Um Dia Qualquer. escrita por Hikari


Capítulo 22
Especial (atrasado) de Natal e Ano Novo.


Notas iniciais do capítulo

Oi, gente! Eu voltei! Sentiram falta de mim? Ou sentiram falta da fanfic? Ou nenhum dos dois? Hahahahaha Desculpa a demora, eu viajei como havia dito e depois ficou corrido para postar.
Poréeeem, quando eu cheguei aqui eu tive uma bela surpresa. EU GANHEI UMA RECOMENDAÇÃO, fiquei totalmente perplexa e ficava gritando dando pulos de alegria, fiz uma dancinha besta e isso REALMENTE FEZ TODO MEU ANO DE 2013! Um presente enorme!
Eu quero AGRADECER imensamente a Jamile! Muito obrigada, batatinha! Eu estou profundamente grata a você! Eu AMEI sua recomendação! Você é uma leitora adorável, obrigada por ter me acompanhado por tanto tempo! Eu realmente adorei, sério, muito mesmo, obrigada obrigada obrigada obrigada obrigada! *-*
Obrigada a todos que esperaram, também! Feliz Ano Novo! Espero que gostem do especial final de ano atrasado!
Ps: Eu não revisei totalmente esse capítulo, desculpe.



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Feliz Natal (atrasado)! O papai Noel trouxe bastantes presentes? Hahaha eu ganhei um aqui, uma linda recomendação da Jamile, e estou muito grata, muito obrigada mais uma vez! O meu está bem aqui para vocês. Espero que se divirtam apesar do Natal já ter passado. - Reyna.

Primeiros passos.

Annie – Três anos.

Fynn – Um ano e dois meses.


Câm. Portátil; sala.


–Vamos, Fynn. Vem aqui!

Katniss estava agachada diante do filho, olhando com os olhos brilhando, ansiosa, para vê-lo dar seus primeiros passos com os seus pezinhos gorduchos de pequeno.

Peeta ri e faz a câmera - na qual gravava o momento marcante – balançar.

–Vem, garotão! Não tenha medo, vamos te segurar se você cair.

–Isso mesmo, Fynnzinho, eu te seguro! –Annie engatinhava perto dele, com o traseiro arrebitado olhando para o irmão, a menina estava com a cabeça apoiada no chão e com o corpo todo torto enquanto observava Fynn a encarar e falar “neninhabá” apontando para ela fazendo com que a garota interpretasse como um “não acredito em você”.

–Você tem que ter mais confiança na sua própria irmã! –a garota se levanta de um pulo e estica as costas, mostrando a língua para o menino que dá uma risada como se estivesse se divertindo.

–Olha aqui o que a mamãe achou! –Katniss pega o ursinho acinzentado que ele havia ganhado no aniversário, aquele cujo ele ficava grudado e não parava de arrastar pela casa até deixa-lo tão encardido que tinha que ficar de molho na máquina de lavar.

–Mainháte! –o garoto exclama deixando a boca escancarada e olhando com os olhos enormes o brinquedo que tanto venera, Peeta dá zoom no rosto delicado do filho e sorri orgulhoso.

–É! É seu Cherrylu, sentiu a falta dele? –a mãe sacode o bichinho a sua frente, fazendo-o soltar um sininho doce e estridente que faz Fynn rir mais uma vez.

Cherrylu era o nome dele, do ursinho de pelúcia cinzento em que ficara uma semana na água repleto de sabão com cheiro de orquídeas. Chamava-se assim por ser a primeira palavra que Fynn pronunciou ao vê-lo, claro, logo depois da alta gargalhada e do abraço apertado que dera nele.

Vagarosamente ele começa a sair do seu estado inerte de ficar sentado igual uma estátua com expressão de uma esfinge de pedra, as esperanças crescem dentro da sala com a vaga impressão de que ele se levantaria, mas antes que pudesse completar totalmente o processo ele apoia as mãos no chão e engatinha perto da mãe, alegremente.

Katniss solta um longo suspiro quando o filho chega e agarra seu amado, precioso e inestimável brinquedo.

–É... estou vendo que não vai ser hoje... –ela murmura para si mesma, cabisbaixa. Estavam tentando fazê-lo andar fazia mais de uma semana, e ele sempre parava no meio de seu progresso constante. Cada dia tentavam um pouco mais, porém parecia que o filho não queria cooperar. Era como se estivesse divertindo-se a custa da frustração dos pais.

Logo sua tristeza é substituída por alegria quando o pequeno filho, com a mão livre, puxa sua longa trança negra que cai sobre os ombros, tentando chamar atenção. Katniss sorri e pensa novamente no que estava a incomodando.

Afinal, para que o forçar a fazer algo que nitidamente não estava preparado? Cada um tem seu tempo, assim como ela teve o próprio ao aceitar tê-los em sua vida. O que foi a melhor escolha que ela já havia feito.

A imagem mexe-se rapidamente, como se estivessem em uma viajem de avião conturbada. Então volta ao normal. Peeta que estava ajoelhado havia se levantado.

–Bom, vamos esperar para mais um dia, não é? –ele falou com o tom contente, não perdendo a alegria em nenhum momento.

–Sim, Fynn está pleguiçoso hoje... de novo. –Annie resmunga baixinho, levantando-se arduamente para ir até o outro canto da sala, onde seu desenho semi-terminado estava delicadamente pousado no chão, com vários utensílios de colorir espalhados ao redor de sua criação não identificada em que ela teimava em dizer que eram eles: Annie, Katniss, Fynn, Peeta e Haymitch. No entanto, mesmo assim, sua mãe tinha sérias dúvidas sobre o que aquilo poderia ser realmente – pessoas, pelo menos, era uma certeza de que ela tinha no qual não era.

Porém, era impossível discutir com crianças. Principalmente se a criança em questão era Annie Mellark, a sua filha na qual era tão teimosa quanto ela própria. Sabia que nunca iria conseguir vencer um debate se ela estivesse liderando a ordem.

Peeta, atrás das câmeras impedindo a sua visão nas telas, riu e passou a mão nos cabelos da pequena, bagunçando-os como costumava gostava de fazer para irrita-la, seguindo-a com a lente da câmera à medida que ela ia para o próprio recanto em que ela própria dominara.

Um longo suspiro foi escutado depois de um período de silêncio em que todos faziam suas determinadas tarefas normalmente. Katniss continuava a brincar com Fynn em seu brinquedinho, tentando fazê-lo andar vez ou outra, mas sempre sem resultado. Annie estava concentrada em seus lápis de cor que não reparou quando um Haymitch cambaleante passou quase derrubando uma rosquinha pela metade que estava em uma das mãos. E Peeta? Estava apenas gravando o dia com narrações constantes, porém desnecessárias.

Haymitch havia desmoronado no sofá, voltando a criar raízes no estofado desgastado pelo uso direto que era imposto. Todo santo dia era o mesmo lugar para sentar-se.

Annie, no seu canto, levantou o olhar para o homem decadente, ele estava tão interessado pela rosquinha que mal percebeu os olhares que mandavam a ele.

–O que vocês estão me olhando? –o homem reclamou rudemente após perceber todas as pessoas viradas em sua direção, especialmente o menino loiro cuja atenção havia se desviado totalmente da mãe e do urso de pelúcia. Estava com os olhos cravados no bendito ser, com a boca aberta de expectativa e uma onda enorme de apreciação.

–O que você quer, huh? –torna a dizer quando ninguém tem a boa vontade de responder a ele, haviam-no esquecido assim como esquecem onde colocam a chave de casa no dia seguinte.

Responder o quê afinal? Todos tinham ficado paralisados. Bom... a não ser Annie que havia voltado ao desenho indiferente, resolvendo que iria desenhar agora uma certa pessoa com a inicial do nome H em uma forca. Com jacarés embaixo. E uma flecha atravessada na cabeça.

Mas a pergunta não havia sido direcionada para ninguém mais ninguém menos que a criança dispersa que o estava encarando incansavelmente. Praticamente babando na camiseta azul-bebê que usava.

Haymitch continuou comendo sua rosquinha tentando ignorar o olhar do menino. Katniss tinha saído para ir buscar os cartões de Natal que havia combinado com Peeta que iria fazer para os amigos de longe que não podiam visitar e Peeta havia deixado a câmera ligada em cima da mesa enquanto fora ajudar a esposa a pegar os endereços e os envelopes.

Depois de um desconfortável silêncio, Haymitch inclinou-se no sofá na direção de Fynn, parou de mastigar por um tempo, olhou para cima e franziu a testa como se a palavra houvesse lhe escapado da cabeça ou como se estivesse se concentrando para mover algum objeto com a telecinesia inexistente.

–Olha aqui... –começa voltando o olhar para o menino, apontando com a rosca mordida para o garoto no qual acompanhou seus movimentos hipnotizado. –Você pode até ser essa criatura ‘fofa’ –ele rola os olhos -que engana a todos, mas a mim você não engana. –diz dando ênfase em “mim”.

O menino nada disse. Continuou olhando-o com a boca escancarada, igualzinho quando ele fica ao ver o bolo caramelizado que o pai faz em dias especiais.

–Titio Haymi! Óia aqui! –Annie, com um sorriso travesso, berra no momento em que solta o lápis de cor no chão, pulando e mostrando o desenho para a criatura estirada no sofá com migalhas de rosca em todo o rosto. –É você. –acrescenta colocando a cabecinha para o lado a fim de que o ‘tio’ visse seu sorriso amarelo que estava escondido pela folha de papel.

Haymitch encara o desenho, sem expressão nenhuma. Não podia desvendar se ele estava surpreso, admirado ou nervoso. Os rabiscos de Annie eram algo... complexo.

Na folha, havia algo que deveria ser uma pessoa. Uma pessoa que – ao invés de braços – pareciam ter asas. E ao lugar de pernas pareciam ser apenas duas batatas achatadas. O rosto era uma mistura de riscos e dois X na parte dos olhos. Estava preso em uma corda pendurada no ar, deixando a clara mensagem de ele havia sido enforcado. Aos pés da criaturinha peculiar havia um mar de azul com jacarés deformados de bocas abertas esperando para o jantar acima. E para finalizar, a sua cabeça estava perpassada por uma flecha.

