Narração por Scorpius Malfoy

O dia anterior havia permanecido monótono depois, é claro, de meu beijo com a Rose. Eu havia pensado nela durante o dia inteiro, tanto nas aulas quanto nos treinos e na hora de dormir, só não a havia visto novamente após o incidente.

Ela havia entrado em minha mente de uma forma inexplicável. Eu pensava o quanto ela era original, o quanto ela era divertida, meiga, perfeita, e o quanto eu a queria. Era difícil pelo que eu sei achar alguém assim que tivesse tanto em comum com você e que ao mesmo tempo te superasse. Ela era assim, forte, guerreira, e principalmente confiante.

Fico imaginando como seria hoje se ela jogasse no time comigo, ao meu lado, nos levando à vitória. Ela, que tanto havia sonhado com esse dia, havia aberto mão de toda sua batalha por seu irmão, que nem sequer retribuía esse favor, e nem agradecia. Ele não merecia.

Eu estava me preparando para o grande jogo enquanto o resto dos jogadores chegava para se arrumar também, e logo avisto Luke vindo me cumprimentar.

- E aí, Zabine? – falei com ele, mas fui revidado com uma revirada de olhos.

- Não venha falar comigo “e aí, Zabine” como se estivesse tudo bem. – ele falou, virando as costas para mim e indo se vestir o seu uniforme. Fui atrás dele, confuso.

- O que houve? – perguntei.

- O que houve? Aquilo houve. – apontou para Hugo, do outro lado do cômodo vestindo as caneleiras. – Quer dizer que depois de tudo o que você viu a Weasley fazer é o guri que vai entrar para o time? Que vai jogar contra os nossos rivais? – ele bufou, sem nem olhar para mim.

Ele estava certo. Parecia burrice de minha parte levando em conta que o Hugo não é mais que um amador, mas a Rose quer assim, e é assim que vai ser. Por ela, claro.

- Você não entende. Eu não tenho escolha... A Rose está dando essa oportunidade para o irmão e eu tinha que deixa-la fazer isso... Olha cara, ela é especial, e diferente, e depois daquele beijo eu só tenho mais certeza disso. – falei, procurando pelas palavras certas.

- Espera um pouco, o que você disse? Você a beijou? – perguntou, arqueando a sobrancelha com um leve sorrisinho.

- Nós nos beijamos. – o corrigi. – Cara, eu não sei nem o que falar... Até eu ainda estou confuso com isso. – falei, passando a mão pelo cabelo e desviando o olhar.

Assim que o olhei para o lado minha visão parou em um canto mais afastado, ao lado da porta. Lá estava ela, a ruiva que é o motivo da minha confusão toda. Rose havia parado na porta e olhava para mim fixamente. Muitas pessoas havia reparado o contato visual que mantínhamos, e eu não ligava, no entanto ela parecia ligar, pois rapidamente virou-se para o lado e foi falar com o irmão caçula.

Talvez um pouco envergonhado voltei-me para o lado, olhando para Luke que me encarava com a sobrancelha novamente arqueada.

- O que foi? – perguntei, fazendo-me de desentendido.

- Você está afim dela. – afirmou, sorrindo. Eu pensei em negar e dizer que era coisa de sua cabeça, mas eu estaria mentindo, e eu não queria mentir sobre aquilo. – Ah cara, parabéns viu! Eu estou realmente orgulhoso. Não sabia que você era capaz de gostar de só uma garota por vez. – ele riu, mas eu sabia que não estava gozando de mim, e sim me parabenizando de verdade, do jeito dele. – Vai falar com ela.

Eu parei e a encarei mais um instante. Ela conversava com o Hugo como se estivesse dando conselhos e ensinando macetes para ele, e eu percebi que o Luke estava certo. Eu tinha que falar com ela porque senão eu iria reprimir o que eu estou sentindo, e não seria justo comigo.

Eu então fui até ela. Quando já estava bem próximo dela ouço o apito que nos chamava para entrar em campo. Isso teria que esperar. Logo, como capitão do time, eu chamei a todos para começarmos a partida.

Assim que entrei no campo eu vi a plateia totalmente lotada. Eu não enxergava nenhum espaço vazio na arquibancada e todos vibravam. Um sorriso se alargou em meus lábios e eu me pus em posição para o jogo começar.

Agora era o momento em que eu tinha que esquecer todos os problemas e complicações e só pensar em quadribol. Somente isso.

Narração por Hugo Weasley

Assim que entrei no campo e olhei para a arquibancada – onde várias pessoas gritavam e vibravam – eu senti-me vaiado. Eu era uma fraude, um perdedor e filhinho de papai. Como eu pude deixar que a Rose fizesse isso por mim? Ela desistiu de tudo para eu ficar feliz.

No começo era bom saber que agora a Rose via que eu também existia, mas agora... Eu vejo que estive errado. A Rose deveria jogar no time, ela é a melhor da família e deveria ganhar o jogo por Hogwarts.

Foi bom quando todos em minha família me parabenizavam por minha falsa vitória, mas era falso. Tudo era apenas uma ilusão, porque eu não só me enganava como também enganava aos outros, sem contar que assim eu magoava a Rose.

Scorpius pousou sua mão em meu ombro tentando passar confiança, e logo todos os jogadores do time se juntaram em nossa volta enquanto ele repassava para todos as táticas e planos para a partida.

Eu olhei para trás, vendo então a minha irmã sentada em um banco ao lado dos reservas. Ela estava sorrindo para mim, mas eu conhecia esse seu sorriso. Era fingido. Eu sabia que por trás daquilo havia uma menina triste e que só estava ali forçadamente. Eu não queria vê-la daquela forma.  Doía.

O relógio dizia que faltavam menos de um minuto para o jogo começar. Eu não aguentava aquilo, e quando vi que o jogo iria começar e eu não ia poder fazer nada eu corri até ela. Rapidamente eu retirei o uniforme do time e entreguei para ela.

- O que é isso Hugo? Vai logo, faltam trinta segundos para o jogo começar! – ela falou, jogando a camisa de volta para mim.

- Vai logo Rose! Você merece mais do que eu jogar nessa partida, e o time precisa de você. – forcei um sorriso e observei os olhos dela brilharem. – Só tem espaço para um Weasley no gol por vez. É a sua vez.

Várias pessoas nos encaravam e eu a vi escancarar um sorriso. Bem rapidamente ela vestiu a camisa e foi em direção ao campo em passos acelerados. Porém ela parou e deu meia volta, e quando reparei já estávamos abraçados.

- Vai logo! – falei quando ouvi a contagem regressiva para o início da partida.

Ela correu até lá e logo a sua vassoura apareceu ao seu lado. Com uma agilidade impressionante ela pulou na vassoura, montando-a, e logo voou até os aros. Com um sorriso malicioso no rosto eu a vi tocar os aros, preparando-se para jogar com o time masculino de quadribol, como sempre sonhara.

3...2...1... E o apito soou bem alto, anunciando o começo da partida.