Narração por Scorpius Malfoy

Eu fiquei encarando os aros durante algum tempo. Eu via a imagem daquela graciosa e, aparentemente, frágil garota voar rapidamente em sua Nimbus e pegar a bola, como se por reflexo.

Aquele era o momento mais constrangedor de minha vida. Eu nunca perco um ponto quando me empenho, e toda a minha força foi jogada ali, em suas mãos. Ela havia pegado a bola, e como se não fosse suficiente, ainda me desafia na frente do colégio inteiro.

– Ei Malfoy, depois você me diz o resultado, tudo bem? – ela gritou para eu conseguir ouvi-la aqui de cima, e só então eu reparei a multidão que se formara em sua volta. Meus olhos se desviaram para a plateia, que estava repleta de fofoqueiros fazendo comentários maldosos. Eu nem precisava ouvi-los para saber o que diziam.

O Malfoy perdeu a bola para uma menina, uma nerd, na verdade. E depois dizem que ele merecia ser o capitão do time nesse ano. Logo após algumas risadas.

Esse foi o limite. Assim que ela começou a se afastar com o primo, Alvo, eu comecei a pegar impulso para voar até ela. Mas o que eu faria? Bateria nela? Isso se ela não me batesse antes, vendo-se o quão máscula ela é. E também, não teria coragem.

Assim que reparei que eu não tinha o que fazer lá eu parei, sentindo um braço pousar em cima de minhas costas. Luke, ainda montado em sua vassoura, havia parado ao meu lado.

– Cara, você está bem? – perguntou, na tentativa de me reanimar. Não tive nem coragem de olhá-lo no rosto, com medo de ele rir de mim. Afinal, quem me levaria a sério agora? O que os outros pensariam?

– O que você acha? Ela defendeu a minha bola! – falei, em um suspiro, dando passagem a uma expressão deprimida em meu rosto.

– Ah cara, nem foi uma defesa tão bonita. Ela podia ter feito melhor. – expressou, tentando fazer-me sentir melhor.

Olhei para ele com a sobrancelha arqueada, mostrando que eu sabia que era mentira. A defesa dela foi linda, merecia um prêmio! Eu nunca havia visto algo tão veloz. Eu não entendia como ela havia feito isso. Sentia raiva por tê-la deixado fazer o teste... Se eu ao menos soubesse antes de seu talento escondido, não teria a deixado entrar na quadra.

Olhei em volta, reparando que a maioria das pessoas ria e as outras apenas comentavam, às minhas custas. Eu sempre fui a pessoa que ria, e não da qual as pessoas riam. Eles não tinham esse direito.

– Luke, tem como você tomar conta do resto dos inscritos para mim? – falei com a voz falhando, já rouca pela vergonha e vontade de sumir.

– O quê? Você é o capitão do time, tem que ficar aqui e ver o resto das inscrições para o time! – argumentou, e ele estava certo. Eu tinha que continuar com os testes, mas não iria conseguir agora. Tinha sorte de ter conseguido me segurar na vassoura. – Você só tem mais hoje para isso.

– Tá certo, mas fique com eles por uns quinze minutos... Eu só vou beber alguma coisa, tentar relaxar por um segundo. Mande-os fazer exercícios, sei lá. – falei, e sem esperar seu consentimento eu desci com voando rapidamente, pousando atrás do vestiário do time.

Com raiva eu arremessei a minha vassoura do outro lado do cômodo, e me joguei no chão, sentado. Abraçando minhas pernas eu apoiei minha cabeça no colo, fitando o chão.

Eu nunca fui de deixar-me abater, muito menos de choramingar por aí, mas eu cheguei bem perto. Não por ter perdido minha fama de melhor jogador da Grifinória, e sim porque, em meu primeiro dia como capitão do time já deixei a primeira impressão de que sou tão ruim que perco para uma menina. Ela não podia escolher hora pior para resolver jogar.