Em uma plataforma no canto esquerdo, algo que parecia uma menina com asas – ou serão mãos? -estava sorrindo, olhos redondos e um ‘arco’ na asa – ou mão, enfim, ninguém sabe.

Adorável.

–Você gostou? –disse inocente a garotinha, como se estivesse mostrando a ele apenas uma figura de um hamster.

Haymitch ficou um tempo sem abrir a boca, apenas se fosse para engolir alguma outra rosquinha. Pensativo, isso sim, era como estava. Tentando entender o que a garota queria dizer a ele por trás daquilo.

Enquanto estavam absortos no desenho, não notaram o garotinho que vagarosamente se sustentara nos pezinhos pequeninos, dera uma risada delicada e agradável e com as mãozinhas balançando fora andando pé ante pé rumo onde Haymitch estava sentado.

–Bom. –finalmente diz, dando um meio sorriso lunático que surpreende Annie. –Você tem uma mente fértil, sweetheart. –E aperta suas bochechas, docilmente, deixando-a completamente estupefata. E assustada. Geralmente ele levantaria e sairia da sala pisando duro e resmungando, baixinho, frases como questionando de o porquê as crianças o odiavam. Ou para ser mais específico, Annie.

Mas não a deixa tão estupefata assim quanto o que acaba de ver assim que vira a cabeça.

–Fynn! Você tá andando! –ela grita alto o bastante para que Katniss e Peeta ouvissem e disparassem para a sala onde todos estavam reunidos.

O loiro júnior estava sorrindo com alegria, sentindo-se como um dinossauro em meio de vários prédios enormes. Os pais haviam chegado e gritavam empolgados, dando pulinhos de animação e dizendo palavras de incentivo. A mãe correu para perto do filho e o pai saiu correndo a pegar a câmera e filmar a cena de mais perto.

Fynn parou a poucas distâncias do sofá, onde abraçou enquanto caia levemente – mas não totalmente, já como o sofá era de sua altura, basicamente.

Ele olhava para Haymitch como se ele fosse uma estrela. O homem estava de olhos arregalados, com a rosquinha frouxa na mão e boquiaberto.

O momento estava passando lentamente para todos enquanto observavam a cena.

–Hami! –fala Fynn com a voz de bebê, soltando palavras soltas ainda sem capacidade de formular uma frase inteira direito. Haymitch arqueia as sobrancelhas, esperando. –Redondo! Dá, dá! –aponta para a rosca na mão do ‘Hami’ e ele finalmente compreende.

–Você quer? –ele pergunta lentamente.

A criança balança a cabeça, acompanhando a rosquinha nos movimentos lentos e compassados que Haymitch faz acima da cabeça do garoto.

–Quélo, quélo. Dá, Hami! Dá, Hami! Redondo, Fynn! –insistiu impaciente o menino, ficando enfezado de querer obter o alimento em suas mãos.

Haymitch ri divertido e abaixa a rosquinha até a altura que Fynn consiga alcança-la. Ele segura o alimento com veemência e dá uma longa e vivaz mordida babada.

O homem abre um sorriso diminuto, tentando esconder sua alegria por, pelo menos, uma criança ter ido ao seu encontro de boa vontade (tinha a rosquinha, é claro, mas ele gostava de ignorar esse minúsculo detalhe). Estava emocionado, era verdade.

O garoto, ao terminar sua refeição, é abraçado pela irmãzinha que estava gargalhando de entusiasmo.

–Fynnzinho! Sabia que iria andar! –ela dizia trocando algumas letras.

Os pais foram ao seu encontro, a mãe dando beijos melados de parabenizado nas bochechas gorduchas dele, o pai havia aproximado o rosto da criança da câmera deixando-se exibir seu rostinho de perto, principalmente os olhinhos polvilhados de brilhantes pontos radiantes de extremo prazer.

Haymitch refletia se deveria interferir para que pudesse dar suas próprias palavras de congratulação, decidiu não fazê-lo e ao invés disso, ficou observando a família envolta do garotão que estava dando altas gargalhadas.

Assim que ele pôde ter espaço o suficiente para respirar em meio a sufocação que passava pelos apertos e abraços da família, o pequeno virou-se e encarou Haymitch, repleto de perspectiva enviado na mensagem silenciosa que era transmitida entre os dois.

–Acabou. –Haymitch diz mostrando as mãos vazias com um leve traço de riso.

Fynn balança a cabeça como se protestasse. Segurando-se no sofá resmunga choroso que quer sentar-se, Katniss levanta-o e o arruma no encosto, porém ele não para quieto, sendo assim ela desiste e resolve ver o que ele espera fazer.

A pequena criança engatinha até o colo de Haymitch, onde abre os bracinhos e dobra os dedinhos insistentes. Haymitch arregala os olhos e faz uma careta para que o menino ria - o que deu certo com sucesso. Fynn aperta o nariz de Haymitch que finge espirrar, fazendo o menino recuar assustado.

–Hami, atchim? –ele pergunta curioso, inclinando a cabeça para o lado de forma que só ele sabe fazer.

Todos na sala riram, principalmente aquele que era a quem era direcionado a pergunta.

–Sim. –ele fala em meio a risadas. –Atchim!

–Atchim! –Fynn imita, chacoalhando a cabeça e dando um sorrisão mostrando os dentes de leite.

Antes que percebesse, Haymitch recebe um abraço do menino, que se curva para apoiar o corpinho leve na barriga natural dele. Annie sorri, achando a cena engraçada. Katniss coloca a mão em frente a boca sem acreditar no que via e Peeta estava com a sobrancelha arqueada e quase faz a câmera cair.

–Hami bonzinho! Vovô bom! –Fynn diz levantando a cabecinha para olhar para quem ele chamava de ‘vovô’. Haymitch solta uma risada longa e despenteia os cabelinhos loiros do garoto pensando se estaria tão velho assim.

No canto do olho, pode-se notar a formação de uma lágrima. Discreta e sincera ele a deixa escorregar pelo rosto cansado, Fynn estende o dedo e transfere a pequena gota salgada para sua mão.

–Por que vovô chola? –ele pergunta genuinamente, Katniss aparece por trás e acaricia as costas do filho, olhando para Haymitch agradecida.

–O ‘vovô’ –abafa uma risada. –Só está meio que... emotivo, não é, vovô?

Haymitch mandou um olhar cortante para Katniss para que deixe evidente sobre sua opinião do ‘vovô’. Ela ri ignorando.

–Vovô... emotivo? –ele coloca o dedo na boca, pensativo. Depois solta uma risada sem nenhum motivo aparente.

–Hmmmm, vovô?? –Annie repete, sufocando a histérica risada que estava querendo sair.

–‘Vovô Haymitch’. –Peeta fala ao lado. –Acho que isso combina...

Haymitch fica de cara amarrada, estava com um leve rubor nas bochechas, algo que não poderia ser ignorado pela gravação de Peeta.

Então decidiu sair do poço sem fundo de constrangimento. Arrumou Fynn em seu colo e se levantou.

–Se me derem licença. O vovô aqui vai passear com o filhote. –disse em um tom teatral, saindo da sala levando um Fynn contente com ele, ficando cada vez mais distante e menor na imagem gravada da câmera. Incrivelmente não escutou as risadas na qual pensava que iria ouvir, que esperava amargamente para que fossem chegas a seus ouvidos. Afinal, não podia mentir que não gostava de ser chamado de vovô, ele tinha uma impressão que fazia parte da família; e gostava disso.

Quando foi olhar para trás, descobrir o porquê de não estarem fazendo o que deveriam estar fazendo, foi surpreendido pelas suas feições, aquelas expressões que tinham estampadas no rosto o deixavam incrédulo, em um sentido bom.

Não eram debochadoras como imaginava ser. Eram, na realidade, sorrisos puros de que o fez sentir que estava realmente na história daquela valiosa família, de que fazia parte, de algum jeito, de sua vida.

Um sentimento quente invadiu seu coração, envolvendo tudo o que tinha nele. Sentiu um dedo cutucar sua bochecha e virou o rosto para conseguir enxergar o garotinho que chamava sua atenção.

–Vovô, por que eles não vêm com a gente? Não somos completos sem o resto de nossas peças. –ele falou se esforçando para manter-se concentrado, com o rosto compenetrado e reflexivo. Haymitch pensou o quanto parecia uma mistura de Peeta desenhando borboletas em um bolo confeitado e em uma Katniss ao fazer sua mira para atirar em uma raça alienígena no jogo de videogame “Halo” que jogava com sua filha em seus tempos livres. –Sei disso porque até hoje não achei o olho do meu peixinho... e ele parece infeliz por isso. –concluiu com uma voz tristonha.

Haymitch suspirou. Levou um tempo até reconhecer que não estava mais sozinho, e que não precisava ficar parado no sofá o tempo todo.

Dando meia-volta e indo em direção aos membros que o aguardavam ele falou baixinho:

–Querem nos acompanhar?

Depois de um tempo em silêncio, Annie riu, soltou seu desenho do Haymitch enforcado e abraçou sua perna.

–Você é o melhor vô de todos! –falou empolgada. Talvez fosse para irrita-lo, ou talvez só para anima-lo, ou até mesmo fosse para conseguir alguma coisa, mas não importava. Para Haymitch aquelas palavras foram o que ele guardou pelo resto do dia. E do ano também.

Katniss e Peeta se entreolharam e sorriram para o velho amigo.

–Vamos, “vôzinho”! Tem um parque novo que foi aberto aqui perto! –Peeta bate em suas costas fazendo-o resmungar. Lembra-se que nem tudo havia mudado, afinal.

–Se não quiser acordar sem a outra perna, sweetheart, é melhor tomar cuidado com as palavras.

Dizendo isso, saiu com as duas crianças acocoradas uma em seu colo e a outra grudada na perna, fazendo-o mancar, enquanto ele praguejava sobre quão pesadas elas podiam ser quando queriam.

