Narração por Rose Weasley

Foi então que a ficha caiu – eu estava em cima da vassoura no primeiro segundo de meu primeiro jogo de quadribol pelo time masculino de Hogwarts. Um arrepio contagiante percorreu meu corpo como uma corrente elétrica, e eu senti-me reanimada de repente.

Quando o apito terminou de soar eu observei sagazmente cada movimento, vendo tudo em câmera lenta. O nosso adversário apressou-se assim que a bola foi jogada para cima, e tomou posse dela, vindo em direção a minha área. A zaga, logo então, defendeu-me e retirou a bola, lançando-a novamente para o meio de campo. Logo havia uma disputa de posse onde todos tentavam alcançar a bola.

Logo o nosso time, que até então estava um pouco na desvantagem no avanço, pegou a bola que logo chegou às mãos de Scorpius, que em um rápido movimento  lançou-a para o aro, fazendo os primeiros dez pontos de Hogwarts.

Não consegui evitar sorrir, ainda mais quando ele olhou diretamente para mim, animado. Eu conseguia ver que, assim como eu, Scorp tinha uma paixão incontrolável pelo quadribol, e que ele se sentia bem jogando.

Todos os jogadores se afastaram quando o goleiro adversário atirou a bola de volta, caindo em mãos de um dos jogadores mais fortes e bem portados de lá. O grandalhão, assim que tocou na bola, voou em disparada para a nossa área, furioso.

Eu vi tudo acontecer lentamente – geralmente era assim quando eu jogava – e o vi lançar a bola pra mim. Seu cotovelo esquerdo esquivou-se para cima, e seu queixo desceu, encostando-se a seu pescoço. Seus dedos tremiam ao pressionar a bola, indicando que ele iria dar uma certeira ao aro da minha direita, com força. Tudo indicava que eu precisaria voar para o aro da direita e pôr as mãos em forma de concha para encaixar a bola sem fratura alguma. Pareciam minutos pelos quais me dediquei a raciocinar, mas não havia feito um segundo e eu estava pondo o planejamento em prática.

A bola voou em direção as minhas mãos em forma de conchas, como se ele houvesse a entregado diretamente para mim. O impacto mal havia sido absorvido e eu já havia devolvido a bola para Luke, que aguardava praticamente ao meu lado.

Muitos por perto estavam impressionados e ainda tentavam entender tudo o que eu havia feito, o que deu um tempo para o meu time avançar até o outro lado do campo e marcar mais dez pontos para Hogwarts.

Vibrei em comemoração, e enraivados os jogadores do time adversário voltaram-se para o jogo, focando principalmente em mim.

A medida que o jogo ia se acumulando o placar estava 130 para nós, zero para o adversário. Eu estava orgulhosa de meu desempenho no jogo, e nem havia sequer me cansado ainda. Eu estava com a energia abastecida para virar a noite dormindo, se pudesse, mas o nosso apanhador mirim conseguiu, enfim, pegar o Pomo de Ouro.

O juiz apitou, anunciando o fim do jogo que terminou com o placar 280-0 para Hogwarts, a maior goleada de todos os tempos!

A multidão estava enlouquecida e berrava positivamente em nome de nossa grande vitória. Assim que meus pés tocaram o chão, vários jogadores de meu time vieram me saudar e agradecer por entrar no jogo. Alguns me chamavam de “a melhor contratação de todos os tempos”, ou então de “revelação do século”. Eu me sentia orgulhosa de mim mesma, e pensei se meu pai, em algum lugar da arquibancada, também estaria.

Foi então que vi Scorpius vir falar comigo. Eu ainda estava meio envergonhada por conta do beijo que rolou entre nós, mas consegui me segurar e esquecer isso por alguns instantes.

- Oi. – ele falou, simplesmente, talvez um pouco corado. Ele levantou o braço, passando-o por trás da cabeça. – Você jogou muito bem hoje. Bom, na verdade, perfeitamente.

- Você também... Bom, foi o artilheiro do jogo, então nem preciso comentar nada! – falei, sorridente. Eu pensei se deveria ter alguma reação nesse momento, e se deveria puxar mais assuntos, mas reparei que nem conseguiria levando em conta que estávamos rodeados por uma enorme multidão.  Foi então que ao longe eu vi o Hugo, e o decidi como minha prioridade no momento. – Eu já volto.

Fui até ele, que sorrindo veio me abraçar.

- Caraca Rose, eu não sabia... Se eu soubesse que você... Ah, cara, você joga muito! Merece com certeza ser a titular aqui. Cara, você vai virar lenda! – ele falou entusiasmado, e ao reparar minha cara meio murcha ele perguntou. – Está tudo bem?

- Comigo sim, mas... E com você? – perguntei, preocupada se ele estaria magoado.

- Está brincando? Eu estou ótimo, e muito orgulhoso de você! – ele ri como disfarce de sua, talvez, inveja ou ressentimento. – Eu nem sei como me perdoaria se não deixasse você jogar, eu...

Ele ia prosseguir, mas foi cortado com a presença de papai ao meu lado. Ele veio com um largo sorriso olhando diretamente para mim, ignorando totalmente a presença de Hugo no recinto, e me abraçou.

- Rose, filhota! Nossa, eu estou tão orgulhoso de você! Minha pequena jogando na mesma posição e time que o pai. E como joga, hein? Nunca vi nada igual! – falou, me arrancando risadas.

- Está impressionado? – parecia indelicado de minha parte perguntar, mas era o que eu precisava ouvir.

- Se estou? Eu sabia que você era a nova melhor da família, mas não pensei que fosse algo que se aplicasse mundialmente! – falou me tirando do chão ao abraçar-me novamente.

- Ah pai, que exagero! – comentei ao meio de uma gargalhada. Foi então que vi Hugo se afastar, isolado e de cabeça baixa. – Pai, se não se importa, eu vou falar com o Hugo. Volto já. – falei indo até ele.

Assim que o alcancei toquei seu ombro, e ele se voltou para mim, forçando ao máximo um leve sorriso.

- Hugo, você não... – tentei falar, mas as palavras não vieram, e ele me interrompeu.

- Não se preocupe, Ro. Eu sei que nunca vou ter com ele a ligação que vocês dois tem. É a realidade, eu já aceitei isso. Agora deixa para lá, vá curtir o seu momento que eu vou só... Comer alguma coisa, eu acho. – falou dando de ombros, e logo ele se foi lentamente.

Deixei-o ir, afinal agora eu não podia fazer nada quanto a isso. Olhei para trás ao ouvir um pigarreio, e dei de cara com o Scorpius com as mãos no bolso, com um olhar preocupado, porém incentivador.

- Você... Quer dar uma volta? – falou, estendendo uma das mãos para mim. Olhei-a atentamente, pensando se deveria ou até mesmo conseguiria.

Logo encaixei minha mão na sua, deixando-o me guiar.