Logo reparei que não estava sozinho ali. Eu ouvi alguns ruídos vindos de dentro do vestiário. Era como se alguém estivesse abafando as lágrimas. Curioso e tentado para saber se no momento tinha alguém pior que eu, entrei.

Fiquei extremamente surpreso, e era a segunda vez que a mesma garota me deixa assim em um dia.

Parei e encarei por uns segundos Rose Weasley, sentada em um canto da sala com a cabeça baixa e as mãos no rosto. Seu rabo-de-cavalo havia se desmanchado, transformando-se em um cabelo solto e brilhante que caía sobre o rosto. Alguns fios grudavam no mesmo por conta das lágrimas.

– Engraçado, depois de uma defesa daquelas eu esperava qualquer reação sua, menos essa. – falei, assustando-a. Ela levantou o rosto de imediato para mim, e começou a limpá-lo com a blusa e as mãos.

– Você também não está exatamente como eu esperava Malfoy. – acusou. Do que ela estava falando, aliás?

– E o que você esperava de mim agora? – perguntei, me aproximando para ficar em sua frente. Ela deu um sorriso sínico, como se tentando esconder o quanto estava frágil.

– Eu esperava que você estivesse abatido e até mesmo deprimido. Acho que trocamos os papéis no momento. Você parece tão... Animado e iluminado. Mesmo depois de eu ter te dado àquela cortada. – ela deu mais um sorriso malicioso de canto. Eu senti uma tremenda vontade de afogar essa garota em uma bacia de água fervendo.

Mas... Eu estava animado e iluminado? Até poucos segundos atrás eu estava ameaçando a chorar, e foi só entrá-la e vê-la chorar que eu me iluminei? Sou tão ruim assim? Fiquei feliz por ela estar chorando?

Ela estava tentando me provocar e me deixar para baixo, e eu não me renderia a isso, ainda mais para ela.

– Acho que você já deve saber que não entrou para o time. Aliás, por que você fez isso mesmo? – perguntei cinicamente, tentando não parecer na defensiva.

Rapidamente ela se levantou, ficando a minha altura, olhando fixamente em meus olhos.

– Fiz isso por mim, e posso saber por que não entrei para o time? Porque pelo que eu saiba não é só você quem escolhe, e eu li todo o manual de Regras do Quadribol, e é permitida qualquer pessoa se inscrever para o time. – falou se sentindo a dona da razão.
Revirei os olhos, pensativo. – Para desqualificar alguém você precisa da permissão do treinador do time.

– Mas você não passou, e quer saber por quê? Porque não é o que procuramos para o time. Aliás, você só defendeu uma bola, e tem que haver pelo menos oito defesas. Então você está fora. – falei, criando argumentos que nem para mim fizeram sentido, afinal ela poderia muito bem recomeçar logo em seguida.

Ela pareceu indignada, olhando-me quase repulsivamente. Fiquei com medo do que se passava em sua mente, e parei para analisa-la. Seus lábios rosados estavam semicerrados, e seus profundos olhos verdes fitavam o interior dos meus. Seus cabelos ruivos e longos mexiam-se por conta do vento. Suas bochechas estavam rosadas, mas logo viraram um pálido amarelado quando ela começou a tagarelar.

– Você não quer que eu entre no time por que tem medo de eu ser melhor que você? Porque eu não vejo mais nenhuma alternativa. – falou mostrando sua indignação. Sim, ela sabia de outro motivo, mas não mencionaria.

– Não é nada disso, eu só quero o melhor para o time, e você não é o que eu procuro.

– E por quê? – perguntou, esperando ansiosamente a resposta. Sem me tocar, eu a respondi, quase automaticamente.

– Porque você é uma garota. – Pronto, foi só eu falar isso e tudo aconteceu rapidamente. Minha bochecha agora estava ardendo, e provavelmente com uma marca enorme.

A Weasley me surpreendeu pela terceira vez hoje. Primeira, defendendo uma bola minha. Segunda, chorando por ter defendido uma bola minha. E terceira me dando um tapa no rosto após defender uma bola minha.