A imagem da câmera torna-se escura ao ser desligada por Peeta a meio passo de Fynn babar no ombro de Haymitch e ele começar a queixar-se de como havia feito uma péssima escolha, ajeitar o garoto no colo e dizer que aquilo era algo que não se devia fazer, dando uma lição de moral e só confirmando mais fortemente o jeito familiar com que ele tratava os dois.

Mas assim que terminou, voltou a queixar para si mesmo sobre a sua vida e pegou um vidrinho do bolso da calça, tomando-o vorazmente, arrastando o pé esquerdo que Annie tinha se agarrado.

–Ele sempre vai ser o mesmo Haymitch, não é? –o marido diz a sua mulher, entrelaçando seus dedos e seguindo-os com um sorriso novo em seus lábios.

–Disso é o que eu não tenho dúvidas. –respondeu a morena, rindo ao ver a situação que o amigo se encontrava.


Experiências Natalinas com a família Mellark.


~ Dingo Bel, Dingo bel... ~

Sinal Natalino.


Annie – cinco anos.

Fynn – três anos.


CÂM. SALA.

–Mãaaaaaaaaae, um novelo de lã! –o pequeno garoto loiro com olhos cinzentos exclama, como se houvesse feito uma nova descoberta, a voz cheia de fascínio. –Um novelo de lã, de lã!

Enquanto Katniss se divertia ao observar seu menino passando o mais novo brinquedo pelas mãos com os olhos brilhando resplandecentes e Peeta com a criança no colo brincando com os cabelos claros de Fynn, nenhum percebe a menina, na qual se levanta depois de ter ficado encarando o irmão com a cabeça inclinada, como se ele fosse um objeto novo a ser estudado.

A garota olha para algo que está oculto da tela corre em direção a ele, sorrindo travessamente.

Mas em seu rumo, ela esbarra em um ursinho de pelúcia –Cherrylu - jogado no meio do caminho, tropeçando a meio metro do destino. Como se fosse em câmera lenta cabeças são viradas, vozes são pronunciadas tentando impedir a queda iminente - como se falar sem agir fosse resolver algo - na esperança de que as palavras fossem mágicas o bastante para se realizarem ao serem mencionadas. Annie cambaleia, desequilibrando-se. Tenta segurar-se em qualquer alvo a sua vista, porém não há nada em que possa ser deliberadamente agarrado com suas mãozinhas que se flexionavam e balançavam desesperadamente a fim de conseguir se equilibrar. A meia distância de se espatifar-se no chão, a garota pega uma bolinha branca felpuda escondida debaixo do pano da mesa, puxando assim o que está ligado a ela. Ela estava tão perto do “espião” que grava seus movimentos que tudo o que é possível enxergar são os pezinhos desajeitados envoltos do tecido macio da pantufa de coelho rosa.

E então acaba completamente com as tentativas de se manter de pé.

–Annie, não... filha! –a câmera chacoalha-se deixando apenas vários borrões tremeluzirem na tela, um estrondo e a imagem fica negra. Nada pode ser visto. Apenas um ruído picotado de quando o vídeo é parado abruptamente, com fagulhas cortando a tela.

A tela mantem-se assim por um tempo, apenas com o estrídulo som pairando no ar.

De repente, ela volta.

Tudo o que se permite visualizar são os cabelos loiros e um rosto ansioso examinando as lentes que capturam as cenas que se desenrolam na casa Mellark uma semana antes do Ano Novo, bem na época natalina.

–Parece que está tudo bem. –a voz grave, dono do rosto preocupado, diz ao posicionar ao local desejado a máquina e se mover para o lado deixando livre para revelar o que se passa atrás dele.

A garota está em frente a mãe com um olhar piedoso, fazendo biquinho e tentando se livrar das broncas dizendo diversas desculpas, sua mão está fechada em torno de algo em que ela escondia, amassando entre os dedos pequeninos, deixando do mesmo jeito mostrar que era um tecido vermelho parecendo ter colado em suas bordas algodões macios brancos.

–...eu não fiz nada... –dizia ela, fungando. –eu só queria... –parou no meio da frase, seu rosto estava direcionado para baixo, os ombros caídos e os pés estavam inquietos, deslocando-se para mudar o peso do corpo dezenas de vezes.

–Você quase nos matou de susto, Annie. –a mãe replicou, cobrindo as mãos da menina.

–Eu sei... –respondeu chorosa desviando o olhar para ver Fynn que batia palmas como se estivesse alegre ao ver o que ocorria a sua frente.

Peeta decidiu sair de onde estava e foi até Annie, parando ao lado de Katniss.

–Shhh, está bem. –ele fala com mansidão, afagando a cabeça da filha, Katniss retrai a mão olhando o episódio com um sorriso emoldurado no rosto cansado.

Peeta chega mais perto e a dá um abraço na garota que retribui o afeto, a mãe que estava atrás consegue ver o que ela está segurando, já como o mesmo perdura da mão da garota.

–Ei, filhota, o que você está segurando? –ela diz soltando uma risada, pegando Fynn que engatinhava para perto da agitação.

Annie lembra-se do que havia pegado, afasta-se do pai e com um sorriso amarelo mostrando o dente incisivo da frente - em que estava mole quase a cair - coloca o gorro de Papai Noel na cabeça de um pai surpreso.

–Papai engraçado! –o pequeno Fynn declara dando uma alta gargalhada que faz todos sorrirem e rirem com ele. –Palhaço! Palhaço!

O menino se estica no colo da mãe e aperta o nariz do loiro que acompanha o dedinho do filho, fingindo dar uma mordida no dedo que se recolhe rápido.

–Ai. –o menino sacode a mãozinha, fazendo uma careta franzindo o nariz. Vira-se para a mãe sorridente e aponta para o pai acusadoramente, como se estivesse denunciando um crime. –Ele me mordeu.

A mãe ri despreocupada; o que deixa o garoto mais irritado. Ele cruza os braços e faz cara de bravo, faz uma tentativa de pedir ajuda a irmã, mas até ela está rindo de sua cara, por isso ele deduz por si só de que está sozinho naquela onda de acontecimentos no qual ele não entendia o motivo da graça.

–Vocês estão rindo de mim. –fala tropeçando nas palavras. –Pála, pai. –ele ordena dengoso.

–Eu não estou. –Peeta acalma-o diminuindo lentamente a risada, porém ele apenas ignora-o teimoso. –Ei, eu não estou rindo mesmo, garotão.

O menino continua emburrado, inclina-se no colo da mãe até chegar perto de seu ouvido onde sussurra para que ela possa coloca-lo no chão. Katniss faz o que ele pede.

Assim que consegue sentir o chão tocar seus pés, ele sai para longe da família que observa o garoto chegar perto da árvore de Natal e cair sentado, olhando para uma bolinha, parecendo solitário.

Annie balança a cabeça como se o estivesse repreendendo. Katniss e Peeta trocam um olhar cheio de significado.

–Venha, Annie. –a mãe segura sua mão, conduzindo-a até onde o irmão estava sentado.

–Eu não vou perdoar vocês. –o menino fala decidido, com a língua enrolando na palavra “perdoar”.

–É claro que não. –o pai diz como se ele tivesse a absoluta razão, Fynn fica tão espantado que vira a cabeça para olhar o pai, com desconfiança.

–Huh, não? –repete incrédulo pelo pai ter concordado.

–Não. –Peeta sorri tranquilamente, Annie franze a testa entendendo tanto quanto uma pedra poderia entender o porquê de ser colocada em um moedor de trigo.

–Bom... Ótimo. –o menino fica satisfeito com a vitória e dá as costas ao pai novamente. Peeta arqueia as sobrancelhas tentando entender seu filho.

–Hm, sim. –o pai ajoelha-se. –Eu acho. –completa, depois de um tempo.

Ele faz um gesto para Katniss se aproximar, é o que ela faz com Annie grudada aos seus pés.

–Pelo menos... se me culpa tanto assim por eu o ter... ér, mordido. –ele faz uma pausa tanto para que Fynn compreenda quanto para poder ele mesmo entender direito. –Então, por que eu não posso fazer com que essa culpa seja realmente verdadeira?

Antes que ele possa aceitar a proposta, Peeta e Katniss encurralam-no dos dois lados, Fynn – sem alternativa – se vê sem saída. A irmã, por trás, abre um largo sorriso e de um pulo o pega no colo aplicando certo esforço nos braços para não o deixar cair. Peeta, animado, a ajuda a carrega-lo até a poltrona onde antes que faça algo Fynn desperta e consegue se desvencilhar dos braços da irmã que o prendiam ali, passa por debaixo das pernas do pai e é pego pela mãe no final de sua fuga.

–Não, não! Eu entendi! –ele balbucia exasperado, até parecia que fosse ir tirar sangue ou tomar uma injeção. Uma coisa que Fynn odiava tanto e que poderia extinguir do mundo para nunca mais existir – segundo ele – eram agulhas.

–Por que tanto desespero, filhote? –Katniss pergunta, segurando o riso que estava insistente em sair, porém ela sabia que se caso ele escapasse Fynn teria mais um argumento para não perdoa-los por o que quer que seja que o esteja incomodando.

O garoto hesita, olhando para os pés, Annie sai da poltrona e se põe delicadamente ao lado do pai que observa o filho atentamente, descobrindo o que o fizera sair dali.

–É... nada. –fala com certa dificuldade. Resmunga alguma coisa baixinho que Annie não tinha dúvidas de que seria apenas uma das palavras inexistente entre as quais ele inventava ora ou outra. –Desculpa por ter sido mau com vocês.

Katniss fica estupefata, enrugou a testa e ficou encarando o filho sem acreditar no que ouvia.

–Mau? Por que você foi mau? –o loiro perguntou curioso.

–Porque... porque eu bliguei com vocês. –explicou com a voz fraca trocando o ‘r’ com ‘l’ como costumava fazer ao ficar nervoso ou ansioso com algo.

–Mas querido, você não foi mau com ninguém. –Katniss tentou amenizar a situação, os lábios de Fynn começaram a tremer.

Peeta apareceu na sua visão e ele começou a chorar. O pai preocupou-se ainda mais.

–Fynn, Fynn! –ele disse inclinando a cabeça para frente fazendo com que o gorro de Papai Noel que Annie havia posto em sua cabeça seguisse o movimento. –Calma aí, garotão.

