco, mas não havia nada que pudesse fazer. Lorane Claré poderia ser muito insistente quando quisesse, ele tinha certeza daquilo havia muito tempo.

            Por um lado, seria bom trabalhar com a garota novamente: ela era astuta, sagaz, e era uma ótima companhia. Além disso, era bom reviver os velhos tempos, os momentos de almoço quando eles falavam sobre as coisas que viveram, todo aquele detalhe de uma vida quase normal que havia muito tempo ele não via.

            Era quase como não ser um caçador de monstros. Quase como uma vida Apple Pie.

            Por outro lado, ele não queria uma vida Apple Pie. Não mais.

            A porta abriu, e uma mulher de uns 55 anos de idade, de pele judiada, cabelo em coque, avental por sobre o vestido florido, cabeça grande, baixinha, gorducha e de traços colombianos, olhou-os de maneira ameaçadora.

            - La señora Gilles no puede hablar este instante. Lamento.

            Ela foi fechando a porta, e Sam colocou o pé no vão, impedindo-a de isolá-los. Poderiam não ter outra chance.

            - Permiso, señorita…

            - Consuela. – respondeu ela.

            Sam parou, tentando selecionar as palavras no seu pouco vasto vocabulário espanhol.

            - Pesmiso, senõrita Consuela, és mui importante que...

            - Pare de tentar falar em espanhol, garoto. Você realmente não leva jeito para a coisa.

            Sam encarou a ex-namorada de maneira irritada, enquanto a garota fazia muita força para esconder o riso e fingir normalidade enquanto arrumava os cabelos novamente em um coque sério.

            - Okay então... Nós podemos falar com a Senhorita Johanson, por favor? É muito importante e...

            - Não. – respondeu ela, firmemente. – Ela não quer receber visitas.

            - Somos do FBI, senhora. – Lory finalmente se posicionou na conversa.

            A colombiana baixinha riu com desdém dos dois, e eles encararam-se, pensando em quanto tempo levaria para eles serem obrigados a apaga-la.

            - Não me interessa quem vocês dois são, se são do FBI, do CSI, da Scotland Yard ou da extinta KGB, eu não vou permitir que vocês dois...

            - Consuela! – veio uma voz de trás da mulher. – Já basta. Pode deixar, eu assumo daqui por diante.

            A gorducha saiu da frente da porta, contrariada, e de trás dela surgiu uma figura que era completamente o seu oposto. Alta e esbelta, de longos cabelos loiros, feições bem delineadas, olhos negros e uma postura completamente imponente, a figura podia ter sido criada para o sucesso. E definitivamente, com aquela postura intimidadora que trazia consigo e a confiança que exalava, provavelmente tinha mesmo nascido para o sucesso.

            - Olá, agentes. – disse, a voz aveludada soando de leve nos ouvidos dos dois. – Dispenso a minha apresentação, pois percebi que vocês já me conhecem, e que aliás, vieram por minha causa. Entrem! – os dois entraram, obedecendo as ordens da mulher. Ela era um tanto hipnotizante. – E então, em que posso ser-lhes útil?

~~*~~

            - Então, senhora Jenkens...

            - Me chame de Jane. – disse ela, sentando-se encurvada no sofá em frente ao de Dean. Parecia ainda mais frágil do que antes.

            - Okay, Jane... Onde estaria a senhorita Jenkens?

            - Ah, Mabelle está passando a semana na casa de uma amiga. Sabe, depois da morte do pai, ela achou melhor não vir para cá, mas também não quis ir para casa. Parecia que faltava algo lá.

            - A senhora, por outro lado... – disse, olhando para as malas prontas ao lado da porta.

            Ela encarou os próprios dedos, as unhas vermelhas e o esmalte descascando demonstrando o descaso que a mulher tivera com elas nos últimos dias.

            - Volto para lá hoje à noite. – disse ela, acompanhando o olhar do homem. -Bem... não há por que adiar o inevitável, não é?

            Dean sorriu para a senhora abatida à sua frente, complacente.

            - Não mesmo, principalmente por que ele não viu nada nem ouviu nada estranho por lá... não é?

            Ela olhou-o pela primeira vez nos olhos desde que ele chegara. Estava confusa.

            - Bem, não... ele deveria?

            - Não, definitivamente... mas Deus escreve certo em linhas tortas e, às vezes, ele nos manda mensagens.

            Ela voltou a desviar os olhos para suas mãos, como se pensasse sobre o que eles estavam falando.

            - Não, estou certa de que ele não vira nada. Entenda, padre, ele era uma pessoa boa, não merecia isso tudo.

            O rapaz cruzou as mãos no colo e desviou o olhar para a porta do banheiro, pensando em quanto tempo mais Castiel demoraria para sair de lá.

            - Claro que não, irmã. Ninguém merece. Só Deus pode tirar a vida de uma pessoa! Nenhum desafeto pode causar um assassinato. – Ele fez uma pausa. – Mas esse, certamente, não é o caso do seu marido. Afinal, ele não tinha nenhum desafeto que pudesse fazer alguém desejar-lhe o mal, tinha?