Depois de um minuto pensando ele apelou para:

–O que o Noel poderá pensar se o ver chorar desse jeito?

–Eu não quero ficar sem presentes! –ele explodiu correndo para o pai e o abraçando fortemente.

Annie começou a gargalhar descobrindo o quê Fynn houvera pensado.

–Você temeu que você ficaria sem seu canguru? –a irmã, depois de se acalmar, provoca afavelmente, como todos os irmãos mais velhos fazem.

E, sim, um canguru.

O presente que Fynn queria tanto de Natal era um canguru. Ninguém ainda compreendia o jovem garoto, porém também tentavam não debater sobre o seu gosto peculiar. E nem questionar sobre o que faria com um canguru no meio de um distrito aonde certamente o pobre animal não viveria por muito tempo.

Mas ao contrário do que ela esperava Fynn não revidou. Nem respondeu.

Peeta levantou um leve sorriso, assim como Katniss. Traços que foram pegos pela câmera que recordava esses momentos.

Apesar de todos os aspectos superficiais, como presentes, árvores simbólicas e afins, eles sabiam para o que o Natal realmente importava; sobre o que iria ser uma das diversas coisas mais importantes naquele dia.

Era de todos estarem unidos, juntos em família. Todos presentes e trocando suas mensagens de alegria, com risos, brincadeiras e diversão.


 

Piada tonta do dia: Eu me chamo Reyna, e o papai Noel me prendeu no trenó por engano.

Entenderam? Reyna – Rena. –PAREI.

*todos fazem double facepalm*

Espírito Natalino.


Annie– cinco anos.

Fynn – três anos.

Câm. Cozinha.


Um papel é posto na frente de Katniss, que estava impaciente na mesa com os dedos tamborilando na madeira, sem conseguir parar de pensar na ceia de Natal que teria que arrumar para os cinco dali a dois dias.


Ainda mais com toda aquela correria de fim de ano e também do Fynn toda hora pulando em sua frente, interrompendo sua passagem para insistir seu pedido de querer que o ‘Papai Noel’ traga um canguru na noite de Natal. Sinceramente, Katniss não sabia como conseguiria um canguru dentro do Distrito 12. Onde poderia encontrar um canguru? Só se arranjasse algum tipo de bicho de pelúcia, coisa que tinha certeza que Fynn não precisava. Mas ele insistia que fosse um de verdade, o que complicava mais ainda a situação. É claro que ninguém autorizaria trazer um canguru no Distrito 12.

Haymitch senta-se a sua frente, respirando fundo por ter seu traseiro apoiado em algo novamente, ele empurra o papel para mais perto de Katniss que nota ser algum tipo de panfleto anunciando algo que não estava nem um pouco interessada em saber.

–O que é isso? –pergunta sem emoção apenas para que Haymitch possa falar o que quer já como está se remexendo na cadeira tentando atrair a atenção da mesma.

–Que bom que perguntou! –exclamou contente, ignorando o olhar que Katniss mandou de “não tenho tempo para gracinhas”. –Garanto que não vai se arrepender. –ignorou novamente outro olhar de Katniss de “eu não vou me arrepender porque não quero ao menos ouvir”. –Bom, sei que está bem agitada pelos preparativos do fim do ano e...

Katniss suspirou fundo, sabia que o que viria não seria algo decente. Quem estava falando, afinal de contas, era Haymitch. Ela torcia para que não seja uma daquelas sugestões como do ano passado típicas de bater a cabeça na mesa de tão absurdas quanto pareciam ser.

–Certo. Aonde você quer chegar com isso? –ela apressou-o, olhando-o nos olhos para que deixasse claro que não tinha disposição de ficar ouvindo-o o dia inteiro.

–Você e Peeta podem passar um tempo com Effie hoje e amanhã enquanto eu faço o resto esse ano. Ela tem planos para vocês, e podem já comprar os presentes das crianças no meio disso tudo. –ele diz resumindo.

Katniss ficou um tempo em silêncio e depois explodiu em risadas delirantes, digna para ser do coringa.

–Você?! –fala quando consegue tomar fôlego o suficiente. –Sério?! Deixar você arrumar tudo? E ainda mais com meus filhos? Sozinhos?

Haymitch não diz nada, apenas uni os dedos em cima da mesa e espera, sem se descontrolar. Ou tentando, pelo menos.

–Quer dizer, você acha mesmo que vou sair e deixar meus filhos aqui? Eu nunca vou passar esses últimos dias longe deles; ainda mais quando se está perto do dia em que devemos estar juntos, custe o que custar.

Haymitch balançou a cabeça, estalando a língua como se Katniss estivesse falando ‘abobrinhas’.

–Katniss... Katniss... –ele desliza a mão pela madeira e a coloca sobre as suas, nas quais não paravam de se mover. –Criança, eu vou cuidar delas. Sabe, depois que você e seu querido marido confiscaram minha bebida uma semana atrás eu não tive tanta coisa para fazer e, bem, percebi o quão cansado os dois estão. Por que não descansam para que possam aproveitar mais a noite com seus filhos? Pode ficar tranquila, estou totalmente sóbrio. –depois de um tempo pensando, continua: -E pare de ser tão dramática, é só dois dias. Ou um e meio se for considerar o tempo gasto aqui.

Ela resmunga alguma coisa incompreensível e quando estava abrindo a boca para retrucar e negar com todas as energias inexistentes pelo cansaço, alguém a interrompe.

–Na verdade, queremos fazer uma surpresa pra vocês. –o mini Peeta sai debaixo da mesa onde se escondia e sorri mostrando a janelinha dos dentes, com as mãos nas costas e olhando-a como se fosse um anjo. Só que sem asas, claro. E sem o sentido literal da palavra.

–Não era para falar, garoto. –Haymitch tampa a boca do loiro com a mão rapidamente para que ele não deixe escapar mais nada inconveniente.

–Ei, ei, ei. Haymitch? Será que você poderia fazer o favor de explicar? –Katniss o corta, tentando entender. Por acaso ele estava planejando mais alguma façanha de sua autoria? Porque se fosse, não seria algo que esperava ver.

–Não. –fala simplesmente, Fynn se contorce e consegue se soltar das mãos do outro.

–Eu posso! –levanta as mãos com animação, porém é jogado no chão pela irmã que sai correndo da sala para impedir que o plano fosse por água abaixo.

–Não, não pode, irmãozinho. –sussurra com um tom de ameaça pairando no ar, ela havia o empurrado para o chão e agora Fynn debatia-se tentando escapar na menina que o pressionava no piso da casa, não aplicando nenhuma força que o fosse machucar.

–Me larga! –fala alto, balançando as mãos desesperadamente.

–Não! –a outra revida, olhando-o firmemente. Curvando-se para chegar perto de seu ouvido, sussurra: -Não diga uma palavra ou você terá seu querido ursinho decapitado. Agora entre na cena, faça alguma coisa!

Fynn geme e começa a berrar, estava com lágrimas nos olhos. Havia recorrido a todo seu estoque teatral naquele momento, apesar de não querer o seu querido Cherrylu decapitado, também não queria desapontar a irmã mais velha.

–Opa, parou. Os dois! –Katniss entra no meio da briga, separando-os. –Acalmem-se! O que aconteceu? Vocês nunca brigaram!

Haymitch deu mais um longo e monótono suspiro, fingindo estar entediado. Annie abaixou a cabeça, envergonhada. Não queria brigar com o irmão, mas também não podia deixar que ele falasse todo o plano para a mãe sendo que tinham resolvido tudo um mês antes, e não iria perder praticamente na véspera da ocasião.

Ela limpa a garganta, levanta o queixo e diz valentemente:

–Nós estamos no estado de crescimento, pessoas mudam.

O senhor atrás da garota tosse para disfarçar a risada. Ouvir aquelas palavras vindo daquela menininha era hilário para ele. Katniss vira a cabeça e o censura com o olhar, ele se restringe a apenas levantar os braços, revoltado.

–Certo, querida. –Katniss fala mansamente, voltando-se para a sua filha. –Mas... Não precisa exagerar tanto...

–Mãe. –a garota diz no mesmo tom. –Não se preocupe. –começa a rir e dá um beijo em sua bochecha. –Me desculpa, não acontecerá novamente.

Annie sorri para Fynn mandando desculpas pelo olhar, pega a mãozinha do irmão e sai da cozinha deixando a mãe confusa para trás.

–Hm, você pode me explicar isso? –pergunta para Haymitch que havia subitamente se interessado por uma sujeira debaixo das unhas.

–Não. –levantou-se, pegou o papel da mesa e o entregou a Katniss enquanto saia da cozinha. –Pense nisso, querida. Você vai poder descansar um pouco, já conversei com as crianças.

Fechou a porta e deixou a morena sozinha, olhando para o panfleto com palavras garrafais destacadas de preto em que estava escrito o endereço de um lugar desconhecido.


Câm. Quarto Annie.



–Maninha, você tem certeza que vai dar celto? –o garoto pergunta, estava sentado na cama da irmã olhando enquanto ela terminava de recortar o papel com cuidado. Estava pensando em sua ideia mais uma vez.


Queria surpreender os pais com uma receita de Natal que ela havia inventado. Tinha preparado tudo mês passado e já tinha todos os ingredientes guardados na cozinha. Seu irmão estava com os presentes dos pais, em que eles, junto com Haymitch, haviam saído para comprar quando os dois estavam dormindo noite anterior.

–Fynn, eu já falei. –ela suspirou profundamente, estava fazendo os últimos preparos para a “grande noite” e seu irmão estava fazendo aquela mesma pergunta pela quinta vez, coisa que ela achou desnecessário. –Tudo vai ficar bem. Lembra semana passada quando fui tentar cozinhar a minha receita pela primeira vez? Eu não incendiei nem sequer um paninho, então por que iria acontecer isso hoje?

O garoto bufou ainda não convencido.

–Será que vou ter que lembra-la de que aquela meleca que você fez nem comestível era?

A menina parou o que estava fazendo quase que instantaneamente. Odiava que a lembrassem desse detalhe.

Mas vendo por outro lado, era sua primeira vez que estava fazendo algo parecido, não era sua culpa.

Ou, pelo menos, era assim que ela tentava enxergava as coisas. Mas a realidade era que a garota entrara em desespero ao ver o líquido viscoso verde-musgo dentro da panela, mal podia abrir a tampa que um cheiro nauseante escapava e subia para infestar a casa.

Ainda bem que seus pais haviam saído naquele dia.

–Irmão, eu não vou deixar que ocorra esse incidente mais uma vez. –diz despreocupada voltando para a realidade, retomou ao seu trabalho de recortar os papéis em que estavam escrito os nomes dos pais. –Vou se mais cuidadosa.

–Cuidadosa? –o garotinho quase engasga com a própria saliva. –Minha irmã... cuidadosa?

Ele começa a gargalhar loucamente. Um vago pensamento passou pela cabeça de Annie, que a afasta rapidamente antes que ele possa se concretizar em sua mente. Talvez interna-lo não fosse boa ideia, muito menos joga-lo do telhado. Poderia entrar em maus lençóis mais tarde.

–Eu duvido que você possa fazer algo melhor, querido. –restringiu-se a dizer, sarcástica, levantando-se e indo para o outro canto da sala onde arrumou delicadamente o papel dentro de uma embalagem de plástico que serviria como um “identificador de mesas”.

Depois de contemplar seu trabalho, virou-se e descobriu Fynn deitado olhando para o teto do quarto, temeu de que a criança estivesse entrando em depressão ou algo do tipo. Afinal, ela nunca o vira daquele jeito.

–Fynn, você tá bem? –ela se aproximou no irmão menor, sentando-se na beira da cama.

Fynn grunhiu ficando de costas para a irmã.

–Eu quero meu cangulu. –ele gemeu com frustração. Annie soltou o ar, aliviada enquanto balançava a cabeça de repreensão.

“Crianças” – pensou a garota de cinco anos.

–Vamos, Fynn, que tal nós pegarmos alguma coisa para comer? –sugeriu docemente para que ele possa tirar o bendito canguru da cabeça, oferecendo a mão para que ele segurasse.

–Está bem... –falou tristonho, dando as mãos para a irmã e saindo do quarto.

Depois de um tempo quando não se passavam de pontinhos longes, ele acrescentou:

–Cangurus gostam de comer...

É, talvez será difícil tirar o animal da cabeça dele.


Pov. Terceira Pessoa. (cansei de colocar câmeras em todo lugar, Hahaha).



Já era final da tarde e o casal se despedia dos filhos, eles pareciam excitantes pulando toda hora como se os dois estivessem felizes por ver os pais saírem. Coisa que impressionou o loiro que se agachou para olhar sua filha mais velha que era a mais empolgada com toda aquela partida.


–Ei, posso saber o motivo do sorriso? Será que não irei fazer falta nessa casa? –ele brincou dando um abraço apertado na garota que fingiu estar sendo sufocada dando tosses falsas até que o pai se afastasse sorrindo.

–O Natal está chegando. –ela disse simplesmente, o grandão arqueou as sobrancelhas, desconfiado.

–Você não respondeu minha segunda pergunta. –ele fez beicinho imitando a filha quando pedia para sair nos dias de inverno a fim de se divertir na neve.

–Ah, papai... Eu preciso mesmo? –a menina falou com um toque de indiferença, rolando os olhos e escondendo um ar de zombaria na pergunta. A criança começou a rir com a expressão do pai que começou a tomar forma até tornar-se um rosto deprimentemente infeliz. –Estou só brincando, pai. Você vai fazer muita falta aqui. –completa a piada, dando-o outro abraço no qual ele retribui relaxando as feições tensas.

–Nossa... Vocês estão se despedindo como se fossem passar uma década longe. –Haymitch resmunga, apressando as trocas de afeto das duas partes da família. –Vamos, vamos! Desse jeito nem compensa vocês irem! Andem logo e fiquem tranquilos. O vovô Haymitch dá conta de tudo.

–Está bem, vovôzão. Acalme-se, estamos indo. –Katniss garante ao velho que faz uma careta pelo apelido. Ele poderia aturar ser chamado de ‘vovô’ (até gostava de quando o chamavam dessa maneira), porém as outras variações de que se originava a partir dessa palavra ele não suportava.

Após um último abraço de despedida eles partiram, acenaram até que ambos estivessem longe o bastante para que não pudessem enxergar-se mais.

Katniss havia mostrado a Peeta o papel e repassado o que Haymitch dissera. Ao contrário dela, ele achara boa a ideia de passarem um tempo fora, fazer uma surpresa para os filhos trazendo algo de que eles realmente queriam e assim também tiverem um dia só para eles. Porém foi só depois de insistir pela décima vez que Katniss aceitou. E agora estavam programando o que iriam fazer naquela véspera do Natal. Ainda não tinham comprado os presentes das crianças por não ter resolvido o que poderiam entregar e Katniss ainda estava aflita com o ‘canguru’ de Fynn. Poderia ser simples, comprar um objeto qualquer e entregar dizendo que o Papai Noel estava com falta em fabricar cangurus de Natal, mas ela não queria que ele perdesse a magia daquela época. E imaginava o que poderia se igualar com aquele presente colossalmente impossível de se conseguir.

Enquanto isso, Haymitch estava contente por ter conseguido tira-los da casa. Ele não planejava apenas um jantar especial para todos, no qual Annie tivera a honra de inventar toda a receita, mas também tinha uma surpresa para todos no final do dia. Uma que ninguém sabia.

Fynn estava arrastando seu Cherrylu pela casa, pegando os presentes dos pais e ajeitando debaixo da árvore de Natal tal como Haymitch o mandara fazer, deixando-o meio encabulado por não ser da forma original do Noel.

Annie estava ocupada arrumando tudo na cozinha, parecendo mais madura do que realmente era.

E mesmo estando dentro de casa, Annie e Fynn usavam uma tonelada de roupas de frio. Tudo por causa de quem? Sim, obra de Katniss. Assim que eles partiram, Annie tirou três dos cinco cachecóis que usava, duas das seis blusas e uma das três calças. Ela admitia que estava congelando e que provavelmente era um dos invernos mais rigorosos que um dia já pudesse imaginar vivenciar, porém, não era para tanto. Com toda aquela vestimenta ela mal conseguia andar direito. Quem dera respirar.

Haymitch, orgulhoso de si mesmo, foi ao seu quarto em busca da caixa onde guardava o que havia comprado escondido no dia em que foi com as crianças comprar os presentes dos pais.

E por incrível que pareça, não era bebidas alcóolicas.

Depois de conseguir convencer Fynn que o “os anões do Papai Noel” haviam pedido para ele “juntar-se ao grupo” naquele ano e fazê-lo ir escolher algo que ele quisesse presentear o pai, Haymitch pôde ir para a sessão em que ele aguardava conseguir alcançar.

E agora, o que ele comprara estava em suas mãos. Faria uma noite memorável para o casal Mellark. Afinal, queria demonstrar sua gratidão por mais um ano que o acolheram na casa e por não o ter deixado sozinho se embebedando como... bem, como o Haymitch normal faria. (Não que ele tivesse mudado, é claro, apenas havia se limitado mais naqueles tempos).

–Annie? Fynn? –ele grita, chamando as vítimas.

–Que foi, vôzão? O que você quer? –Annie devolve, ainda mexendo nas panelas e quase derrubando um prato o qual consegue segurar a tempo de não se estilhaçar no chão.

O outro escuta passos subindo as escadas, na porta aparece o garotinho loiro com um sorriso enorme no rosto, uma mão na testa e outra segurando o pé do urso de pelúcia que suplicava com o olhar de botão para que o ajudasse.

–As ordens, capitão! –ele fala prontamente, Annie no térreo consegue escutar e bufa nervosa.

–Fynn! –ela reclama enquanto movia-se com dificuldade para cima, parando ao lado do irmão que a olha ansioso e aparentando inocência. A irmã tenta colocar a franja para trás da orelha, mas ela volta para frente dos seus olhos, insistentes, fazendo-a apenas sopra-la cansada para poder ter uma visão nítida do que acontecia a sua frente. –Eu já te disse que essa sua carinha não me engana, irmãozinho?

Ele deu de ombros.

–Algumas vezes.

–Pois bem, pois bem. Ele fez uma ótima escolha me obedecendo, bonequinha. –Haymitch interveio mostrando a ambos duas peças do que iriam ser sujeitos a usar. –Vocês vão fazer seus pais orgulhosos.

–Ah não, Fynn... Você entende agora o porquê que eu nunca sigo as ordens dele?! –Annie repreende o pequeno, que encolhe os ombros e abaixa a cabeça.

–Oh, não... estamos encrencados. –murmura baixinho, levando seu ursinho para perto de si e o aperta contra o peito em busca de apoio.

–Por que vocês estão com essas carinhas? Vamos lá! Vai ser divertido! Não é tão ruim assim, será uma surpresa para seus pais, eles não vão ficar felizes? –Haymitch balança o que segura nas mãos exatamente como faria ao exibir sua nova coleção de garrafas, ele não achava tão ruim assim. Quer dizer, o que poderia ser de tão mal em fazer um cosplay de Natal?

–É, vão ficar tão felizes que provavelmente terão um ataque cardíaco. Talvez nos poupe de mais uma humilhação. –a garotinha fala baixinho enquanto olha para o que Haymitch estende para ela como se fosse seu pior inimigo. O que ninguém queria naquele momento.


(...) ~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~ (...)



–Então...? –Katniss pressiona, segurando em cada mão um objeto diferente, Peeta olha para ambos os objetos com a mão no queixo, indeciso.


O que sua mulher queria que ele escolhesse era pior do que ter que decidir se preferia Annie ou Fynn quando a sua filha fazia uma daquelas suas brincadeiras de “imagine-se em um barco, o barco está afundando, e você só pode salvar uma pessoa, sendo que tinha apenas eu e o Fynn lá. Quem você escolheria?”.