            - Bem... não, eu estou certa de que ele não o tinha. Ele tinha uma briguinha ou outra, às vezes, e tinha aquelas pessoas de quem ele não gostava... mas nada que fizesse alguém querer feri-lo.

            -É, eu sei que não. – disse Dean. – Sabe, senhora Jenkens...

            A porta do banheiro abriu, interrompendo-os. Castiel surgiu com as mesmas feições ausentes de sentimento no rosto, como se nada tivesse acontecido.

            - Padre, nós devemos ir agora. – disse ele ao homem sentado no sofá.

            Dean levantou-se, e a viúva também o fez.

            - Desculpe termos que sair assim, Jane. O chamado de Deus é a nossa ordem. – disse Dean, apertando a mão da senhora, docemente.

            Castiel pisou-lhe o pé, discretamente. Dean reclamou, baixinho.

            - Imagina, padre. – disse ela, sem perceber. Limpou uma lágrima na manga do suéter. – Muito obrigada pelo apoio.

            - Estamos aqui para isso. – disse Dean.

            - E agradeço a você também, Padre Marshall. – ela estendeu a mão para Castiel, mas ele demorou a apertá-la.

            O anjo então empurrou o amigo para fora da casa.

            Assim que a viúva fechou a porta atrás de si, os dois entraram no carro.

            - Dean Winchester, da próxima vez que você me fizer mentir desse jeito, eu te apago.

            - Aham, anjinho. – disse o outro, ligando o carro e aumentando o volume do rádio, que tocava agora Back In Black.

            Cantando pneu, ele fez a volta e dirigiu-se à estrada que os levaria de volta à Stanford, feliz por ter se livrado de toda aquela baboseira de “Deus Todo Poderoso de Suprema Misericórdia”. Só tinha uma criatura vinda dos céus que ele sabia que o protegeria caso precisasse de ajuda, que teria misericórdia, e essa criatura era Cass. Fora ele, não havia ninguém com quem contar.

            Olhou para o amigo sentado ao seu lado, olhando inexpressivo pela janela do carro. Ah, inexpressivo, novamente. Subitamente, Dean deu-se conta de que aquele anjo ao seu lado era um irmão para ele. Tão valioso quanto Sam, percebeu, para seu espanto.

            E ele poderia se acostumar com a ideia de ter Cass consigo em viagens de caça. No fundo, Castiel tinha alma de caçador.

            O humano riu desse pensamento, e o anjo ao seu lado o olhou, curioso.

            - Ah não, Castiel. Esse pensamento, definitivamente, você não vai tirar de mim.

            O anjo voltou novamente seus olhos para o lado de fora do carro. Ele podia não ler mentes, mas lia feições, e ele sabia que o que quer que fosse o pensamento de Dean, não era nada a se preocupar.

            Era bom ter um amigo, para variar. Alguém real. Quase dava vontade de ser um humano, para poder viver sempre daquela maneira.

            Manteve esse pensamento até o Impala entrar pelos portões do Three Roses Motel.

~~*~~

            Sam encarou, pela vigésima vez, a garota à sua frente.

            Como um idiota como Daniel Gilles podia trair, ou pelo menos pensar em trair uma mulher como aquela? Ou melhor: como ele havia conseguido uma mulher como aquela?

            - Então, agentes, em que posso lhes ser útil?

            - Senhorita Johanson... – principiou-se o rapaz.

            - Kiara. – ela o interrompeu.

            - Kiara. Estamos investigando a morte do seu marido, e eu queria dizer que sinto muito pela sua perda e...

            Ela sorriu para o alto à sua frente.

            - Pois não sinta, então.

            - Desculpe? – pediu Lory, incentivando-a a continuar.

            - Sinceramente: Ele era um completo idiota. Eu estava com ele por pura pena, e ia terminar assim que ele voltasse de viagem. – ela disse, e os dois arregalaram os olhos.

            Ela encarou um, depois o outro, mas seu tom de voz continuou decidido.

            - Eu sei que não é bom para mim falar esse tipo de coisas logo após seu assassinato, mas eu não gosto de mentir para policiais, muito menos para federais. Eu o odiava. Ele me traia, e achava que eu não sabia. A verdade é que ele era um coitado.

            Sam trocou um olhar espantado com Lory. Aquilo era inusitado. Eles estavam preparados para uma noiva inconsolável, não para Kiara.

            - Hey, qual é, não me olhem dessa maneira! É claro que eu não queria que ele morresse, mas é a verdade. E apesar de tudo, eu não consigo imaginar uma só pessoa que quisesse mata-lo. Em geral, as pessoas o amavam!

            - Então você me diz que não há motivos para quererem mata-lo?

            - Absolutamente. – afirmou a loira.

            Sam encarou Lory mais uma vez. Aquela ia ser uma conversa muito direta.


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Notas finais do capítulo

Gostaram? Não?
Que tal um comentário com a sua opinião, uma estrelinha, xingo, pontapé, chute, soco, arranhão... qualquer coisa?
Só pra eu saber que vocês estão lendo?
Beijos.