Muito mais complicado já como quando ela fazia essas brincadeiras ele sempre tinha uma resposta, bastava ele dizer que faria preces para Poseidon e saltaria com os dois em cada braço, salvando então todo mundo; mesmo que Annie ficasse furiosa por ele não ter respondido a pergunta que ele queria também não podia protestar dizendo que não poderia dar certo sendo que ele tinha seguido todas as regras de qualquer jeito. Havia prometido que o faria admitir qual dos dois gostava mais... E até hoje não conseguiu.

Mas voltando ao assunto dos objetos, Peeta estava com a cabeça confusa e sentia-se em um armário apertado.

E se ele escolhesse o primeiro, mas depois acabasse fazendo seu filho ficar triste pela escolha que fez?

E se ele escolhesse o segundo e acabasse com que deixe Fynn decepcionado?

Tudo o que ele queria era um canguru!

Mas onde poderia achar o bendito do canguru?!

Já havia comprado o presente de Annie. Era o último da loja, e eles realmente esperavam que ela gostasse desse, já como não sabiam o que ela queria; ela não tinha escrito as ‘cartas do papai Noel’. Ou melhor, tinha escrito, mas tudo o que dissera fora: ‘Me surpreenda, papai. Vamos ver se você sabe mesmo o que eu aguardo no Natal’.

–Vamos, Peeta! A loja está fechando. –Katniss insistiu, socando o braço do marido que começou a suar.

–Eu... eu não sei! –gaguejou completamente perdido.

Katniss suspirou, havia esquecido que tinha outro garotinho para cuidar. E que esse garotinho que estava a sua frente odiava quando desapontava os filhos, e que ficava temoroso com qualquer coisinha que fazia para agrada-los.

–Vamos, Peeta. Se não achar nenhum desses bons o suficiente, tentamos amanhã. –ela disse suavemente, levantando as sobrancelhas e esperando.

O garotão olhou para os dois presentes. De alguma forma ele não encaixava nenhum dos dois no Fynn, aquele garotinho que conhecia tão bem. Parecia que não era aquilo o presente perfeito.

Peeta, por fim, balançou a cabeça negativamente, confirmando as suspeitas de Katniss.

–É, eu também não achei a cara dele. –disse largando as coisas nos devidos lugares onde ela encontrara. –Bem, quem sabe amanhã alguma loja abra para nós encontrarmos o certo? Ele deve estar aí em algum lugar...

Vendo a expressão conturbada do marido ela aproxima-se dele e segura sua mão.

–Lembre-se, não é o presente que é importante. Ele é apenas uma forma de representar a data, celebrar. Porém, o que realmente temos que nos importar é em estarmos todos juntos. –sussurra para ele com um sorriso delicado no rosto.


(...) ~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~ (...)



–Eu. Não. Vou. Usar. Isso. Haymitch. –Annie fala pausadamente para que a frase penetrasse na mente oca do velho. Estava de braços cruzados recusando-se a aceitar a sugestão dele, ou digamos ordem? –Nem mesmo ficar treinando por aí igual você quer que eu faça! Tenho uma janta para preparar! –a menina explode levantando os braços, indignada. Haymitch sufocou a risada que estava a meio caminho para sair ao perceber o quanto ela pareceu a mãe naquele momento.


–Certo, queridinha. Certo. Faça o que quiser. –retruca o velho aborrecido, depois muda repentinamente o tom da voz para parecer doloroso. –Eu só achei que... sabe, você iria fazer um favor para alguém como eu... um pobre Haymitch que...

–Está bem. –Annie interrompeu suspirando fundo. Olhou para o lado e viu o irmão sorrir para ela alegremente.

–Sério? –Haymitch pareceu atordoado por um segundo até recompor-se e repetir. –Sério! –seguido por uma risada alucinante. –Ótimo! Vamos de novo...

–Espera aí. –Annie interfere pela segunda vez. –Depois vamos fazer a comida, não é?

Haymitch pareceu inquieto.

–Faremos amanhã. Afinal, ficará mais quentinho, não acha?

–Ah... Certo. –a garota esquecera-se que ainda não era véspera de Natal, apesar de parecer.

–Bom, vamos lá! O que vocês vão fazer quando seus pais abrirem aquela porta? –ele gesticulou para a porta da frente dramaticamente.

–Nós...


(...) ~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~ (...)



Véspera de Natal.


As maiorias das pessoas viajam, preparam-se, compram os presentes, se trancam na cozinha ou até mesmo embrulham meias velhas para algum ente esquecido.

Porém, o casal Mellark estava dentro de uma casa amarela simples.

Uma casa amarela simples de uma senhora.

Uma senhora que tinha uma cachorrinha.

E que essa mesma cachorrinha havia tido filhotinhos.

Muitos filhotinhos.

Os mesmos filhotinhos em que Katniss estava rodeada, todos latindo para a morena que ria divertida.

Os mesmos filhotinhos que corriam para o colo de Peeta, enchendo-o de lambidas carinhosas no rosto.

–Viu como minha ideia foi genial? –Peeta comentou enquanto tirava um dos filhotes de cima da cabeça, ele estava sentado no chão, decidindo qual iria ser o próximo membro da família, não sabia como aquele pequeno cãozinho o havia escalado, mas lá estava ele: lambendo suas bochechas pela milésima vez aquela tarde assim que o loiro colocou-o na sua frente.

–Sim, eu também achei! –ela exclama pegando um dos menorzinhos que eram praticamente esmagados pelos irmãozinhos. –Talvez ter dormido com a televisão ligada no Animal Planet não fora tão ruim.

Peeta coloca o cachorrinho no chão onde ele começa a correr atrás do próprio rabo rosnando para si mesmo. O loiro ri daquele sujeitinho, ele havia estado atrás dos dois desde que eles chegaram, o filhote atropelava todos os outros para conseguir atenção, tropeçava nas próprias patas e – de repente – começava a dar um pequeno latido para o próprio reflexo assim que passam por um vidro que tinha vinda da janela baixa.

–Então, achou o felizardo? –a gentil senhora abre um sorriso bondoso para os dois.

Katniss vira-se com um leve constrangimento no pequeno sorriso que dá.

–Sabe... Está meio difícil de...

–Vamos ficar com esse. –Peeta afirmou com veemência, seguro de si.

Katniss vira a cabeça para o marido como se estivesse escutado que ele iria explodir uma farmácia.

–Você já escolheu? –ela vai chegando mais perto do marido que continua com os olhos na pequena criatura abando o rabo loucamente.

–Eu? –Peeta repete, perplexo. Pega o cachorrinho e o levanta do chão, ficando de pé juntando-se com Katniss. –Foi ele quem nos escolheu.

O cãozinho late fraco e começa a farejar a morena que o olha admirada.

–Olá, garoto. –diz enquanto passa a mão na cabecinha peluda do filhote.

–Então é esse que vocês querem. –a senhora se inclina para poder ter uma visão melhor do escolhido. –Oh, esse. –começa a rir entusiasmada. –Ele é o mais velho do grupo.

–É esse mesmo. –Katniss assegura pegando o filhote dos braços de Peeta e pergunta normalmente, com um tom casual: –Dá para colocar em uma caixa de presentes?


(...) ~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~ (...)



O tempo passou correndo.


Não, não passou correndo, passou voando. Voando mais rápido do que um pássaro colado em uma das janelas do trem da Capitol. Ou um pássaro colado em uma das janelas do trem da Capitol com um foguete amarrado junto a ele.

Batidas na porta e Annie e Haymitch estão terminando de pegar as coisas da cozinha. Por alguma interferência divina a comida não tinha saído queimada, ou não comestível, havia saído exatamente como a garota previra.

–Eu disse, Fynn. O que eu disse? Eu disse! –a garota gabou-se para o irmãozinho.

–Está bem, já entendi. –o pequeno rendeu-se indo em direção a porta. Estava vestido com aquele mesmo traje que Haymitch havia comprado a eles. Tinha até dormido com ele. Não porque havia gostado. Mas porque era incrivelmente aquecido ali dentro.

–Não, garoto! –Haymitch o barra com a mão na maçaneta. –Ainda não.

–O quê? Por quê? –pergunta, surpreso. Já tinha que ficar vestido daquele jeito, tinha que ficar uma tarde inteira passando ingredientes, talheres e seja-mais-o-que-for para pessoas completamente sem coração que não o deixavam descansar nem por um instante para tomar um copo d’água, e ainda tinha que estar com o braço tão dolorido que tinha a impressão de ter que corta-lo fora. E agora, não podia ao menos abrir a porta para os pais que sentira tanta falta?

–Porque... Annie, tá pronto? –Haymitch olha para a garota que faz sinal positivo com o mão, apontando o dedão para cima. –Ótimo, querida, bom trabalho. Agora, Fynn, apague a luz e vá para perto da árvore como o instrui. Annie, faça o mesmo.

Fynn, antipático, vai até o lugar marcado. Respira fortemente para espantar a raiva e então olha para a irmã que estava encarando-o.

–Temos mesmo que fazer isso, mana? –pergunta subitamente desanimado. Annie espanta-se com isso já como no dia anterior parecera tão animado com a proposta.

–Quer saber? Não, não precisamos. –responde, depois de pensar brevemente. Ela sorri e vai para perto da porta, onde Haymitch apaga a luz deixando tudo coberto no mais profundo negrume.

Fynn aproxima-se mais da irmã, agarrando-se na cintura dela com medo dos monstros que se escondiam por trás da falta de iluminação. Annie sorriu e pôs as mãos nas costas do irmão, retribuindo o afeto.

Ela chegou perto da porta tateando as paredes até encontrar a maçaneta, onde depositou as mãos, girou-a lentamente ignorando os chiados de Haymitch enquanto procurava por onde as crianças haviam ido.

Do outro lado da porta, encontravam-se o tão amável casal. Cada um segurava uma caixa de presente, a mãe com uma toca natalina e o pai com uma barba branca postiça, junto com um conjunto de roupas do Papai Noel feitas a mão.

–Ho, ho, ho, feliz... –ele parou no meio da frase ao perceber as roupas com que os dois se encontravam. Primeiro ficou perplexo, depois desnorteado e por último começou a rir tanto que sua barba falsa ameaçou se desprender do seu rosto. -O que os meus dois filhotes estão vestindo?

Ambos coraram com a pergunta, desviando o olhar. Katniss botou a cabeça para dentro da casa e chamou:

–Haymitch! Aposto que foi ideia sua, não é?

O velho havia voltado a ser rabugento, tinha ficado abismado por ter se descoberto sozinho na frente da árvore de Natal. Estava incrédulo por eles o terem abandonado quando o próprio estava tão feliz com sua fenomenal ideia.

–Foi ideia minha... Ideia minha... Argh. Eu odeio feriados. –murmurava consigo mesmo, toda a felicidade indo embora rapidamente. Estava tão deplorável quanto um saco de batatas apodrecido.

–PAPAI NOEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEL! –Fynn berra, quase estourando os tímpanos de todos os presentes na sala. –VOCÊ VEIO!

Peeta endireitou-se, limpou a garganta e fez uma voz grossa.

–Ér, sim, parceiro!

Fynn soltou-se da irmã e aproximou-se do pai fantasiado. Sua roupa de rena de Papai Noel tilintava enquanto andava por causa do sininho colocado na coleira do cosplay, estava com um nariz de plástico que piscava e tinha um rabinho minúsculo atrás.

–Você é mesmo o Papai Noel? –ele puxou a barba, desconfiado.

–Sim... sim, eu sou! –Peeta tentou disfarçar enquanto tirava a barba dos dedos fortes do filho.

–Prove. –o garoto cruzou os bracinhos, franziu o nariz e fez biquinho, ranzinza.

–Provar?! –o loiro pergunta espantado. Aquilo não estava na sua programação.

–Bem, eu trouxe os presentes e... –ele vai dizendo, mostrando a caixa que segurava com firmeza, era imaginação do garoto ou ela estava se mexendo? Tinha alguma coisa viva lá dentro? Ele sacudiu a cabeça e interrompeu o pai.

–E cadê o trenó? A sacola cheia de presentes das outras crianças? Eu pensava que você não aparecia quando as crianças estavam acordadas. E a chaminé? Perdeu a graça ficar se enfiando lá dentro? Ou o papai mentiu pra mim? –jorrou as palavras sem tomar fôlego.

–Ér, esse é o meu garoto! Sempre bem curioso, não é? –Katniss tentou contornar a situação, despenteando a cabeleira do filho.

Annie olhou-a com os olhos semicerrados, ela soube imediatamente que viria mais uma pergunta antes da mesma chegar.

–Onde está o papai?

Haymitch chegou atrás dela e deu um sorriso de escárnio, vendo se deveria contar a pequena Annie a verdade ou não...

–Seu pai? –repetiu o velho com deboche. –Ele...

–Ele substituiu o papai Noel essa noite! –Peeta grita, arfando, entrando na casa e estufando o peito, tentando se acostumar com a barriga postiça e a barba postiça que começara a pinicar no rosto.

–Substituiu... Papai Noel? –perguntou a menina. Ela estava igual ao irmão, com a roupa de rena confortável caindo sobre o corpo, tinha uma touca em que havia os chifres brotando do tecido macio, o que cobria os cabelos negros que cresciam cada vez mais.

–O que você quer dizer com isso? –Fynn se intrometeu. Katniss entrou e fechou a porta atrás de si quando uma rajada de ar frio deu sinais de aparecer, estava tremendo por debaixo do casaco grosso que estava vestida. E pela blusa de frio de Peeta que ele havia cedido a ela.

–Eu quero dizer que... –começou até a filha chegar e arrancar de uma vez a barba falsa, fazendo-o grunhir de dor.

–Pai? –ela estava de olhos arregalados, com a boca escancarada. Porém não tão surpresa.

–Isso. –Peeta afirmou, acenando com a cabeça. –Sentiu minha falta...?

–Paaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaai! Você está a serviço do papai Noel! Que legal! –Fynn pula nos braços do grandalhão, fazendo-o cambalear com a caixa de presentes que dá um latido mínimo quando se desequilibra e a criaturinha que estava lá dentro sente um peso peculiar em cima de onde havia sido guardado.

–O que foi isso? –Annie pergunta, intrigada, se aproximando da caixa. Toca-a com curiosidade e percebe os buraquinhos que foram feitos nos lados, abertos para circular ar. –Por que está furado?

Fynn desce do colo do pai, olha para a mãe procurando uma explicação. Ela apoia a caixa de presentes de Annie no chão e dá de ombros, sorrindo. Faz um ligeiro gesto de encorajamento para que ele siga em frente e abra a caixa.

–É um canguru!? –ele exclama contente. Rasga a caixa com violência e abre a tampa.

Seus olhos estudam a criatura ali dentro, ela encarava-o com os grandes olhos cor de mel, gania baixinho e fazia cara de piedade.

–Desculpa filhão, mas todos os cangurus tinham acabado...

O menino pega o pequeno filhote no colo, sentindo a leveza do seu corpo e o macio de seus pelos. Ele riu e abraçou a criatura que começou a lamber seu rosto, animado, com o rabo balançando loucamente.

–Um cachorro! –Annie exclamou com os olhos brilhando. Passou a mão, hesitante, pela cabecinha da criatura que deu uma lambida em seus dedos, fazendo-a gargalhar.

Os pais entreolharam-se, era para esperar até a hora do Natal, mas parece que não iria ser como de costume.

–Como você vai chama-lo? –perguntou a irmã, vasculhando a caixa e encontrando uma coleirinha, pronta para ser gravada com o nome do animal.

–Hm... –o menino sussurrava enquanto pensava em diversos nomes ao mesmo tempo. Ergueu a vista e encontrou Haymitch parado, observando a cena em silêncio mortal. Parecia chateado, abalado com alguma coisa. –Eu vou chama-lo de Haymi. –diz por fim, voltando-se para o cãozinho que latiu como se reconhecesse o nome.

–Era só o que me faltava. –Haymitch fechou os olhos, murmurando entredentes: -Vamos ver, o que mais eu iria querer se não meu nome como o do cachorro fedorento que acabam de trazer, para o meu azar?

Fynn mandou um olhar feio para Haymitch, que bufou sem se importar.

Katniss arrumou os dois presentes que faltavam debaixo da árvore de Natal, um para o velho resmungão e outro para a delicada Annie. Foi quando notou mais outros dois, não se lembrava de ter comprado mais do que esses.

Franziu o cenho e se aproximou do cartãozinho do primeiro presente, em cima havia uma flor feita de papel.

Para papai, o homem mais dedicado e carinhoso que qualquer um queria ter na vida. –Annie e Fynn M.

A morena sorriu, com os olhos marejados. Como eles haviam comprado...? Haymitch. É, aquele paspalhão até que não era tão inútil quanto aparentava. Nunca foi.

Com a ponta dos dedos foi ver o do outro presente. Um que tinha um cuidadoso laço em cima.

Para mamãe, a pessoa mais corajosa e complicada que já conheci na minha vida! (No bom sentido) – Annie e Fynn M.

A mãe riu com emoção, secou as lágrimas dos olhos e espiou por cima dos ombros para ver se alguém notara. Haymitch estava distraído o suficiente com o cãozinho que havia pulado no seu colo e arranhado suas pernas querendo atenção, as crianças riam dos dois, tanto pelo que o filhote fazia quanto pela gritaria e confusão que o Haymitch causava. Peeta foi o único que a viu ali perto dos presentes, piscou e chamou-a para a sala de jantar.

Levantou-se cautelosamente para que ninguém se incomodasse e o seguiu enquanto ele a guiava com a mão para o aposento ao lado.

–Uau. –exclamou com admiração nítida na voz. -Foram eles que fizeram tudo isso?

Peeta assentiu com a cabeça, a sala estava reluzindo. Literalmente.

Velas era a única iluminação, as cadeiras se apresentavam arrumadas com esplendor, assim como a mesa e os talheres, vindo das panelas tampadas dançavam um cheiro perfumado de dar água na boca.

–Ei! Não eram para vir aqui tão cedo! –a garotinha enxotou-os para fora da cozinha. –Temos que entrar todos juntos.

–Está bem, batatinha. Vamos entrar juntos então. –Peeta falou para a filha, tentando acalma-la.

Annie segurou a mão dos dois firmemente, Fynn entrou no lado esquerdo do pai, com o mais novo membro da família, Haymi, no colo. Haymitch do outro lado havia ficado quieto e parecia ansioso pela comida, à frente.

–Por que ainda não entramos? –Haymitch reclamou.

–Ainda não. –Annie ralou com ele, brava.

–Por quê?

–Não.

–Por quê?!

–Não!

–Por quê?!?!

Um barulho retumbou pela sala até que Annie suspirou e anunciou.

–Feliz Natal! –mandou um sorriso para cada pessoa na corrente até chegar a Haymitch, onde avisou o que ele esperava ouvir há segundos preciosos. -Agora podemos entrar.

Haymitch apenas rolou os olhos e entrou sem pestanejar, possivelmente atacando toda a comida que estiver ao seu alcance.

–Melhor não demorarmos, caso contrário não sobrará nada para nós. –Peeta riu, levando Katniss, Annie e Fynn (com Haymi grudado nele) pela mão até a sala decorada.


Experiências da virada do ano.


Feliz 2013!

Feliz Ano Novo!

Espera... Ano Novo?

Pov. Haymi.


Tivera um dia cheio. Muito mais cheio do que meus irmãos poderiam ter algum dia.

Depois de aquele casal bondoso ter me adotado, fui empacotado em uma caixa confortavelmente agradável, tinha ar vindo de minúsculos buracos e uma luz fraca tremulava pelos espaços onde ela conseguia abrir espaço para entrar. Uma almofada forrava o chão para que eu pudesse deitar sem me machucar, e logo depois de um tempo balançando eu adormeci, exausto. Nunca tive um dia mais divertido desde que me conhecia nesse mundo curiosamente estranho.

Fui acordado pelo grito de alguém. Parecia ser um daqueles Altos sem rabo*¹ filhotes.

Tudo o que aconteceu em seguida foi uma série de acontecimentos inimagináveis, eu nunca tinha pensado que conseguiria uma família como aquela. Havia sido abraçado, acariciado e alimentado pelas próximas 12 horas que estive com eles. Era tudo o que eu mais queria.

Sentia falta da minha antiga família, é claro. Não conseguia esquecer-me como mamãe nos aquecia nos dias frios, ou quando ela nos encorajava a continuar se caíssemos na primeira vez de que tentávamos andar. Eu era o mais velho do meu grupo e havia visto muitos dos meus irmãos nascerem e partirem, sendo escolhidos por Altos sem rabo* aleatórios. Às vezes eles viam em bando, e às vezes eles vinham a sós. Eu realmente não me importava em ser escolhido, apenas por brincar um pouco com eles me divertia.

Porém, agora, eu tinha tudo o que um filhote como eu poderia desejar. E por que eu me sentia tão infeliz?

Talvez seja por eles terem me colocado em uma caixa, na sala. Deixaram-me ali apesar dos insistentes pedidos daquele humano menor, que não tinha parado de me segurar por um instante, ainda sentia seus dedos passarem pelos meus pelos das costas, não conseguiria me aquietar até senti-los novamente.

Comecei a ganir, ganir e ganir. Choramingava, querendo carinho. Não conseguia dormir sozinho. Nem fechar os olhos.

Um alto e encurvado homem desceu as escadas, esfregando os olhos. Lembrava-me dele como sendo o que eu havia mordido o sapato. Era um sapato bom para ser mastigado, o único problema era ter que escuta-lo depois no meu ouvido. Chegava a ser tão irritante quanto o mais novo de minha antiga família que costumava me perturbar a noite, mordendo minhas orelhas e pulando em cima de mim, provavelmente para brincar. Mas será que ele não entendia que à noite todos estão cansados? Pode ser pela onda de energia que um recém-nascido tem nos primeiros meses de vida, mamãe me contara isso.

No entanto, estranhamente, eu suportaria até mesmo as atrapalhadas dele agora. Tudo para não me sentir... sozinho.

Aquele atencioso homem se inclinara sobre minha caixa, parei de choramingar na hora com esperanças de ele ir me pegar e carregar consigo até seu território. Estava profundamente grato por ele ter ido voltar por mim.

–O que você quer agora? –escutei-o dizer, mas não entendia muito bem a sua língua. A única coisa que fiz foi abanar meu rabo quase que involuntariamente, havia interpretado aquilo como um ‘oi, precisa de companhia?’ e queria poder dizer para ele que era tudo o que necessitava.

Comecei a latir, incapacitado de fazê-lo entender. Ele tampou os ouvidos com a mão como se o barulho incomodasse e eu cessei minhas suplicas, inclinando a cabeça para o lado.

–Está bem, está bem. Você venceu.

Fui agarrado e levantado. Meu rabo começou a enlouquecer, batia nos braços do homem como um chicote, mas não podia me controlar. Iria ter a companhia de alguém naquela noite assombrosa!

Um Alto sem rabo* menor apareceu na escadaria, me olhou com os olhos estreitados e correu até mim, afagando minha cabeça.

–Não fique com medo, Haymi. Tudo ficará bem. –sussurra para mim palavras que traduzo como sendo consoladoras. Dou um beijo (N/a: como é um cachorro, é uma lambida.) em sua bochecha na forma de agradecê-lo e ele ri me fazendo ficar mais alegre ainda.

–Vamos logo, estou com tanto sono que se eu desabar aqui você que vai ter que me carregar para cima.

–Calma, Haymitch, não seja tão rude. –escutei algo parecido com meu nome? Pelo que eu soube, denominaram-me algo parecido com Hami, não paravam de dizer isso para me chamar.

Comecei a me mexer, agitado. O mini homem estendeu os braços e eu fui entregue a ele, que me fez mergulhar em seus ombros.

–Shhh, eu vou leva-lo ao meu quarto. –assegurou para mim, havia escutado quarto?

Quarto era bom, não era?

Os dois Altos sem rabo* subiram a escadaria comigo nos braços. Sentia-me seguro novamente, e protegido. Era muito bom ter aquela sensação de volta.

–Agora você descansa aqui. –o garoto explica para mim, arrumando um cantinho logo ao lado de sua cama com um lençol.

Ele voltou para a cama quentinha, deixando-me ali, no chão. Tentei me deitar e voltar a dormir, mas não conseguia fechar os olhos, de novo. Parecia que a solidão me invadira novamente.

Coloquei-me de pé e fui até a beirada da cama, onde fiquei arranhando e insistindo no cobertor que caia até os meus alcances para que ele me segurasse de novo.

–O que foi, Haymi? –a cabeça do Alto sem rabo* apareceu por cima de mim. Dei mais um ganido até ele suspirar e me depositar ao seu lado na cama. –Se contar a mamãe... eu nunca poderei vê-lo novamente. –disse em um tom de aviso. Guardei suas palavras, apesar de não as entender soube que era algo importante. E valioso.

Dormi bem naquela noite. Assim como na próxima, que fiquei no mesmo cantinho. E na próxima, e na próxima. E por fim, na próxima também. Divertia-me tanto todos os dias que se passava que quando deitava na tão conhecida cama do meu dono eu caía em um sono profundo que não dava tempo nem mesmo de formar alguma imagem na minha mente para sonhar.

Naquele dia que acordara, todos pareciam festivos. Não entendia bem o porquê, mas isso não era novidade já como tudo o que os humanos faziam para mim me surpreendia.

–Haymi! Daqui algumas horas será outro ano! Dá para acreditar nisso? –escutara meu dono falar comigo, porém não absorvi suas palavras na devida forma, fazendo com que o que ele dissesse entrasse por um ouvido e saísse pelo outro.

Colocaram-me na água e me lavaram. Depois do banho, tinha um daqueles estranhos decorativos em torno do meu pescoço. Uma gravata. Ela era prateada e mudava de padrão conforme se passava os minutos. Era hipnotizante se o olhasse por muito tempo, e só mesmo meu dono para me despertar na hora em que os fogos – pelo que eu escutara ele dizer – começaram.

Toda minha família se levantara, dando pulos animados e dizendo ‘Feliz Ano Novo’ para os que estavam ao seu lado. Trocando abraços e tapinhas nas costas.

Mas o que havia acontecido de tão espetacular para agirem assim? Será que algum filhote acabara de nascer?

Olhei para os lados, a procura do novo habitante, mas não encontrei ninguém.

Então o que tinha acontecido?

Os fogos eram lindos, tão hipnotizantes quanto minha gravata. Os sons que eram maçantes. Incômodos. E no meio disso tudo, medonhos.

Fiquei observando-os com admiração e medo, ambos mesclando-se e virando um misto de cores coloridas que nunca tivera a sensação de experimentar. Era algo extraordinário, milhares de pequenas gotículas multicolores caindo do céu, dispersando-se no ar conforme caiam até misturar-se em meio a tudo interligado nesse universo. Eu via-os entre os pequenos diamantes que sempre pareciam esconder algo, sussurrar palavras nos meus ouvidos, àquelas velhas estrelas – como minha mãe denominava.

No meio de todo o tumulto, escutei algo distante que chegava a mim como palavras trazidas ao vento, levadas de longe, até os confins mais soturnos do planeta. Trazendo esperança e novas possibilidades.

–... Novas chances de recomeçar, novas experiências para aproveitar, novas coisas para descobrir, novos objetivos para alcançar. Um novo ano vem e toma o lugar, sentando-se imponente sobre o que antes houve um descendente. Novas coisas vão acontecer, pessoas aparecerão. Um novo ano veio, para pedir o seu perdão, sussurrando suavemente para cantar-lhe uma canção. Uma nova composição para que possa refletir sobre mais um tempo que se passou; mais amizades se formaram e descobertas realizadas. Dependerá de você o que acontecerá por agora, como sempre, você terá tempo para mudar tudo, tanto para melhor quanto para pior...

Cicios vindos do nada, aparentemente. Balancei a cabeça e coloquei minha língua para fora, para me refrescar.

Talvez a bela donzela tivesse razão. A qual contara toda aquela ponderação. Mas era tanta coisa... e parecia ter muitas novas novidades pela frente.

–Vem, Haymi! Vamos comer o bolo de Ano Novo! –meu dono me pegou no colo e me levou até uma mesa onde farejei loucamente, o cheiro era forte ali, o cheiro bom que aprecio de comida.

No chão, onde espero pacientemente, é posto um prato de plástico com um pedaço do bolo. Levanto a cabeça e encontro o grande Alto sem rabo* olhando para mim, o loiro com quem me apegara no primeiro dia que o vi. Ele agachara-se e passara a mão na minha cabeça.

–Feliz Ano Novo, Haymi. –disse antes de se afastar para ir com sua companheira, que sempre os via juntos. Ela me afagara mais cedo, dizendo as mesmas palavras. Assim como aquela garota que morava conosco, e o Alto sem rabo* encurvado e todo enrugado.

Abaixei minha cabeça, enfiando meu focinho no bolo fofo e devorando cada pedaço suculento do alimento imaginando o que poderia significar aquilo.

Feliz Ano Novo...

Isso era algo para se comemorar?

Ano... Novo...

Sim. Pelo que parece, sim.




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Notas finais do capítulo

*¹Eu peguei essa referência Alto sem rabo do livro Irmão Lobo. É o primeiro livro da série chamada Crônicas das Trevas Antigas. É assim que a personagem (o Lobo) se refere à Torak, o personagem principal que é um humano.
Então, meus queridos, é isso! O que acharam da imagem que fiz? Quer dizer, a segunda eu tirei de uma que achei do tumblr, não sei se vocês já viram, mas foi eu que escrevi! hahahaha u.u
Pela milésima vez, FELIZ ANO NOVO! Como passaram de ano? Muitas metas? Gostaram do especial? ^^
Logo, logo irei trocar a capa. Mudei a personagem que faz a Annie M., como devem ter visto na figura (não, eu não me confundi). Eu vi um filme que a atriz aparecia e imediatamente relacionei com ela.
MAIS UMA VEZ: Obrigada a todos os leitores que não me abandonaram! Por estarem mais um ano aqui comigo! Por terem me aguentado todo esse tempo e todas as enormes notas que fiz!
Beijos, até o próximo!